30/09/2013

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Com biblioteca na mochila, jovens levam leitura a comunidades do RN


Uma bicicleta, uma mochila nas costas e 100 livros transformam jovens do Rio Grande do Norte em bibliotecas móveis. O projeto Agentes de Leitura, desenvolvido pelo Governo do Estado, selecionou jovens para levar a 41 cidades o hábito da leitura. Mais de 400 agentes circulam entre as zonas urbana e rural do Estado contando histórias e apresentando as obras para mais de 15 mil famílias. Criado pelo Ministério da Cultura há quatro anos, o programa faz parte do Mais Cultura e, apesar de previsto para todo o Brasil, ainda não entrou em prática em todos os Estados.
Com uma abordagem lúdica, que envolve brincadeiras, saraus, adivinhações e versos, os agentes introduzem as áreas menos desenvolvidas do Rio Grande do Norte a livros infantis, lendas e clássicos como Manuel Bandeira e o potiguar Câmara Cascudo. Para participar do projeto, foram selecionadas famílias beneficiadas pelo Bolsa Família que moram nos municípios com os menores Índices de Desenvolvimento Humano.
O programa Agentes de Leitura foi lançado no dia 12 de dezembro de 2012. Desde 2009, no entanto, o Rio Grande do Norte já vinha organizando o projeto. Em 2011, o Estado selecionou os 41 municípios participantes e, em um segundo momento, escolheu 550 jovens para atuar como agentes - destes, alguns desistiram, restando 402. Como pré-requisito, os agentes deveriam ter entre 18 e 29 anos e já terem concluído o ensino médio. No último mês de maio, o projeto foi posto em prática. A receptividade da população foi bastante boa, acredita Márcio Farias, diretor da Biblioteca Pública Câmara Cascudo e coordenador do projeto.
Farias conta que cidades que tiveram problemas com relação ao envio do acervo de livros - situação já normalizada, afirma - receberam cobrança dos moradores que esperavam pelos agentes.
Os agentes de leitura passaram por uma série de oficinas realizada durante uma semana para capacitá-los a atuar no projeto. Geruza Câmara, que trabalhou como formadora dos agentes, afirma que o principal cuidado nesse processo de capacitação foi orientar os jovens a abordar as famílias com simpatia e contar as histórias com a entonação adequada.
Alexandre Silva estuda ciências da religião na Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN) e trabalha com oficinas de teatro. Sua experiência com interpretação foi fundamental para uma boa postura vocal e corporal, necessárias para a leitura. Silva circula entre a cidade e a zona rural de Macaíba, região metropolitana de Natal, e troca livros com agentes da capital para variar o acervo.
Para exercer esta atividade por um ano, os agentes recebem uma bolsa-auxílio mensal no valor de R$ 350. O pagamento, no entanto, não está acontecendo. Farias explica que a razão é um entrave burocrático relacionado à documentação dos bolsistas, que não está regularizada. Em páginas no Facebook, os alunos manifestam sua insatisfação e uma greve chegou a ser programada. Silva diz que a falta de remuneração desmotiva muitos dos colegas. Por outro lado, aponta o aprendizado das crianças como recompensa maior. “Há uma menina que sempre me pede para emprestar um livro quando passo em frente à sua escola. Já ando sempre com eles na mochila”.

Advogados criticam PL que restringe saída temporária

Diminuir o número de delitos praticados durante a saída temporária dos presos e evitar que os detentos aproveitem o benefício para fugir da prisão foram as justificativas da senadora Ana Amélia (PP-RS) ao propôr o Projeto de Lei do Senado 7/2012, que modifica a Lei de Execução Penal (Lei 7.210/1984), criando novas restrições para que o benefício seja concedido.
A proposta estabelece a primariedade como requisito para a concessão da saída temporária, e permite o benefício apenas uma vez por ano. O texto foi aprovado nesta semana pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado em decisão terminativa e deve seguir direto para a Câmara dos Deputados.
Atualmente, a saída temporária é um direito previsto na Lei de Execução Penal, e se destina a aproximar o preso do convívio com a família. É concedido para quem está no regime semiaberto, tem bom comportamento e cumpriu 1/6 da pena, se primário, ou 1/4 da pena, se reincidente.
Objetivo da lei
Apesar de bem recebido pelos parlamentares, o projeto é criticado por advogados criminalistas. “A saída temporária é uma medida eficaz para atingir os fins da pena, como a ressocialização do preso e sua reinserção social. Isso deve acontecer paulatinamente. Não adianta abrir a porta da cadeia da noite para o dia e colocar o preso de volta na sociedade”, diz Guilherme San Juan Araújo, do San Juan Araújo Advogados.

O objetivo da execução penal está especificado no artigo 1º da Lei de Execução Penal: efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado.
Para Daniel Gerber, do Eduardo Antônio Lucho Ferrão Advogados, a medida proposta de restringir as saídas temporárias apenas revela a falência do sistema prisional, que não cumpre nenhuma de suas funções. “O correto seria investir na reintegração do preso na sociedade, mas isso, infelizmente, leva tempo, e não gera votos", diz.
O benefício da saída temporária é um dos mais importantes incentivos aos detentos para que mantenham o bom comportamento, reforça Filipe Fialdini, sócio do escritório Fialdini, Guillon & Bernardes Jr Advogados. “É preciso não se esquecer que os presos vivem em condições desumanas”, complementa.
Fialdini lembra ainda que somente pode ser beneficiado pela saída temporária aquele que já possui o direito de sair para trabalhar. “Ou seja, independentemente do benefício da saída temporária, o beneficiado já possui o direito de sair todos os dias para trabalhar. Por isso, o argumento de que a saída temporária aumenta a criminalidade é também falso”, afirma.
Justificativas falsas
Mesmo sem apresentar dados, ao justificar o projeto, a senadora Ana Amélia afirma que “todos os anos observamos uma lamentável ocorrência, que é a elevação do número de delitos praticados durante o ‘saidão’ dos presos”. Além disso, diz que muitos detentos não retornam aos presídios para dar continuidade ao cumprimento de pena “e, mais dia menos dia, voltam a delinquir”.

Já o senador Pedro Taques (PDT-MT), relator do projeto na CCJ, apresentou levantamento feito pela mídia com base em dados do sistema penitenciário nacional: 2.416 presos que receberam o benefício da saída temporária no Natal e no Réveillon não voltaram aos presídios em 2013. De acordo com esses dados, alguns estados apresentaram altos índices de detentos que não retornaram para a prisão: Sergipe (21%), Maranhão (19,7%) e Goiás (12,6%). “Aquele que é reincidente já demonstrou, ao reincidir na conduta delitiva, que merece um tratamento estatal mais cuidadoso e parcimonioso”, opinou Taques em seu parecer.
Marcelo Leal, também do Eduardo Antônio Lucho Ferrão Advogados, reforça a tese de que a justificativa do projeto é falaciosa. Ele discorda dos dados apresentados. Segundo ele, os números variam conforme cada cidade e, em média, apenas 5% não retornam à prisão ou voltam a cometer delitos nesse período. Para Marcelo Leal o problema da saída temporária está na falta de condição do Judiciário de analisar corretamente a situação de cada preso.
“O preso só recebe esse benefício após uma análise judicial. Não podemos diminuir a possibilidade de reinserção do preso por um problema de falta de condição do Judiciário de fazer a análise corretamente. A impressão que me dá é de que o legislativo e a imprensa entendem a prisão somente como um castigo para quem cometeu um delito, enquanto deveria ser para a reinserção”, diz.
Conselheiro federal da Ordem dos Advogados do Brasil, Pedro Paulo de Medeiros considera que, para ser justificável, o projeto mostra a eficiência das medidas propostas. “Toda medida de recrudescimento do tratamento da delinquência deve considerar sua eficiência e eficácia para o fim de diminuir a criminalidade e, igualmente, demonstrar que há proporcionalidade entre a restrição aos direitos, como o da saída temporária, e a previsão constitucional do caráter ressocializador da pena, moldura motivadora da saída temporária", afirma.
Fim do benefício
Na contramão das opiniões da advocacia, o promotor de Justiça em Minas Gerais André Luís Alves de Melo é a favor de acabar com a saída temporária, pois, segundo ele, com 35 dias por ano, elas equivalem a uma espécie de "férias prisionais". “Quem quer se ressocializar não precisa desses beneficios, pois a ressocialização é um ato de vontade do preso e não uma imposição da pena”.

O promotor já defendeu essa tese em artigo publicado na ConJur. Na ocasião, argumentou que, na lógica atual, a função do Direito Penal deixou de ser punir e passou a ser ressocializar. "Isso banaliza o Direito Penal, descaracteriza sua autoridade moral, amplia excessivamente o leque de crimes, transforma criminosos em falsas vítimas da sociedade e, paradoxalmente, aumenta o número de presos", diz no artigo.
Segundo ele, as pessoas não cometem mais crimes porque são presas, mas sim são presas porque cometem crimes mais perigosos. Logo, a reincidência é causa e não consequência, ao contrário do que sustenta a "ideologia dominante", diz.
Ele observa ainda que este é um direito que movimenta o Judiciário de forma excessiva, pois são cinco pedidos por ano e para milhares de presos. O promotor ponta ainda que este é um benefício que não existe praticamente em outros países. “Pelo menos nos apenados por crimes hediondos nem deveria ter este direito. Há casos de criminosos habituais e perigosos com este direito”, conclui.

Reportagem de Tadeu Rover

Brasil registra queda no número de transplantes no início de 2013

De acordo com levantamento do Ministério da Saúde, a queda de 6% no total de transplantes é explicada por uma redução nas filas de espera.



O número de transplantes de córnea no Brasil caiu 13% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. De acordo com dados do Ministério da Saúde, divulgados nesta quarta-feira, a queda se deve a uma redução nas filas de espera. Por outro lado, os transplantes de órgão sólidos — como pulmão e coração — aumentaram 3%. No total, foram realizados 11.569 transplantes no país de janeiro a junho — 6% menos do que em 2012 em razão da queda dos transplantes de córnea.
Segundo levantamento do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), no primeiro semestre de 2013 foram registrados 3.842 transplantes de órgãos como pulmão, coração, pâncreas, rim e fígado, um aumento de 3,8% em relação a 2012, quando foram realizadas 3.703 operações. Sozinho, o transplante de pulmão cresceu 113%: de 30 para 64 cirurgias. Os procedimentos de coração tiveram aumento de 14,8%, chegando a 124 atendimentos no primeiro semestre deste ano. Os transplantes de medula óssea também aumentaram, passando de 862, em 2012, para 974, no primeiro semestre de 2013.
Doação — De acordo com a pasta, os índices de transplantes são acompanhados por uma melhora na aceitação familiar quanto à doação. A negativa para doação caiu de 80%, em 2003, para 45%, em 2012. O país, que demorou 23 anos (1987 a 2010) para chegar a 9,9 doadores por milhão de pessoas, teve um salto nos últimos três anos: o número cresceu para 13,5 doadores por milhão da população. O Ministério tem como meta chegar a 15 por milhão até 2014.
Para fazer a doação de órgãos no Brasil, no caso de doador falecido, é necessária apenas a autorização da família para que os órgãos sejam doados, além da constatação da morte encefálica do indivíduo, que deve ser diagnosticada por dois médicos diferentes e comprovada por um exame complementar interpretado por um terceiro profissional.

O crescimento da população mundial está fora de controle?



O respeitado naturalista e apresentador de televisão britânico, David Attenborough, disse recentemente à BBC que o crescimento da população mundial estava "fora de controle", mas um especialista acredita que o número de pessoas no planeta deve atingir o pico em 40 anos. Em quem devemos acreditar?
"A população mundial está crescendo fora de controle," disse Attenborough ao programa Today da BBC.
"Desde que eu comecei a apresentar programas, há 60 anos, a população humana triplicou."
Duas afirmações surpreendentes.
Vamos analisar a segunda afirmação primeiro, que diz que a população do mundo triplicou em 60 anos.
Em 1950, na época em que Attenborough começou sua carreira como apresentador, haviam 2.53 bilhões de pessoas no mundo. Sessenta e três anos depois, a última estimativa é que a população mundial é de 7.16 bilhões.
Esse número é quase o triplo, mais precisamente 2.8 vezes, mas não está longe do que sugere Attenborough.
11 bilhões em 2100
A afirmação de que o crescimento está "fora do controle" é mais difícil de ser medida, mas poderia provavelmente ser interpretada como uma ideia de que a população continuará crescendo na mesma velocidade, e basicamente triplicará em 60 anos.
Se isso acontecer, a população do mundo pode chegar a quase 40 bilhões até o final desse século.
Mas a última projeção da ONU prevê uma população de menos de 11 bilhões, um pouco mais de um quarto desse número.
Esse número ainda é 50% a mais do que temos hoje, mas mostra que a ONU espera um crescimento muito mais lento da população nas próximas décadas do que em décadas passadas.
Alguns podem considerar que um aumento na população mundial de 7 bilhões para 11 bilhões em 2100 ainda represente um crescimento populacional fora do controle.
Mas este número da ONU - divulgado no documento World Population Prospect (Perspectivas da População Mundial), publicado a cada dois anos - é considerado por, pelo menos, um especialista como muito alto.
"Quando vi esses números eu percebi que eles, quase que certamente, estavam errados", disse Sanjeev Sanyal, estrategista global do Deutsche Bank, sobre a última atualização do documento da ONU divulgado em junho deste ano.
"Difíceis de justificar"
As projeções de crescimento da população alimentam muitas outras previsões e modelos - projeções de consumo de energia, por exemplo, ou os lucros de empresas - então pessoas como Sanyal examinam estes dados das Nações Unidas cuidadosamente.
E ele considera as projeções da ONU "difíceis de justificar" por diferentes razões.
"Se você olhar para as taxas de fertilidade - o número de bebês que uma mulher tem ao longo de sua vida - em grandes partes do mundo, essas taxas de fertilidade estão agora abaixo do que é necessário para substituir a população", diz ele.
"Grande parte da Europa, Japão, grandes países como a China, inclusive o Brasil, não produzem (os necessárias) 2,2 ou 2,3 bebês (por mulher). Alguns deles estão muito abaixo desse nível e, como resultado, é quase certo que estes grandes países vão ver suas populações rapidamente em declínio em algumas décadas a partir de agora."
A taxa de substituição é maior do que dois, porque algumas mulheres vão morrer antes de chegar ao fim de seus anos férteis.
Além disso, nos países em desenvolvimento a ONU prevê populações em rápida expansão.
Na Nigéria, por exemplo, espera-se que o número atual de cerca de 160 milhões aumente para quase um bilhão até o final do século.
Sanyal é cético.
"Certamente os nigerianos vão reconhecer, em algum momento, que as coisas estão ficando lotadas e vão parar de ter tantos filhos", argumenta.
Divergências
Ele prevê que a população da Nigéria em 2100 será de 400 milhões a menos do que a ONU sugere.
Suas previsões são mais baixas para os dois maiores países do mundo também. Ele prevê que a população da China será de 60 milhões a menos do que as previsões da ONU para 2100, e de 100 milhões na Índia.
"Mesmo os Estados Unidos são muito suspeitos", diz Sanyal.
Para esse país a ONU prevê um aumento de 312 milhões de pessoas hoje para 462 milhões em 2100.
"Isso seria extraordinário para um país que já tem taxas de natalidade abaixo da taxa de reposição. É necessário um fluxo de imigração para os Estados Unidos muito grande para se chegar perto deste número."
É provável que muita gente vá imigrar para os Estados Unidos. Sanyal aceita que a população do país vai crescer.
Mas para aumentar a este ritmo, ele insiste que outros países teriam de estar mostrando quedas na população - quedas que não aparecem nos dados da ONU.
No geral, Sanyal prevê um quadro muito diferente do da ONU, com a população mundial chegando a 8,7 bilhões por volta de 2050, e caindo para cerca de 8 bilhões até o final do século.
Esse número é cerca de um bilhão a mais do que temos agora, mas bem menos que os 11 bilhões previstos pela ONU.
Taxas de fertilidade
Ambos Sanyal e a ONU partiram dos mesmos dados - censos nacionais de 2010. A diferença surge porque eles fazem suposições diferentes sobre fertilidade, mortalidade e migração.
"Eu levei em conta duas ou três coisas que eu acho que não são adequadamente refletidas no relatório da ONU", explica Sanyal.
"Eu provavelmente dei mais importância à fatores como o preconceito de gênero em países como China e Índia. O fato de que eles são países com muito menos mulheres em idade fértil do que a sua população em geral poderia sugerir."
As previsões da ONU também assumem, de acordo com Sanyal, que todas as taxas de fertilidade irão convergir para a taxa de substituição - uma "suposição estranha" em sua opinião.
"Nós não vimos nenhum país onde as taxas de fertilidade caíram dramaticamente e voltaram a subir à uma média que corresponde a de substituição", diz ele.
E a ONU tem subestimado o impacto da urbanização sobre a redução das taxas de fertilidade, argumenta. Até agora, como ele diz, a urbanização tem sido "um poderoso anticoncepcional" em todos os países.
Variante médio
Por sua vez, os especialistas da ONU dizem que Sanyal deve ter assumido declínios muito acentuados nas taxas de fertilidade, que eles não consideram, e que alterações muito pequenas na taxa de fertilidade global podem ter um enorme impacto em décadas por vir.
As previsões da ONU destacam isso.
A estimativa de 10,9 bilhões em 2100 é o que é conhecido como o "variante médio", que representa o que a ONU considera o caminho do meio.
Mas, se você assumir uma taxa de fertilidade de metade de uma criança abaixo disso, a população do mundo cairia para 6,8 bilhões até o final do século. Adicione metade de uma criança no modelo da ONU e esse número atinge 16,6. bilhões.
Além disso, pequenas mudanças nas taxas de fertilidade têm um efeito mais marcante ao longo do tempo. As previsões de Sanyal e da ONU diferem em 800 milhões em 2050. No entanto, isso aumenta para 2,8 bilhões até 2100.
Há espaço de sobra para discordância. Mas vamos torcer para que as divergências não sejam "fora de controle".



29/09/2013

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Crece el número de millonarios en Centroamérica y también la desigualdad


Si el espejo de la desigualdad brilla en América Latina y el Caribe, en Centroamérica reluce con intensidad. Un pequeño grupo de 1.025 millonarios centroamericanos—que equivale al 0.041% de la población regional acumula fortunas por 137.000 millones de dólares, mientras la producción global en la región fue de 172.800 millones en 2012. Son 1.025 personas que se codean con los más ricos de América Latina y que ya suponen el 14.3% de los multimillonarios latinoamericanos.
Con un promedio de 133,6 millones de dólares por cada fortuna, las cifras impactan en una zona en la que la mitad de sus 43 millones de habitantes sobrevive hundida en la pobreza extrema, con severos cuadros de subnutrición. Los datos de la Organización de Naciones Unidas para la Alimentación y la Agricultura (FAO) ofrecen una dura realidad: las cifras de hambre en Centroamérica se estancaron en 8 millones de víctimas en el periodo 1999—2001 y aunque entre 2007 y 2009 bajaron a casi 7,4 millones, después aumentaron de nuevo y en el lapso 2010—2012 se incrementaron a 7,7 millones. La previsión es que continúen creciendo.
“La desigualdad es la expresión de la muerte lenta de nuestros pueblos”, advirtió el salvadoreño Benjamín Cuéllar, director del Instituto de Derechos Humanos de la Universidad de Centroamérica (UCA), de El Salvador. “Los pueblos, independientemente de que se superen guerras o conflictos violentos, mantienen latente la posibilidad de conflictos violentos nuevos”, afirmó en una entrevista con EL PAÍS.
“Es evidente que desigualdad, hambre e inseguridad, sobre todo en el Triángulo Norte de Centroamérica (Guatemala, El Salvador y Honduras), hacen que seamos países expulsores de gente que, buscando lo que no encuentra en sus países, se arriesgue a travesías (migratorias) para encontrar un lugar para suplir carencias”, dijo. “Seguimos sin aprender la lección”, opinó Cuéllar al aludir a las guerras civiles que sacudieron Centroamérica de 1960 a 1996 y que estallaron por las profundas injusticias sociales.
Tras recordar que “la inequidad social es uno de los principales problemas históricos de Centroamérica”, la guatemalteca Carmen Rosa Escribano de León, directora ejecutiva Instituto de Enseñanza para el Desarrollo Sostenible de Guatemala, alertó que “la brecha entre ricos y pobres se hace cada vez más grande: hay más pobres, menos ricos y se está estrangulando a la clase media”.
Al destacar que los países de la región con más millonarios están entre los tienen menos impuestos, Escribano declaró a este diario que “la tasa impositiva está repartida y el grueso recae sobre la clase media. Hay históricas familias millonarias que han mantenido privilegios y negocios. Empezaron por tierras, siguieron por banca y ahora pertenecen a grandes consorcios de extracción de bienes primarios, como azúcar”.
En este escenario, el Informe Mundial de la Ultra Riqueza 2012/2013—elaborado por la compañía Wealth X de Singapur, con patrocinio de la sociedad financiera suiza UBS—reveló que Guatemala, con 245, y Honduras, con 215, son los países que cuentan con más millonarios en la zona, seguidos por Nicaragua - con 200 -, El Salvador - con 150 - y Panamá, con 115. La cantidad que acumulan estas fortunas aumentó 9.000 millones de dólares en el último año.
Los cinco países ocupan importantes puestos del ranking de los ricos de América Latina y el Caribe, aunque todos padecen severos escenarios de miseria y marginación social. Los primero lugares de la lista son para Brasil, México, Argentina, Colombia, Chile, Perú, Venezuela, Ecuador y República Dominicana. Después viene Guatemala (10), Honduras (11), Nicaragua (13), El Salvador (15) y Panamá (17).
Las cifras del informe revelan que, por ejemplo, Guatemala pasó de tener 235 millonarios en 2012 a 245 en 2013, con un capital que aumentó de 28.000 millones de dólares a 30.000 millones. El número de ricos en Guatemala—con una fortuna media individual de 122 millones—equivale al 0.060% de la población del país, estimada en los 14.8 millones de habitantes, en un país con un Producto Interior Bruto (PIB) que sumó 49.895 millones de dólares el año pasado.
Honduras, que con Haití, Nicaragua y Bolivia está entre las naciones con mayores índices de desigualdad y pobreza en el continente, registró un aumento similar: de 205 millonarios en 2012 subió a 215 en 2013 y su fortuna creció en ese periodo de 28.000 millones de dólares a 30.000 millones. El dato de ricos en Honduras—con una media de 139 millones de dólares por cada fortuna y un PIB de 17.968 millones de dólares el año pasado—corresponde al 0.036% de los 7.8 millones de hondureños.
Nicaragua, cuyos ciudadanos se ven obligados a migrar al exterior por la falta de empleo y la crisis socioeconómica, pasó de 190 a 200 millonarios en el periodo evaluado, cuyas fortunas suman 27.000 millones de dólares en una nación con un PIB de 10.507 millones de dólares. De los 5,9 millones de nicaragüenses, 0.029% son millonarios.
En El Salvador, que desde el siglo XIX estuvo bajo control político y económico de una casta de 14 familias que fue germen de una guerra civil de 12 años (1980—1992), el número de ricos aumentó de 145 a 150—equivale al 0.041% de los 6.2 millones de salvadoreños—, con 20.000 millones de dólares de fortuna acumulada. El PIB salvadoreño fue de 23.844 millones de dólares el año pasado.
Panamá ha sido apodado en los últimos como el Singapur o el Dubái de América gracias a su explosión inmobiliaria, comercial, financiera y económica y a una oleada de megaproyectos. El país tiene 115 grandes fortunas que acumulan 16.000 millones de dólares, mientras que el PIB del país en 2012 fue de 36.000 millones de dólares Esas 115 personas representan el 0,031% de la población, con un patrimonio medio de 130 millones de dólares.,
El número de millonarios en Costa Rica, una de las naciones con mayor estabilidad política en América Latina y el Caribe en los últimos 65 años y reconocida por su consolidada democracia, ha pasado en el último año de 85 a 100, quienes representan el 0,047% de la población del país. Sus fortunas suman 14.000 millones de dólares en un país con un PIB de 45.127 millones en 2012.
Aunque en Centroamérica hay un puñado de ricos, explicó Escribano, “el capitalismo ni siquiera está desarrollado. Existe una visión feudal y monopólica comercial, económica y financiera, centrada en familias con incidencia directa en las decisiones gubernamentales: con su poder económico, influyen en las decisiones políticas”.

Reportagem de José Meléndez

Outro Dia da Criança é possível

Artigo de Lais Fontenelle Pereiramestre em Psicologia Clínica pela PUC-Rio e autora de livros infantis, é especialista no tema Criança, Consumo e Mídia. Ativista pelos direitos da criança frente às relações de consumo, é consultora do Instituto Alana, onde coordenou durante 6 anos as áreas de Educação e Pesquisa do Projeto Criança e Consumo.



No Brasil, convencionou-se considerar 12 de outubro como Dia das Crianças. A data foi oficializada em 1924 pelo presidente Arthur Bernardes, mas só décadas depois, por volta dos anos 1960, passou a ser comemorada. Foi quando a fábrica de brinquedos Estrela lançou a Semana do Bebê Robusto junto com a multinacional Johnson & Johnson. Desde então, o dia foi mercantilizado e passou a ser vivido pela grande maioria das famílias como um dever ao consumo. Escolhi este tema para abrir, em Outras Palavras, uma coluna que pretende estimular reflexão sobre a criança contemporânea e sua relação com consumo, mídias, família, escola e cidade.
Depois dessa breve história, uma pergunta: o que de fato honramos atualmente, a criança ou o consumo? Porque para homenagear a criança faria mais sentido escolher 20 de novembro, data da aprovação pela ONU da Declaração dos Direitos das Crianças.
As crianças de hoje diferem das de outros tempos – principalmente pelo lugar de destaque que ocupam na engrenagem da sociedade de consumo. Recebem status de consumidoras no mercado, antes mesmo de estarem aptas ao exercício pleno de sua cidadania. São diariamente bombardeadas, em todos os espaços de convivência, por mensagens publicitárias abusivas que vendem a falsa ideia da realização de sonhos, felicidade e inclusão social pela posse de mercadorias. Mas as crianças são seres em desenvolvimento psíquico, afetivo e cognitivo, e até mais ou menos os doze anos não têm capacidade crítica e abstração de pensamento formadas para retrabalhar essas mensagens persuasivas.
E aí está o problema: a construção da subjetividade da criança se dá também pela posse dos objetos que a cercam. Ela já nasce usando fraldas X, bebendo leite Z, brincando com bonecos Y. Desde muito cedo, passa a ser consumidora não só de objetos, mas também daquilo que eles representam. Outra pedagogia se instalou na vida de nossas crianças: a das mídias que falam diretamente com os pequenos, não só entretendo e informando, mas ditando valores e hábitos de consumo.
A criança brasileira é das que mais assistem TV no mundo: passa mais de 5 horas do dia sentada em frente à tela, em média (1). Em áreas de alta vulnerabilidade social e econômica, esse tempo chega a espantosas 9 horas por dia – o que ultrapassa, em muito, o tempo que ela passa no ambiente escolar: cerca de 3 horas e 15 minutos. O problema se agrava se lembrarmos a publicidade veiculada por essa mídia, que parece hoje mais formadora da subjetividade infantil do que a escola, com forte impacto no desenvolvimento saudável das crianças. Isso, além de contribuir para o grave e urgente problema do consumismo na infância.
O consumismo tornou-se um hábito característico de nossa sociedade. Mas, como nenhuma criança nasce consumista, vale uma reflexão sobre quais hábitos e valores estamos transmitindo às crianças contemporâneas, para que prefiram comprar a brincar. Valores que priorizam o ter em detrimento do ser, o individual acima do coletivo, a competição ao invés da cooperação. A infância não pode ser aprisionada nos falsos ideais de felicidade vendidos pela sociedade de consumo. Criança precisa de muito pouco para ser feliz: precisa de olhar, de palavra, de escuta e de acolhimento.
Convoco então pais e cuidadores a inverter, nesse 12 de Outubro, a lógica consumista dominante e a trocar o shopping pelo parque, o brinquedo pelo afeto. O dia das crianças pode ser comemorado de outras formas. Foi pensando nisso que o Instituto Alana teve a iniciativa, engajada e divertida, de convidar pessoas de todo o país a organizar Feiras de Troca de Brinquedos (em eventos simultâneos no sábado, 12 de Outubro), para gerar um movimento nacional de transformação do olhar à relação da criança com o consumo.
Uma Feira de Troca de Brinquedos é também uma boa experiência para repensarmos a forma como nós, adultos, consumimos. São espaços que convidam a outra socialização e ao exercício de desapego, e maneira de colocarmos em prática a economia solidária e o consumo colaborativo. Nelas, as crianças têm ainda a chance de exercitar a conquista por meio da negociação entre pares. E o mais bacana é que na troca os objetos perdem seu valor monetário – e ganham outros valores, simbólicos e afetivos.
Ao emprestar novos significados e usos a objetos antigos, ao afirmar que as relações sociais e afetivas não precisam ser pautadas pela compra, a experiência das Feiras de Troca torna-se enriquecedora para pais e para filhos. Trocar pode, sem dúvida, ser bem mais divertido que comprar. Que tal, então, se engajar nesse movimento para celebrar o dia das crianças de forma mais humana e sustentável? No site do Alana estão disponíveis materiais de apoio para ajudá-lo a organizar uma feira. Compartilhe a ideia e divirta-se!

Cresce diferença salarial entre homens e mulheres no Brasil

Relação entre os salários de trabalhadores de ambos os gêneros caminhava para o equilíbrio desde 2008, mas indicador recuou em 2012.


Pela primeira vez desde 2007, a diferença entre a renda mensal média de homens e mulheres no Brasil ampliou-se em 2012. É o que indica a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2012, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada nesta sexta-feira. O salário das mulheres correspondeu a 72,9% do redimento masculino no ano passado. Em 2011, essa proporção era de 73,7%. Ou seja, a diferença era levemente menor. A útima vez que a diferença entre os gêneros se ampliou foi há seis anos, quando a proporção ficou em 71,4%, ante 71,6% de 2006. A renda média mensal masculina no ano passado foi de 1 698,00 reais, e das mulheres, de 1 238,00 reais.
O rendimento médio mensal do brasileiro acima de 15 anos - descontados os efeitos da inflação - teve alta de 5,8% em 2012, na comparação com o ano anterior. De acordo com a pesquisa, a renda passou de 1 425,00 reais em 2011, para 1 507,00 reais, no ano passado.  
A pesquisa mostrou ainda que houve aumento do rendimento médio mensal real em todas as esferas da pirâmide de renda. Contudo, a diferença dos ganhos dos 10% com menor renda para aqueles que correspondem a 1% da maior faixa de renda ficou ainda maior: em 2011, a população do topo da pirâmide ganhava 84 vezes mais que os 10% com menor renda. Em 2012, essa comparação passou para 87 vezes. Os ganhos das pessoas entre os 10% com menor renda aumentou de 202,00 reais, em 2011, para 215,00 reais, em 2012, enquanto o rendimento médio da população de maior renda (que corresponde a 1% do total) passou de 17 048 reais em 2011, para 18 889 reais no ano passado. 
O aumento de renda foi visto em todas as regiões do país, segundo a Pnad. Na região Nordeste a alta ficou mais evidente: 8,1% - trata-se, porém, da região com o menor rendimento médio do país, de 1 044 reais, seguida pela região Norte, cuja renda média é de 1 192 (alta de 2,1% na comparação com 2011). A renda média da população do Sul do país aumentou 5,8%, para 1 639,00 reais, e a do Sudeste, 6%, para 1 707,00 reais. O Centro-Oeste, apesar de ter tido o segundo menor aumento de renda, de 2,1%, tem a população com maior ganho médio, de 1 803 reais.
Taxa de ocupação — O aumento da renda é resultado, entre outros fatores, do aumento da taxa de ocupação da população ativa (os brasileiros acima de 15 anos aptos para trabalhar). Segundo a Pnad, em 2012, a população ocupada totalizou 93,9 milhões de trabalhadores, aumento de 1,6%, na comparação com os resultados de 2011. O Norte foi a região com maior aumento desse contingente, de 2,7%; enquanto a região Sul apresentou o menor crescimento de pessoas empregadas, de 0,7%. As regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste tiveram alta de 1,9%, 1,4% e 1,8%, respectivamente, na taxa de ocupação.
Jovens 'desocupados' - A taxa de pessoas ativas com emprego cresceu na maior parte das faixas etárias, com exceção do intervalo entre 20 a 24 anos - cujo número absoluto de pessoas ocupadas passou de 10,734 milhões em 2011, para 10,591 milhões no ano passado - e 25 a 29 anos, que passou de 12,270 milhões para 12,079 milhões.  
Já a taxa de desocupação ficou em 6,1% em 2012, segundo a Pnad, mostrando queda em relação ao dado de 2011, de 6,7%. Na região Sul foi observada a menor taxa de desocupação, 4,1% e, na Nordeste, a maior, 7,6%.
Em termos absolutos, o contingente de pessoas que não estavam ocupadas e buscaram se inserir no mercado de trabalho foi de 6,2 milhões, queda de 7,2% em relação de 2011. 
Carteira de trabalho — O número absoluto de trabalhadores formais no setor privado foi de 35,0 milhões, aumento de 1,1 milhão de trabalhos (3,2%) com carteira assinada ante 2011. Em termos proporcionais, não houve variação dos empregados formais entre todos do setor privado: eles correspondiam a 74,6% do total, mesmo patamar de 2011.

Reportagem de Talita Fernandes

Contra violência, moradores se unem e criam própria polícia no México

Primeira iniciativa ocorreu no estado de Guerrero, onde policiais tradicionais cometeram diversos delitos.


A pick-up branca viaja mantendo a velocidade enquanto sobe pelas curvas da Sierra Madre Central. São pouco mais de dez da noite e seis veículos carregados de guardas armados com fuzis começaram a ronda cotidiana nas cercanias do município de Huamuxtitlán, no estado mexicano de Guerrero.
São camponeses, comerciantes, pequenos agricultores da região. Com caras sérias e mãos ásperas segurando armas que até poucos meses atrás serviam unicamente para caçar, os homens da Frente Cidadã Comunitária se distribuem pelos pontos nos quais com mais frequência aconteceram ataques, sequestros e agressões.

Os homens vão em silêncio. Na região, estão presentes grupos armados locais de delinquência, mas também operam cartéis do narcotráfico, filiados aos governos municipais mais ou menos de todos os partidos.
“A situação era ingovernável”, afirma Miguel, um dos conselheiros anciãos da Frente Cidadã e responsável por um programa diário da rádio comunitária. “O nível de corrupção das forças da polícia é vergonhoso. São eles que apoiam os grupos do crime organizado. Em vez de proteger a cidadania, são pagos para sequestrar, assassinar, roubar e agredir.”


Desde fevereiro de 2012, o conselho municipal do pequeno município de Guerrero optou pela autodefesa armada. São rondas de cidadãos auto-organizados, que seguem as diretrizes das assembleias populares. A polícia municipal foi desarmada e a prefeitura, ocupada, depois do sequestro de 17 pessoas em junho de 2012.
“Quando ocupamos a sede da polícia municipal, depois do sequestro de 17 pessoas que incomodavam o governo local, encontramos uma menina de 13 anos algemada a uma cama. Ela tinha sido estuprada ali mesmo por policiais municipais. Estava atada há horas. Os cidadãos se enfureceram, capturamos quatro dos agentes e os enchemos de porrada.  Os demais escaparam”, lembra-se Saúl, um dos primeiros a formar a Frente Cidadã. “Depois daquele evento, nos organizamos e decidimos juntos termos regras mais rígidas. Apenas pessoas reconhecidas, honradas pela comunidade, sem precedentes criminais e de confiança podem pertencer ao grupo armado da polícia comunitária”.
A escuridão é total, mas, de repente, do banco do passageiro alguém acende a brasa ardente de um cigarro.
Nos últimos dois anos, nasceram dezenas de grupos de autodefesa comunitária em vários estados do México, em sua maioria defendendo bosques, mananciais, fazendo oposição à violência dos grupos criminosos e à total ausência da polícia, ou melhor,  ao seu conluio com o crime organizado.
A mobilização armada de muitas comunidades se transformou em uma questão atual, mas o primeiro grupo do tipo foi formado no estado de Guerrero em 1995, na comunidade indígena de San Luis Acatlán, na região conhecida como Costa Chica.
Originalmente inspiradas pelo levante do Exército Zapatista de Liberação Nacional, de 1 de janeiro de 1994, no estado vizinho de Chiapas, algumas comunidades indígenas mixtecas e tlapanecas do município de San Luis se organizaram para fazer oposição à violência e à ausência das instituições, formando a CARC (Coordenadoria Regional das Autoridades Comunitárias). Durante seus 17 anos de atividade, a CRAC se estabeleceu no território, transformando-se na única força policial respeitada e considerada próxima dos povos originários. 


Para chegar a São Luis, coração da Coordenadoria, é necessário viajar por quatro horas na estrada pela montanha, na Sierra de Guerrero, até quase a costa pacífica, perto de Acapulco.
Nas ruas, a polícia comunitária é muito visível, mais semelhante a uma instituição. As poli, como dizem por aqui, têm melhores armas, são mais organizadas e especializadas. Representam a lei há vários anos, enquanto os agentes da polícia municipal não fazem mais que organizar o trânsito em seus poucos carros de serviço.
“Somos disciplinados e o povo nos respeita”, é o comentário de Leonel, vice-comandante de um grupo permanente de polícia comunitário da CRAC. “A comunidade nos nomeia e nos destitui. Prestamos contas à comunidade, mas, sobretudo, somos parte dela.”
Antes de sair para fazer uma das rondas, Leonel passa para cumprimentar os detentos do centro de justiça comunitária de San Luís. São seis homens trancados em uma apertada cela. Durante o dia, os detentos têm a obrigação de trabalhar a serviço da comunidade. Os familiares podem ir visitá-los a qualquer momento. Para os que trabalham no campo, é comum que as mulheres que preparam as refeições dos membros da polícia também ofereçam comida e bebida e eles. Três vezes por semana os anciãos vão falar com os detentos: “São pessoas que cometeram erros”, explica Leonel, depois de um breve diálogo com um deles.
“São membros da comunidade e devem sair da detenção melhores do que entraram. A reeducação não é uma fórmula vazia aqui. É importante que quando eles saiam sejam mais solidários, ativos e sensíveis.” Os membros da polícia comunitária estão sujeitos a um castigo maior se cometem delitos. E as regras da CRAC são a razão pela qual o governo mexicano ainda não eliminou esse movimento armado que, de fato, em algumas regiões de Guerrero, substituiu a polícia oficial. Um das regras mais rígidas é a proibição absoluta, nas comunidades que decidem aderir à CRAC, do cultivo de maconha e de papoula. Para os camponeses é uma decisão difícil, dado o alto rendimento econômico dessas plantas em comparação ao coco ou ao café, mas a interferência dos cartéis da droga tem muitas implicações.


“Nunca nos opusemos ao Estado”, explica Pablo Guzmán Hernández, um dos fundadores da CRAC, “mas percebemos a ausência das instituições e a necessidade de garantir a segurança das nossas comunidades”.
Víctor Martínez, professor de direito constitucional da Universidade Tecnológica de Monterrey, acredita que a existência de qualquer grupo de polícia comunitária represente uma ameaça à soberania do Estado: “Uma pessoa ou um grupo da sociedade não confia mais nas instituições e decide assumir a defesa de seus próprios interesses, de sua própria segurança, mas isso não tem base jurídica. O Estado não pode permitir a autodefesa, para isso existem as instituições. Para isso as autoridades foram criadas. A realidade dos fatos nos diz que hoje qualquer um pode prender um delinquente, ou presumido delinquente, sem se basear em regras compartilhadas. E isso é muito perigoso porque facilmente pode se transformar em arbítrio”.
O risco de uma justiça sumária é muito alto e a CRAC fez o possível para não ser acusada de subversão ou paramilitarismo ao longo dos 17 anos de sua existência.
A contínua contradição entre a necessidade de autonomia e a reivindicação de uma maior presença do Estado representa uma das características mais frequentes entre as polícias comunitárias, mesmo que para os seus mais antigos militantes a solução seja uma só: voltar às assembleias comunitárias, discutir, pensar juntos estratégias de luta, possivelmente com o apoio da comunidade em seu conjunto.
As rondas aumentam a cada dia, assim como o número de armas que chegam ilegalmente a Guerrero. Durante uma assembleia no quartel general da CRAC, um homem já idoso, um dos fundadores do movimento, que há tempos voltou a trabalhar como agricultor, toma a palavra e quase chorando grita em um espanhol incerto: “Nós não somos guerrilheiros, não somos bandidos. Queremos nos sentir seguros. Não queremos nos sentir fora da lei . Mas nos estão chutando para fora dela.  Na televisão, dizem que em Guerrero não acontece nada, que a situação é tranquila. Mas então alguém precisa me explicar o que fazem aqui todos esses soldados!”




Reportagem de Federico Mastrogiovanni

28/09/2013

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"Brasília não escuta a gente", diz chefe do povo Kuikuro


Encontrei Afukaká Kuikuro, grande chefe do povo Kuikuru, do Alto Xingu, em Paris. Afukaká havia sido convidado por seu amigo, o espetacular fotografo Sebastião Salgado, para participar da abertura de sua exposição, Genesis, na capital francesa, onde reside. Salgado me disse que tinha se hospedado na casa de Afukaká no Xingu, com Lélia, sua espoa, e sido muito bem tratado. Estava, agora, retribuindo a gentileza. Afukaká veio com o antropólogo Carlos Fausto, que trabalham ha anos juntos, e fez a aproximação com o fotografo.
Na Maison Européene de la Photographie, no bairro do Marais, umas das fotos que mais chamava a atenção era uma grande ampliação de Afukaka. Em meio a tantas imagens incríveis de diversas partes do mundo, ali dava pra ver o líder xinguano em seus dois trajes de gala: o que porta na aldeia, na imagem, e o que porta em Paris. O chefe parecia orgulhoso em posar. Como um diplomata, era atencioso, sorria, mesmo sem entender o que diziam, por vezes, com ajuda da tradução de Fausto, e sempre muito simpático. Fausto abre sua exposição individual de fotografias sobre os Kuikuru no dia 2 de outubro, no mesmo local. A exposição se chama, em tradução: "Nus e vestidos a caráter ".
Afukaka é altamente politizado como são os grandes lideres xinguanos. E a viagem para a França também serviu para buscar atenção para o desafio que os povos indígenas estão passando no Brasil. Especialmente o ataque massivo em curso no Congresso Nacional contra os direitos indígenas. Um dos mais tradicionais lideres do Alto Xingu, Afukaka é ao mesmo tempo um sofisticado estrategistas das possibilidades de modernização das relações com o mundo exterior. Mandou seu neto estudar fora, fez alianças com a organização Vídeo nas Aldeias para treinar cineastas, articulou relações importantes com o arqueólogo Michael Heckenberger e para desenvolver um trabalho científico sobre a história do seu povo– e publicaram juntos artigos na prestigiosa revista Science.
Na aldeia não há álcool, as tradições são mantidas com muita força, a língua é uma das mais faladas em todo o Parque do Xingu, e o cacique discute, na comunidade, os problemas de quem vai tentar a vida na cidade, uma das grandes preocupações hoje dos xinguanos.
Com a ajuda de Fausto, recolhi o depoimento abaixo do líder. Ele falou um pouco em kuikuro, uma língua da família karib, e também no português de contato no qual ele se expressa. "Não é que eu estou aqui fora criticando o governo do Brasil. Eu estou é contando o problema dos índios. Brasília não escuta a gente."
A relação dos kuikuru com a terra, segundo Fausto, é bastante diferente. "Eles tem um ciclo agrícola de curto, médio e longo prazo, com uma utilização sustentável da terra. É muito sofisticado e projeta uma paisagem cultural de longuíssimo prazo para gerações futuras"
O cacique também passou um recado para os ruralistas, que acham que a terra nunca irá gastar: "Quando eu vejo soja, eu não entendo. Aquilo me preocupa muito. Eles tiram a mata, plantam soja, jogam veneno, tiram a soja. Daí tiram, jogam veneno. Todo ano jogam veneno, todo ano tiram, jogam veneno. Como é que vai fazer no futuro? Branco chega lá e fala: 'isso é meu, é minha terra'. E depois trata a terra assim?"
"Brasília não escuta a gente", por Afukaká Kuikuro*
Nos plantamos a nossa própria comida. Não abandonamos aquilo que a gente planta pra comer. A gente continua fazendo o nosso beiju, o nosso sal e comendo o nosso peixe. Por isso, a gente se preocupa muito com as cabeceiras dos rios da nossa terra, como o rio Buriti. Os brancos já fecharam o rio Kuluene com barragem. Eles quererem fechar outros rios nossos para produzir energia.
No rio Kuluene a água já mudou muito. Não só por causa da barragem, mas pelos venenos que os fazendeiros jogam na lavoura de soja. Os peixes estão morrendo. Isso nos deixa muito preocupados.
Cada família que tem casa tem também suas roças. Todos nos plantamos para nos alimentar. Plantamos muita mandioca. Um tipo de mandioca que só serve para fazer mingau, algumas outras variedades para fazer beiju. Muita mandioca diferente. Tem outra que a gente chama de mandioca de verdade, depois a mandioca da traíra, a mandioca do pacuzinho. A gente tem 45 nomes de mandioca. São 45 diferentes, ainda não tem estudo sobre a variedade delas. Tem também tem milho, que só é plantado em terra preta.
Nossos avós sempre usaram a terra preta para plantar o milho. A plantação de abóbora, batata, milho tem que ser em terra preta, que é onde foi aldeia no passado. A terra é melhor. Tem quatro tipos de milho diferente que nos plantamos, e eles só crescem na terra preta. A gente planta também banana. Temos três variedades de batata diferente, a batata vermelha, a clara e a verde.
Quando acaba a plantação da mandioca, que é assim: plantou, arrancou, plantou, arrancou; aí a terra fica fraca. Como a terra está fraca, a gente planta para os nossos netos. Plantamos a semente do pequi. Os avós deixam pros netos, pro futuro.
Para plantar o pequi, primeiro a gente faz um desenho de um jacaré na terra, e dentro dele a gente planta varias sementes de pequi. Aí o pequi cresce bem. Quando sai a muda, a gente tira a muda do jacaré e vai plantar na roça. Esse pequi, ele tem muitas variedades. Variedades que não existem fora do Parque do Xingu. Uma delas é um pequi que não tem espinho. É muito bom, a gente gosta muito. Só tem no parque. Mas agora a Embrapa quer patentear. Mas isso é produto nosso, do nosso manejo, dos índios da região. A gente gosta muito de comer pequi. Tem pequi que a gente usa para fazer óleo, e a castanha também usamos para comer.
Na roça velha, quando fica capoeira, tem muito remédio. É muito importante para nós também. Quando a roça acaba, ali fica com muito remédio, muita planta, cipó, que a gente usa como remédio. Os mestres do remédio, que a gente chama Embuta Oto, usam toda essa área que era floresta e virou capoeira, para pegar remédio.
Então quando a gente derruba uma mata a gente faz comida. Depois, a gente planta pequi, vai ter um pequizal pros netos. Quando a gente não planta pequi, essa área vira remédio, fica uma mata de remédio. Se não for mata de remédio, daí cresce o sapé, que a gente usa para fazer o teto da casa. Depois de mais um tempo, ali virou floresta de novo. Essa área que foi roça volta a ser floresta. Na floresta que não foi cortada ainda tem muita coisa importante para nós, principalmente a copaíba. E também material para construção de casa.
Mas quando eu vejo soja, eu não entendo. Aquilo me preocupa muito. Eles tiram, jogam veneno. Tiram, jogam veneno. Todo ano, jogam veneno, tiram. Como é que vai fazer? Branco chega lá e fala "isso é meu, minha terra", e trata assim a terra.
Eles dizem que eles compram a terra, e eles tem papel pra mostrar. E ninguém pode mais ir lá dentro. Com a gente não é assim. A gente pode ir pra mata dos outros, a gente pode ir pra roça. A gente respeita, mas se precisar de alguma coisa, pode ir la buscar. Mas na terra dos brancos não. Se a gente precisar ir em outra aldeia, Kamaiura, Yawalapiti, se a gente for lá pescar, caçar algum bicho, não é errado. Mas pra vocês, eu não posso fazer. No Xingu, nos podemos andar por tudo ali.
Bacia do Xingu, está toda cheia de fazendeiro. Agora tá apertado, tem fazenda por todos os lados. Muitas aldeias ficaram de fora quando fizeram o Parque do Xingu, nossos lugares sagrados, além de aldeias dos Kapalalo. Ainda estamos recuperando. Mas a política do governo não deixa mais recuperar nossa terra. Querem mudar a lei, estão enfraquecendo Funai. Não estamos conseguindo recuperar nenhum lugar sagrado. Isso é uma preocupação muito grande minha. Antes era tudo mato. Hoje é tudo fazenda.
Tem jovem que está indo para a cidade estudar. Eu mandei meu neto estudar. Como eu não falo bem português, não sei escrever nem ler, é importante ele saber, para voltar pra aldeia e trabalhar para o povo, para ensinar mais os jovens. Esse é o meu pensamento. Para lutar, para defender a terra. A minha boca chega lá em Brasília e o ministro não escuta. No papel vale mais. Eu pensava isso quando mandei meu neto estudar. Ele  vai aprender inglês, depois vai fazer faculdade, e vai voltar para a aldeia para defender o povo, para lutar.
Brasília não escuta a gente. Quando a gente vai pra Brasília, ninguém escuta a gente. A gente tem que sair pra outro país, como aqui onde a gente está, na França, pra ouvirem a gente. Porque o governo não quer ouvir a gente. E a Funai está ficando cada vez mais fraca. Brasília não acredita mais na gente, não confia na gente, no que a gente diz.
Antigamente, vocês tinham esses chefes também, os políticos. Mas agora são os fazendeiros que estão virando deputado e senadores. Eles estão lá, todos junto. Por isso que estão fazendo essa política só para eles.
Essa é a nossa luta. Para o nosso neto, nosso filho, para segurar a cultura, a nossa tradição. Eu não quero perder a nossa tradição, que tem lá no Xingu. Nunca esqueci as palavras de Orlando Villas-Bôas. Ele falou para mim: “Olha, Afukaká, quando você ficar grande, você vai ser chefe, tem que lutar pelos Kuikuro, e por qualquer aldeia que tenha aqui. Vocês tem que se unir.” Agora vai ter a mobilização em Brasília, e a gente está todo mundo junto. Está tendo reunião lá no Xingu, muita liderança está indo para Brasília. Vamos lá lutar pelos nossos direitos.
Não é que eu estou aqui fora criticando o governo do Brasil. Eu estou é contando o problema dos índios.
*Afukaká é cacique da aldeia Ipatse, do povo Kuikuro, no Alto Xingu, Parque Indígena do Xingu.

Reportagem de Felipe Milanez