" Não há nada mais trágico neste mundo do que saber o que é certo e não fazê-lo. Que tal mudarmos o mundo começando por nós mesmos?" Martin Luther King
31/05/2013
Novo genocídio ameaça povos indígenas do país
De acordo com o relatório do Conselho
Indigenista Missionário (Cimi) sobre a violência que atinge os povos indígenas,
somente entre 2003 e 2011 foram assassinados 503 índios, dos quais 273 são do
povo Guarani Kaiowá.
O aumento dos casos de violência que envolvem, de um lado,
latifundiários e grileiros e, de outro lado, lideranças e povos indígenas do
Brasil, apontam para um novo genocídio. É o que denuncia o Conselho Indigenista
Missionário (Cimi), um órgão ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB).
De acordo com o relatório sobre a violência que
atinge os povos indígenas, somente entre 2003 e 2011 foram assassinados 503
índios, dos quais 273 são do povo Guarani Kaiowá. Os índios Kaiowá chegaram a
publicar uma carta que foi traduzida e divulgada em todo o mundo:
“Sabemos que seremos expulsos daqui da margem do
rio pela justiça, porém não vamos sair da margem do rio. Como um povo nativo e
indígena histórico, decidimos em ser mortos coletivamente aqui. Não temos outra
opção: esta é a ultima decisão unânime diante do despache da Justiça”.
“Se for para a gente se entregar – afirma a
carta – nós não nos entregaremos fácil. É por causa da terra que estamos aqui;
nós estamos unidos com o mesmo sentimento e com a mesma palavra para morrermos
na nossa terra. Esta terra é nossa mesma! Os brancos querem nos atacar. Por
isso nós dizemos: morreremos pela terra! Mas a ideia da gente se matar, ou se
suicidar, nós não iremos fazer. Nós morreremos, se os fazendeiros nos atacarem.
Aí poderemos morrer!”.
Processos
O município de Aral Moreira, no sul do Mato
Grosso do Sul, lidera as estatísticas oficiais da violência contra os
indígenas; nela, vivem 43 mil indígenas Guarani Kaiowá. Dos 43 mil, 32 mil
vivem nessa área. A Justiça do Mato Grosso do Sul já examina mais de 100
processos que tratam da violência que envolvem os índios e os grandes
fazendeiros. Entre os Kaiowá mortos, entre 2000 e 2011, 555 Guarani Kaiowá
suicidaram-se. A grande maioria enforcou-se.
De acordo com o CIMI, os conflitos pela terra,
desde os anos 70, vêm representando um verdadeiro extermínio, com muitos
indígenas feridos, torturados e humilhados pelos grandes latifundiários. Muitos
índios tiveram que deixar sua condição de povos indígenas, para se tornarem
“caboclos”, o que vem gerando a perda de territórios, para a criação dos
seringais e sobretudo, a perda da identidade do povo indígena e de sua
dignidade. Apesar dos crimes por encomenda, praticados por fazendeiros contra
os Guarani Kaiowá, denuncia o CIMI, nenhum não-indígena cumpre pena de prisão
por ter matado um índio, mesmo com provas contundentes, ou testemunhas idôneas
e réus confessos.
Numa ação clandestina conta a comunidade
indígena Guaiviry, no município de Aral Moreira, no Mato Grosso do Sul em 18 de
novembro de 2011, os fazendeiros orientaram os capangas para chegarem atirando,
a começar contra as crianças, jovens e pessoas idosas. Na invasão da terra
indígena, foram utilizadas seis armas calibre 12 com balas de borracha e
moedas. De acordo com a Policia Federal, as moedas usadas nos canos das armas
ferem mais, têm mais impacto e são mais letais.
Em reação a esse quadro de genocídio, as redes
sociais da internet criaram a campanha “Somos todos Guarani Kaiowá”. Nessa
iniciativa solidária, no Facebook, os internautas acrescentaram o nome do povo
Guarani Kaiowá ao seu próprio sobrenome.
Reportagem de Dermi Azevedo
Monsanto perde processo criminal contra movimentos sociais
No dia 23 de maio, desembargadores do Tribunal
de Justiça (TJ) absolveram por unanimidade cinco militantes acusados
injustamente pela Monsanto de serem mentores e autores de supostos crimes
ocorridos em 2003.
A transnacional havia entrado como assistente
de acusação na ação criminal em resposta à manifestação de 600 participantes da
2ª Jornada de Agroecologia, na estação experimental da empresa, em Ponta
Grossa, para denunciar e protestar contra a entrada das sementes transgênicas
no estado, pesquisas ilegais e outros crimes ambientais praticados pela
empresa.
Foram acusados Célio Leandro Rodrigues e
Roberto Baggio, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); José
Maria Tardim, à época integrante da AS-PTA – Agricultura Familiar e
Agroecologia; Darci Frigo, da organização Terra de Direitos; e Joaquim Eduardo
Madruga (Joka), fotógrafo ligado aos movimentos sociais.
Em claro sinal de criminalização, a
transnacional atribuiu à manifestação, feita por mais de 600 pessoas, como
responsabilidade de apenas cinco, usando como argumento a relação genérica dos
acusados com os movimentos sociais.
Em sentido contrário, a decisão do TJ
demonstra o reconhecimento da legitimidade dos sujeitos coletivos de direitos
na sociedade brasileira. Segundo José Maria Tardim, coordenador da Escola
Latino-americana de Agroecologia e da Jornada de Agroecologia do Paraná, o ato
na sede da Monsanto em 2003 e a posterior ocupação permanente da área chamaram
a atenção em âmbito nacional e internacional para a ilegalidade das pesquisas
com transgênicos.
Nos anos seguintes às denúncias, a Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) e a equipe técnica ligada ao governo
do estado realizaram vistorias detalhadas nos procedimentos da transnacional.
Foram confirmadas ilegalidades que violavam a legislação de biossegurança
vigente.
A área ficou ocupada por trabalhadores
sem-terra durante aproximadamente um ano. Neste período, os camponeses
organizaram o Centro Chico Mendes de Agroecologia e cultivaram sementes
crioulas. Para Tardim, a agroecologia é o “caminho da reconstrução ecológica da
agricultura, combatendo politicamente o modelo do agronegócio e do latifúndio”.
riminalização
A denúncia da Monsanto se fundamentou apenas
em matérias jornalísticas da chamada grande mídia, sem qualquer outra prova.
Assim como outras ações judiciais que utilizam a mesma lógica, o processo está
baseado na criminalização de integrantes de movimentos sociais em situações de
manifestação.
A empresa participou como assistente privada
no processo, o que ocorre excepcionalmente em processos criminais, já que o
Ministério Público entrou como titular. “Esse caso apresenta um sério risco com
as grandes empresas que começaram a tomar o papel do Estado. Elas desequilibram
a situação pelo peso econômico e político que exercem sobre os agentes
públicos”, avalia Darci Frigo, coordenador da Terra de Direitos, considerando
também a influência da Monsanto sobre o parlamento para a aprovação de
legislações no Brasil.
Os trabalhadores foram defendidos pela Terra
de Direitos, com apoio do professor Juarez Cirino dos Santos. O Programa
Nacional de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos se pronunciou ao longo
do processo contra a criminalização dos militantes. Do outro lado, a Monsanto
contratou o escritório do Professor René Dotti para fazer a acusação.
Mundo
contra a Monsanto
A transnacional Monsanto está em mais de 80
países, com domínio de aproximadamente 80% do mercado mundial de sementes
transgênicas e de agrotóxicos. Em diferentes continentes, a empresa acumula
acusações por violações de direitos, por omissão de informações sobre o
processo de produção de venenos, cobrança indevida de royalties, e imposição de
um modelo de agricultura baseada na monocultura, na degradação ambiental e na
utilização de agrotóxicos.
No Brasil, a invasão das sementes
geneticamente modificadas teve início há uma década, com muita resistência de
movimentos sociais, pesquisadores e organizações da sociedade civil. No Paraná,
a Monsanto usou a via da criminalização de militantes como forma de responder
aos que se opunham aos transgênicos.
Mais de 50 países aderiram à “Marcha contra
Monsanto” no dia 25 de maio, em protesto contra a manipulação genética e o
monopólio da multinacional na agricultura e biotecnologia.
A campanha contra a empresa teve como estopim
o suicídio de agricultores indianos, que se endividam após serem forçados pelo
mercado a ingressar na lógica de produção do agronegócio, tornando-se, anos
mais tarde, reféns das sementes geneticamente modificadas, agrotóxicos e outros
insumos vinculados a esta lógica produtiva.
Com sede no estado de Missouri (EUA), a
Monsanto desponta como líder no mercado de sementes e é denunciada nesta marcha
por não levar em consideração os custos sociais e ambientais associados a sua
atuação, além de ser acusada de biopirataria e manipulação de dados científicos
em favor dos transgênicos.
A empresa é líder mundial na produção do
agrotóxico glifosato, vendido sob a marca Roundup. O Brasil é o segundo maior
consumidor dos produtos da Companhia, ficando atrás apenas da matriz
estadunidense. O lucro da filial brasileira em 2012 foi de R$ 3,4 bilhões.
Syngenta
No Paraná, a transnacional Syngenta também foi
denunciada pelos movimentos sociais por realizar experiências e plantio ilegal
de transgênicos no município de Santa Tereza do Oeste, na área de amortecimento
do Parque Nacional do Iguaçu.
Durante a ocupação da área, no dia 21 de
outubro de 2007, seguranças contratados pela empresa assassinaram um
trabalhador rural sem-terra. Seis anos depois, o caso segue impune.
O Ibama impôs multa de um milhão de reais à
empresa pela realização de experimentos ilegais com transgênicos na área,
porém, o valor não foi pago até hoje. A luta dos movimentos sociais resultou na
desapropriação da área para a criação do Centro de Agroecologia, que leva o
nome do militante assassinado, Valmir Mota de Oliveira, conhecido como Keno.
Reportagem de Ednubia
Ghisi
Maioria dos acusados por Tribunal Penal Internacional continua à solta
Criado em 2002 por meio
do Estatuto de Roma e estabelecido em Haia, na Holanda, o TPI (Tribunal Penal
Internacional) já indiciou 25 pessoas até hoje. Dessas, 13 são oficialmente
fugitivas. Diferentemente do que a palavra sugere, porém, elas não estão se escondendo
ou fugindo das autoridades. Algumas inclusive ocupam altos e visíveis cargos
nos governos de seus países. É o caso do atual presidente do Sudão, Omar Hassan
Ahmad al-Bashir, e de seu ministro da Defesa, Abdel Rahim Hussein.
Também
são acusados pelo TPI o líder recém-eleito do Quênia, Uhuru Kenyatta, que
assumiu o cargo em abril de 2013, e seu vice-presidente, William Ruto, cujo
julgamento foi iniciado nesta terça-feira (28/05). Caso decidam não colaborar
com a justiça e se ausentarem das sessões do tribunal, esses líderes se somarão
à lista de foragidos.
O historiador
dinamarquês Christian Nielsen, que já trabalhou no TPI, no ICTY (Tribunal
Criminal Internacional para a ex-Iugoslávia) e no Tribunal para o Líbano,
acredita que o tribunal tem sido ineficaz em processar criminosos e efetuar
suas prisões. "Se compararmos o TPI com o ICTY, que já julgou dezenas de
pessoas, o TPI não parece nada bem. Na verdade, parece bem ruim". Nielsen
ressalta que, desde que o tribunal foi criado, apenas uma pessoa foi condenada.
Acusado de violações em
massa dos direitos humanos, incluindo massacres étnicos, assassinato, tortura,
estupro e recrutamento forçado de crianças como soldados, Thomas Lubanga,
ex-comandante militar e ministro da Defesa da República Democrática do Congo,
foi condenado a 14 anos de prisão em julho do ano passado. "Mesmo que
Lubanga já tenha sido condenado, ainda há um recurso da defesa a ser
julgado", afirma Nielsen, destacando que a sentença ainda pode ser revista.
Já para o jurista Martin
Mennecke, vinculado à Faculdade de Direito da Universidade de Copenhague e
professor visitante no TPI, é errado culpar apenas o tribunal por não conseguir
efetuar seus mandados de prisão. “O TPI foi criado para investigar e processar.
De acordo com o Estatuto de Roma (que estabeleceu o tribunal), cabe aos Estados
membros prender os indivíduos acusados”, alerta. Esse Estatuto, no entanto, só
foi ratificado até hoje por 122 países: Estados Unidos, Rússia, Israel ou
Sudão, por exemplo, optaram por não fazê-lo.
Líderes acusados
Desde julho de 2008,
Omar al-Bashir é procurado pelo TPI. O presidente do Sudão foi indiciado por
genocídio, crimes contra a humanidade e de guerra cometidos em Darfur desde
2003. No entanto, o fato de ser procurado pela justiça não o impediu de manter
o cargo de presidente do país, posto ocupado desde 1989. O fato de Al-Bashir
ser acusado pelo TPI, no entanto, gerou inconvenientes para a presidência. Sua
mobilidade, por exemplo, está bastante limitada para quem deve representar uma
nação. "Al Bashir só pode viajar a, no máximo, 5 ou 6 países. Ele não pode
ir para a Europa, América Latina, nem aos Estados Unidos, por exemplo, ou corre
o risco de ser preso pelas polícias locais que colaboram com o tribunal”, diz o
jurista.
Apesar
de seu apoio ao presidente, Njogu defende que ele respeite a lei e seja julgado
pelo tribunal. A estudante acredita que o líder será absolvido. "A prisão
(do presidente) é uma possibilidade e isso angustia a todos os quenianos,
porque cria novos desafios para o nosso país e para a sua liderança". Ela
acrescenta que "se ele for considerado culpado, se tornará um mau líder e
um mau exemplo para as pessoas." Mesmo assim, não se arrependeria do voto
favorável ao líder do Quênia. "Quando votei nele eu sabia que sua
condenação era possível, assim como o sabiam outros 5 milhões de pessoas que
votaram em Kenyatta e no seu vice".
Os eleitores do
presidente de 51 anos representaram 50,07% do total de votos nas eleições de
2013. Adversário de Kenyatta, Raila Odinga obteve 43,31% e questionou o
resultado do pleito no judiciário local, alegando que o processo eleitoral foi
falho e marcado por problemas técnicos. A Suprema Corte, porém, confirmou a
vitória de Kenyatta, alegando ter sido uma eleição livre e justa e acabando com
as alegações da oposição.
A jornalista queniana
Michelle Mulemi, atualmente na Dinamarca, é uma das opositoras ao novo
presidente. Ela argumenta que a candidatura de Kenyatta jamais poderia ter sido
aprovada enquanto ele não houvesse provado sua inocência. "Isso faz dele
um mau exemplo, especialmente para jovens líderes", afirma. Mulemi
acrescenta que o simples fato de Kenyatta ter sido autorizado a participar das
eleições já é um sinal de um sistema judiciário fraco no Quênia. "Ter sido
indiciado mancha sua credibilidade", explica.
Kony 2012
Apesar de nunca ter
ocupado um cargo de influência no governo, um dos fugitivos do tribunal se
tornou ainda mais famoso que os líderes já mencionados. Um vídeo viral da ONG
norte-americana Invisible Children popularizou a figura de Joseph Kony, chefe
do Exército de Resistência do Senhor (LRA na sigla em inglês), um grupo de
guerrilheiros que costumava operar em Uganda e que atualmente atua na República
Centro-africana, Congo e Sudão do Sul.
Apesar de a limitação
não se aplicar ainda ao presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta, e a seu vice,
William Ruto, eles correm sérios riscos de ser verem forçados a realizar apenas
viagens domésticas. Kenyatta e Ruto são acusados por crimes contra a
humanidade, incluindo assassinato, deportação forçada, perseguição e outros
atos relacionados à onda de violência que se seguiu às eleições de 2007, que
deixou mais de 1,2 mil mortos e 600 mil desabrigados. Ruto encontra-se neste
momento em Haia para assistir seu julgamento que aconteceu na última
terça-feira (28).
Joseph
Kony é procurado desde 2005, quando o TPI emitiu um mandado de prisão contra
ele e outros membros do LRA por crimes de guerra e contra a humanidade. O chefe
da guerrilha e seus seguidores são acusados de sequestrar, torturar, estuprar e
matar milhares de pessoas, ao longo de cerca de 30 anos. "De modo geral, o
vídeo foi positivo para o TPI ganhar visibilidade. Porém, Kony ainda está à
solta", lamenta o historiador Nielsen.
Dependência
Em março de 2013, as
operações de busca pelo líder do LRA foram suspensas na República
Centro-Africana por falta de cooperação do governo local. Acredita-se ainda que
o grupo rebelde esteja recebendo ajuda do exército do Sudão, segundo
denunciaram os Estados Unidos. Ao lado do TPI, porém, estão o Exército de
Uganda e militares norte-americanos, que continuam à procura de Kony.
Assim como ilustra o
caso do líder rebelde ugandense, Nielsen afirma que os tribunais internacionais
são dependentes de ferramentas diplomáticas e da colaboração de outros países
para ter sucesso, uma vez que não possuem uma polícia específica ou poder para
executar mandados de prisão por si sós. "Dizem que a política é a arte do
possível. O mesmo conceito se aplica para justiça penal internacional, que
tenta busca fazer o possível dada a constelação das relações internacionais e
de políticas do poder", afirma o historiador.
Na tentativa de aumentar
a colaboração por parte de países e organizações internacionais, é preciso que
o TPI consiga processar os acusados, acredita o historiador. A instituição já
absolveu, em 2012, o líder rebelde congolês Mathieu Ngudjolo Chui, sob a
justificativa de que a promotoria não foi capaz de provar além de qualquer
dúvida que ele havia sido responsável pelos crimes apresentados. Em março deste
ano, o tribunal divulgou um comunicado sobre sua decisão de retirar as
acusações contra o queniano Francis Kirimi Muthaura, ex-Chefe do Serviço Civil
daquele país, por falta de testemunhas.
Apesar das críticas ao
tribunal, tanto o historiador Nielsen quanto o jurista Mennecke acreditam que a
criação de um tribunal internacional permanente, capaz de processar os
responsáveis por crimes graves tenha sido relevante. "Todo mundo que pense
sobre a gravidade desses crimes cometidos irá concordar que seus responsáveis
devam ser punidos", afirma o jurista. O historiador, no entanto, é mais
cético em seu comentário: "O tribunal será considerado indispensável se
daqui a 15 ou 20 anos olharmos para a República Democrática do Congo, para a
Uganda, para o Sudão, e vermos que há menos mortes, menos instabilidade e menos
sofrimento. Afinal de contas, é para isso que o tribunal foi criado".
Reportagem de Carolina Krause e Marcel van Hattem
Deputados aprovam lei que vai 'legalizar' dólares na Argentina
A
Câmara de Deputados da Argentina aprovou na última quarta-feira (29) o
projeto que legaliza os dólares adquiridos no câmbio paralelo e que busca
recuperar divisas fora do sistema através de um mecanismo que permitirá
investir no setor energético e no imobiliário.
A
votação, que tornou a lei efetiva, obteve 130 votos a favor e 107 contra.
"Esta
lei é para mobilizar ativos argentinos, seja em imóveis urbanos ou em
investimentos em infraestrutura ou energia", disse o deputado governista
Roberto Feletti, presidente da Comissão de Orçamento e Fazenda.
Segundo
o vice-ministro da Economia, Axel Kicillof, na Argentina há cerca de US$ 40
bilhões nas mãos de argentinos e as reservas em divisa norte-americana
triplicam em paraísos fiscais.
A
Argentina seria o país com a maior quantia de dólares per capita depois dos
Estados Unidos, com US$ 1.200, de acordo com Kicillof.
O
governo anunciou o projeto no começo de maio, em um momento de tensão cambial,
com uma diferença de 100% entre a cotação do dólar oficial e do câmbio
paralelo, que chegou a superar os 10 pesos por dólar.
Em sua
exposição, os governistas rejeitaram as críticas ao projeto expressadas pela oposição,
que sustenta que servirá para lavar dinheiro de origem criminosa.
A nova
lei autoriza o ministério da Economia e o Banco Central a emissão de
instrumentos financeiros destinados ao setor energético e de construção e ao
mercado imobiliário.
Poderão
receber esse benefício qualquer pessoa física ou jurídica argentina, possuidora
de moeda estrangeira ou divisas dentro ou fora do país.
Há uma
semana, o projeto passou no Senado por 39 votos contra 28.
Na
ocasião, o senador Gerardo Morales, da União Cívica Radical, denunciou que a
medida "criará um paraíso fiscal" na Argentina "para o benefício
de delinquentes que levaram centenas de milhares de dólares do país".
foto: foto:dolaraldia.com
30/05/2013
Cientistas descobrem como acabar com a coceira
Equipe identificou
neurotransmissor que transmite a irritação ao cérebro e descobriu que a remoção
de uma molécula livra as cobaias da comichão. Achado pode ajudar a tratar
eczema e psoríase.
Cientistas americanos descobriram que uma
molécula presente na medula espinhal é responsável por provocar a sensação de
coceira. E mais: ao retirar a molécula do corpo de camundongos, a equipe
observou que os animais deixaram de sentir a irritação. Para os pesquisadores
do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, sigla em inglês),
o achado pode ajudar na busca de formas mais eficazes de atenuar a comichão em
pessoas com determinadas condições crônicas, como psoríase ou eczema. O estudo
foi publicado nesta quinta-feira na revista Science.
A molécula em questão, um
neurotransmissor chamado polipeptídeo natiurético B (Nbbp, sigla em inglês),
está conectada a uma célula nervosa, ou neurônio, presente na medula espinhal
que é responsável por enviar ao cérebro a mensagem da coceira. Segundo o novo
estudo, a remoção da molécula e da célula nervosa livra os camundongos da
irritação – sem afetar outros sentidos.
"Nossa pesquisa também
mostra que a coceira, antes considerada uma forma mais amena de dor, é na
verdade uma sensação distinta e que tem sua própria via até o cérebro",
diz Mark Hoon, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa Dental e
Craniofacial, que pertence ao NIH, e principal autor do estudo.
A
procura — A
pesquisa de Hoon começou quando ele e sua equipe começaram a investigar uma classe
de neurônios conhecidos por ajudar a controlar uma série de condições externas
ao corpo para detectar a dor. A equipe, então, conseguiu identificar e analisar
alguns dos principais neurotransmissores — pequenas moléculas que os neurônios
liberam quando são estimulados para enviar sinais ao cérebro — nessa classe de
células nervosas. Ao testarem o Nbbp, os pesquisadores observaram que o papel
desse neurotransmissor é enviar ao cérebro o sinal exclusivamente da coceira.
Eles classificaram os
resultados como animadores, já que o sistema nervoso dos camundongos é parecido
com o dos seres humanos. "Agora, o desafio é encontrar um biocircuito
similar no corpo humano e identificar, em pessoas, quais são as moléculas que,
uma vez desligadas, evitam coceiras", diz Hoon.
Entendendo a coceira
Ainda não está completamente claro de que forma a coceira
funciona. Durante a maior parte da história da medicina, os especialistas
consideravam a sensação como uma forma atenuada de dor. Mas essa concepção
mudou após a realização de um estudo feito em 1987 pelo pesquisador alemão H.
O. Handwerker e sua equipe.
Os cientistas introduziram histamina, uma substância que produz
coceira e que é liberada pelo nosso corpo em reações alérgicas, no corpo dos
voluntários. Conforme as doses da substância eram aumentadas, os pesquisadores
conseguiam aumentar a intensidade da comichão que os participantes sentiam. Mas
nenhum deles relatou sentir dor. A conclusão: dor e coceira são coisas
diferentes e envolvem conexões diferentes entre as células nervosas.
Somente em 1997 foi publicado um estudo que encontrou, pela
primeira vez, os nervos específicos para a coceira. A descoberta foi feita por
um grupo de pesquisadores da Suécia e da Alemanha a partir de uma complexa
experiência feita com 53 voluntários. Nela, os cientistas analisaram os sinais
enviados por cada fibra nervosa individualmente diante de diversos estímulos à
pele, como o contato com uma superfície quente ou macia. Com isso, eles
desejavam saber que tipo de estímulo faz cada nervo agir.
Os pesquisadores observaram que havia fibras nervosas que não
reagiam a nenhum estímulo, a não ser quanto uma dose de histamina era
introduzida na pele – e, assim, identificaram os nervos associados à comichão.
Mas isso não significou a compreensão completa do mecanismo dessa sensação no
corpo.
Conheça mais de 20 golpes populares no Facebook e Twitter
Golpes como “Mude a cor do seu perfil” e “Saiba quem visualizou suas fotos” se tornaram comuns na rede social Facebook no último ano, mas ataques similares também tentam enganar usuários de outros serviços, como Twitter e Instagram. De acordo com novo relatório da Symantec, fabricante do antivírus Norton, o número de golpes realizados por meio de redes sociais aumentou 125% ao longo de 2012.
O gráfico Robson Xavier de Carvalho foi
vítima de um dos ataques recentemente. No final de janeiro deste ano, ele
recebeu uma suposta notificação do Facebook por e-mail, em que uma amiga o
convidava para participar de um evento. Na verdade, tratava-se de uma mensagem
de spam que oferecia o serviço de limpeza de “nome sujo” em instituições
financeiras. Havia um e-mail de contato na mensagem. Para ajudar a irmã em
dificuldades, Carvalho enviou um e-mail e negociou o serviço.
“O e-mail era
estranho, mas como foi enviado por uma amiga confiável, achei que era sério”,
diz Carvalho. O preço do serviço era de R$ 99,90, que ele pagou por meio de um
depósito em conta-corrente, mas o nome de sua irmã continuou negativado.
“Liguei para minha amiga que havia enviado a notificação para reclamar e ela me
contou que foi um vírus.” Os e-mails dos cibercriminosos continuam a chegar,
mas eles nunca mais deram retorno sobre o serviço. Nem sobre o dinheiro
depositado.
Na primeira onda de
ataques ocorrida na rede social a partir da metade de 2011, muitas páginas
falsas no Facebook tentavam convencer os usuários a acessar links que escondiam
vírus capazes de obter os dados de acesso ao site. Com esses dados em mãos, os
cibercriminosos podem assumir o controle do perfil seja para enviar mensagens
de spam para os contatos, caso de Carvalho, ou mesmo para “curtir” páginas de
fãs sem autorização.
Cibercriminosos reinventam golpes
O número de ataques
desse tipo, no entanto, vem diminuindo por conta da atuação da equipe de
segurança do Facebook, que tirou muitas páginas de fãs falsas do ar, após a
notificação de empresas de segurança e usuários. “Tivemos um hiato nos ataques,
mas os cibercriminosos brasileiros começaram a distribuir plug-ins maliciosos por
meio das redes sociais”, diz Assolini, da Kaspersky. Plug-ins são extensões que
podem ser instaladas no navegador de internet.
Usando a mesma estratégia de levar os usuários a curtir páginas
falsas ou clicar em links maliciosos enviados por meio de mensagem, os
cibercriminosos tentam instalar extensões no navegador. Elas “espionam” os
dados digitados para acessar o Facebook, mas também em outros sites, como de
lojas e bancos, que são enviados para o cibercriminosos. “A instalação de um
plug-in, neste caso, tem finalidade múltipla”, diz Assolini.
A maior parte das extensões maliciosas encontradas roda no
Google Chrome, navegador mais popular no Brasil com mais de 60% dos usuários.
Porém, depois de restrições impostas pelo Google, os cibercriminosos passaram a
colocar as extensões falsas na Chrome Web Store, loja de aplicativos para o
navegador. “A maioria deles se passa por plug-ins legítimos, como Java ou Flash
Player”, alerta Assolini. O Google não verifica as extensões existentes sua
loja virtual, bem como os aplicativos para smartphones e tablets com sistema
operacional Android oferecidos na Google Play.
Os ataques mais avançados, segundo Assolini, utilizam até mesmo
certificados digitais válidos para “enganar” o antivírus instalado no
computador do usuário. Comumente utilizados por bancos e outras instituições
financeiras, eles “atestam” que o arquivo baixado pelo usuário é legítimo,
apesar de não ser. “Algumas empresas que emitem este certificado não estão
verificando a origem das empresas que compram. O certificado diminui a detecção
da extensão maliciosa por alguns antivírus”, diz Assolini.
Como
evitar (ou resolver) o problema
Para evitar o ataque, é preciso desconfiar sempre ao receber
mensagens sobre recursos muito vantajosos por meio da rede social. Outra dica é
tomar cuidado ao permitir que qualquer complemento seja instalado por um site
visitado. Configurar o acesso ao Facebook em sua versão segura, com endereço
iniciado em HTTPS, também ajuda a evitar problemas. “Alguns desses plug-ins são
bloqueados pela versão segura e não funcionam mesmo que o internauta clique
sobre links maliciosos”, diz Assolini.
Se você clicou em algum link malicioso nestes spams distribuídos
no Facebook deve resistir à tentação de mudar sua senha imediatamente. Isso não
salva o perfil do ataque, já que o plug-in continuará instalado no navegador e
coletará novamente seus dados de acesso à rede social. “É preciso desinstalar o
complemento que o usuário instalou sem querer”, diz Assolini.
Para fazer isso no Chrome, basta acessar o menu “Ferramentas” e
depois “Extensões”. No Firefox, acesse o menu “Ferramentas” e depois
“Complementos”. Como é difícil identificar qual o plug-in malicioso, Assolini
recomenda que o usuário remova todos os plug-ins instalados. Depois, o
internauta deve trocar sua senha de acesso à rede social afetada que,
certamente, já havia sido registrada pelos cibercriminosos.
Reportar
o ataque à equipe do Facebook também é necessário para evitar que o número de
vítimas continue aumentando. Ao acessar uma página que oferece as mensagens com
links maliciosos, use o botão “Denunciar/Reportar página” para avisar a rede
social sobre o ataque. Também é possível reportar supostos golpes a partir da página
de suporte do Facebook sobre o
assunto. A rede social investiga a página apenas se receber diversas denúncias
de usuários.
Reportagem de Claudia Tozetto
Universidade americana cria 'psicólogo virtual'
O Instituto para
Tecnologias Criativas, da Universidade do Sul da Califórnia, é pioneiro na
criação de humanos virtuais. E o resultado pode ajudar pessoas que precisam de
um ombro amigo.
A terapeuta virtual senta em uma grande
poltrona, movendo-se levemente e piscando naturalmente, aparentemente esperando
que eu fique confortável diante da tela de TV.
"Olá, eu sou a Ellie", diz ela.
"Obrigada por vir."
Ela ri quando digo que ela é um pouco
assustadora e logo começa a fazer perguntas, para saber de onde eu vim e onde
estudei.
"Não sou uma terapeuta, mas estou aqui para
aprender sobre as pessoas e adoraria saber mais de você", diz ela.
"Tudo bem?"
A voz de Ellie é suave e calmante, e, à medida
que faz perguntas cada vez mais pessoais, eu começo a responder como se falasse
com uma pessoa real, e não uma imagem gerada por computador.
Linguagem
corporal
"Como você está controlando seu
temperamento?", questiona. "Quando foi a última vez que entrou em uma
discussão?"
A cada resposta, eu estou sendo assistido e
estudado em detalhes por um mero sensor de jogos e uma webcam.
A forma como sorrio, o movimento dos meus olhos,
o tom da minha voz e a minha linguagem corporal estão sendo registrados e
analisados por um sistema informatizado, que informa Ellie quanto à melhor
maneira de interagir comigo.
"Modo Mágico de Oz" é como o pesquisador
Louis-Philippe Morency descreve esse experimento acadêmico.
Numa sala ao lado, sua equipe controla o
discurso de Ellie, mudando sua voz e sua linguagem corporal para tirar o máximo
da conversa comigo.
Pessoas de verdade respondem diariamente às
perguntas de Ellie como parte da pesquisa do Instituto para Tecnologias
Criativas (ICT na sigla em inglês), e o computador está pouco a pouco
aprendendo como reagir em cada situação.
Terapia
remota
A máquina está aprendendo a se humanizar e a
responder a sinais emitidos por pacientes, como fariam os médicos.
Em breve, Ellie conseguirá funcionar sozinha.
Isso abre uma enorme oportunidade para sessões remotas de terapia, usando o
conhecimento fornecido por alguns dos mais importantes psicólogos do mundo.
Mas Morency não gosta do termo "psicólogo
virtual" e não acredita que seu método possa um dia substituir as sessões
com terapeutas reais.
"(A novidade) é mais um assistente para o
profissional, da mesma forma que você tira uma amostra de sangue cuja análise é
enviada ao médico", diz ele.
O sistema foi projetado para identificar sinais
de depressão ou estresse pós-traumático, algo particularmente útil no
tratamento de soldados e veteranos de guerra.
"Buscamos respostas emocionais ou mesmo a
falta de uma resposta emocional", prossegue Morency. "Agora, temos
formas objetivas de medir o comportamento das pessoas, então esperamos que (o
programa) possa ser usado para traçar diagnósticos mais precisos."
Militares
O software permite que um médico acompanhe o
progresso do paciente ao longo do tempo, comparando sessões por parâmetros
científicos.
"Nosso problema, sobretudo com a atual
crise de saúde mental no Exército (dos EUA), é que não temos atendentes
suficientemente treinados para lidar com o problema", afirma Skip Rizzo, diretor-associado
de realidade virtual médica do ICT.
"(O software) não é um substituto para um
atendente real, mas pode ajudar a preencher lacunas e ajudar pessoas a obter o
tratamento que necessitam."
O centro trabalha em colaboração com militares
americanos, que, envolvidos nas longas guerras do Iraque e do Afeganistão, têm
de lidar com centenas de milhares de soldados adoecidos por algum tipo de
estresse pós-traumático.
"Existe um tabu (entre soldados), que
muitas vezes hesitam em falar de seus problemas", diz Rizzo. Um
aconselhamento virtual talvez alivie essa relutância.
Comportamento
O laboratório inteiro está fazendo experimentos
com humanos virtuais, mesclando diversas tecnologias e disciplinas, como
captação de movimento e reconhecimento facial.
Morency é premiado por seu trabalho em
relacionar psicologia e movimentos faciais.
"Pessoas ansiosas tendem a mexer mais com
suas mãos; pessoas em dificuldades geralmente têm um sorriso mais curto e de
menor intensidade. Pessoas deprimidas desviam o olhar" explica ele.
Não é fácil fazer imagens gráficas parecerem
humanas, mas, quando se obtém um efeito crível, elas podem ser uma importante
ferramenta de ensino e aprendizado. Nessa linha, o laboratório desenvolve
diversos projetos para testar o limite e o potencial das interações virtuais.
No andar de baixo, experimentos criam hologramas
em 3D de um rosto humano. E, em todo o edifício do instituto, projetos
transitam entre os mundos real e imaginário.
Em ano de eleições, chilenos se dividem sobre assembleia constituinte
Votar ou não votar? A questão é a mais nova
controvérsia sobre a convocação de uma assembleia constituinte no Chile. Desde
2011, quando o movimento estudantil ganhou força, aumentou no país a campanha
pela elaboração de uma nova Carta Magna, já que o texto imposto pela ditadura
de Augusto Pinochet em 1980 é ainda vigente.
Como é ano de eleições presidenciais -- marcadas para 17 de novembro --, as
lideranças dos movimentos sociais se organizaram em diferentes iniciativas para
usar o tema como instrumento de pressão. No entanto, os dois grupos que mais
conseguiram apoio até agora propõem ações que, em princípio, parecem
inconciliáveis: um defende o uso do voto como protesto e o outro faz um chamado
a se manifestar não indo votar.
O movimento #MarcaTuVotoAC (“escreva AC no
seu voto”) foi impulsado por lideranças do movimento estudantil e tenta
aproveitar o voto em papel, ainda vigente nas eleições chilenas, para estimular
os eleitores que queiram aderir ao movimento a escrever, no lado direito da
cédula eleitoral, a sigla “AC”, de “assembleia constituinte”.
A ideia é dos principais líderes da Confech (Confederação dos Estudantes do
Chile) em 2011, Francisco Figueroa e Giorgio Jackson, candidatos a deputado.
Dessa forma, os organizadores pretendem usar uma possível cifra numerosa de
votos marcados para poder interpelar o Senado e o próximo presidente eleito, os
únicos com poderes para convocar um plebiscito vinculante capaz de gerar uma
assembleia constituinte.
Segundo Jackson, do partido Revolução Democrática, “quando a cidadania se
manifestou nas ruas pela educação, em 2011, o volume de gente surpreendeu a
classe política tradicional, e esperamos conseguir o mesmo efeito novamente”. O
ex-estudante, hoje engenheiro formado, prefere não dar estimativas de quantas
adesões poderiam ter. “Não temos a ilusão de conseguir maioria absoluta, mas
queremos mostrar que somos muitos, talvez centenas de milhares. Se conseguimos
somar uma quantidade similar a das marchas teremos o suficiente para poder
pressionar”.
O movimento, porém, enfrenta um obstáculo
inesperado: a desinformação a respeito da validade desse tipo de manifestação
começou dentro do próprio Servel (Serviço Nacional Eleitoral do Chile). Em 9 de
maio, o presidente do órgão, Juan Emilio Cheyre, afirmou que “os votos que
contenham qualquer tipo de marca fora da zona onde o eleitor deve assinalar o
candidato de sua preferência serão automaticamente anulados”.
No dia
seguinte, os organizadores de #MarcaTuVotoAC foram à sede do Servel
acompanhados do advogado especialista em direito eleitoral Roberto Garretón –
um dos apoiadores do movimento – e pediram uma explicação sobre as declarações
de Cheyre, que contradizem o Artigo 65 da Lei Eleitoral chilena.
Nele,
se determina que: 1) as cédulas que contenham alguma marca adicional serão
contabilizadas sempre que esta não impossibilite a correta verificação da
escolha feita pelo eleitor, e 2) caso as marcas, observadas nos votos de uma
mesma mesa eleitoral, obedeçam a um determinado padrão, o presidente dessa mesa
deverá registrar o padrão na ata eleitoral.
A lei eleitoral, portanto, não só considera o voto marcado válido como também
prevê que ele seja contabilizado caso o presidente da mesa verifique um padrão
nas marcas. Horas depois, Cheyre deu uma entrevista para o canal CNN Chile,
corrigindo o que havia dito antes. Cabe destacar que Juan Emilio Cheyre é um
ex-comandante-em-chefe do Exército chileno, e desempenhou funções
administrativas durante a ditadura.
Ainda assim, Jackson admite que, em muitas mesas, poderia haver resistência em
contabilizar os votos marcados com “AC”, mas diz que o movimento pretende levar
fiscais a quase todas as mesas eleitorais do país, e irá instrui-los para
insistir na contagem dos votos marcados.
Greve Eleitoral
Constituinte
Outro movimento que defende a constituinte é o Greve Eleitoral Constituinte,
mas defende a abstenção nas eleições como forma de protesto. A ausência de
votos, para eles, significaria o fracasso do sistema eleitoral atual e a
necessidade de se estabelecer outro mais representativo.
Um dos porta-vozes da iniciativa é o advogado Luis Mariano Rendón, diretor da
ONG Ação Ecológica. Segundo ele, “votar em eleições sob as regras estabelecidas
pelo pinochetismo é legitimar essas regras, e nós queremos mudar as regras do
jogo, e buscar um sistema que estabeleça uma democracia mais participativa”.
Os organizadores se amparam no alto índice
de abstenção das eleições municipais de 2012, a primeira em que o Chile testou
o voto voluntário. Na ocasião, 55% dos eleitores não compareceram às urnas.
“Queremos que os cidadãos fiquem em suas casas, mostrando pacificamente sua
indignação com a política em geral, e depois de fechadas as urnas nós sairemos
às ruas para comemorar a alta abstenção e o colapso desse sistema eleitoral”,
prevê Rendón.
Conciliação
Embora o objetivo seja o mesmo, as formas de atingi-lo são diametralmente
opostas. Segundo os líderes dos movimentos, o diálogo é possível, mas um acordo
é pouco provável. Jackson, do #MarcaTuVotoAC, diz que pretende chamar os
representantes do Greve Eleitoral para buscar um denominador comum. Porém,
afirma que “as ideias são incompatíveis, porque nós não vemos como poderemos
exigir uma assembleia constituinte sem saber quantas pessoas exatamente estão
apoiando a ideia, somente com esse registro poderemos atuar”.
Já Rendón descarta uma mudança real através do voto marcado, que “pode
registrar uma cifra astronômica, mas não é vinculante. Os senadores
pinochetistas ignoram essa pressão há 33 anos, e mesmo a Concertação (aliança
de centro-esquerda) está conformada com essa constituição ilegítima, porque ela
dá garantias de poder aos atuais congressistas, eles não vão tomar uma medida
contra eles mesmos”.
Por outro lado, Rendón acredita que “os caminhos opostos não muda o fato de que
lutamos pela mesma causa, e tenho certeza que poderemos concordar com eles em
organizar jornadas nacionais de mobilização constituinte, durante o período de
campanha eleitoral”.
Reportagem de Victor Farinelli
29/05/2013
Controle sobre os genes, a próxima batalha
Artigo de Por Joseph
Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia | Tradução: Antonio Martins
A Suprema Corte dos Estados Unidos começou há pouco a julgar
um caso que destaca o tema muito problemático dos direitos de propriedade
intelectual. Os genes humanos – seus genes – podem ser patenteados? Expresso de
outra forma; deveríamos transferir a alguém o direito de, digamos, verificar se
você tem um conjunto de genes que implica possibilidades acima de 50% de
desenvolver câncer nos seios?
Para quem está fora do mundo iniciático dos direitos de
propriedade intelectual, a resposta parece óbvia: não! Você possui seus genes.
Uma empresa pode possuir, no máximo, a propriedade intelectual relacionada ao
teste genético; e como a pesquisa e desenvolvimento necessários para
desenvolver os testes podem custar bastante, seria correto que ela pudesse
cobrar para executá-los.
Mas uma empresa sediada no estado norte-americano de Utah, a
Myriad Genetics, reivindica mais que isso. Ela exige possuir os direitos sobre
qualquer teste feito para verificar a presença de dois genes críticos,
associados ao câncer de seio. Ela bate-se agressivamente por tal direito,
embora seu teste seja inferior ao que a Universidade de Yale desejava oferecer,
a custo muito mais baixo. As consequências são trágicas. Testes eficientes e
acessíveis que identifiquem pacientes com alto risco de desenvolver câncer
salvam vidas. Impedi-los provoca mortes. A Myriad é um exemplo real de
corporação norte-americana para a qual o lucro supera qualquer outro valor –
inclusive o da própria vida humana.
O caso é particularmente crítico. Normalmente, os
economistas falam de compensações. Argumenta-se que direitos de propriedade
intelectual mais frágeis eliminariam o incentivo à inovação. A ironia aqui é
que a descoberta da Myriad teria ocorrido de qualquer maneira, graças a um
esforço internacional, financiado com recursos públicos, para decodificar todo
o genoma humano – uma conquista singular da ciência moderna. Os benefícios
sociais da descoberta da empresa, ligeiramente precoce, são incomparavelmente menores
que os custos impostos por sua busca irresponsável de lucros.
Num contexto mais amplo, cresce o reconhecimento de que o
sistema de patentes, em sua forma atual, impõe inúmeros custos sociais e é,
além disso, incapaz de maximizar a inovação – como demonstram as patentes de
genes da Myriad. Afinal de contas, a corporação não inventou as tecnologias
usadas para analisar os genes. Se estas tecnologias tivessem sito patenteadas,
a empresa não poderia ter feito suas descobertas. E o rígido controle que exerce
sobre suas patentes inibiu o desenvolvimento, por outros, de testes melhores e
mais precisos sobre a presença do gene. A questão é simples: toda pesquisa é
baseada em pesquisa anterior. Um sistema de patentes mal-concebido – como o que
temos hoje – pode inibir a sequência de investigações científicas.
É por isso que não se permitem patentes de insights básicos
em matemática. E é por isso que estudos demonstraram: o patenteamento de genes
reduz, na realidade, a produção de novos conhecimento sobre genes. A fonte mais
importante para a produção de novo conhecimento é conhecimento anterior. Mas o
acesso a este é inibido pelo sistema de patentes.
Felizmente, o que motiva os avanços mais significativos do
conhecimento humano não são os lucros, mas o próprio desejo de conhecer. Foi
assim com todas as descobertas e inovações transformadoras – o DNA, os
transístores, os lasers, a Internet e tantas outras.
Uma disputa judicial à parte revelou um dos maiores perigos
de um poder de monopólio criado por patentes: a corrupção. Como os preços
excedem em muito os custos de produção, surgem, por exemplo, oportunidades de
lucros imensos quando se persuadem farmácias, hospitais ou médicos a mudar a
marca dos medicamentos consumidos.
O procurador norte-americano para o distrito Sul de Nova
York acusou recentemente o gigante farmacêutico suíço Novartis de fazer
exatamente isso, por meio de incentivos ilegais, honrarias e outros
“benefícios” oferecidos a médicos. É exatamente o que a Novartis prometera não
fazer, na resolução de um caso semelhante, há três anos. O Public Citizen, um
grupo que atua em favor dos direitos do consumidor, calculou que, só nos
Estados Unidos, a indústria farmacêutica foi obrigada a pagar bilhões de
dólares, como resultado de decisões judiciais e acordos financeiros firmados
com governos federais e estaduais.
É triste, mas os Estados Unidos e outros países avançados
têm pressionado pela adoção, em todo o mundo, de regimes de propriedade
intelectual ainda mais draconianos. Se adotados, eles limitarão o acesso dos
países pobres ao conhecimento de que precisam para desenvolver-se, e negarão
medicamentos genéricos, que podem salvar vidas, a centenas de milhões de
pessoas que não podem pagar os preços de monopólio dos produtores de drogas.
Este tema vai torna-se central, em negociações na
Organização Mundial do Comércio (OMC). O acordo de propriedade intelectual da
OMC, chamado de TRIPS, originalmente garantia “flexibilidade” às 48 nações
menos desenvolvidas, que têm renda per capita inferior a 800 dólares anuais. O
acordo original parece especialmente claro: a OMC irá estender estas
“flexibilidades”, a partir de demanda das nações menos desenvolvidas. Mas
agora, quando tais nações apresentaram a demanda, os Estados Unidos e a Europa
hesitam em reconhecê-las.
Os direitos de propriedade intelectual são regras que nós
criamos e que, supõe-se, ampliam o bem-estar social. Mas regimes de propriedade
intelectual desequilibrados produzem ineficiência – inclusive, lucros de
monopólio e incapacidade de maximizar o uso do conhecimento – que frustram o
avanço da inovação. E, como mostra o caso da Myriad, podem resultar em vidas
desnecessariamente perdidas.
O regime de propriedade intelectual que vigora nos Estados
Unidos – e que eles ajudaram a empurrar ao resto do mundo, por meio do acordo
TRIPS – é desequilibrado. Todos deveríamos esperar que, ao decidir o caso
Myriad, a Suprema Corte contribua para a criação de uma estrutura mais sensível
e humana.
fonte:http://www.outraspalavras.net/2013/05/12/controle-sobre-os-genes-a-proxima-batalha/
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