31/12/2013

Ano Novo

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Rio Paraguai é ameaçado por milhões de litros de esgoto a cada hora

A degradação do rio também é grande em seu trecho Brasil.




O Rio Paraguai, um dos grandes sistemas aquíferos da América do Sul e fonte fundamental de água para o consumo e a irrigação, recebe a cada hora milhões de litros de esgotos urbanos sem tratamento no Brasil, na Argentina e no Paraguai, além de uma quantidade cada vez maior de produtos químicos usados em agricultura. 
Apenas Assunção lança no leito 3,2 milhões de litros de esgotos residencial e industrial por hora sem qualquer tipo de processamento, contou à Agência Efe Osmar Sarubbi, presidente da Empresa de Serviços Sanitários do Paraguai (Essap).
A capital paraguaia, cuja área metropolitana, com mais de 2,6 milhões de pessoas, é o maior núcleo demográfico banhado pelo rio, e também seu maior agente poluidor, pois todos os esgotos vão diretamente para essas águas.
A degradação do rio também é grande em seu trecho Brasil, onde nasce e percorre 2.625 quilômetros que o levam para Bolívia, Paraguai e Argentina.
Elías Díaz, hidrólogo e coordenador do grupo ambiental paraguaio Sobrevivência, citou especialmente a contaminação gerada nas cidades de Corumbá (MS) - cerca de 100 mil habitantes - e Cuiabá (MT) - com pouco mais de meio milhão - esta última, que fica sobre o rio de mesmo nome, afluente do Paraguai.
O rio Paraguai recebe uma nova carga de esgoto na cidade argentina de Formosa (cerca de 230 mil habitantes), que, como as duas anteriores, carece de um sistema de tratamento dos esgotos, que são simplesmente lançados ao rio.
"Jogam todos os seus esgotos sem tratamento no rio Paraguai. Então temos alta carga de poluentes", disse Díaz à Efe.
Em sua passagem por Assunção, o rio forma uma baía, que conta com um passeio muito popular, abaixo do qual passam quatro esgotos, e uma praia onde ninguém pode nadar devido ao alto nível de "coliformes fecais" detectado.​
Outras 12 vertentes despejam os esgotos da cidade diretamente na corrente principal do rio, segundo Sarubbi.
"A maioria é de esgotos domésticos e industriais, que por lei deveriam ser tratados. Mas a verdade é que não há centrais de tratamento", disse Sarubbi.
A situação se repete no lago Ypacaraí, um dos "postais" do Paraguai e um dos points de verão da capital.
Os veranistas também não poderão desfrutar a temporada do lago, ligado com o Paraguai pelo rio Salado, já que as autoridades locais proibiram seu uso recreativo após a invasão de cianobactérias, algas originadas pelos esgotos dos matadouros e curtumes.
Sarubbi disse que a situação irá melhorar em Assunção com a construção de sua primeira central de tratamento, que custará US$ 85 milhões. Em janeiro se abrirá a licitação para sua fase inicial, afirmou o presidente da Essap.
"Seria a primeira de um total de quatro centrais para a Grande Assunção que estariam funcionando em quatro anos e terão um orçamento de US$ 584 milhões".
Segundo Sarubbi, com essas plantas em funcionamento trataria-se até 98% dos esgotos que a metrópole de Assunção lança no rio Paraguai.
"É uma necessidade que se arrasta há 20 anos e estamos pagando as consequências com a contaminação dos aquíferos", disse Sarubbi, acrescentando que para 2014 prevê-se que os quatro coletores que desembocam na baía sejam eliminados.
Apesar da poluição, o rio Paraguai continua sendo o principal abastecedor da água consumida em Assunção graças a seus pântanos, que funcionam como filtros descontaminadores.
"Funcionam como tratamento natural, são um elemento purificador, processadores biológicos da contaminação e a principal garantia para manter a qualidade de água do rio", disse Díaz.
A bacia do Paraguai tem, desde sua foz no Paraná, onde o Paraguai deságua na Argentina, mais de 1 milhão de quilômetros quadrados de superfície, 30% dos quais são pântanos.
No entanto, Díaz alertou sobre a constante deterioração dessas águas, com as ameaças do desmatamento e da drenagem para a habilitação de terras agrícolas.
"O ecossistema de cerrado, no Mato Grosso, e o Pantanal do Alto Paraguai, estão sendo transformados em campos para cultivo de arroz e de soja, para o que são usados produtos químicos tóxicos" que acabam no rio, indicou.
O Pantanal, dividido entre o sul do Brasil, o Paraguai e o norte da Bolívia, é considerado o maior ecossistema de pântano tropical do mundo.
"Os pântanos são os pulmões do rio. Sem eles, o rio morre", disse Díaz.

Advocacia terá ano atribulado, mas bom para negócios

Artigo de Antonio Corrêa Meyer é sócio fundador do escritório Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados.


Cenários de incerteza desafiam profissionais de todas as áreas a apurar seus radares a fim de planejar estratégias de ação. À beira de um novo ano, especialmente este de 2014, que promete ser muito atribulado, todos estão fazendo cálculos com base nas perspectivas que se avizinham. As eleições em outubro e a Copa do Mundo em junho são os dois principais eventos capazes de causar impacto nos negócios. 
Apesar das atribulações decorrentes do calendário cheio  — e talvez justamente por causa delas  —, o que se pode prever é que o ano será muito bom para a área empresarial brasileira.
O tom da campanha eleitoral já vem sendo dado desde meados do ano. Uma série de acusações entre os grupos políticos certamente vai interferir na agenda do governo, que, a fim de ganhar as eleições, já deixou claro seu desejo de que a economia progrida. Considerando que, por isso, o governo tem como uma das prioridades manter o interesse do capital privado em investir no país, o terreno para a atividade empresarial estará bem pavimentado.
Os mais recentes leilões de concessões de infraestrutura mostraram maturidade do governo na relação com a iniciativa privada. E a resposta dos empresários foi efetiva. No leilão para a concessão das BRs-060/153/262 (DF/GO/MG), em 4 de dezembro, a vencedora ofereceu uma tarifa de pedágio com deságio de 52% ante o valor máximo permitido. O mesmo ocorreu uma semana antes com a BR-163 (MT). 
O apetite empresarial deverá ser aguçado não somente por parte do capital nacional como do internacional. A Copa do Mundo jogará muitos holofotes sobre o Brasil. Como, aliás, já está jogando. Em sua edição de setembro, a revista britânica The Economist pergunta se o Brasil perdeu a vez e se a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos vão ajudar a recuperação do país. As perguntas constam da reportagem de capa, que voltou a estampar o Cristo Redentor em sua edição para a América Latina e a Ásia. Em 2009, a capa mostrou o Cristo decolando como um foguete. Agora, a reportagem destaca uma economia estagnada, um Estado inchado e protestos em massa. 
Com a vitrine possibilitada pela Copa, o país pode ter estímulo ao crescimento da economia, pelo menos em alguns setores. É uma oportunidade para o Brasil.
Para 2014, os economistas brasileiros têm previsto crescimento entre 1,5% e 2,5%. Segundo eles, a fim de crescer mais, o país teria de fazer reformas tributária e trabalhista, além de um ajuste fiscal. Para alguns, o PIB poderia crescer 4%, se houvesse uma mudança no sistema tributário, regulamentações e mais parcerias com o setor privado.
Em relação aos juros, existe unanimidade: eles serão maiores. O fantasma da inflação certamente continuará presente, mas o governo dá sinais de que fará o possível para manter o controle sobre os preços. O problema são os reajustes como o da gasolina. 
Investimentos internacionais vão depender do cenário econômico do Brasil, assim como da situação global. Tudo depende da recuperação que atrai mais atenção internacional, ou seja, a dos Estados Unidos. Economistas do mundo todo preveem crescimento entre 2% e 3% para a economia americana. Um dos mais recentes indícios de que o caminho da recuperação se consolida foi o número de novos empregos registrado em novembro nos EUA. Foram 203 mil, superando as previsões de 185 mil. A taxa de desemprego é de 7%, a menor em cinco anos. 
Ainda que de forma mais tímida, a Europa deverá melhorar um pouco. A China, estimam os especialistas, deverá crescer 7%. Continuará, assim, de olho no Brasil no que se refere a pré-sal e commodities, mas seus investimentos deverão continuar mais voltados à África. 
O lado bom é que, como o ambiente internacional de negócios é de liquidez no mundo financeiro, uma parcela dos investimentos dos países desenvolvidos deverá ser destinada aos emergentes. É mais uma oportunidade para o Brasil. 
Estreitamente ligada ao ritmo econômico do país, a atividade da advocacia deverá viver um ano muito bom. Além da área de infraestrutura, o resultado deverá ser especialmente bom dentro dos escritórios para as áreas fiscal, M&A e mercado de capitais. 
Na área fiscal, possivelmente não haverá ambiente para promover uma reforma tributária, por exemplo. Por outro lado, alguns prefeitos pressionarão o governo para aumentar impostos, o que movimentará a área. 
O mercado de capitais continuará ativo e, com isso, a dinâmica dos negócios. Certamente vai se manter forte a tendência de fusões e aquisições de empresas, tanto no Brasil quanto no exterior. 
A área de energia não deve ter grandes eventos, a não ser a maior participação das fontes renováveis na matriz energética. A expansão das fontes renováveis e dos parques eólicos deverá registrar um bom ritmo no ano que vem, proporcionando excelentes negócios. 
Motivo de interesse internacional, o pré-sal também deve continuar atraindo grandes investimentos. O consórcio vencedor do leilão do campo de Libra envolve duas empresas chinesas, CNPC e CNOOC, cada uma com 10% de participação. Empresas japonesas também já demonstraram interesse no Brasil, não só no pré-sal como em estaleiros e ferrovias. Para atender a essas demandas, o Machado Meyer está reforçando sua atuação no Rio de Janeiro. 
O desafio, para empresas em geral e para escritórios de advocacia em particular, é justamente iniciar o próximo ano de forma estruturada e bem calculada, preparando-se para enfrentar eventuais cenários adversos, mas com agilidade para aproveitar chances de crescimento. 
Cinco anos depois da crise de 2008, as empresas amadureceram e já aprenderam a prever o melhor, mas preparar-se para as dificuldades, agindo com ponderação em cada investimento e prestando atenção a cada sinal de boas realizações.
As oportunidades certamente virão, não só para as empresas como para todo o país. Se soubermos aproveitar essas oportunidades, 2014 será um grande ano para os negócios. 

O Reino Unido restringe o acesso dos estrangeiros à saúde pública

O Departamento de Saúde britânico confirmou na última segunda-feira sua vontade de restringir o acesso dos estrangeiros à saúde pública. Os planos estão de acordo com as intenções já projetadas em outubro e buscam reduzir os 500 milhões de libras (1,9 bilhão de reais) que custa aos contribuintes atender aos cidadãos sem residência permanente, incluídos os britânicos expatriados que voltam ocasionalmente ao país.
De acordo com estes planos, os estrangeiros comunitários sem residência indefinidamente seguirão acessando gratuitamente a saúde pública mas o Governo começará um sistema de identificação que poderia forçá-los a ter o Cartão Europeu de Seguro Doença.
Seguindo o conselho dos especialistas, o Governo renunciou impedir o acesso dos sem documentos  à rede pública de médicos e permitir que eles só tenham acesso aos serviços de emergência. Os médicos advertiram que isso tinha o potencial de propagar doenças infecciosas e encareceria o atendimento aos ilegais ao atrasar sua atenção médica a uma fase mais grave de seus problemas de saúde. Poderão também ir a urgências mas deverão pagar se são hospitalizados ou se necessitarem de tratamento posterior.
O que o Governo deve fazer é cobrar aos estrangeiros não comunitários que estejam de forma legal, mas temporal no país. Os que entrem com um visto de menos de seis meses ­–como os turistas– deverão pagar o custo completo da atenção médica. Os que tenham permissões de residência mais longos, mas não permanente ou indefinida, deverão pagar uma tarifa única anual. O valor dela ainda não foi definido, mas estaria em torno de 180 euros (580 reais) ao ano para os estudantes e 240 euros (775 reais) para os demais.
Não estarão isentos dessas restrições nem as crianças nem as mulheres grávidas, para evitar que esse privilégio acabe se convertendo em um foco de atração do que o Governo veio a chamar de “turismo de ajudas sociais”, um mito que nunca conseguiu provar com cifras críveis.
Na verdade, tudo isto faz parte da histeria anti-imigração que vive Reino Unido e que é produto de uma combinação de preocupação genuína de uma parte da população empobrecida com a crise, a fobia anti-europeia de uma grande parte da mídia britânica e a permanente propaganda contra Europa e contra os imigrantes que realiza o Partido Conservador de dentro e de fora do Governo por razões de conveniência eleitoral.
Nesse meio propagandístico, destaca-se a carta escrita por 90 deputados conservadores pedindo ao primeiro-ministro que aprove uma lei para proibir por razões de emergência nacional o direito de búlgaros e romenos a ter acesso ao mercado trabalhista britânico a partir de primeiro de janeiro. O Governo recusou esse pedido.

Reportagem de Walter Oppenheimer 

Rio, ame ou odeie


Se você vier ao Rio de Janeiro vai se deparar com um fenômeno paradoxal: o primeiro destino turístico do Brasil, da América Latina e do hemisfério Sul não está devidamente preparado para receber turistas. Se dependesse unicamente dos questionáveis serviços que oferece a cidade maravilhosa, provavelmente não estaria no ranking dos locais mais visitados do mundo. Mas como quem nasce bonito e morre bonito, o Rio de Janeiro tem a sorte de ser um dos recantos do planeta abençoados com uma natureza que corta a respiração de quem chega aqui pela primeira vez. O Rio é, sem dúvida, uma das cinco cidades mais impactantes do planeta. Tem uma sofisticação natural e uma atmosfera vibrante que a convertem em um local único. Também é uma cidade que não deixa ninguém indiferente, que provoca reações extremas: “Ou ama ou odeia”, afirma o compositor carioca, Carlos Althier de Sousa Lemos Escobar, o Guinga, um dos grandes trovadores contemporâneos da capital fluminense. Mais explícito foi em sua época o maestro dos maestros, o compositor Antonio Carlos Jobim, que ao se referir a sua cidade natal disse com muita indolência: “Viver no Rio é uma merda, mas é muito bom”.
Efetivamente, quando o viajante desprevenido aterrissa no aeroporto internacional Antonio Carlos Jobim (Galeão para os cariocas) se deparará  com a pouca eficácia do serviço de entrega de malas  e com umas instalações impróprias de uma futura sede da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos (isto deve melhorar depois da recente privatização do aeroporto). A ausência de um serviço de táxis organizado e de um tarifário oficial claramente definido e exposto ao público, representam o primeiro aviso aos navegantes: os preços no Rio representam um assunto sensível. No caso dos táxis, variam entre 200 reais (85 dólares) ou o mínimo que marque o taxímetro, dependendo do bairro de destino, da boa vontade do taxista e da capacidade negociadora do visitante. Uma vez na rota para a cidade, o turista atravessará uma extensão interminável de favelas, percorrerá vários bairros populares da zona norte, deixará o centro da cidade a sua esquerda e, depois de percorrer os 2.800 metros do Túnel Rebouças, penetrará em um universo totalmente diferente: uma fantástica panorâmica da lagoa Rodrigo de Freitas para dar as boas-vindas. É o sinal inequívoco de que já chegou à zona sul, a faixa turística composta principalmente pelos bairros praieiros de Copacabana, Ipanema e Leblon, onde as autoridades estão investindo grandes esforços face ao turismo internacional.
A segurança pública no Rio é um tema que preocupa a todos: tanto às autoridades, como aos cariocas e aos turistas. Desde que se lançou em 2008 a plausível estratégia de pacificação de favelas (hoje, mais de 200 comunidades estão ocupadas por Unidades de Polícia pacificadora – UPP), as cifras de criminalidade melhoraram substancialmente. No entanto, nos últimos meses detectou-se uma retomada de certos crimes, como os roubos a transeuntes, que propõem inquietantes perguntas. De qualquer forma, hoje se pode passear pelos corredores turísticos do Rio de Janeiro com uma certa tranquilidade, algo impensável há uma década.
Como em todos os grandes polos turísticos, no Rio existe um percurso inevitável para qualquer turista: a visita ao Cristo Redentor, ao Pão de Açúcar, ao estádio do Maracanã, um passeio pelo calçadão (um tipo de passeio marítimo) de Copacabana e pelo Jardim Botânico, uma tarde de compra em Ipanema e várias sessões intensivas de praia. Pela noite os scripts turísticos também recomendam fazer uma imersão no boêmio bairro da Lapa, onde o visitante pode se atrever a dar uns passos ao ritmo da samba em qualquer de suas variações. No entanto, o Rio de Janeiro é bem mais que esta lista de deveres para o visitante.
O Rio, por exemplo, é um café no silêncio do pátio da escola de artes visuais (EAV) do bucólico Parque Lage. O Rio é uma cerveja gelada em uma mesa da esplanada do Círculo Militar de Praia Vermelha, em frente a uma imponente e inusitada vista do Pão de Açúcar. O Rio é uma exposição no Centro Cultura Banco do Brasil (CCBB) ou um delicioso prato de cabrito assado no velho restaurante português Nova Capela, no coração de Lapa. O Rio também é um passeio pelo bairro de Santa Teresa ou, por que não, pela favela do Vidigal, de onde se pode desfrutar uma panorâmica do oceano Atlântico e das ilhas Cagarras que poderia fazer as vezes de antidepressivo. O Rio é o simples grito das crianças que jogam bola em uma favela anônima ou o cheiro dos premiados feijões que prepara David em seu botequim da comunidade de Chapéu Mangueira.
Uma grande novidade nesta cidade é o crescimento da oferta cultural, uma das contas pendentes que a distanciava anos luz de São Paulo. A recente abertura do Museu de Arte de Rio (MAR), da Casa Daros (filial da Fundación homônima suíça) e da Cidade das Artes, assinada pelo arquiteto francês Christian de Portzamparc, e a próxima inauguração do Museu da Manhã, do espanhol Santiago Calatrava, ou do Museu da Imagem e do Som (MIS) na praia de Copacabana, representam uma prova irrefutável de que algo mudou. O cartaz semanal de concertos, musicais, teatro ou exposições também é consideravelmente mais variada e interessante do que anos atrás.
O Governo brasileiro e as autoridades locais estão apostando todas as fichas na refundação do Rio. Para isso ainda terão que redobrar a aposta em temas chave, como as deficientes redes de transporte urbano (a ampliação da linha 4 de metrô até Barra de Tijuca ou a criação de corredores rápidos de ônibus representam uma boa tentativa) ou o déficit crônico de vagas em hotéis (hoje o Rio oferece pouco mais de 34.000 leitos). O manual básico de economia diz que quando a oferta é menor que a demanda, os preços aumentam. E é justamente isto ocorre no primeiro destino turístico do hemisfério Sul, que tem o privilégio de se consagrar como a segunda capital mais cara da América Latina para fazer turismo (atrás de Caracas), segundo o portal Tripadvisor. Se o Rio pretende se consolidar como uma capital turística que concorra em pé de igualdade com cidades como Paris, Roma, Madri ou Nova York, terá que tomar medidas drásticas para melhorar a qualidade e o preço de seus serviços.

Reportagem de Francho Barón

30/12/2013

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Estudo revela que 25% da população argentina vivem em condição de pobreza


Mais de 10 milhões de pessoas na Argentina, o equivalente a 25% da população, vivem atualmente em condição de pobreza. A conclusão é do estudo "Diferenças estruturais e desigualdades sociais persistentes", apresentado na última sexta-feira pelo Observatório da Dívida Social da Argentina, órgão da Universidade Católica Argentina.
O estudo revela que, além disso, quase a metade dos trabalhadores do país têm emprego precário e realiza trabalhos de indigência, enquanto mais da metade da nova geração de adultos está excluída do sistema de previdência social.
A pesquisa, publicada pelo jornal "La Nación", aponta ainda que cerca de 3 milhões de pessoas estão mal nutridas, uma de cada dez residências não tem água encanada e três de cada dez lares não contam com sistema de esgoto tratado. O estudo revela ainda que, entre 2004 e 2012, aumentaram as diferenças entre as classes sociais.
No aspecto do mercado de trabalho, a pesquisa revela que 37% dos jovens argentinos não chegam a concluir o ensino médio e 20% nem estudam e nem trabalham. Por outro lado, 12% das crianças entre 5 e 17% anos já respondem por alguma forma de sustento. Ainda conforme o estudo, uma em cada 10 localidades não contam com assistência pública, enquanto 23,5% das pessoas nestes locais necessitam de assistência social permanente, pois não conseguem ganhar o suficiente para compra de uma cesta básica mensal.
- A marginalidade estrutural não melhorou na Argentina, mesmo nos anos em que a economia cresceu a um ritmo de 8% por ano. Pelo contrário. Cristalizou-se a pobreza estrutural, a impossibilidade deste contingente de alcançar níveis elementares de bem-estar e integração social - diz Augustin Salvi, investigador-chefe do Observatório da Dívida Social da Argentina
O pesquisador admite que metade dos pobres registrados em 2002 deixaram a situação de pobreza nos últimos anos, mas os níveis anteriores à crise se agravaram. Segundo Salvi, boa parte dos conflitos sociais - como os recentes saques aos supermercados - se deve à desigualdade social e a expectativas de vida não satisfeitas. Para ele, a onda de crimes e os saques estão dentro de um contexto de decomposição social por parte de uma população que se sente excluída do sistema e vê crescer as diferenças em relação às classes mais abastadas.



Óculos piratas representam risco para a saúde e para a economia


Nessa época de compras, um alerta ao consumidor: um levantamento mostrou que quase metade dos óculos vendidos no Brasil é pirata. E o pior: esses óculos representam um risco para a saúde.
Veja como é fácil colocar os olhos em perigo. Óculos de grau são vendidos sem receita médica pelo comércio ambulante. Os mesmos comerciantes também têm óculos de sol pirata.
Quanto maior a quantidade, mais barato fica. De cada dez óculos vendidos no país, quatro são piratas. Nos últimos cinco anos, a entrada de óculos falsificados no Brasil cresceu. Só no ano passado, esse tipo de produto pirata já correspondia a 10% de tudo que foi apreendido pela Receita Federal.
Só um depósito em São Paulo tem 12 corredores. Os óculos ocupam todas as prateleiras de um corredor inteiro. De novembro para cá, a Receita Federal apreendeu - só em São Paulo e em Brasília - mais de um milhão de óculos piratas.
“Esse produto vai ser destruído, ele não vai ser leiloado e não vai retornar pro consumidor”, explica Alan Towersey, auditor fiscal da Receita Federal.
Uma ilegalidade que também prejudica a economia do país. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Ótica (Abiótica), no ano passado, dos R$ 19 bilhões que o setor movimentou, R$ 8 bilhões foram para a pirataria.
“Se existe oferta é porque tem demanda e o consumidor não cuida da sua parte”, afirma Bento Alcoforado, presidente da Abiótica.
Óculos de sol, comprados nos lugares onde aconteceram as apreensões, foram lacrados e analisados num laboratório da Universidade de São Paulo. Todas as lentes foram reprovadas. Imagens cedidas pela Faculdade de Medicina da USP mostram o efeito desse tipo de óculos à visão. O que os olhos deveriam ver de forma nítida, fica distorcido e embaçado. Além disso, as lentes falsificadas não têm proteção adequada contra os raios ultravioleta.
“Essas pessoas terão uma incidência maior de catarata. Aqueles que vão apresentar catarata aos 80, 90 anos poderão apresentar catarata aos 50, 60 anos. Então o preço que se vai pagar é mais para frente”, alerta Milton Ruiz Alves, presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia.


As principais tendências tecnológicas de 2014


A senha é o corpo; o smartphone, a máquina. O ano que vai começar trará consigo a explosão, finalmente, da biometria nos aparelhos de consumo e a continuação, ainda mais, do telefone celular como aparelho/computador para tudo (e para todos). Laboratórios e áreas de pesquisa da Juniper, Ericsson, Gartner, Cisco ou IBM, entre outras grandes empresas, lançam suas previsões e tendências para 2014. Com a data já na esquina, não há inovações e, sim, muito sobre o que já existe.
Senhas humanas. Será a tendência do ano. Mais uma vez a valentia caberá à Apple (embora não a invenção) de aplicar a biometria (no seu caso a impressão digital) para bloquear e desbloquear seu aparelho iPhone 5S e para fazer compras. A iniciativa será seguida por outros fabricantes de telefones móveis (a Samsung já anunciou), mas também será incorporado a outros aparelhos e serviços.
A Apple agiu sozinha, enquanto que empresas concorrentes apoiam a FIDO Alliance para a elaboração de padrões industriais aplicáveis a diferentes aparelhos e marcas. Depois de tantos anos vendo essa tecnologia no cinema, 2014 será o ano da biometria para abrir celulares, portas, computadores, carros. Segundo o Ericsson Consumer Lab, 52% dos donos de um smatphone gostariam de usar a sua impressão digital em vez de uma senha e 48% se mostram interessados no reconhecimento ocular para abrir sua tela. Ainda, 74% acreditam que ossmartphones biométricos irão se tornar tendência no próximo ano. Adeus às senhas de números e letras, bem-vindos o dedo, o olho ou a voz.
Dinheiro mais invisível. Tampouco é nada novo, mas só este tema poderia tirar o protagonismo da senha humana no ano. O bitcoin, a moeda virtual, ocupou e preocupou as autoridades monetárias; em parte pelo risco que apresenta, em parte porque acabaria com seus negócios. Mas é apenas um lado dos movimentos para acabar com o dinheiro de mão em mão. A pobreza começa quando você tem de passar um dia andando para chegar a um banco e sacar o euro ganhado no dia anterior. Graças a aplicativos móveis, como o Mpesa da Vodafone (que não precisa de Internet), isso está acabando na África, onde a penetração do celular é de 80%, embora apenas 11% sejam 3G.
Mas no mundo em desenvolvimento, Apple, Google, Amazon e Paypal se movimentam com iniciativas que, mais cedo do que nunca, entrarão em confronto com os juros bancários e suas taxas. Qualquer uma das empresas citadas já têm o poder e a confiança de como referendar pagamentos.
Mediometria do corpo, na saúde e no exercício. Os wearables, acessórios para o corpo, dos óculos ao relógio ou as pulseiras, vão além da utilidade para se conectar à Internet e receber tuítes. A Juniper prevê que será o ano dos wearables, resistentes à água, mas também o da medição contínua dos sinais vitais do corpo, e não só para o exercício físico. Também aumentarão os parâmetros mensuráveis, que poderão ser cruzados, se falarão, com o seguimento de dietas ou receitas médicas.
Os wearables serão mais e mais promíscuos no caminho até a ubiquidade universal. Segundo a Gartner, em sete anos haverá 26 bilhões de aparelhos conectados à Internet (à margem de smartphonese computadores), enquanto que em 2009 não passavam de 900 milhões. Desta enxurrada de sensores, 15% servirão para a medição permanente do corpo, ou seja, da saúde em tempo real graças à redução drástica dos custos. Sensores como os da MC10 serão empregados para controlar a temperatura dos bebês com a mesma facilidade com que agora se coloca um curativo adesivo.
Para 2016, em torno de 60% dos proprietários de smartphones confiam, segundo a Ericsson, que os sensores serão usados em todos os âmbitos da vida, desde a saúde ao transporte público, os carros, as casas ou escritórios.
Mais rápido, mas só alguns: As conexões 4G irão dobrar em 2014, prevê a Juniper, mesmo assim a penetração mundial será ridícula (1,77%). Mas na Coreia do Sul, essa tecnologia alcançará mais da metade das linhas, seguido de Cingapura e Japão. Depois Estados Unidos, Austrália e Canadá, com abrangência em torno de 20%. Este ano chegará ao fim com 188 milhões de linhas, mas em 2018 ficarão perto de 2 bilhões de linhas.
A Espanha vai com atraso, apesar de um parque moderníssimo desmartphones que permitiriam conexões ultrarrápidas. Planos agressivos das operadoras darão algum impulso ao 4G.
Nuvens privadas: nem PCs nem memórias USB, a principal fonte de arquivo das pessoas vai ser a nuvem, particular ou não. A necessidade da nuvem chega naturalmente, uma vez que as pessoas se acostumam a estar conectadas à Internet em qualquer lugar desde qualquer aparelho e a qualquer hora. Somente a nuvem proporciona essa agilidade de funcionamento no lazer ou no trabalho. Ao mesmo tempo permite o trabalho em equipe. Novamente, Amazon, Apple, Microsoft ou Google têm muito trabalho já feito, mas nascem novos sites, como o Pogoplug, com mais de um milhão de nuvens pessoais, ou o BitTorrent Sync, que evolui de programa de troca de arquivos a nuvem.

Reportagem de Javier Martín

Comemorações do Ano Novo estão proibidas na Arábia Saudita


A polícia religiosa da Arábia Saudita está encarregada de impedir as comemorações de Ano Novo em todo o país, obedecendo a uma determinação do governo. A medida se justifica porque o país árabe, que segue um entendimento muito conservador e restrito do islã, segue o calendário lunar muçulmano, e não o gregoriano, como no Ocidente. Portanto, todas as celebrações não islâmicas no país são proibidas. A informação foi divulgada pelo jornal local Okaz.
Com essa ordem, os agentes policiais devem monitorar comerciantes, proibindo floristas de venderem rosas vermelhas no dia 31, assim como vendedores de lojas de presentes de venderem ursos de pelúcia ou qualquer artigo que lembre a celebração do Réveillon.
A polícia religiosa, órgão responsável pelo controle dos hábitos e costumes do povo daquele país, é conhecida por cometer muitos abusos e pela posição truculenta de seus agentes, mas tem adotado uma postura mais discreta desde janeiro do ano passado, quando sua direção foi assumida pelo clérigo Abtulatif bin Abdulaziz al-Sheik, que proibiu o uso de carros sem placas por seus agentes.

O órgão recebeu essa ordem da Comissão pela Promoção da Virtude e Prevenção ao Vício, conhecida popularmente como Mutawaa, que divulgou uma fatwa (decreto religioso) de um comitê formado pelos principais clérigos do país.
Entre outras proibições conhecidas dessa comissão está uma proibição com restrições semelhantes no Dia dos Namorados do hemisfério norte (comemorada no dia 14 de fevereiro, ao contrário do 12 de junho no Brasil).



29/12/2013

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Alergia alimentar está cada vez mais frequente, dizem médicos



Depois daquela comida deliciosa, você sente inchaço nos lábios, língua dormente, coceira na pele ou diarreia e vômito? Cuidado, você pode ter alergia alimentar. Especialistas dizem que o problema está se tornando cada vez mais frequente no mundo todo. Apesar de muitas vezes subestimada, ela é potencialmente fatal e precisa ser investigada.
"A alergia alimentar é uma reposta anormal do organismo a alguma substância presente no alimento", explica o imunologista Luis Eduardo Andrade, do Fleury Medicina e Saúde. Por motivos não conhecidos, o sistema imunológico apresenta uma reação exagerada e inapropriada a algum componente do alimento.
Essa reposta exagerada do sistema imunológico pode causar sintomas que vão desde manchas na pele, inchaço nos lábios e na língua, coceira, rouquidão e vômito até diarreia, dor abdominal, palpitação, queda de pressão e falta de ar. Algumas pessoas podem até mesmo ter choque anafilático, quando ocorre diminuição da pressão arterial e arritmia cardíaca ou obstrução de vias aéreas superiores, e pode levar à morte.
A maioria desses sintomas pode ocorrer até duas horas após o consumo do alimento, mas em casos mais graves a reação é imediata. Pessoas mais sensíveis não precisam nem sequer ingerir o alimento: apenas tocá-lo é o suficiente para desencadear uma reação alérgica (geralmente coceira e aparecimento de manchas na pele).


"No mundo todo, estima-se que 7% das crianças e 3% dos adultos tenham alergia alimentar", afirma o nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia). Mas esse quadro parece estar mudando. Vários estudos vêm apontando que as alergias alimentares estão se tornando mais frequentes. As causas para isso, no entanto, ainda são desconhecidas.
"A razão para este aumento ainda não está totalmente esclarecida. Estudos têm mostrado que as condições ambientais, maior urbanização e os hábitos alimentares atuais podem contribuir para esta facilitação", aponta Ana Paula Moschione Castro, diretora da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia (Asbai).
Muitas vezes acontece de as alergias passarem com o tempo: por isso elas são mais comuns entre as crianças do que entre os adultos. Isso ocorre porque algumas pessoas, com o tempo, podem ter um processo de dessensibilização, apresentando uma diminuição dos sintomas. As alergias alimentares mais comuns na infância são ao ovo, leite, amendoim, frutos do mar e soja. Já entre os adultos, é mais frequente a presença de alergia a peixe, amendoim, frutos do mar e frutas secas.
Alergia X intolerância
É muito comum confundir alergia alimentar com intolerância a um determinado alimento. Mas são duas coisas diferentes. Enquanto a alergia é uma reação imunológica contra uma substância presente no alimento, a intolerância é causada  pela produção insuficiente ou ausente no organismo de enzimas digestivas.
O exemplo mais comum é a alergia ao leite e a intolerância à lactose. No caso da intolerância, há uma incapacidade do organismo de digerir a lactose, que é o açúcar do leite. Se a pessoa não tem enzimas suficientes para isso, pode sentir gases, distenção abdominal, diarreia e cólicas após a ingestão do leite. Já se a pessoa for alérgica, ela terá uma hipersensibilidade às proteínas presentes em laticínios, e pode apresentar bolinhas vermelhas no corpo, inchaço, coceira, diarreia e vômitos.
"No caso da alergia, as manifestações podem ocorrer no corpo todo, podendo até mesmo haver anafilaxia. Já no caso da intolerância as manifestações são sempre gastrointestinais, sem risco à vida do paciente", explica Castro.
Investigando o problema
Diagnosticar alergia alimentar não é um processo fácil, pois é necessário identificar qual é a substância que causa a reação alérgica. "Eu costumo dizer que o alergista é um verdadeiro detetive, pois ele tem que investigar todo o histórico do paciente e buscar pistas sobre as possíveis origens do quadro alérgico", diz Andrade.
Descobrir o que desencadeia o processo alérgico normalmente leva tempo. Para isso, é necessário analisar a história clínica do paciente, realizar exames laboratoriais, fazer dieta de restrição e, muitas vezes, fazer o teste de provocação oral (quando o médico oferece o alimento em um ambiente controlado e, no caso de ocorrer qualquer problema, observa a manifestação dos sintomas).
Apesar de difícil, esse diagnóstico é necessário para descobrir o que realmente causa a alergia e buscar a melhor forma de lidar com ela. "O que não pode é ficar sem ajuda médica. Sempre que houver uma suspeita de alergia alimentar, é necessário procurar um especialista que possa diagnosticar e auxiliar", afirma Andrade.



Reportagem de Chris Bueno

McDonald’s: agora, com menos sabor de passividade?

Alastra-se, nos EUA, luta dos trabalhadores de fast-food por salários e direitos. Detalhe: eles ganham quatro vezes mais que no Brasil.



Os quase invisíveis funcionários de fast foods norte-americanos estão organizando-se para chamar a atenção para que seus direitos sejam reconhecidos. Em 5 de dezembro, atendentes de redes como McDonald’s, Burger King, KFC e Wendy’s de mais de 100 cidades dos Estados Unidos não apareceram nas lanchonetes. Organizaram-se, à sua maneira, em cada parte do país, exigindo melhores salários e o direito de poderem se sindicalizar. De flash mobs a cartazes luminosos e fantasias irônicas de Ronald McDonald e Tio Sam, levantaram uma mesma bandeira: o aumento do salário mínimo para 15 dólares por hora — mais que o dobro dos U$7,25 atuais, piso salarial norte-americano, equivalentes a R$ 16,80.
O movimento começou com uma pequena marcha em Nova York, em novembro de 2012, com trabalhadores das redes KFC, McDonald’s e Burger King. Já protestavam pelo aumento do salário para 15 dólares por hora, e chamavam a atenção para como é impossível viver em condições materiais dignas com um destes empregos. Em agosto deste ano, os protestos aumentaram: aconteceram em mais de 60 cidades norte-americanas.
Você pode não reparar, mas os sanduíches de aparência plastificada são montados e servidos por mãos humanas. E, apesar de haver um mito de que este é um emprego para jovens e profissionais iniciantes, os números mostram exatamente o contrário: a maior parte dos funcionários têm mais de 25 anos e em torno de 68% deles são os principais responsáveis pela renda de sua família. Muitos têm filhos e cumprem jornada dupla para poder manter suas casas.
Paul Krugman, Nobel de Economia, lembra que, assim como a maioria dos trabalhadores pobres, os funcionários do varejo têm sofrido perdas graves, nos Estados Unidos — uma nação cada vez mais desigual. Apesar da crise, a economia é, hoje, muito maior do que há quarenta anos. Porém, os salários nas empresas varejistas (algumas delas, gigantes globais como McDonald’s e WalMart) representam, hoje, 30% menos do que em 1973 — quando já não eram grande coisa. O salário mínimo nacional nos EUA é de U$7,25 por hora (em alguns estados é um pouco maior), e os atendentes de fast food recebem, se tanto, apenas alguns centavos a mais. O Instituto de Políticas Econômicas dos EUA concluiu que, se o mínimo aumentasse para U$10,10, beneficiaria diretamente 30 milhões de trabalhadores.
Apesar da crença de que salários mais altos resultariam num aumento do preço dos produtos ou na inviabilidade financeira das cadeias de restaurantes, Krugman mostra, por meio de pesquisas, que isso não é verdade. Para ele, é necessário que, além da elevação do mínimo, existam e sejam ampliados programas de assistência médica e alimentar (nos EUA, existem os food stamps, que são algo com um vale refeição oferecido pelo governo aos mais pobres).
Mas afirmar a inviabilidade do aumento do salário dos funcionários, sob o pretexto de que os alimentos ficariam mais caros é, no mínimo, muito mesquinho. Isso fica explícito quando se  compara o que ganham o caixa de um McDonald’s e o presidente da empresa. Um atendente tem de trabalhar quase quatro meses para alcançar o que James Skinner, o útimo CEO da rede cujos dados estão disponíveis, ganhava em uma hora. Segundo a Fast Food Forward, movimento de trabalhadores de fast food novaiorquinos, a média de salário de um presidente destes restaurantes é de U$25 mil por dia. E toda esta indústria recebe, aproximadamente, 200 bilhões de dólares a cada ano.
É por causa desta desigualdade que, normalmente, um funcionário não poderia parar para fazer greve por um dia — isso significaria 50 dólares a menos em sua renda. Por isso, grupos ativistas como a Fast Food Forward e Fight For 15, auxiliados por sindicatos, fundações e organizações de base, financiaram a paralisação.
O McDonald’s, que costuma reprimir e penalizar trabalhadores que se organizam, acredita cinicamente que eles têm melhores maneiras de aproveitar os poucos dólares que ganham. Em um site de recursos humanos dirigido aos funcionários, sugeriu-se que cortassem sua comida em pedaços, para que rendesse mais. E se estivessem com problemas financeiros, a dica era vender alguns de seus bens em sites especializados. Além disso, alertava-se: reclamar demais pode ser perigoso por causar grande aumento do hormônio do stress — a recomendação era que cantassem, para esquecer dos problemas.
Seria interessante se o movimento reivindicatório dos EUA chegasse ao Brasil. Em São Paulo, em maio do ano passado, o McDonald’s assinou um acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis, Bares, Lanchonetes e Restaurantes de São Paulo (Sinthoresp), regularizando as jornadas de trabalho e salários fixos de seus funcionários. Antes disso, os funcionários tinham horários de trabalho irregulares e eram obrigados a ficar à disposição da empresa. Nesta época, o piso de um trabalhador de 44 horas semanais era quatro vezes menor que o de seu colega nos EUA: R$ 769,26 — cerca de 4 reais por hora (ou U$1,72, considerando o dólar a R$2,34). A exploração, como se vê, também é devidamente exportada.

Reportagem de Gabriela Leite

Carros e motos estão virando armas nas mãos dos motoristas brasileiros

Faltava exatamente um mês para o Natal quando Giovana, uma jovem de 19 anos, estava voltando para casa, por volta das 18h, pela rodovia Padre Manuel da Nóbrega, próxima à cidade de Itanhaém, no litoral sul do Estado de São Paulo. Seguindo a última moda entre jovens motoristas, Giovana Dias de Souza Alves, que trabalhava em um banco, tirou uma foto do velocímetro do veículo. O clique do dia 25 de novembro deste ano registrou os 170 km/h que o carro da moça alcançava. Em poucos segundos, ela perdeu o controle da direção e bateu em uma pilastra de sustentação de uma passarela na estrada. O carro ficou destruído e a jovem morreu na hora.
Fazendo uma pesquisa na internet com a hashtag #instaveloz é possível encontrar dezenas de imagens de velocímetros batendo até 200 km/h, inclusive uma da própria Giovana, registrando 180 km/h em março deste ano, meses antes de morrer e virar mais um número nas estatísticas: segundo a Organização Mundial da Saúde, os acidentes no trânsito são a primeira causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos em todo o mundo.
Essa moda completamente descabida faz aumentar números que, no Brasil, já são altos. Entre 2001 e 2011, as mortes por acidentes de trânsito cresceram 40%, encerrando 2011 com 43.256 óbitos. Já entre os motociclistas, no mesmo período, o número de mortes cresceu 263%, batendo a marca de 11.268 em 2011, segundo os dados mais recentes do Ministério da Saúde.
Em uma entrevista para a rede BBC, o ministro da Saúde Alexandre Padilha afirmou ver uma relação direta entre o aumento da frota de veículos e essas mortes no trânsito. “O número de mortes aumentou principalmente nas regiões norte, nordeste e em cidades do interior. Isso está relacionado ao aumento da frota de veículos, especialmente o de motocicletas”, disse. Na última década, as vendas no setor tiveram crescimento exponencial. Até setembro deste ano, o país contava com pouco mais de 80 milhões de veículos, dos quais 44,722 milhões eram automóveis, e 17,804 milhões eram motos; e o restante estava dividido entre caminhões, veículos de transporte agrícola etc. No ano 2000, o país tinha 29,722 milhões de veículos, (cerca de 20 milhões de carros, e 3,5 milhões de motos).
Nos últimos anos no Brasil, o carro tem se transformado em um dos maiores símbolos de status da nova classe média. As facilidades para pagar, com parcelas que chegam a ser diluídas por até cinco anos, e os sucessivos incentivos do Governo, como a desoneração de impostos para a indústria automotiva, resultam em frotas cada vez maiores nas ruas. O reflexo disso é que o Brasil registra, a cada ano, novos recordes de venda de automóveis. Em 2012, 3.801.859 veículos zero quilômetros foram vendidos. Quase 5% a mais que em 2011.
Entre as motocicletas, o imenso aumento da frota não foi acompanhado de infraestrutura para receber as milhões de motos que circulam no Brasil hoje. São raras as faixas nas ruas criadas apenas para motos, e, quando elas existem, nem sempre funcionam. Os motoristas, muitas vezes com pressa, fazem ultrapassagens perigosas e imprudentes. Imagine se a população inteira de Pequim andasse sobre duas rodas. É mais ou menos esse o número de motocicletas circulando no Brasil.
Em São Paulo, na tentativa de diminuir as trágicas estatísticas, o governo restringiu, em agosto de 2010, a circulação de motos em uma parte da Marginal Tietê, via expressa que corta a cidade e que lidera a lista das vias com maior número de acidentes envolvendo motos na capital paulista. Mesmo assim, em 2012, 438 motociclistas morreram em algum acidente no local.
Nessa tentativa de reduzir os acidentes com motos em especial, tramita na Câmara dos Deputados, em Brasília, dois projetos de lei que visam aumentar a segurança aos motociclistas: um que defende o fim dos impostos sobre todos os equipamentos de segurança para condutores dos veículos de duas rodas, e outro que prevê a sinalização de faixas exclusivas para o trânsito de motocicletas em cidades com mais de 100 mil habitantes.
Porém, são medidas paliativas. Assim como essas, nos últimos anos, o Brasil vem tentando fechar o cerco aos motoristas que dirigem depois da ingestão de bebidas alcoólicas. O drible dos brasileiros diante de algumas leis e a falta de fiscalização mais efetiva das autoridades fizeram com que a batizada “Lei Seca” tenha eficácia aquém do necessário. Ainda é grande a quantidade de acidentes em que os motoristas estão embriagados.
O fato é que, se nada for feito, a Organização Mundial da Saúde estima que até 2020, 1,9 milhão de pessoas tenham morrido no trânsito, e 2,4 milhões até 2030. O Brasil, por sua vez, deve continuar contribuindo para essas tristes estatísticas.

Reportagem de Marina Rossi