31/08/2016

Dilma é cassada pelo Senado: Da infância de classe média à rebeldia; de 'gerentona' ao impeachment

Dilma Rousseff ainda respondia pela Casa Civil e usava óculos e cabelos mais compridos em maio de 2008, quando foi ao Senado se defender e defender o governo Lula.
Estava diante dos senadores para negar acusações de que um dossiê contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso havia sido ilicitamente preparado dentro do Palácio do Planalto. Na ocasião, arrancou aplausos até mesmo de quem hoje está contra ela ao falar, em tom de desabafo, das mentiras que contou sob tortura para proteger companheiros durante a ditadura.
"Qualquer comparação entre ditadura e democracia só pode partir de quem não dá valor à democracia brasileira. Eu tinha 19 anos e fiquei três anos na cadeia. Fui barbaramente torturada. Qualquer pessoa que ousa dizer a verdade para seus interrogadores compromete a vida de seus iguais, entrega pessoas para serem mortas. Eu tenho orgulho de ter mentido. Mentir na tortura não é fácil. (...) E isso faz parte da minha biografia", disse, em resposta ao senador oposicionista José Agripino Maia (DEM-RN), que quis saber se ela falaria a verdade naquele maio de 2008.
Oito anos depois, Dilma voltou ao Senado novamente para se defender, ainda que numa situação diferente. Durante cerca de 13 horas, a ex-presidente respondeu perguntas dos senadores sobre as acusações de ter manobrado as contas públicas para cobrir um déficit orçamentário - as tais pedaladas que pesam contra ela e fundamentaram o processo de impeachment.
Nesta quarta-feira, dois dias após enfrentar seus julgadores, a primeira mulher eleita e reeleita presidente do Brasil foi afastada definitivamente do cargo. Votaram pelo impeachment de Dilma 61 senadores, enquanto outros 20 se posicionaram contra a cassação. Agora, o presidente interino Michel Temer irá ocupar definitivamente o cargo.
Em votação separada, por 42 votos a 36 (ou seja, menos dos dois terços que seriam necessários para tornar a ex-presidente inelegível por oito anos), ficou decidido que Dilma manterá seus direitos políticos.

'As muitas Dilmas'

Nascida em 14 de dezembro de 1947 numa família de classe média alta em Belo Horizonte, Dilma Vana Rousseff defendeu a luta armada para derrubar a ditadura, foi presa e torturada, formou-se em economia e ocupou cargos nos governos do PDT e do PT no Rio Grande do Sul.
Ministra de Minas e Energia e, depois, da Casa Civil, ganhou espaço no governo Lula quando petistas históricos foram acusados de corrupção. Foi eleita e reeleita presidente do Brasil no rastro da popularidade do ex-presidente, sem ter disputado nenhum outro cargo eletivo.
"Ela sempre foi uma figura mais técnica que uma liderança pública. Mas há muitas Dilmas numa só", observa o deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ), que fez oposição ao governo da petista, mas é contra o impeachment.
Segundo o deputado, há a "Dilma da resistência, dona de uma coragem rara". Mas há também aquela "que não confirmou a fama de boa administradora".
Há ainda a "gerentona", às vezes irascível, que aprecia quem é assertivo, se apega a detalhes, centraliza as tarefas do dia a dia e distribui broncas em público, até mesmo diante de câmeras, sem hesitar.
Quem a conhece mais de perto, contudo, diz que ela não faz jus à fama de durona. Segundo a amiga e ex-ministra Eleonora Menicucci, a ex-presidente é solidária, dona de um humor sarcástico e adora distribuir apelidos.

    Dilma, contudo, jamais conseguiu reverter sua peculiar falta de traquejo com tradicionais rituais da política. Nem mesmo o bambolê que ganhou de presente, ainda em 2008, do então líder do PMDB Henrique Eduardo Alves como um alerta para melhorar o "jogo de cintura" fez Dilma mudar seu jeitão - definido por ela mesma como uma chefe "dura cercada por homens meigos".

    'Dilminha' e a verdadeira Dilma Rousseff

    Quando criança, Dilma pensava em ser bailaria ou do Corpo de Bombeiros. Ser presidente nunca esteve em seus planos traçados na infância, conta o jornalista Ricardo Batista Amaral no livro A vida quer é coragem (ed. Primeira Pessoa, 2011).
    Dilma passou a infância e a adolescência em Belo Horizonte. Foi batizada com o mesmo nome da mãe e ganhou Vana como segundo nome, uma homenagem à irmã do pai, o búlgaro Pedro Rousseff.
    Por isso, logo depois de ser eleita, em 2010, mãe da presidente esclareceu em entrevista ao jornal O Globo: "A verdadeira Dilma Rousseff sou eu, a Dilminha é a Dilma Vana".
    Dilminha era a segunda filha do casal Dilma e Pedro. Igor nasceu 11 meses antes de Dilma e ganhou fama de "hippie" por guardar um Fusca na garagem e ter optado por viver uma pacata vida no interior de Minas. Anos depois de o casal nascer, veio Zana Lívia, a irmã caçula, que morreu em 1977.
    O pai de Dilma, Petar Rusev, tinha 29 anos quando fugiu da Bulgária, deixando para trás a mulher grávida - Dilma chegou a se corresponder com esse irmão, mandou dinheiro para ele, mas nunca o conheceu pessoalmente. O pai de Dilma passou pela França, onde mudou a grafia do próprio nome, e pela Argentina antes de se estabelecer no Brasil.
    Quando se casou com a mãe de Dilma, uma professora primária nascida na serra fluminense e criada em Uberaba, no Triângulo Mineiro, Pedro tinha 46 anos, 20 a mais que a esposa.
    Construíram a vida na zona sul da capital mineira e ofereceram aos filhos uma vida com luxos de classe média alta. Dilma e os irmãos frequentavam o Minas Tênis Clube, onde aprenderam a nadar, jogar vôlei e tênis, passavam as férias na praia, em Guarapari, e tinham aulas de piano em casa.
    Com o pai, Dilma costumava viajar para assistir a peças de teatro e óperas. Ela ainda guarda o gosto pelas artes clássicas. Não raro encontrava tempo nas viagens internacionais para ir a museus ou a apresentações de ópera.
    Dilma estudou num tradicional colégio católico para moças, o Sion, que depois passou a se chamar Santa Doroteia. Não quis ser professora como a mãe e preparou-se para o vestibular no Estadual Central, colégio público onde estudaram notáveis como os ex-presidentes Getúlio Vargas e Artur Bernardes, os irmãos Henfil e Betinho e a atriz Elke Maravilha.
    No acervo do Estadual Central está a pasta de Dilma com seus boletins, atestados médicos e históricos de transferência. O acesso é restrito e a escola informa que só abre a pasta com autorização da ex-aluna. Em 2012, contudo, o jornal Estado de Minas teve acesso aos documentos e publicou que em 1963, quando estudava no Sion, a melhor nota de Dilma foi 9,9 em trabalhos manuais. Tirou 8,2 em matemática e 7,45 em latim.
    Já na nova escola, quando se formou, em 1965, matemática foi sua pior nota: 5,83. Pediu ao diretor da escola a chance de fazer uma nova prova, já que tinha perdido o exame porque estava doente.

    Rebelde, militante e prisioneira

    Amigos de infância contam que Dilma ainda criança por vezes matava a missa ou cabulava aula. Os mais fortes traços de rebeldia, contudo, vieram mais tarde, em meados de 1965, quando passou a frequentar a Pensão da Odete, reduto de militantes e revolucionários em BH.
    Foi ali que Dilma conheceu Cláudio Galeno Linhares, que já tinha uma passagem pela prisão por atividades subversivas e era um dos líderes da organização Polop (Política Operária). O namoro começou numa sessão de cinema. Dilma sempre foi cinéfila e até hoje gosta de filme e seriados - Game of ThronesHouse of Cards eDowtown Abbey já estiveram entre seus favoritos.
    Dilma passou a militar com Galeno, ajudou a fundar o Colina (Comando de Libertação Nacional) e, em 1967, os dois se casaram num cartório. A noiva dispensou a cerimônia na igreja por ser uma tradição "burguesa demais".
    Dilma mãe emprestou um amplo apartamento para onde o casal se mudou, no centro de Belo Horizonte, e transformou em "aparelho" do grupo, o ponto de encontro para tramar ações contra o regime militar.
    Depois da assinatura do Ato Institucional número 5, o AI-5, que escancarou a ditadura e a perseguição aos contrários ao regime militar, Dilma e Galeno se viram obrigados a viver na clandestinidade. Ela abandonou faculdade de economia e os dois fugiram para o Rio onde, inicialmente, ficaram na casa de uma tia de Dilma.
    A Colina se uniu à Vanguarda Popular Revolucionária e mudou de nome. Virou VAR-Palmares, depois rachou. Galeno e Dilma se separaram. Ela ficou no Rio e depois seguiu para São Paulo. Galeno foi parar no Rio Grande do Sul, onde sequestrou um avião da Cruzeiro do Sul que só aterrissou em Cuba.
    Dilma conheceu outro militante, Carlos Araújo, codinome Max, e os dois se apaixonaram. O segundo casamento foi celebrado num esconderijo, com colegas cantarolando baixinho a marcha nupcial.
    Na clandestinidade Dilma foi Estela, Wanda e Luiza. Aprendeu a montar e desmontar um fuzil de olhos fechados, mas nunca se envolveu nas ações armadas das organizações que militou.
    Sempre esteve diretamente ligada à mobilização estudantil e operária. Ainda assim foi definida por alguns de seus algozes como "a Joana D'Arc da subversão".
    Em São Paulo, Dilma acabou presa. Foi parar na sede Organização Bandeirantes (Oban), prédio que funcionava na rua Tutoia, na capital paulista, onde foi recebida aos gritos de "mata", "tira a roupa" e "terrorista filha da p***".
    O grupo Tortura Nunca Mais contabiliza 22 dias de Dilma nesse prédio que reunia as polícias civis e os serviços de inteligência das Forças Armadas e onde havia sessões de choques, palmatórias, chutes e socos.
    Depois do período de "interrogatório", Dilma foi levada para a chamada "torre das donzelas", local onde ficavam as presas políticas no presídio Tiradentes. Lá ficou presa preventivamente e aguardou o julgamento - aquele em que foi fotografada sentada numa cadeira, enquanto os que a condenaram tapavam o rosto.
    A jornalista Rose Nogueira já estava no Tiradentes quando Dilma chegou. Se conheceram na prisão, de onde era possível avistar apenas um poste na esquina, chamado de "mundão". "Ela estudava sem parar. Era superdisciplinada. Gostava de economia e história", conta Nogueira.
    Os cerca de três meses que conviveu com Dilma no Tiradentes foram suficientes para a jornalista guardar muitos elogios e se emocionar ao falar do processo de impeachment.
    Nogueira estava no Palácio do Alvorada com Dilma e outras amigas no último jantar dela como presidente em exercício, antes do afastamento em maio. Conta que riram, recordaram histórias do passado e se lembraram dos apelidos que Dilma dava às amigas.
    A socióloga Eleonora Menicucci também se lembra bem do dia em que chegou no Tiradentes e avistou Dilma, que conheceu em Belo Horizonte. O rosto familiar e a convivência com uma conhecida a ajudou a suportar os dessabores atrás das grades.
    A mãe de Dilma a visitava toda semana, levava livros e queijo para a filha, além de encomendas da família de Menicucci, que não podia se deslocar com frequência a São Paulo.
    Dos tempos de prisão, ela conta que Dilma era uma amiga solidária, mas uma péssima cozinheira. "Cozinhar não era nosso forte, nossa intenção era fazer a revolução. Mas Dilma era um terror na cozinha, no dia dela de cozinhar a gente quase passava fome", conta Menicucci.
    Depois da prisão, Menicucci foi para a Paraíba e Dilma, para o Rio Grande do Sul. A primeira ajudou a fundar o PT, a outra entrou para o PDT.
    "Mas nós nunca perdermos o contato. Quando ela me convidou para ser ministra (das Mulheres, depois de eleita presidente), hesitei. Ela me disse que eu não tinha que querer. Disse que eu era funcionária púbica e ela era minha chefe", conta.
    Menicucci tem passado os dias no Alvorada, assim como outros ministros, dando apoio e ajudando na defesa de Dilma. "Estar ao lado dela significa mostrar minha lealdade e minha indignação com a injustiça", argumenta.

    A tecnocrata de laptop

    Depois de dois anos e sete meses presa, Dilma escolheu viver no Rio Grande do Sul para ficar perto do segundo marido, Carlos Araújo, que cumpria pena na Ilha das Flores. Voltou a estudar, teve uma filha, Paula, com Araújo, e construiu sua carreira no Sul. Formou-se em economia e militava no PDT.
    O ex-governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra, conta que se lembra de Dilma assessorando o sindicato da indústria do vestuário. Desde aquela época já gostava de analisar números.
    Nos anos 1980, Dilma foi secretária de Fazenda na gestão de Alceu Collares na prefeitura de Porto Alegre. Anos depois, foi secretária de Minas e Energia também de Collares no governo do RS. Foi chamada para o mesmo cargo na gestão de Olívio Dutra no governo gaúcho, graças a uma aliança costurada entre o PT e o PDT.
    Dutra lembra que, no final dos anos 1990, Dilma era uma das poucas a andar com um laptop a tiracolo. "Tinha um estoque enorme de informações", recorda o petista. Ele classifica a atuação de Dilma em seu governo como "eficiente". Gostou tanto da performance dela que não aceitou a pressão de Leonel Brizola para substituí-la, por causa de uma disputa interna no PDT.
    Dilma e outros colegas acabaram trocando o PDT pelo PT. No final de 2002, ela já carregava a fama de ter poupado o Sul do racionamento de energia elétrica obrigatório em todo território nacional. Foi, então, chamada a ajudar a formular o plano de governo de Lula para a área de energia e, em seguida, a compor a equipe de transição.
    Teria ganho o cargo de ministra de Minas e Energia justamente por abrir seu laptop numa reunião com o presidente e oferecer números e dados com vigor. Na mesma reunião, teria alertado Lula sobre previsões da equipe econômica que considerava pouco precisas. Ganhou de vez a confiança do presidente recém-eleito.

    'Gerentona'

    Virou ministra de Minas e Energia e, depois da avalanche que abalou o PT em 2005 com o escândalo do mesalão, foi alçada ao cargo de chefe da Casa Civil. Ali, viu a fama de "gerentona" correr pela Esplanada dos Ministérios.
    Nessa época, também era conhecida por se referir às pessoas como "querida(o)", "minha filha (filho)", ou "santa(o)" - expressões que foram, aos poucos, sendo usadas com menos frequência.
    Virou a "Mãe do Programa de Aceleração do Crescimento", o PAC e, assim, foi apresentada aos eleitores por Lula, que tentava construir sua sucessão. Era considerada por muitos "um poste", pois nunca havia disputado cargo eletivo. Mas era um poste com alguma luminosidade: economista graduada, com história partidária e política.
    Na Casa Civil, Dilma chegou a exibir na sua biografia oficial no site do governo federal que tinha cursado mestrado e fazia doutorado na Unicamp.
    Em 2009, a universidade não reconheceu os títulos, dizendo que ela foi aluna dos programas na Unicamp, mas não concluiu a elaboração da tese nem a defendeu.
    A então pré-candidata acabou admitindo o erro no currículo e corrigindo a informação no site oficial da Casa Civil, que passou a informar que Dilma havia se formado em economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e foi aluna do mestrado e doutorado em Ciências Econômicas pela Unicamp, "onde concluiu os respectivos créditos".
    Outro episódio que Dilma nunca registrou em sua biografia oficial foi a experiência como microempresária em Porto Alegre. Em sociedade com o marido, a cunhada e um sobrinho, abriu uma loja para vender bugigangas importadas do Panamá, principalmente bonecos da série animada Cavaleiros do Zodíaco. Com o nome fantasia de Pão & Circo, o negócio ao estilo "R$ 1,99" durou apenas um ano e cinco meses e fechou em 1996.

    'Presidenta'

    Quem escolheu Dilma para concorrer ao Planalto foi Lula, ainda em 2009. Olívio Dutra conta que foi o primeiro a ser comunicado da decisão. "Fiquei honrado por ser informado em primeira mão. Ele não me consultou, mas me disse que colocaria o nome dela para o partido [discutir]", conta Dutra.
    Apesar de ser filiada ao PT, Dilma nunca esteve diretamente envolvida com as disputas e discussões do partido - muitos aceitaram sua candidatura com reservas, mas nunca questionaram publicamente a decisão de Lula.
    "Se não tiver uma corrente no PT já é difícil, se não participar fica ainda pior", explica Chico Alencar, que trocou o PT pelo PSOL em 2005. Ex-integrante do diretório nacional petista, Alencar conta que não se lembra de Dilma nas reuniões do partido.
    Dutra defende Dilma. Para ele, o fato de nunca ter tido mandato eletivo não significava que ela não sabia fazer política. "Ela não é uma mera tecnocrata, sempre esteve envolvida com política. Ela não é de sorriso fácil nem de tapinha nas costas", admite o ex-governador do Rio Grande do Sul.
    Ele afirma, contudo, que não compartilha da impressão de que Dilma é durona e intolerante.
    A estratégia de Lula deu certo e Dilma derrotou Serra no segundo turno em 2010. Nunca escondeu a preferência para que a chamassem de "presidenta" e, ainda que a primeira leva de ministros tenha sido escolhida em parceria com Lula, Dilma passou a tentar impor sua marca.
    Dos tempos da ditadura, guardou a aversão ao vazamento de informações. Até sua agenda de viagens era difícil saber com antecedência. Os funcionários temiam broncas e represálias se repassassem qualquer tipo de informação.
    Muitos também reclamam que Dilma seria lenta para tomar decisões, por causa da personalidade centralizadora e "microgerenciadora" - alguém que gastava energia com detalhes.
    O jornal Folha de S.Paulo contou que Dilma se empenhava até para mudar planos de voos do avião presidencial para evitar turbulências. Em outra ocasião, ela teria ligado para o ministro da Saúde para reclamar que havia uma goteira no corredor de um hospital federal. O computador de Dilma, no Planalto, lhe dava acesso ao circuito interno das câmeras dos hospitais federais.
    As broncas nos assessores e ministros também eram frequentes e às vezes diante das câmeras. Há relatos de que levou ministros, assessores e funcionários do baixo escalão às lágrimas.
    Numa ocasião, em 2013, Dilma concedia no Planalto uma longa entrevista "quebra queixo", jargão jornalístico para coletivas nas quais milhares de microfone são erguidos próximo à boca do entrevistado. A ministra da secretaria de comunicação à época, Helena Chagas, tentou encerrar a conversa. Dilma olhou para trás e disse que era ela quem decidia quando parar de falar, sem se importar com as câmeras e gravadores ligados.

    Aversão a improvisos

    Dilma, ao contrário de Lula, nunca foi adepta de discursos de improviso. Muitas vezes errou o nome e o partido de autoridades locais em viagens Brasil afora. Vez ou outra, quando tenta improvisar, costuma se perder nos apostos, deixando soltas as ideias iniciais e tornando partes do discurso sem sentido.
    Algumas das falas sem pé nem cabeça da presidente viraram piadas na internet. Uma das montagens em vídeo, na qual ela discorre sobre a estocagem do vento, já havia sido vista mais de 2,6 milhões de vezes quando a jornalista Natuza Nery mostrou as imagens à presidente. Ela gargalhou e exclamou "olha o Spock!" quando viu o personagem da série americana Jornada nas Estrelas aparecer na tela.
    Muitas vezes Dilma parecia mesmo descolada do mundo fora dos palácios presidenciais. No primeiro mandato, parou de fazer reuniões de coordenação com os principais assessores e ministros. Deixou de dialogar diretamente com movimentos sociais. Também não tinha paciência para ligar ou receber deputados e senadores com frequência.
    Em 2013, milhares de pessoas foram às ruas protestar contra o aumento das tarifas de transporte público, e os protestos passaram a mirar no governo. Dilma viu sua popularidade despencar. Como reação, lançou o programa Mais Médicos, turbinou o Ciência Sem Fronteiras, sancionou leis anticorrupção. Conseguiu se reeleger em 2014, numa disputada campanha que pareceu não ter tido fim.
    Nos primeiros meses de segundo mandato enfrentou novos protestos, dessa vez declaradamente contra seu governo e o PT, já no esteio da Operação Lava Jato. 
    Na Câmara, membros de sua coalizão pareciam jogar contra. No Palácio, o vice-presidente Michel Temer também não atuou como aliado. No PT, muitos reclamava da adoção de medidas prometidas por seu principal adversário, o tucano Aécio Neves (MG).
    No momento em que mais precisou do Congresso, para legitimar um governo atacado em diversas frentes, a presidente não teve apoio. "Dilma tem um gênio forte e nunca teve uma boa convivência com o Parlamento. Ela nunca foi parlamentar, o Legislativo tem uma lógica própria", observa o deputado federal petista Devanir Ribeiro.
    Dilma e seus aliados chamam o impeachment de "golpe parlamentar", "golpe branco" ou "golpe sexista". Alguns admitem, no entanto, que na equação do impeachment há diferentes variáveis, entre elas o "fator Dilma".
    "Essa via-crúcis também tem a ver com a falta de traquejo dela", diz Chico Alencar.

    Reportagem de Fernanda Odilla
    fonte:http://www.bbc.com/portuguese/brasil-37226986#orb-banner
    foto:http://www.blogdosilverioalves.com/2016/08/urgente-impeachment-de-dilma-e-aprovado.html

    30/08/2016

    Imagem do dia



    Órgãos públicos e privados podem divulgar cadastro de inelegíveis

    O Conselho Nacional de Justiça passou a permitir que órgãos públicos e outras instituições divulguem em suas páginas na internet o Cadastro Nacional de Condenados por Ato de Improbidade Administrativa e por Ato que Implique Inelegibilidade (CNCIAI).
    Interessados terão assistência técnica e conseguirão acesso ao sistema por meio de uma interface de programação de aplicativos (API). Dessa forma, será possível, por exemplo, que determinada publicação jornalística na internet apresente informações do cadastro — atualizado periodicamente pelos próprios juízes responsáveis por processos em que há condenação por improbidade administrativa ou demais atos que proíbam os réus de concorrer às eleições.
    Atualmente, há 33.652 pessoas cadastradas nessas condições nos tribunais de Justiça, 4.205 nos tribunais regionais federais e 24 no Supremo Tribunal Federal.
    A divulgação por outros órgãos foi autorizada pela Portaria 94/2016, mas o cadastro existe desde 2008, reunindo inicialmente apenas as condenações por improbidade. Em 2013, foram incluídos os condenados por crimes contra a administração pública, que podem tornar os demandados inelegíveis segundo a Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar 135).
    Para que os condenados sejam declarados inelegíveis, é preciso que o juiz responsável pela condenação tenha determinado também a suspensão dos direitos políticos do réu. Nesse caso, a Justiça Eleitoral poderá impedir a candidatura no momento de registro ou quando questionada por terceiros.

    fonte:http://www.conjur.com.br/2016-ago-29/orgaos-publicos-privados-podem-divulgar-cadastro-inelegiveis
    foto:http://sertaobaiano.com.br/noticia/bahia-vai-ganhar-cadastro-de-inelegiveis

    Conheça o bioconcreto, material que fecha as próprias rachaduras

    A ideia soa tão atraente quanto a ficção científica: edifícios que fecham suas próprias rachaduras, como seres vivos curando suas feridas.
    Para o cientista holandês Henk Jonkers, não se trata de um projeto fantástico, mas uma realidade muito concreta - literalmente.
    Pesquisadores da Universidade Técnica de Delft, na Holanda, desenvolveram o que chamaram de bioconcreto, um material literalmente vivo e capaz de regenerar construções desgastadas.
    "Nosso concreto vai revolucionar a maneira como construímos, pois nos inspiramos na natureza", disse Jonkers, por ocasião de receber o prêmio de melhor europeu inventor em 2015 .
    Mais do que inspirado na natureza, o bioconcreto é feito dela. É que as propriedades extraordinárias domaterial se devem à presença de bactérias.

    Duras de matar

    Para preparar o bioconcreto, os cientistas misturam concreto tradicional com colônias da bactéria Bacillus pseudofirmus, que em seu estado natural pode habitar ambientes tão hostis quando crateras de vulcões ativos.
    "O surpreendente é que essas bactérias formam esporos e podem sobreviver por mais de 200 anos nos edifícios", diz Jonkers.
    A essa mistura acrescenta-se lactato de cálcio - alimento das bactérias - e o material está pronto.
    Quando aparecem fissuras nos edifícios construídos de bioconcreto, as bactérias que aí habitam ficam expostas aos elementos físicos, principalmente água.
    A umidade que penetra nas fissuras "acorda" os microorganismos, que começam a consumir lactato de cálcio e, como produto final da digestão, produzem calcário.
    O calcário repara as rachaduras no bioconcreto em apenas três semanas.

    Economia de custo

    "Não há limite para a extensão da rachadura que o nosso material pode reparar. Pode ser de centímetros a quilômetros", diz Henk Jonkers.
    Para a rachadura em si, no entanto, há um limite: a fissura não pode ser mais larga que 8 milímetros.
    Ainda assim, o bioconcreto pode economizar bilhões de dólares na manutenção de estruturas como paredes de edifícios, pontes ou barragens.
    Segundo a HealCon, organização que pretende promover o uso de novo material, só na Europa são gastos anualmente US $ 6,8 bilhões (mais de R$ 22 bilhões) para reparar edifícios enfraquecidos.
    "Apesar de ser mais caro que o concreto tradicional, o benefício econômico é perceptível, pois economiza em custos de manutenção", disse o cientista ao jornal britânico The Guardian
    Henk Jonkers afirma que o material já foi empregado na construção de canais de irrigação no Equador, país altamente sísmico.
    O material também seria uma esperança para prédios antigos e cheios de rachadura, susceptíveis a colapsar mesmo com tremores de terra leves.
    A técnica forma a base de um spray, também desenvolvido pela Universidade Técnica de Delft, que usa os mesmos princípios e pode ser aplicado diretamente sobre pequenas rachaduras.

    Teste do mercado

    Mas apesar da visão tentadora de edifícios capazes de se autorreparar, o bioconcreto ainda precisa superar o teste mais duro de todos: do mercado.
    O custo do novo produto poderia elevar demasiadamente o valor de grandes projetos de infraestrutura .
    Segundo o Guardian, enquanto o metro cúbico de concreto tradicional custa pouco menos de US$ 80 (R$ 260), o novo material passaria dos US$ 110 (R$ 360) - um acréscimo de quase 40%.
    Para ser bem sucedido, essa conta é agora a principal lacuna que o bioconcreto deve fechar.

    fonte:http://www.bbc.com/portuguese/geral-37204389#orb-banner
    foto:http://www.portalg5.com.br/ler-materia/987//cisterna-de-bioconcreto-revoluciona-reuso-da-Agua/

    Nova arma contra o crime? Cientistas descobrem forma de identificação por perfume


    Cientistas descobriram que os componentes químicos de uma fragrância podem ser transferidos das roupas de uma pessoa para as de outra, mesmo se o contato for rápido.
    As marcas do perfume perduram por dias, apesar de ficarem mais fracas com o passar do tempo.
    A equipe diz que este é um estudo preliminar, mas sugere que o perfume tem o potencial de ser usado como evidência em casos criminais.
    Os pesquisadores, escrevendo para a publicação científica Science and Justice, dizem que analisar fragrâncias pode ser uma ferramenta útil em casos em que há contato físico próximo, como os de violência sexual.
    "Achavamos que havia muito potencial com (a investigação pelo) perfume porque muita gente usa. Sabemos que 90% das mulheres e 60% dos homens usam perfume rotineiramente", disse a autora principal do artigo, Simona Gherghel, do University College London (UCL).
    "Apesar de haver muitas pesquisas na ciência forense sobre transferências - por exemplo, transferência de fibras ou de resíduos de armas de fogo -, até agora não haviam feito pesquisa sobre perfumes", acrescenta.

    Reconstrução forense

    Perfumes são formados por diversos componentes químicos diferentes que, combinados, produzem uma fragrância individual.
    Os pesquisadores, analisando apenas uma fragrância masculina, descobriram que alguns desses componentes eram facilmente transferidos de um pedaço de algodão para outro.
    Quando os dois pedaços de material eram pressionados um contra o outro por apenas um minuto, 15 de 44 componentes químicos eram detectados no segundo pedaço. Se o tempo de contato aumenta para 10 minutos, 18 componentes são transferidos.
    Os cientistas também analisaram como o tempo afetava a transferência de componentes voláteis.
    Eles descobriram que cinco minutos após o spray inicial do perfume, 24 de 44 componentes eram detectados no segundo pedaço de tecido após um contato de dez minutos entre os dois. Já seis horas após a aplicação do perfume, 12 componentes eram transferidos e, sete dias depois, seis componentes voláteis restavam.
    "É um estudo piloto e preliminar. Mostramos, primeiro, que perfume se transfere e, segundo, que podemos identificar que essa transferência ocorreu", disse Ruth Morgan, diretora do Centro de Estudos Forenses da UCL.
    "No futuro pode haver situações em que o contato entre dois indivíduos ocorra e essa pode ser uma forma de discernir que tipo de contato houve e quando houve."
    Mas a equipe diz que qualquer prova teria que ser coletada muito rapidamente após o crime, o que pode limitar sua utilidade. Eles dizem também que é muito improvável que o perfume seja usado, sozinho, para resolver um caso.
    "Não vai ser uma prova por si só. Na maioria dos casos esperamos que haja mais de uma linha de investigação. Não é só o DNA ou só a impressão digital ou só o perfume. Mas combinar isso com outras provas é como vai se formando uma imagem muito convincente."
    A equipe diz que é preciso, agora, trabalhar mais para saber como o perfume se transfere em reconstruções forenses mais realistas.

    fonte:http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/bbc/2016/08/29/nova-arma-contra-o-crime-cientistas-descobrem-forma-de-identificacao-por-perfume.htm
    foto:http://www.greenmomscollective.ca/ditch-fragrances/

    Idade mínima da aposentadoria pode ter revisão periódica, diz chefe do INSS

    O presidente do INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social), Leonardo Gadelha, defende a criação de uma idade mínima diferenciada para a aposentadoria na reforma da Previdência e a revisão periódica desse critério.
    Em entrevista à Folha, Gadelha argumenta que a proposta que o governo deve enviar ao Congresso ainda neste ano deve ter, para as mulheres, um piso inferior para a idade, devido à dupla jornada de trabalho.
    Gadelha disse ainda que a revisão dos benefícios por incapacidade começa no mês que vem e os casos que mais preocupam são os de benefícios concedidos pela Justiça, em que não houve sequer avaliação de um médico. Segundo ele, mais de 80% da economia da revisão virá desses benefícios.
    Folha - É necessário reformar a Previdência?
    Leonardo Gadelha - A sociedade brasileira está madura para fazer esse debate, entende que algo precisa ser feito. Pela primeira vez na história recente do país, a maioria dos brasileiros defende a necessidade de ter uma reforma da Previdência. O governo está sendo feliz em propor regras de transição. Um instrumento consagrado no país é o do direito adquirido, então quem já está aposentado não será tocado.
    Concorda com a idade mínima de 65 anos?
    Do ponto de vista pessoal, sou favorável à idade mínima porque me parece o critério mais justo. É muito difícil, para quem não está participando da formulação, estabelecer um número mágico. Acho que, de tempos em tempos, a sociedade vai precisar sentar e rever. A barra vai ser de tempos em tempos alterada. Se colocar agora 65 anos, é possível que depois de duas décadas se aumente para 70.
    Mudanças na Previdência enfrentam resistência.
    Para gerações mais novas, a percepção é fácil: "Se não fizer nada, não teremos aposentadoria no futuro". Mas quem está na faixa de transição se pergunta: "Tinha que acontecer comigo?". Infelizmente, como em nosso modelo uma geração sustenta a outra, em algum instante essa conta teria de ser feita.
    Deve haver diferença de idade mínima entre homens e mulheres?
    Desde que a mulher se emancipou, passou a ter jornada dupla. Eu espero que, nos próximos anos, com processo de amadurecimento dos homens, essa jornada dupla seja dividida entre homens e mulheres. Talvez ao longo dos anos possamos ter equiparação.
    O ideal, então, é que a idade, hoje, seja diferente?
    Sim. Hoje tem mais mulheres tendo jornada dupla do que homens. Quem sabe daqui uma ou duas décadas seja possível equiparar.
    O INSS está preparado para implementar as mudanças na Previdência?
    O INSS tem condições de dar conta de novos desafios. Qualquer que seja a proposta aprovada, será executada. A reforma pode ter efeito colateral de ajudar o INSS a detectar impropriedades, ao deixar mais claros critérios de concessão de benefícios. Um exemplo claro é a MP 739 [determina revisão dos benefícios de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez]. Se a lei me diz que tenho que fazer a revisão a cada dois anos, e o INSS não vem fazendo, posso dizer que alguém fraudou? Não posso qualificar dessa forma.
    Qual será o esforço extra que o INSS terá de fazer para realizar esse mutirão de revisão?
    O mecanismo do mutirão será usado de forma residual. A nossa expectativa é dar vazão à revisão desses benefícios dentro do horário normal de expediente. Das 1.600 agências, cerca de 500 não têm médico perito radicado. Ou faço deslocamento do perito ou adoto regime de mutirão. A ideia é fazer o deslocamento e começar a operação em setembro.
    A expectativa é de uma economia de R$ 6,3 bilhões?
    O tamanho da economia depende do índice de reversão. O primeiro público a ser enfrentado, até o fim do ano, são 530 mil auxílios-doença concedidos judicialmente. O benefício médio é de R$ 1.193. Mais de 80% da economia da revisão virá dos benefícios de auxílio-doença concedidos pela Justiça. Muitos foram concedidos por juízes que, insatisfeitos com a lentidão de atendimento no INSS, determinavam a concessão do benefício. Existe caso em que não houve avaliação médica.
    Servidores mostraram insatisfação com o mutirão, que prevê estímulos aos médicos, mas não aos demais funcionários.
    Reconhecemos a importância desses funcionários e a necessidade de melhorar condições de trabalho, de contratar funcionários. Mas apostamos muito no comprometimento desse corpo funcional.


    Reportagem de Laís Alegretti
    fonte:http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/08/1808298-idade-minima-da-aposentadoria-pode-ter-revisao-periodica-diz-chefe-do-inss.shtml
    foto:https://plus.google.com/104294351216638117870
    Reportagem

    29/08/2016

    Imagem do dia



    AO VIVO | Impeachment: Dilma Rousseff se defende no Senado






    fonte:http://brasil.elpais.com/brasil/2016/08/29/politica/1472443953_429513.html

    Ser medíocre é o segredo da felicidade?

    No livro Ardil 22, o autor, Joseph Heller, escreveu: "Alguns homens nascem medíocres, outros conquistam a mediocridade e alguns homens têm a mediocridade imposta a eles".
    Heller pegou uma frase de Shakespeare a respeito da grandeza e a inverteu totalmente.
    A ideia do autor é clara: a mediocridade é ruim e deve ser evitada. No entanto, a maioria das pessoas vive o que pode ser chamada de uma vida comum. O que nos leva à pergunta: o que há de errado em aceitar a mediocridade?
    O assunto se transformou em pesquisa para dois acadêmicos italianos, Gloria Origgi, pesquisadora e filósofa no Instituto Jean Nicod, em Paris, e Diego Gambetta, professor de sociologia na Universidade de Oxford, Grã-Bretanha.
    Origgi e Gambetta se conhecem há mais de dez anos e trocam ideias sobre suas experiências vivendo e estudando no exterior.
    Sua pesquisa nasceu de observar como a vida funciona de forma diferente na Itália em relação a, por exemplo, França e o Reino Unido.
    Nos congressos e seminários de que participavam na Itália, o dobro ou apenas metade das pessoas previstas apareciam nos eventos; a equipe designada para fazer as palestras também sempre era metade ou o dobro do previsto. Assim como o tempo previsto para as palestras.
    As pessoas não apareciam para as reuniões ou apareciam sem serem anunciadas, mensagens eram perdidas e reembolsos eram atrasados, pagos em valores menores que o combinado ou até esquecidos.
    Os dois decidiram investigar além de suas próprias experiências. Assim nasceu o seu estudo pela Universidade de Oxford sobre o que chamam de "kakonomia". "Kakos" é a palavra em grego antigo que significa "mau", "ruim".
    A premissa era simples: às vezes os indivíduos conspiram, conscientemente ou não, para alcançar o menor resultado possível. O mais medíocre.

    'Tirania da excelência'

    A busca pelo resultado mais medíocre possível parece ter a ver com um número cada vez maior de pessoas rejeitando o que é percebido como uma tirania da excelência.
    "Às vezes, toda essa retórica sobre eficiência simplesmente é insuportável. Às vezes as pessoas gostam de poder relaxar", explicou Origgi.
    Talvez isso explique a tentação da dolce vita italiana - um estilo de vida mais sossegado. Por outro lado, la dolce vita tem um preço - o sacrifício de padrões de qualidade superiores, dizem os pesquisadores.
    Origgi e Gambetta citam o exemplo de um fabricante de azeite italiano chamado Leonardo Marseglia, que foi acusado de fraude na década de 1990 por vender azeite comum com rótulo de extra virgem.
    Mesmo na Itália, o azeite extra virgem é caro. Marseglia, que foi absolvido, se justificou dizendo que graças ao seu azeite adulterado, muitas pessoas puderam comprar o produto com o rótulo extra virgem a um preço razoável.
    Em entrevista à revista New Yorker, ele acrescentou que, em casa, usava azeite comum. "Para nós o conceito de 'bom' já é o bastante. Queremos ficar na média."

    Sinceridade

    Krista O'Reilly Davi-Digui, que mora no Canadá com o marido e três filhos, fala com sinceridade sobre sua mediocridade.
    "Quando falo que sou medíocre, é porque eu sou", diz a autora, que escreve sobre o tema em seu blog.
    "Adoro aprender, mas não sou a pessoa mais inteligente. Gosto de escrever, mas isso não significa que seja a melhor escritora. Sou apenas meio que normal."
    Davi-Digui abandonou a faculdade, onde estudava pedagogia, depois de sofrer com ansiedade e depressão. Hoje ela é nutricionista holística e "educadora para uma vida com alegria".
    "As mensagens (que recebemos) são sempre para fazer mais, para ser mais, para sacrificar o sono por causa da produtividade, que maior é melhor, pressa, pressa, pressa... Isso acaba comigo", diz.
    "Acho que não é vida, não quero isso e não consigo nem começar a acompanhar (esse ritmo). Tantos querem sair do carrossel e apenas respirar."

    Redes sociais

    Para alguns, o trabalho duro vai compensar. Mas se isso não acontecer? E se todo aquele trabalho for só um desperdício?
    Mark Manson é um blogueiro que escreve sobre desenvolvimento pessoal. Ele recebe milhares de e-mails e, recentemente, notou que muitas pessoas pediam conselhos sobre coisas que não podiam ser consideradas problemas.
    Essas pessoas estavam preocupadas com o que poderiam alcançar na vida, preocupadas com a possibilidade de não se destacarem na profissão que escolheram.
    "O fato é que elas conquistam os mesmos 99% que todos nós", pondera Manson.
    Manson argumenta que o problema é piorado pelas redes sociais: somos constantemente expostos aos melhores momentos das vidas das pessoas e isso faz com que acreditemos que não estamos aproveitando nosso tempo da melhor maneira possível.
    "Como objetivo, a mediocridade é uma droga... como resultado, tudo bem", afirma o blogueiro.
    A conclusão de Manson é parecida com a do estudo de Gloria Origgi e Diego Gambetta.
    Origgi lembra da experiência de um amigo americano que estava reformando uma casa na Itália. Os pedreiros locais nunca entregavam nada no prazo mas também não esperavam o pagamento em dia, então os dois lados saíam ganhando.
    O único problema é que a reforma nunca foi terminada - desfecho provavelmente diferente do esperado pelo amigo americano.
    Mas o resultado apontou para o "acordo" subjacente nesse tipo de situação: desistir de atingir padrões mais altos para, em troca, ganhar flexibilidade e uma vida mais fácil e sossegada.

    Acima da média

    Voltando a Krista O'Reilly Davi-Digui. Ela mora em uma cidade pequena, de cerca de 10 mil habitantes, na província de Alberta, no Canadá.
    Um lugar bonito, mas não totalmente isolado, com belos lagos que refletem as florestas e o céu azul.
    A autora viajou pela África, Europa e outras partes do Canadá. O marido é do oeste da África e ela aprendeu sozinha outro idioma.
    Tudo isso pode parecer muito acima da média.
    "Depende de com quem você está me comparando", responde a autora entre risos.
    Melhor dizendo: depende de com quem ela se comparar.

    Reportagem de Manuela Saragosa
    fonte:http://www.bbc.com/portuguese/geral-37176345#orb-banner
    foto:https://www.linkedin.com/pulse/how-replace-mediocrity-excellence-john-prpich-12-6k-connections