31/01/2014

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Indústria farmacêutica, mentiras e dinheiro


Quando um medicamento causa efeitos colaterais, esta informação muitas vezes não é exposta durante anos, o que permite à indústria farmacêutica continuar ganhando muito dinheiro.
O Food and Drug Administration (FDA) [órgão governamental dos EUA para alimentos e medicamentos] e a indústria farmacêutica argumentam que os efeitos colaterais perigosos em uma droga só aparecem quando é usada por milhões de pessoas – e não no grupo relativamente pequeno de pessoas que fazem testes clínicos. Mas existe outra razão pela qual os consumidores acabam sendo cobaias. Os remédios são levados apressadamente ao mercado, após um período muito curto (de apenas seis meses) para que a indústria possa começar a ganhar dinheiro, enquanto a segurança ainda está sendo determinada.
Tanto a droga para os ossos Fosamax, repleta de riscos, quanto a analgésica Vioxx, ambas da indústria Merck, foram ao mercado após seis meses de revisão. No caso da Vioxx, isso ocorreu porque “o medicamento potencialmente provia uma vantagem terapêutica sinificativa sobre outras drogas já aprovadas”, disse a FDA.
Obrigado por isto.
E cinco drogas (TrovanRezulinPosicorDuract e Meridia), que entraram no mercado em 1997 por pressões da indústria e do Congresso sobre a FDA, diz a PublicCitizen, foram em seguida retirados.
Abaixo, algumas drogas cujos riscos não impediram que seus fabricantes fossem autorizados a colocá-las a venda e exercer seu “valor de patente”.
1. Singulair
Você imaginaria que a Merck aprendesse, após os problemas com Vioxx e a Fosamax, que marketing agressivo pode esconder apenas por algum tempo os riscos emergentes das drogas. Mas não. Para vender o Singulair, sua droga contra asma e alergias para crianças, a indústria fez uma parceria com Peter Vanderkaay, o nadador medalha de ouro nas Olimpíadas, com acadêmicos e com a Academia Norte-americana de Pediatras – mesmo após a FDA advetir sobre os “eventos neuropsiquiátricos” do medicamento, incluindo agitação, agressão, pesadelos, depressão, insônia e pensamentos suicidas.
Enquanto a Merck fazia a propaganda do Singulair (que vem em fórmula mastigável e com gosto de cereja), com slogans como “Singulair é feito pensando nas crianças”, a Fox TV e mais de 200 pais relataram, no site askapatient [“pergunte a um paciente”] que suas crianças, ao tomar o remédio, exibiam humor alterado, depressão e déficit de atenção (ADHD), hiperquinesia e sintomas suicidas. Cody Miller, um garoto de 15 anos de Queensbury, Nova York, tirou sua própria vida dias após tomar o medicamento, em 2008. Ainda assim, o Singulair arrecadou 5 bilhões de dólares para a empresa, em 2010. Após sua patente expirar, em 2012, a Administração de Bens Terapêuticos da Austrália (equivalente à FDA ou à Anvisa) reportou 58 casos de eventos psiquiátricos adversos em crianças e adolescentes, primariamente pensamentos suicidas. Quem sabia?
2. Zyprexa
Como vender uma droga que provoca ganho de peso de cerca de 10kg, em 30% dos pacientes, chegando até 45kg, em alguns? Enterrando seus riscos. O antipsicóticoZyprexa era a nova aposta da Eli Lilly, depois de seu antidepressivo campeão de vendas Prozac – mesmo que o laboratório soubesse, já em 1995, de acordo com o New York Times, que a droga está ligada a um ganho de peso incontrolável e até diabetes. Os efeitos colaterais do Zyprexa de “ganho de peso e possível hiperglicemia fazem um grande mal ao sucesso de longo prazo desta molécula criticamente importante”, havia escrito Alan Breier, da Lilly, segundo documentos obetidos pelo jornal. Mais tarde Alan tornou-se médico-chefe da empresa.
Mesmo após a Lilly ter pagado multas, após acusada de ocultar informações sobre a relação entre a droga e altos níveis de açúcar no sangue ou diabetes (e de ter comercializado ilegalmente a droga para pacientes com demência), o Zyprexa rendeu 5 bilhões de dólares em 2010, acima até do Prozac. Quem disse que crime não compensa? O Zyprexa foi especialmente comercializado para os pobres e virou um dos medicamentos principais do Medicaid, o programa público de saúde norte-americano, extraindo pelo menos 1,3 bilhões de dólares do orçamento do país, só em 2005. Em 2008, a empresa estabeleceu um acordo para cobrir o custo dos pacientes do Medicaid que desenvolveram diabetes após usar a Zyprexa. Como raposa vigiando galinheiro, a Lilly ofereceu um “serviço gratuito” para “ajudar” os estados a comprar drogas como a Zyprexa para doenças mentais — e vinte deles aceitaram a oferta. A patente do remédio acabou em 2012.
3. Seroquel
O antipsicótico Seroquel, produzido pelo laboratório AstraZeneca, do Reino Unido, tornou-se um dos medicamentos mais vendidos nos EUA, arrecadando mais de 5 bilhões de dólares em 2010, apesar de seus riscos, frequentemente relatados. O remédio foi comercializado tão vastamente para crianças pobres que, em 2007, o Departamento de Justiça para a Juventude da Florida comprou duas vezes mais Seroquel que Advil. Sua elevada aquisição no serviço militar, para usos não aprovados — como para estumular o sono e para distúrbio de estresse pós-traumático (PTSD) — também foi espantosa. Relatos de mortes repentinas de veteranos que utilizavam a droga emergiram quando as compras do Seroquel pelo Departamento de Defesa dos EUA cresceram 700%.
Poucos meses após a aprovação da Seroquel, em 1997, um artigo no Jornal de Medicina de Dakota do Sul já levantava questões sobre a interação perigosa da droga com outros onze medicamentos. Passados três anos, pesquisadores da Cleveland Clinic questionavam o efeito da Seroquel na atividade elétrica do coração. Mas mesmo quando as famílias de veteranos falecidos prestaram testemunhos em audiências no FDA, em 2009, e exigiram respostas de dirigentes e legisladores, o órgão protegeu a empresa. Depois, em 2011, com pouco alarde, o FDA emitiu novos avisos que confirmavam as notícias devastadoras: tanto o Seroquel quanto sua versão estendida, que fora lançada, “deveriam ser evitados” na combinação com pelo menos outros 12 remédios. A droga também deveria ser evitada pelos idosos e pessoas com doenças cardíacas, por causa de seus claros riscos ao coração. Ops… A patente expirou no ano seguinte.
4. Levaquin
Os antibióticos à base de fluoroquinolona estão entre os mais vendidos. Muitas pessoas lembram-se do Trovan (na época dos ataques com antrax, logo após o 11 de setembro), mas a indústria farmacêutica espera que não nos lembremos de que foi retirado de circulação por causa de danos ao fígado, e do Raxar, removido por causar eventos cardíacos e morte súbita. O Levaquin, da Johnson & Johnson, igualmente baseado em fluoroquinolona, foi o antibiótico mais ventido nos EUA em 2010, com receitas acima de US$1 bilhão por ano — mas agora é tema de milhares de processos.
Em 2012, um ano após a patente do Levaquin expirar, uma enxurrada de efeitos colaterais começou a emergir, sobre este medicamento e toda a classe de fluoroquinolonas, lançando dúvidas sobre sua segurança. A revista da Associação Médica Norte-Americana relatou que, de 4.384 pacientes diagnosticados com descolamento de rotina, 445 (10%) foram expostos a fluoroquinolone no ano anterior ao diagnóstico. A Revista de Medicina da Nova Inglaterra relatou no mesmo ano que o Levaquin estava ligado a um risco crescente de morte cardiovascular, especialmente morte súbita por distúrbios no ritmo cardíaco.
Embora a FDA tenha alertado sobre as rupturas de tendão — especialmente os tendões de Aquiles — provocadas por fluoroquinolonas em 2008, e adicionado uma tarja preta de advertência na embalagem, novos avisos graves foram feitos dois anos após o fim da patente do Levaquin. Em 2013, a FDA advertiu sobre o “efeito colateral sério de neuropatia periférica” — um tipo de dano nos nervos no qual as vias sensoriais são prejudicadas — nas fluoroquinolonas. Neuropatias periféricas causadas por esta classe de antibióticos podem “ocorrer logo após a administração destas drogas, e podem ser permanentes”, alertou a ageência. Fluoroquinolonas também estão ligadas aoClostridiumdifficile, também chamado de C. Diff, um micróbio intestinal sério e potencialmente mortífero.
5. Topamax
Antes de sua patente expirar, em 2009, a droga Topamax deu à Johnson & Johnson um bilhão de dólares por ano, e foram mais US$ 538 milhões depois disso. O remédio foi tão preferido, para condições de dor no serviço militar, que recebeu o apelido de “Stupamax” – uma referência à maneira com que diminuia os tempos de reação e prejudicava a coordenação motora, a atenção e a memória, de acordo com o ArmyTimes. Não era muito bom para o combate…
Um ano antes de cair a patente do Topamax, a FDA alertou que ela e outras drogas estão correlacionadas com suicídios, e pediu a seus fabricantes para adicionar avisos na caixa. Quatro pacientes usuários da droga mataram-se, contra nenhum sob placebo, declarou a FDA após rever os testes clínicos. Já em 2011, o órgão anunciou que o Topamax pode causar defeitos de nascimento nos lábios, nos bebês de mães que ingerem a droga. “Antes de começar com o topiramato, grávidas e mulheres em idade fértil devem discutir outras opções de tratamento com seu profissional de saúde”, alertou o FDA, mas isso não impediu o órgão de aprovar uma nova dieta de medicamentos contendo o genérico do Topamax, em 2012.
6. Oxycontin
Oxycontin, do laboratório Purdue Pharma, é a avó de drogas que geram muito dinheiro, apesar de seus efeitos colaterais letais. Junto de outros opióides, ele causou o número assutador de 17 mil mortes no ano passado — quatro vezes mais que em 2003. “O aumento [no uso] foi alimentado em parte por médicos e organizações de defesa de analgésicos, que recebiam dinheiro de empresas e faziam alegações enganosas sobre a segurança e a efetividade de opióides — inclusive afirmando que o vício é raro”, relatou oJournal Sentinel. A Sociedade de Geriatras Norte-Americanos usou pesquisadores ligados à indústria farmacêutica para reescrever guias clínicos em 2009, diz a publicação. Após reescritos, eles especificavam opióides para todos os pacientes com dor moderada a severa
Devido a sua fórmula, que lhe permite agir por um longo período, pensou-se que o Oxycontin teria toxidade e potencial de provocar dependência reduzidos – ao menos até seus efeitos tornarem-no mais popular que a cocaína nas ruas (todos os 80mg de pílulas podíam ser tomados de uma vez). Em 2010, respondendo aos vícios, overdoses e mortes associadas à droga, a Purdue Pharma desenvolvou um Oxycontin inviolável, e, dois anos depois, passou a pressionar por leis que exigissem inviolabilidade de todos os opiácios. A empresa garantiu que sua maior preocupação era a saúde pública, mas muitos se perguntaram sobre o porquê desta preocupação só se revelar às vésperas do fim da patente da droga, em 2013…

Reportagem de Martha Rosenberg
fonte:http://outraspalavras.net/destaques/industria-farmaceutica-mentiras-e-muito-dinheiro/
foto:http://filtracom.com.br/industria-farmaceutica-corre-para-renovar-portfolio/

Preconceito em Coimbra vai muito além de xenofobia contra brasileiros, dizem estudantes

Cartazes fazem parte de campanha que também denuncia racismo, machismo e homofobia no campus português.


Cartazes de protesto com os dizeres acima ganharam as redes sociais nos últimos dias denunciando a xenofobia praticada contra brasileiras e brasileiros estudantes da Universidade de Coimbra, em Portugal. A repercussão das mensagens na internet, entretanto, esconde uma realidade muito mais complexa: o ódio contra estrangeiros é apenas uma das formas do preconceito perpetrado diariamente no campus universitário português. Indiscriminadamente, alunos e professores de Coimbra adotam, com agressividade, posturas racistas, machistas e homofóbicas.
"Queremos melhorar o ambiente da Universidade de Coimbra para os atuais e futuros estudantes, sendo eles portugueses ou brasileiros, e isso só se faz quando os problemas são realmente expostos e tratados, não quando se finge que não acontecem”, afirmam em entrevista os membros do movimento estudantil responsável pela manifestação: Jéssica Araldi, Vinicius Cabrera e Alexandra Correira.
O que houve foi uma confusão criada a partir de uma versão equivocada que circulou na internet. No início, acreditou-se que os cartazes faziam parte de uma manifestação organizada apenas por brasileiros vítimas de xenofobia em Coimbra.
Mais tarde, viu-se que a história não era bem essa. Durante uma campanha eleitoral para uma instituição acadêmica discente, uma das chapas estudantis adotou como bandeira política a denúncia das diversas formas de opressão presenciadas na universidade — entre elas, o preconceito contra brasileiros. Resolveram então produzir “ensaios” e estampar cartazes com as agressões ouvidas e presenciadas por alunos.
A chapa Lista R – Reset à AAC, organizadora da manifestação, lamentou a descontextualização da campanha e disse que se assustou com a repercussão equivocada. Os membros do grupo, contudo, confirmaram que há sim casos de xenofobia contra estudantes estrangeiros, brasileiros ou não.
“Isso não é uma guerra entre portugueses e brasileiros. Estamos todos juntos no combate a todo tipo de discriminação”, afirmam os representantes da chapa.
Em nota, a Universidade de Coimbra disse que investigou o ocorrido e negou que haja casos de racismo na instituição, mas afirmou estar aberta a receber qualquer denúncia. "Refutamos categoricamente a acusação de que haja um ambiente de xenofobia na Universidade de Coimbra. Em qualquer caso, se viermos a ter conhecimento de alguma situação de discriminação efetiva em função da nacionalidade, atuaremos com determinação, nomeadamente através de ação disciplinar”, destacou o comunicado.
Os estudantes, por sua vez, afirmam que são poucos os casos que chegam a ser denunciados — tanto pelo medo das vítimas, quanto pela falta de informações a respeito. Em função disso, os episódios ocorridos na Faculdade de Letras (FLUC) ganharam mais repercussão justamente terem sido denunciados à direção.

A Universidade de Coimbra afirma ter mais de 4 mil estudantes estrangeiros, de mais de 90 nacionalidades. Recentemente, Portugal tem investido na atração de alunos estrangeiros como forma de obter recursos para as instituições de ensino superior. Desde 2005, os repasses anuais às universidades caíram quase um terço. Em 2014, o corte será de 4,1%.


Reportagem de Paulo Pastor Monteiro
fonte:http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/33721/preconceito+em+coimbra+vai+muito+alem+de+xenofobia+contra+brasileiros+dizem+estudantes.shtml
foto:Reprodução/Lista R - Reset à AAC

O Brasil reduz o desemprego, mas não aumenta a produtividade

À medida que o Brasil criou postos de trabalho até atingir sua mais baixa taxa histórica de desemprego, como mostrou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com a sua Pesquisa Mensal de Emprego que apontou em 2013 uma taxa média de desocupação de 5,4%, a produtividade do trabalhador praticamente ficou estagnada e emperra um verdadeiro salto na qualidade da economia.
Segundo um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a produtividade da indústria nacional aumentou 1,1% de 2001 a 2012, enquanto os salários aumentaram absurdos 169%. Em comparação com outros 13 países de condições semelhantes, como Espanha, Austrália, Canadá, México, Chile, Argentina, entre outros, o estudo da CNI mostra que os trabalhadores brasileiros são mais produtivos apenas que os da Índia, que é um péssimo país para se comparar sob qualquer aspecto. Entre as razões que mais influenciam o mau desempenho estão, como sempre, o peso dos impostos, a infraestrutura e logística e a educação, avalia a CNI. Outra pesquisa da Fundação Getúlio Vargas mostrou o mesmo na comparação com a economia mais eficiente do mundo, a dos Estados Unidos, chegando à conclusão de que um norte-americano era 82% mais produtivo que um brasileiro em 2012. 
O Brasil tem sido um sucesso em um tipo de criação de emprego: os de má qualidade, ocupados por trabalhadores de baixa qualificação e que recebem salários altos. Ou que custam caro demais para quem tem de arcar com eles. Empregos com esse perfil compuseram o grosso do 1,1 milhão de vagas que o Cadastro Geral de Empregos (Caged) apurou em 2013. Para 2014, o ministro do Trabalho, Manoel Dias, diz esperar que sejam criados 6 milhões de postos de trabalho. E a perspectiva é que não sejam muito melhores do que os criados no ano passado.
Mas, além da baixa produtividade, a distribuição do emprego no país tem se dado de forma desigual na comparação entre as regiões. A região Sul, por exemplo, teve uma taxa de desemprego de 3,8% para sua população entre 25 e 39 anos, enquanto no Nordeste o índice chegou a 10,3%, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) mais recente, feita pelo IBGE.
Para Alcino Leite, professor de economia da Trevisan Escola de Negócios, a disparidade deve-se à diferença da estrutura econômica das regiões brasileiras, que é menos desenvolvida nas regiões Nordeste e Norte. Mas ele também avalia que os programas de assistência social, como o Bolsa Família, mais fortes nessas áreas, em vez de criar laços que deixam as famílias dependentes, ativam as engrenagens econômicas regionais, irrigando o comércio local com mais recursos. “O que se observa no Nordeste é que muitos trabalhadores chamados de desalentados, ou seja, que não procuravam mais emprego, agora buscam essas oportunidades, que existiam para poucos antes e isso tem impacto no resultado da pesquisa”, avalia.
Essa saudável existência de mais postos de trabalho, no entanto, acaba alimentando o motor da alta rotatividade. Para o secretário-geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sérgio Nobre, hoje é comum um trabalhador trocar de emprego duas ou três vezes por ano. “Às vezes, fazem isso por aumentos salariais que não chegam nem mesmo a 100 reais. Se o Brasil não criar oportunidades mais estáveis, nunca vamos conseguir entrar no mesmo quadro de comparação das economias desenvolvidas”, diz Nobre.
No Brasil, após seis meses de trabalho com a carteira assinada, como é chamado o contrato formal, o cidadão passa a ter direito ao seguro desemprego, pago pelo Governo pelo prazo de três a cinco meses e que pode atingir o valor máximo de 1268,49 reais (308 dólares). Como o pagamento de hora extra é bastante incomum devido aos altos custos ligados a isso, muitos trabalhadores usam o famoso jeitinho para conseguir “acordos” em que são demitidos, deixando, assim, de entrar com uma ação judicial. Desse modo, eles podem acessar o salário desemprego, desde que não sejam contratados na carteira novamente. A Justiça trabalhista brasileira é rigorosa e, em regra, decide rapidamente e a favor dos trabalhadores.
O economista Julio Gomes de Almeida, da Universidade de Campinas (Unicamp), chega a dizer que já existe uma cultura em que a troca de emprego virou uma norma. “Existem pessoas que saem de um emprego já contando com os recursos da demissão até uma futura contratação numa posição muito semelhante à que foi abandonada”, afirma. “Não faz muito sentido financeiro do ponto de vista de um economista, mas muita gente está nessa.”
A educação poderia ser a resposta. Mas a reclamação de parte do empresariado é que o ensino básico da população que disputa as vagas de salários mais baixos é tão fraca que se torna difícil conseguir ensinar qualquer coisa mais elaborada para eles.
Além de afetar a produtividade, colocando o país em desvantagem na competição com os rivais internacionais, a baixa qualificação é um peso diário para quem precisa contratar. E pode ser sentida em negócios tão simples como a empresa de decoração de gesso que Adalberto Antão possui na cidade de Santo André, na Grande São Paulo. De acordo com ele, um instalador de gesso pode faturar cerca de 4500 reais por mês. No entanto, ele sofre para encontrar profissionais e na maioria das vezes precisa arcar com os 400 reais do curso de capacitação inicial para formar seus funcionários.
Já Henrique Coronati, sócio da loja Retrô Gol, que vende camisas de clubes esportivos antigas em quatro endereços em São Paulo, afirma que até hoje, após quatro anos da fundação do negócio, não conseguiu fechar nem sequer uma folha salarial anual de um funcionário, pois eles saem antes de completar um ano. “Para nós que lidamos com o comércio e não podemos pagar um salário alto, é praticamente impossível segurar um trabalhador. E cada vez mais parece que eles olham o emprego como algo descartável”, diz.
E enquanto os empregos que o Brasil cria continuarem sendo de má qualidade, caros para os empregadores, ruins para os empregados, e de baixa produtividade, eles devem ser medidos pelo peso que têm e vistos, de fato, como descartáveis.

Reportagem de Felipe Vanini
fonte:http://brasil.elpais.com/brasil/2014/01/30/economia/1391109432_087147.html
foto:http://imagensgratis.com.br/fotos-da-bandeira-do-brasil/3

Ensino de igualdade de gênero gera boicote a escolas na França


Alunos de escolas primárias francesas estão boicotando aulas, por iniciativa dos pais, após rumores difundidos por veículos de comunicação de que o governo criou um programa de ensino que visaria "negar as diferenças sexuais entre homens e mulheres".

Uma centena de escolas na França sofrem com um índice elevado de alunos ausentes desde a sexta-feira.
A polêmica surgiu após a criação recente do "ABCD Igualdade", um programa dos ministérios da educação e dos direitos das mulheres e testado em mais de 600 salas de aula em todo o país, com o objetivo de transmitir às crianças o conceito de igualdade entre homens e mulheres e lutar contra os estereótipos que envolvem ambos os sexos.

O programa pretende pôr fim a ideias homofóbicas e misóginas e mostrar que não existem atividades, inclusive recreativas, específicas para meninos ou meninas - que uma garota pode desejar ser engenheira ou bombeira e um garoto pode querer ser parteiro, por exemplo.

Mas grupos ligados à extrema direita difundiram na internet rumores de que o governo teria tornado obrigatório nas escolas primárias o suposto ensino da "teoria do gênero", interpretado por eles como sendo algo que visa eliminar as diferenças biológicas e sociais entre os homens e mulheres e promover a homossexualidade.
Igualdade

Especialistas ressaltam que não existe uma "teoria do gênero" e sim os estudos sobre gênero (gender studies), iniciados nos Estados Unidos nos anos 60 e 70, que analisam a construção social da identidade sexual e a questão das desigualdades entre homens e mulheres.

O ministro da Educação, Vincent Peillon, declarou que o ministério "rejeita totalmente a teoria do gênero e a instrumentalização feita por pessoas da extrema direita, que estão difundindo uma ideia que causa medo aos pais de alunos".
"Queremos promover a igualdade entre homens e mulheres", afirmou Peillon.
Na última quarta-feira, o ministro pediu a diretores de escolas para convocar os pais que não levaram seus filhos às aulas após o início dos rumores.
Muitos pais receberam mensagens pelo celular pedindo que não levassem seus filhos à escola na sexta-feira passada e também na segunda-feira desta semana para protestar contra o ensino da "teoria do gênero" e publicaram as mensagens nas redes sociais.

"Eles vão ensinar aos nossos filhos que eles não nascem meninos ou meninas, mas sim que eles escolherão seu sexo depois. Isso sem mencionar a educação sexual desde a escola maternal", diz uma mensagem reproduzida pelo jornal francês Le Monde.

O Instituto Civitas, ligado a católicos conservadores, também apoia o boicote às aulas, afirmando que o ministério da Educação estaria difundindo a "ideologia do gênero às escondidas sob pressão de movimentos gays e lésbicos".
Os boatos chegaram a afirmar ainda que o governo estaria promovendo nas escolas primárias uma introdução à sexualidade, com aulas que fariam demonstrações "explícitas" às crianças.
"Nós não falamos nada sobre sexualidade no primário. Na escola, ensinamos a igualdade entre garotos e garotas e não a teoria do gênero", declarou nesta quarta-feira Najat Vallaud-Belkacem, porta-voz do governo e ministra dos Direitos das Mulheres.
"Falamos que os meninos e meninas podem ter ambições de igualdade em relação às suas escolhas profissionais e aos seus sonhos", diz a ministra, se referindo ao programa "ABCD Igualdade".
Boicote organizado
A ideia dos opositores que difundiram os rumores é lançar um dia de boicote às aulas por mês. Na próxima semana, pedidos para faltar às aulas em algumas escolas já foram lançados.

O rumor teria ganhado força, segundo a imprensa francesa, principalmente junto aos pais com baixo nível de instrução e de religião muçulmana.

Em uma escola em Estrasburgo, no leste da França, um terço dos alunos faltou às aulas, sendo quase 90 turcos, ciganos e de origem árabe, segundo o jornal Le Figaro.
Em Meaux, periferia pobre nos arredores de Paris, considerada "zona urbana sensível", 20% dos alunos faltaram na sexta-feira, segundo a imprensa.
O governo minimiza o impacto dos rumores, afirmando que apenas uma centena das 48 mil escolas francesas foi afetada. Mas o assunto vem ganhando força no país.



fonte:http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2014/01/29/ensino-de-igualdade-de-genero-gera-boicote-a-escolas-na-franca.htm
foto:http://envolverde.com.br/ips/inter-press-service-reportagens/armenia-igualdade-genero-uniao-europeia/

30/01/2014

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Diversidade Cultural, esquecida da Justiça

Artigo de Ela Wiecko V. de Castilho, vice-procuradora-geral da república.

Falta aprofundamento sobre os direitos dos povos à sua identidade cultural. Aprofundamento teórico, como se observa pela extensa bibliografia sobre direitos civis, políticos, econômicos e sociais, e ausência de literatura sobre eles. Prático, quando se examina a implementação dos direitos humanos.
Cultura são “traços espirituais e materiais, intelectuais e afetivos que distinguem e caracterizam uma sociedade ou um grupo social”, conjunto que abrange as artes e letras, mas também “os modos de vida, as formas de viver em comunidade, os valores, as tradições e as crenças”- conforme definição da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) na Convenção Internacional sobre a Diversidade Cultural (2001).
A insuficiente delimitação do conteúdo dos direitos culturais deve-se certamente ao fato de a codificação dos direitos culturais não se encontrar sistematizada em um só tratado, mas dispersa em grande número de instrumentos, tanto universais como regionais. Mas a verdadeira razão seria o temor dos Estados a que o reconhecimento do direito às diferentes identidades culturais pudesse colocar em perigo as unidades nacionais – um temor que revela a força do fenômeno histórico da colonialidade.
A colonialidade é constituída num sistema eurocêntrico, embasado na inferiorização naturalizante de grupos humanos, lugares, saberes e subjetividades não ocidentais. Essa inferiorização se apoia na extração dos recursos e na exploração da força de trabalho em uma lógica de reprodução estendida do capital. A colonialidade sobreviveu ao colonialismo (situação de submissão de povos por meio de um aparelho administrativo e militar metropolitano) e continua se reproduzindo por meio de discursos e tecnologias do desenvolvimento e da globalidade. Ela abarca uma dimensão ontológica (colonialidade do ser) e uma dimensão epistêmica (colonialidade do saber) (1).
Globalmente articulada, foi ela o motivo da oposição a que se introduzissem os direitos culturais na Carta das Nações Unidas e na Declaração Universal dos Direitos Humanos( DUDH), durante a Conferência de São Francisco, em 1945. Tais direitos só vieram a ser reconhecidos em 1966, no art. 27 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (2).
Identidade cultural
A Unesco tem aprovado convenções, declarações e recomendações que desenvolvem o conteúdo dos direitos antes enunciados. A Convenção relativa à Luta contra as Discriminações da Esfera do Ensino, de 1960, por exemplo, diz no art. 5º que “deve ser reconhecido aos membros das minorias nacionais o direito ao exercício das atividades docentes, emprego e ensino do próprio idioma, sempre e quando: (i) esse direito não seja exercido de modo que impeça aos membros das minorias compreender a cultura e o idioma do conjunto da coletividade e fazer parte em suas atividades, nem que se comprometa a soberania nacional (ii…), (iii…)”.
Carta Africana, de 1981, introduz o conceito de identidade cultural como conjunto de características que distinguem um grupo social. Esse tema tem sido tratado junto com o das minorias nacionais e o dos povos indígenas e tribais. Em 2005, na Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais da Unesco, os aspectos culturais são reconhecidos como um dos motores fundamentais do desenvolvimento, tão importante quanto os aspectos econômicos. A “proteção, promoção e manutenção da diversidade cultural é condição essencial para o desenvolvimento sustentável em benefício da diversidade cultural e o incentivo ao entendimento mútuo”, afirma. 
A identidade cultural – “conjunto de referências culturais por meio do qual uma pessoa ou um grupo se define, se manifesta e deseja ser reconhecido” (3)– não pode, contudo, ser restringida a grupos étnicos. Há grupos sociais que não se incluem na categoria de povos indígenas e tribais ou de minorias nacionais, mas que possuem forte identidade cultural, como é o caso de populações que vivem da atividade agrícola.
Constituição de 1988
A Constituição de 1988 rompe com uma história de quase 500 anos de negação da autonomia cultural dos povos indígenas e do direito à diferença étnica e reconhece o Brasil como um país pluriétnico e multicultural. Há cerca de 300 povos indígenas ou sociedades indígenas com identidade própria, diferentes entre si e da sociedade dominante. Há mais de 3000 comunidades quilombolas no Brasil.
O seu conceito de cultura abrange as manifestações das “culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional” (art. 215, §1º). Isso significa que há grupos na sociedade brasileira que possuem modos diferentes de criar, fazer e viver. A Constituição não manda mais integrar todos numa única cultura, ao contrário, reconhece o direito à manutenção das diferenças étnicas e os direitos culturais dos indígenas, afrodescendentes e demais grupos participantes do processo civilizatório nacional.
Contudo, nem sempre a proteção expressa da cultura popular na Constituição de 1988 tem sido adequadamente avaliada pelo poder público. Tem ficado invisível, por exemplo, nos estudos de impacto ambiental: pesquisa com onze estudos para empreendimentos do setor elétrico mostra como é ignorada a cultura de comunidades rurais. Poucos se preocuparam em revelar a dimensão coletiva da população atingida, ao contrário: seu discurso leva o leitor à percepção de um universo disperso, um aglomerado de famílias ou de estabelecimentos rurais avulsos; quando muito, fazem referência às relações de parentesco e vizinhança ou a redes de solidariedade.
Isso decorre de uma ideologia que associa as características típicas do universo rural tradicional ao ‘atraso’ ou ao ‘estagnado’, em contraste com o desenvolvimento, que encontra nos empreendimentos de geração de energia elétrica um de seus maiores ícones. Trata-se da colonialidade.
Reconhecimento dos direitos culturais
Os direitos culturais não são suficientemente reconhecidos no Brasil. Faltam normas que complementem o que consta na Constituição e nos instrumentos internacionais ratificados, assim como estruturas administrativas que assegurem a prática dos direitos pelos povos e grupos humanos culturalmente diversos. Leis que colidem frontalmente com o direito à diversidade cultural, como o Estatuto do Índio (Lei n. 6001, de 1967), continuam sendo aplicadas.
Notem alguns exemplos. Uma secretaria estadual de Educação e Cultura não autorizou o funcionamento de quatro escolas de aldeias indígenas em razão do reduzido número de alunos e formação inadequada dos professores. Contudo, os estados que avançaram no cumprimento dos direitos constitucionais dos povos indígenas consideram o número de alunos por terra indígena, e não por aldeia. Isso é essencial para consolidar a educação escolar indígena intercultural, pautada na flexibilidade curricular e na organização comunitária, com o propósito de oferecer e produzir conhecimentos que possam reduzir as desigualdades sociais no diálogo com outras culturas e fortalecer os conhecimentos tradicionais.
Um juiz de Direito indeferiu o pedido de retificação de registro civil, feito por um procurador da República, para que fosse lavrado com os sinais indicativos de peculiaridades fonéticas da língua Yanomami. Invocou ausência de legitimidade do Ministério Público, por não se tratar de direito da coletividade, mas de direito personalíssimo. Ora, o uso da própria língua e de seus sinais gráficos característicos diz respeito à cultura do povo indígena, bem protegido constitucionalmente, e a defesa desse direito está expressamente atribuída ao Ministério Público Federal.
Outros direitos
Mas há ainda uma outra exigência que se impõe, advinda do Estado pluriétnico e multicultural. É o reconhecimento da existência de outros direitos, ou conjuntos de normas que regem uma organização social. Entra-se aqui no tema do pluralismo jurídico, de amplo tratamento na filosofia e teoria do direito no séc. XIX e primeiras décadas do séc. XX, e que, retomado em termos muito diferentes pela antropologia do direito, é uma das questões mais estudadas pela disciplina atualmente.
Conforme Boaventura de Souza Santos, o conhecimento multicultural – matéria-prima do pluralismo jurídico – é perpassado por duas dificuldades: o silêncio e a diferença. O direito estatal destruiu as formas de saber próprias dos povos que foram objeto do colonialismo ocidental. Como realizar o diálogo quando algumas culturas foram reduzidas ao silêncio, sem que o interlocutor fale a linguagem hegemônica que o pretende fazer falar? (4).
O ponto crucial desse déficit de reconhecimento é o embate contínuo entre visões de mundo e, no interior mesmo do campo dos direitos humanos, o confronto entre direito ao desenvolvimento e direito à identidade cultural. É emblemática a decisão do juiz federal de Altamira no caso Belo Monte, segundo a qual “deve prevalecer uma política desenvolvimentista/ integracionista no trato destas sociedades” (indígenas). A visão de direito ao desenvolvimento do referido juiz é restrita àquela da sociedade hegemônica, podendo ser imposta aos grupos subalternos, porque “os interesses indígenas não podem jamais soterrar o interesse público nacional”.
Superar o pensamento hegemônico (a colonialidade)
A insatisfação dos grupos étnicos ou culturais está crescendo. Não se conformam mais em ser invisíveis para a burocracia do Estado e para a sociedade, nem se contentam com a simples carta de direitos. Querem que sejam extraídas todas as consequências do reconhecimento étnico e cultural.
Assim, por exemplo, a demanda pela educação e saúde indígena diferenciada, por programas no rádio e na televisão em língua indígena, pelo registro civil dos nomes indígenas, pelo respeito às suas normas. Assim também a demanda pela titulação das terras ocupadas por comunidades tradicionais as mais diversas, não mais restritas a indígenas ou quilombolas.
Além da luta incessante dos povos e grupos que têm suas identidades étnicas e/ou culturais negadas, a ampliação do reconhecimento dos direitos culturais exige um conjunto de iniciativas do Estado brasileiro. Uma delas diz respeito ao ensino jurídico que, de modo geral, só estuda o direito estatal e propaga a ideia de que o costume é desimportante no Brasil. Por outro lado, prevalece a ótica do direito subjetivo individual sobre os direitos coletivos ou transindividuais – o que pode ser percebido na interpretação dada pelo Judiciário nas ações civis públicas.
O objeto de estudo jurídico continua sendo a norma e não a situação-problema, a demanda, e como aplicar a norma a essa situação. Não se proporciona a oportunidade de estudar a legislação indigenista e os direitos culturais, não se trabalha com o conceito de território étnico/cultural, com o direito à diferença e tantos outros conceitos desenvolvidos pelas ciências sociais. Não há pesquisa sobre normas estabelecidas ao lado e, às vezes, até contra o direito estatal.
Também o sistema de justiça não tem fornecido a adequada resposta às violações que lhe são levadas ao conhecimento. Apesar da Constituição de 1988 ter rompido com o paradigma assimilacionista, presente nas políticas indígenas desde o período colonial, a prática judiciária oferece respostas tímidas diante do novo modelo do constitucionalismo plural, pautado numa concepção da igualdade que incorpora a diferença.
“Subjacente a essas dificuldades [do ensino e prática jurídica] encontra-se uma controvérsia ainda mais ampla sobre uma concepção de direito e de justiça, sobre um modelo de ordem econômica e política e sobre um paradigma de relações sociais e de cultura”, ensina o jurista José Eduardo Faria (5). Para concretizar o Estado Democrático de Direito pluriétnico e multicultural é necessário reinterpretar as leis e construir uma nova sensibilidade jurídica, diante da interculturalidade e do lugar da diversidade no constitucionalismo.

1 Estudos sobre a colonialidade têm sido desenvolvidos por pensadores críticos ligados ao movimento indígena da Bolívia e do Equador e ao Fórum Social Mundial. Entre eles, Enrique Dussel, Walter Mignolo, Aníbal Quijano, Edgardo Lander, Arturo Escobar, Sandro Mezzadra, Ramón Gosfroguel, Nelson Maldonado-Torres, Santiago Castro-Gomes e Catherine Walsh.

2 Todos os instrumentos internacionais indicados podem ser consultados no Minicódigo de Direitos Humanos, organizado por Eduardo C.B. Bittar e Guilherme de Assis Almeida, publicado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH), em 2010, com distribuição gratuita.
3CHIRIBOGA, Oswaldo Ruiz. O direito à identidade cultural dos povos indígenas e das minorias nacionais: um olhar a partir do sistema interamericano. SUR: revista internacional de direitos humanos, ano 3, n. 5,2006, p.44 [ed. em português]..
4 SANTOS, Boaventura de Souza, 2000, p. 27.
5 FARIA, José Eduardo. A reforma do ensino jurídico. Revista Crítica de Ciências Sociais. Coimbra: Centro de Estudos Sociais, v. 21, p. 45, nov./1986.

fonte:http://outraspalavras.net/brasil/diversidade-cultural-esta-esquecida-da-justica/
foto:http://www.metromagazine.com.br/materia.php?Sec=3&Sub=27&id=2869

A destruição da infância

Artigo de Vicenç Navarro, professor de Políticas Públicas. Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona, e professor da Johns Hopkins University. 




Está acontecendo algo sobre o qual não se comenta muito nos fóruns midiáticos e políticos do país (Espanha), e que está causando impacto enorme na qualidade de vida em nosso presente e em nosso futuro. Estou me referindo à grande deterioração do meio cultural no qual a criança está submersa. Um indicador disso, entre outros, é o mundo midiático ao qual as crianças estão expostas. E não me refiro somente ao número de horas que passam diante da televisão ou de outras mídias de entretenimento, o que continua sendo um problema grave (nos Estados Unidos, onde este tipo de estudo é sistematicamente realizado, o tempo de exposição subiu de uma hora e meia nos anos 1970 para cerca de quatro horas atualmente). Estou me referindo, além do tempo de exposição, à evidente deterioração dos conteúdos de produção midiática. A destruição no conteúdo educativo dos programas televisivos ou dos videogames tem sido eminente, com um aumento notável da promoção do consumismo, do individualismo, da violência, do narcisismo, do egocentrismo e do erotismo como instrumentos de manipulação.
A evidência de que isto se dá dessa maneira é assustadora. Estes conteúdos – que configuram de forma muito negativa os valores sociais – estão espalhados por toda a sociedade, incluindo os adultos. Mas o que é ainda mais preocupante é que muitos desses valores se apresentam com mais intensidade nos programas voltados para o público infantil. E a situação está piorando. Vou me explicar.
Em meados da década de 1970, foi feito um estudo sobre o conteúdo dos programas de televisão para meninos e meninas nos EUA. Foi realizado por pesquisadores da Johns Hopkins University. Nesta pesquisa, constatou-se que a violência, muito generalizada nos Estados Unidos, estava inclusive mais presente, paradoxalmente, na programação infantil. Tal estudo provocou uma revolta considerável naquele país. E fui eu a apresentá-lo no Congresso dos EUA, não enquanto professor realizador do estudo, mas como dirigente da Associação Americana de Saúde Pública (American Public Health - APH, segundo a sigla original), tendo sido escolhido entre o corpo diretivo pelos 50 mil membros dessa Associação.
O Comitê de Assuntos Sociais do Congresso dos EUA organizou uma série de depoimentos para analisar o que estava acontecendo nos programas de televisão orientados para crianças. E convocou uma sessão em que estavam, de um lado, os presidentes das três cadeias de televisão mais importantes do país (CBS, ABC e NBC) e, de outro, o representante da APHA (que era eu). Para sempre me lembrarei daquele momento. Ali estava eu, filho de La Sagrera, bairro popular por excelência de Barcelona, Espanha, com o enorme privilégio (em um país de imigrantes) de representar meus colegas da APHA e defender os interesses da população norte-americana diante de três das pessoas mais poderosas dos EUA, que durante seu depoimento tentavam ridicularizar o meu, alegando que eu estava exagerando quanto ao impacto desses programas nas crianças norte-americanas.
Como não podiam questionar os dados que documentavam a enorme violência dos programas infantis, centravam-se em negar que tiveram impacto nas crianças. Este argumento foi fácil de destruir, com a pergunta que lhes fiz diante do Congresso:
 “Se vocês acreditam que seus programas não têm impacto entre as crianças, por que cada anúncio comercial que aparece nestes programas custa quase um milhão de dólares?”. Não responderam. Negar que tais programas tenham um impacto nos espectadores é absurdo. O Congresso dos EUA, por certo, não fez nada, pois não ousava contrariar estes grupos poderosos. 
A situação está se deteriorando
E a situação está inclusive pior atualmente. Esta fixação infantil pela mídia audiovisual está amplamente estendida, agora por meio dos videogames, que estão substituindo a televisão. O grau de exposição das crianças aos videogames alcançou um nível que ultrapassa em muito o tempo à frente da televisão. A transmissão dos valores por meio dos jogos eletrônicos, citados anteriormente, é massiva. É o equivalente ao fast food no universo psicológico, cultural e intelectual.
Tanto que, em vários países europeus, se considera proibir a importação de videogames dos EUA (que são extraordinariamente mais violentos), que destroem massivamente meninos e meninas. Acredito que as autoridades públicas espanholas deveriam considerar sua proibição, como já acontece em vários países da Europa.
Porém, para além da destruição que muitos desses videogames provocam na infância, a exposição a essa cultura tira as crianças de outras atividades. Existe evidência de que, quanto maior o tempo dedicado aos videogames, menor é a capacidade de leitura e de compreensão de textos. A leitura de livros – dos clássicos da infância, de Heidi ao Pequeno Príncipe – está diminuindo muito rapidamente. Serei criticado sob a alegação de que este texto denota nostalgia, o que não é certo, pois minha crítica não é ao fato de não lerem esses textos, mas sim à ausência de leitura desse tipo de texto, em que a narrativa conecta o indivíduo com a realidade que o cerca, ajudando a desenvolver uma visão solidária, amável e coletiva da sociedade. Enfatizar a força, o ego, o “eu” e a satisfação rápida e imediata do desejado, sem freios, levará todos nós a um suicídio coletivo.
E me preocupa o fato de que isto já esteja acontecendo. Se desejam ver seu futuro, vão agora aos Estados Unidos e o verão. As mudanças sofridas desde a década de 1980, quando se iniciou o período neoliberal com Reagan e Thatcher, foram enormes. O neoliberalismo, a exaustação ao "êxito" sem freios, ao individualismo, ao narcisismo, ao darwinismo, inundaram todas as áreas da cultura da infância. 
As meninas como objeto sexual
Outro elemento da deterioração da cultura infantojuvenil está na reprodução dos estereótipos, por trás da qual há uma relação de poder. Um dos mais marcados é o que reproduz a visão machista da sociedade, apresentando as mulheres como objetos eroticamente desejados, e que, notavelmente, afeta a infância. Essa visão já alcançou dimensões patológicas. Nos países mais machistas (e a Espanha está no topo da lista), a mulher está sempre muito decotada (e cada vez mais) e, se não, vejam os noticiários diários. Por que os homens não vão decotados à televisão quando dão as notícias, mas sim as mulheres?
A imagem erótica, com uma definição de beleza estabelecida pelo homem, está alcançando nível tamanho de exagero, que começa inclusive com as bonecas Barbie. Vários países europeus – como a França – estão pensando em proibir tais tipos de boneca. Está chegando a um nível que exige uma mobilização, protestando contra essa destruição por meio da promoção de valores que são prejudiciais à infância e à população em geral. Espero que o leitor se some a essas mobilizações. Se você ama seu país, sugiro que faça algo. Não deixe que manipulem nem a você, nem a seus filhos, filhas, netos e netas. Indigne-se! Faça algo!



fonte:http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/A-destruicao-da-infancia/6/30096
foto:http://blogdoitarcio.blogspot.com.br/2014/01/qual-poder-e-preciso-defender-por-luiz.html

A Alemanha quer adotar cotas para mulheres nas empresas

A cota feminina obrigatória  foi um tema que mereceu apenas uma menção no acordo que tornou possível a formação do novo governo de coalizão, mas o tema ganhou importância nas últimas seis semanas na Alemanha. Tanto que a chanceler Angela Merkel utilizou ontem a principal tribuna política do país para anunciar que seu governo legislará para fazer possível que, a partir de 2016, seja instituída uma cota feminina na direção das grandes empresas alemães.
Merkel justificou a medida com uma frase que será lembrada, para bem ou para mal, pelo mundo empresarial alemão. “Uma economia social de mercado precisa de grande competitividade e por nossa experiência sabemos que essa competitividade é maior quando homens e mulheres têm as mesmas oportunidades”, disse a chanceler no Bundestag. “Por isso estabeleceremos para todos os conselhos de superintendência e de administração de voto obrigatório e das empresas listadas em Bolsa uma quota feminina de ao menos 30%".
O anúncio de Merkel surpreendeu o seu partido e o mundo empresarial por uma razão bastante simples: ela nunca havia se manifestado a favor de uma cota feminina obrigatória e, em contrapartida,  se mostrava a favor do diálogo com a direção das empresas. Merkel usou, por exemplo, todo o poder que tem em suas mãos para impedir na legislatura passada uma iniciativa de sua ministra de Trabalho, Ursula von der Leyen, que havia proposto uma cota feminina de 20% a partir de 2018.
Mas o novo governo de grande coalizão obrigou Merkel a mudar de atitude. Há alguns dias, a nova ministra da Família, a social-democrata Manuela Schwesig, disse que seu ministério estava trabalhando na redação de uma lei de cotas femininas nas grandes empresas alemãs.
A ministra sugeriu que a cota devia ser válida nas direções de pelo menos 2.600 grandes empresas e anunciou que a lei deveria ficar aprovada no curso este ano, entrando em vigor em 2015. Mas advertiu que o percentual de 30% será obrigatório só para 120 empresas que estão listadas na Bolsa.

Reportagem de Enrique Müller
fonte:http://brasil.elpais.com/brasil/2014/01/29/internacional/1391024077_022880.html
foto:http://www.ecopowerheating.co.uk/2012/08/electric-heating-from-germany-its-all-the-same-right/

Brasil, Argentina e Uruguai assinam tratado para abertura de arquivos de ditaduras



O governo brasileiro assinou dois tratados, com o Uruguai e a Argentina, que determinam a abertura dos arquivos nacionais para facilitar a apuração de abusos de direitos humanos cometidos durante as ditaduras nesses países.
Segundo o chanceler brasileiro Luis Alberto Figueiredo, com os acordos "será possível usar o material da Argentina e do Uruguai para facilitar os trabalhos de recuperação da memória".
A Comissão da Verdade, estabelecida no Brasil para esclarecer abusos ocorridos durante o regime militar (1964-1985), será diretamente beneficiada.
O grupo apura, por exemplo, a hipótese de que o ex-presidente João Goulart, deposto em 1964, tenha sido morto por envenenamento durante seu período de exílio na Argentina.
O possível assassinato poderia ter sido praticado por membros do regime militar, embora a causa oficial da morte é um infarto.
O tratado também deve ajudar a Comissão da Verdade a apurar ações realizadas no âmbito da Operação Condor, uma aliança entre os regimes autoritários da América do Sul para perseguir opositores.
O memorando de intenções foi assinado ontem quarta-feira por Figueiredo e pelos chanceleres argentino Hector Timerman e uruguaio Luis Almagro.
O tratado prevê o compartilhamento de "toda informação contida em qualquer meio ou tipo documental, produzida, recebida e conservada por qualquer organização".
O tratado diz que o objetivo do intercâmbio de informações visa contribuir para o processo de "reconstrução histórica da memória, verdade e justiça".
Contudo, o tratado isenta os países de fornecerem documentos se sua entrega violar legislações internas por questões de segurança.
Declaração de Havana
O presidente cubano Raúl Castro proclamou ontem a declaração de Havana, o documento resultante dos dois dias da cúpula da Celac (Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos).
O documento estabelece na região uma "zona de paz", com o compromisso permanente de seus membros em solucionar de forma pacífica as controvérsias que venham a surgir.
Um dos pontos principais da declaração é o compromisso de respeitar "o direito inalienável de escolher seu sistema político, econômico e cultural" para assegurar a convivência pacífica.
Segundo o chanceler Figueiredo, isso não significa, ao menos para o Brasil, prejuízo aos valores democráticos.
"Embora seja uma área de grande diversidade, nós temos nossos valores democráticos e vamos sempre defendê-los", disse Figueiredo.



fonte:http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2014/01/29/brasil-argentina-e-uruguai-assinam-tratado-para-abertura-de-arquivos-de-ditaduras.htm
foto:http://bodegadahistoria.wordpress.com/2012/11/22/historiador-diz-que-brasil-foi-protagonista-na-operacao-condor/

29/01/2014

Imagem do dia

Relatório mostra que meninas são 54% da população fora da escola


As meninas representam 54% da população mundial fora da escola. A situação é mais grave nos estados árabes, onde essa proporção é 60% e não sofreu alterações desde 2000. O desequilíbrio que prejudica as matrículas de meninas nas escolas é maior nos países de baixa renda. Os dados estão no 11° Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos, divulgado hoje (29) pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Eliminar as disparidades de gênero na educação é uma das metas a serem cumpridas até 2015 pelos 164 países que assinaram o Acordo de Dacar (Senegal), durante a Conferência Mundial de Educação em 2000. De acordo com o relatório, em 2011 apenas 60% dos países atingiram esse objetivo no nível primário e 38% no nível secundário.
Nos países de renda média e alta, é mais comum haver equilíbrio entre os dois sexos. Nos casos de disparidades, a situação se inverte e prejudica mais os meninos quando se refere aos níveis da educação secundária, indica o relatório.
É o que ocorre no Brasil, onde há equilíbrio entre meninos e meninas na escola e a situação chega a ser inversa, explica a coordenadora de Educação da Unesco no Brasil, Maria Rebeca Otero. “Felizmente, no Brasil não temos muito esse problema. Até temos uma inversão, as meninas chegam mais ao ensino médio que os meninos”, disse.
Quanto ao desafio de garantir o acesso das meninas à educação nos países árabes, ela lembrou que é possível adotar ações que contribuam para melhorar esse panorama. “Mesmo que se crie salas de aula só femininas, há mecanismos que podem ser usados dentro desses países, modificando aos poucos, respeitando a questão cultural e religiosa”, acrescentou.
O relatório destaca que além de garantir a presença das meninas na escola, é necessário que elas tenham igualdade no processo de aprendizagem. “A igualdade de gênero também pressupõe ambientes escolares apropriados, práticas livres de discriminação e oportunidades iguais para meninos e meninas desenvolverem seu potencial”.
O relatório traz dados que reforçam a importância da educação das mulheres. De acordo com o texto, se todas as mulheres completassem a educação primária, a mortalidade materna seria 66% menor. Oferecer educação secundária a elas nos países pobres reduziria o nanismo em 26%.

fonte:http://noticias.terra.com.br/educacao/relatorio-mostra-que-meninas-sao-54-da-populacao-fora-da-escola,a7909e7bf5dd3410VgnVCM20000099cceb0aRCRD.html
foto:http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,conflitos-meninas-fora-da-escola-e-onda-de-suicidios,544733,0.htm