" Não há nada mais trágico neste mundo do que saber o que é certo e não fazê-lo. Que tal mudarmos o mundo começando por nós mesmos?" Martin Luther King
31/05/2017
Indignação com política tem gerado apatia em vez de mobilização, diz sociólogo
A população brasileira está "cada vez mais indignada" com os sucessivos escândalos de corrupção e a crise política que atingiu o presidente Michel Temer, mas essa indignação, em vez de se canalizar em um "grito de basta" suficientemente forte para promover mudanças, vem se traduzindo em "desolação, apatia, conformismo", considera o sociólogo Sérgio Abranches.
"As pessoas das mais variadas procedências estão dizendo 'não tem jeito', 'eu quero ir embora'. Essa é a pior reação", opina Abranches. "Eu gostaria de ver uma explosão social, gostaria de ver o povo na rua, completamente indignado, não aparelhado, realmente disposto a ir às últimas consequências, se necessário, para mudar a situação."
O sociólogo de 67 anos acha ser necessária uma "ruptura" para restabelecer a representatividade política, uma reação popular desgarrada das "velhas estruturas partidárias".
"Não estou defendendo a baderna. Mas essa (a mobilização social) é uma das poucas saídas que vejo para mudanças mais radicais no Brasil", diz à BBC Brasil em sua casa no Rio de Janeiro.
Autor do recém-lançado livro A era do imprevisto: A Grande Transição do Século 21 (Companhia das Letras, 2017) e colunista da rádio CBN, Abranches considera que o governo Temer não tem mais salvação após a crise deflagrada pelas delações da JBS e acha que o presidente comete um "segundo crime de responsabilidade" ao prolongar sua permanência no poder.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
BBC Brasil - A crise explodiu de um dia para o outro, mas não está claro se ela irá se resolver em um espaço de semanas ou meses. Que duração essa crise está se desenhando para ter?
Sérgio Abranches - Acho muito pouco provável que vá até as eleições de 2018. A Presidência Temer vai terminar antes disso. No curto prazo, você teria uma solução mais rápida que já foi descartada por Temer, a renúncia. Essa seria a forma mais rápida, eficaz e indolor de colocar o país de volta nos trilhos, mas já foi descartada.
Ao decidir resistir, na minha opinião, ele cometeu o segundo crime de responsabilidade, porque isso vai custar caro ao país, a ele e ao orçamento público.
BBC Brasil - O que o senhor chama de "segundo crime de responsabilidade"?
Abranches - Ele decidiu ficar sabendo que para tal terá que fazer mais concessões, incorrer em gastos públicos e contratações espúrias simplesmente para sobreviver, e comprar o apoio do Congresso. Há uma possibilidade de ele ainda fazer uma saída honrosa, que é aceitar o veredito do Tribunal Superior Eleitoral (TSE, que julga supostas irregularidades de campanha na chapa Dilma-Temer em 2014) e decidir não recorrer.
Se o TSE considerar que a chapa não é legítima, isso dá a ele um álibi adicional, que é o fato de o crime eleitoral principal não ter sido cometido por ele mas pela Dilma, a cabeça de chapa. Ele sairia de uma forma melhor, e não pelas razões principais relacionadas à conversa promíscua com o (empresário da JBS) Joesley Batista, que trazem um claro crime de responsabilidade.
BBC Brasil - O senhor acha que a saída é pelo TSE?
Abranches - Acho que essa crise se resolveria com relativa facilidade desde que tivéssemos uma negociação nacional que fosse além do Congresso e dos partidos para definir quem fará essa ponte até 2018.
As soluções que estão sendo discutidas internas ao Legislativo não são adequadas. Eu não considero que o (presidente da Câmara dos Deputados) Rodrigo Maia, por exemplo, tenha densidade política, capacidade de liderança ou isenção suficiente em relação à Lava Jato e ao governo Temer para fazer essa transição. Não é um bom nome, definitivamente.
Por outro lado, um senador como Tasso Jereissati, que é um homem respeitado em todas as frentes e tem muita experiência, também não é exatamente capacitado para construir esse consenso nacional, porque ele é do PSDB, e a gente tem uma polarização PSDB-PT que precisa ser superada no Brasil.
BBC Brasil - Superada, mas não ignorada.
Abranches - Isso, não pode ser ignorada. Você não pode simplesmente achar que pode resolver para um lado ou para o outro. É preciso haver uma negociação que atenda também a essa despolarização. Um nome percebido com tal grau de isenção que seja visto tanto por lideranças do PT como do PSDB como uma pessoa apropriada para fazer essa ponte.
E que tenha, por outro lado, um mínimo de respeitabilidade popular. Que a população indignada, decepcionada e frustrada com os rumos que o Brasil tomou com todo esse escândalo de corrupção ao menos considere que não é uma pessoa suspeita.
BBC Brasil - Os protestos que vimos até agora não foram de massa, como os de 2013. Como o senhor acha que a população está encarando mais esse escândalo? O excesso levou a um estado de dormência? Há mais cansaço que capacidade de se escandalizar?
Abranches - Acho que a população brasileira em sua maioria, ao menos pelo que eu consigo captar nas ruas, está desolada. Embora esteja cada vez mais indignada, essa indignação está produzindo uma desolação, uma apatia, um conformismo.
As pessoas das mais variadas procedências estão dizendo 'não tem jeito', 'eu quero ir embora'. Essa é a pior reação.
Eu gostaria de ver uma explosão social, gostaria de ver o povo na rua, completamente indignado, não aparelhado, realmente disposto a ir às últimas consequências, se necessário, para mudar a situação.
Acho que tem horas que a sociedade precisa dar um grito de basta que seja suficientemente forte, vigoroso e desgarrado dessas velhas estruturas partidárias, para que realmente seja ouvido pela elite e promova uma mudança. Acho que estamos precisando de uma ruptura.
BBC Brasil - Isso faz pensar no quebra-quebra em Brasília, que despertou muitas críticas e foi visto com reserva, despertando dúvidas sobre quem estava por trás dos episódios de depredação.
Abranches - Acho que o quebra-quebra em Brasília não faz parte desse grito de indignação. Foi uma coisa meio anárquica, mas na verdade aparelhada. E seletiva. Aquelas pessoas que estavam em Brasília não protestaram contra a corrupção do PT.
Na verdade eu falo em uma população que vá para a rua sem liames partidários. Por razões de fato difusas. Por todos os seus descontentamentos. Como foi em 2013.
Não estou defendendo a baderna. Mas a mobilização social é uma das poucas saídas que eu vejo para mudanças mais radicais no brasil. Senão as mudanças serão muito lentas e difíceis, e terão muita resistência dessas oligarquias.
BBC Brasil - Nas últimas semanas vem se falando muito na construção de um "pacto nacional" para escolher um candidato para substituir Temer via eleições indiretas. Isso não adiaria esse momento de ruptura que o senhor defende para promover mudanças?
Abranches - Mas veja, essa é a única solução menos negativa que nos dê alguma perspectiva de mudança adequada para preparar as eleições de 2018. Porque uma eleição direta agora não daria à população a possibilidade de fazer escolhas alternativas ao establishment.
O sistema político brasileiro foi construindo uma série de barreiras à entrada de novos atores políticos, denominados de aventureiros. Isso começou no governo Collor.
O (ex-presidente Fernando) Collor pode ter sido ruim, mas aventureiro ele não era. Era neto e filho de políticos, tinha sido governador. Não era um outsider. Mas foram tomadas uma série de medidas legais para evitar aventureiros como Collor na política. Foi um álibi para reforçar o controle de ferro das oligarquias sobre o sistema político.
Se não tivermos regras que democratizem as eleições e campanhas e exponham os candidatos mais diretamente à população, não vamos conseguir fazer uma mudança.
As discussões de reforma política no Brasil precisam considerar isso - a possibilidade de abrir a porta, escancarar as portas, para novas entradas no sistema político. Uma eleição como a do (novo presidente Emmanuel) Macron na França é impossível pela legislação brasileira.
BBC Brasil - Em seu novo livro, o senhor fala que um fosso está se abrindo entre os partidos políticos e a população, não só no Brasil mas no mundo todo. Como se resgata essa conexão?
Abranches - A democracia representativa está em crise no mundo todo e vai precisar, no longo prazo, ser aprofundada, alargada, complementada com novos instrumentos de representação e de controle social da política, que não eram possíveis no passado.
A estrutura política no mundo é toda analógica, à exceção de alguns recursos digitais usados por figuras como Barack Obama e Macron. A política ainda se faz toda com tecnologia analógica, ou sem tecnologia. Mas a sociedade é digital. As pessoas trocam ideias, se ofendem, se amam e se persuadem mutuamente pelas redes, digitalmente.
Temos que pegar esses mecanismos da sociedade digital e introduzir nas política, para torná-la mais transparente e tornar os partidos, governos e parlamentos mais representativos. Isso muito no longo prazo.
Acho que a democracia vai ter que mudar muito profundamente. Claro que a democracia é uma grande conquista, e temos que manter essa grande conquista, mas ela tem que ser transformada.
BBC Brasil - No livro o senhor fala de transformações radicais que estariam pro vir em muitas frentes. Na frente política no Brasil, o senhor considera a Lava Jato um elemento-chave para impulsionar essas mudanças?
Abranches - Sim, e por outro lado ela também ilustra coisas que podem ser feitas hoje graças às mudanças radicais na tecnologia. É um exemplo da digitalização da democracia de que eu estou falando.
Os juízes fazem o upload das provas, dos documentos, das sentenças, dos pareceres, das acusações etc. para o meio eletrônico. Os jornalistas têm treino para acessar aquele material digital - que corresponderia a salas e mais salas com pilhas de processos de papel, e que seria dificílimo de manusear e selecionar.
Eles sabem abrir pastas que contêm outras pastas que contêm outras pastas para chegar ao documento que importa à opinião pública e que de fato dá transparência ao sistema.
Então na verdade a Lava Jato já está trazendo mudanças. Deu à Justiça um grau de transparência que não tinha. A Justiça era uma caixa-preta e agora deixou de ser. Já está mudando o procedimento judicial.
BBC Brasil - Temer havia acabado de completar um ano no poder antes de a crise estourar. Se ele cair, qual terá sido o legado desse um ano, na sua opinião?
Abranches - Ficam dois legados, um muito negativo e um positivo em termos. O positivo é o fato de que ele realmente percebeu o que era preciso fazer para reequilibrar a economia e tirá-la da pior recessão da sua história. Colocou gente muito competente no Banco Central, no Ministério da Fazenda e fez uma proposta legislativa que atendeu os mercados, com as reformas.
O negativo é descobrir que o mesmo presidente capaz de tirar o país do buraco ao mesmo tempo tinha um subterrâneo na residência oficial na qual recebia pessoas que não podia receber para conversas que não poderia ter.
E ao ser pilhado nesse ato muito impróprio, que é crime de responsabilidade por ferir o decoro do cargo, ao invés de reconhecer a sua culpa e renunciar, e dizer que não tem mais condições de governar, ele fica encastelado, resistindo uma luta que já perdeu. É a mesma coisa que a Dilma Rousseff fez no interregno do impeachment.
E a gente vê que foram os piores momentos para o país, gerando confusão e incerteza mesmo com o desfecho já conhecido de antemão. É uma resistência teimosa, custosa, que transfere os ônus para a população mas não chega a beneficiar aqueles que estão resistindo.
BBC Brasil - Um dos trunfos do governo Temer era o apoio grande de que desfrutava no Congresso. Permanecendo no poder, o que acontece com a sua base parlamentar?
Abranches - A equação se inverteu. Ele tinha uma coalizão de alta eficácia e baixo custo. Precisava fazer muito menos concessões do que Dilma e Lula para obter as coisas que queria aprovar no Congresso.
Apesar de sua impopularidade, ele tinha a permanência até 2018 garantida, e isso era o suficiente para manter a base de apoio no Congresso. Tinha uma capacidade de gestão da coalizão invejável.
Mas agora ele se torna refém do Congresso. E ser refém custa muito mais caro. Ele vira um presidente de baixa eficácia, alto custo. Porque cada vez que ele precisar de alguma coisa, o Congresso vai lembrar: 'você cai se eu quiser'. O Rodrigo Maia está sentado numa pilha de pedidos de impeachment.
Temer já não consegue pedir nada ao Congresso que não seja a sua própria sobrevivência. O governo acabou, não tem mais salvação. As declarações que ele fica fazendo na televisão chegam a ser patéticas como erro de comunicação. Porque a população não está ouvindo, não quer saber. Não é isso que importa para a população. Ele está falando sozinho. É um exercício narcísico.
Reportagem de Júlia Dias Carneiro e Luciani Gomes
fonte:http://www.bbc.com/portuguese/brasil-40100618
foto:https://fueralosmetafisicos.com/2009/12/30/la-apatia-politica/
Projeto de lei quer oficializar esportes eletrônicos no Brasil
A deputada federal Mariana Carvalho (PSDB-RO) apresentou ontem, 30, um projeto de lei que pretende conferir aos esportes eletrônicos (eSports) o mesmo status legal dado aos esportes tradicionais.
No texto, que recebeu o número de PL 7747/2017, ainda sem previsão de votação, Mariana pede uma modificação na Lei 9.615/1998, que versa sobre as normas gerais de esporte no Brasil, acrescentando a ela o desporto virtual, "entendido como jogos eletrônicos transcorridos individual ou coletivamente, contra a máquina ou em rede, bem como a competição entre profissionais e amadores do gênero".
Segundo a deputada, uma das justificativas do projeto é dar amparo legal aos profissionais dos esportes eletrônicos, determinando diretrizes contratuais e dando a eles maior segurança. "A política também visa coibir precarização de torneios e condição de trabalhos para os jogadores", diz o texto da proposta, que não tem previsão de ser levada às comissões da Câmara.
No entanto, o texto apresentado por Mariana Carvalho comete um deslize, ao afirmar que as Olimpíadas de 2022 (sic) terão "a modalidade de esporte virtual elencada junto às demais", e por isso o Brasil deve dar incentivo ao "novo e grande esporte".
Na verdade, os eSports farão parte das competições oficiais dos Jogos Asiáticos de 2022 – em 2018, os esportes eletrônicos farão parte do evento como modalidade teste. No que diz respeito aos Jogos Olímpicos de Verão, o COI não tem, ao menos por enquanto, intenção de incluir games como League of Legends, StarCraft II ou Counter-Strike: Global Offensive como modalidades oficiais das Olimpíadas.
Reportagem de Bruno Capelas
fonte:http://link.estadao.com.br/noticias/games,projeto-de-lei-quer-oficializar-esportes-eletronicos-no-brasil,70001819689
foto:http://link.estadao.com.br/noticias/games,maior-empresa-de-esports-do-mundo-esl-lanca-campeonatos-no-brasil,10000028559
Onde a escolaridade no Brasil é mais desigual
Será que a Educação no campo é melhor do que na cidade? Quando a gente fala sobre desigualdades no Brasil, nem sempre a área rural é tida como uma questão urgente. Os indicadores educacionais, no entanto, contam uma história diferente e alertam para a necessidade de termos olhares mais atentos e políticas públicas focalizadas para a população do campo.
De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad/IBGE), enquanto a população urbana brasileira tem, em média, 10,3 anos de escolaridade, os moradores das zonas rurais registram dois anos a menos de estudo.
Esses dados fazem parte do Anuário Brasileiro da Educação Básica, lançado neste mês pelo movimento Todos Pela Educação e pela Editora Moderna. Em sua sexta edição, a publicação tem como eixo editorial o tratamento das desigualdades brasileiras e a defesa do Plano Nacional de Educação (PNE) como uma política de estado que precisa ser efetivada. As análises estatísticas do anuário utilizam, principalmente, as bases de dados do Ministério da Educação (MEC) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e a organização segue as metas do Plano Nacional de Educação.
Como mostra também o Anuário, as desigualdades não se resumem às disparidades entre áreas urbana e rural. Não é à toa que a meta 8 do PNE, sancionado em 2014, determina que o País eleve a escolaridade média da população de 18 a 29 anos, para atingir no mínimo 12 anos de estudo para as populações do campo, da região de menor escolaridade no País e dos 25% mais pobres, além de igualar a escolaridade média entre negros e não negros.
Se compararmos os mais 25% ricos e os 25% mais pobres, a diferença em anos de estudo aumenta para 4 anos entre o quartil de maior renda. Entre as regiões, quem mora no Sudeste do País tem pelo menos um ano a mais de escolaridade do que o habitante das regiões Norte e Nordeste.
Por conta das desigualdades, a escolaridade vem avançando de maneira muito lenta quando olhamos para o Brasil como um todo. Entre 2014 e 2015, por exemplo, a taxa cresceu apenas 0,1 ponto percentual, como vem ocorrendo desde 2012. Os dados revelam a necessidade urgente de se criar e instituir políticas públicas específicas para todas as clivagens sociais brasileiras, de modo a atender toda a população de maneira equânime.
A legislação estabelece como prazo para esse objetivo 2024, último ano de vigência do PNE, mas fica muito claro que é necessário tomar medidas desde já para que alcancemos essa meta.
Você também pode consultar esse e outros indicadores no Observatório do PNE.
Reportagem de Mariana Mandelli, do Todos Pela Educação
fonte:http://educacao.estadao.com.br/blogs/de-olho-na-educacao/onde-a-escolaridade-no-brasil-e-mais-desigual/
foto:http://blogodontosocial.blogspot.com.br/2016/05/educacao-e-desigualdade-social-no-brasil.html
“O sistema de controle de armas nucleares pode entrar em colapso a qualquer momento”
Os dirigentes políticos e militares da Rússia rechaçaram "com pretextos idiotas" as propostas de desarmamento do presidente anterior dos EUA, Barack Obama, e se alegraram com a chegada ao poder de Donald Trump, que "não tem nenhum interesse no desarmamento nuclear nem a intenção de propor nada à Rússia". Assim define a situação, em uma conversa com o EL PAÍS, o pesquisador russo Alexei Arbatov, respeitado especialista em problemas armamentistas e acordos de desarmamento.
Há sete anos, EUA e Rússia não conversam sobre o desarmamento, apesar dos esforços dos especialistas dos dois países que, como Arbatov, tentam convencer seus líderes da necessidade de manter o sistema de controle nuclear que tanto esforço custou para ser desenhado a partir dos anos 60 do século passado.
O problema de segurança “mais urgente” hoje, segundo Arbatov, é “salvar o sistema de controle das armas nucleares, que pode vir abaixo a qualquer momento, porque se os norte-americanos abandonarem o acordo de redução de mísseis de médio alcance (assinado em 1987 pelos presidentes Ronald Reagan e Mikhail Gorbatchov) ou a Rússia decidir fazê-lo, como fez com o acordo de armas convencionais na Europa, então os norte-americanos deixarão o tratado de redução de armas estratégicas ofensivas (assinado em 2010 pelo presidente Obama e por seu colega Dmitri Medvedev), sem esperar que o documento expire em 2021, e depois disso o acordo de proibição de testes nucleares será dissolvido e nos veremos em um estado de caos”. O tratado de redução de armas ofensivas estratégicas, assinado por ambos, estabelece tetos de portadores e cabeças nucleares (800 portadores e 1.550 cabeças nucleares por lado).
“Ucrânia e Síria são assuntos importantes devido ao perigo de enfrentamento, mas o mais urgente é salvar o acordo de armas de médio alcance”, opina o especialista, segundo o qual “hoje, isso pode ser feito depressa e sem muito trabalho”. Os dois países se acusam mutuamente de violar o tratado de redução de mísseis de médio alcance.
A partir do fim dos anos setenta, quando Richard Nixon foi eleito presidente dos EUA, os republicanos e os democratas norte-americanos adotaram modelos de ação diferentes em relação a Moscou em questões de desarmamento. “Os democratas consideram que os EUA são superiores a Moscou em tudo, exceto nos armamentos nucleares, no que os dois países estão equilibrados, e pensam que quanto mais se reduzir o papel das armas nucleares (no conjunto da relação), maior a vantagem dos EUA”.
“Os republicanos, por sua vez, também consideram que as armas nucleares são a única área em que Moscou e Washington se igualam, mas tiram conclusões opostas às dos democratas, e querem demonstrar que também nesta área são superiores, além de pretender que sua superioridade total seja reconhecida.” “Ou seja, os democratas tentam minimizar o aspecto nuclear para aumentar a superioridade em outros campos e os republicanos procuram aumentar o peso do armamento nuclear para conseguir a superioridade com ajuda dele. Os democratas tentaram manter este esquema válido com a Rússia para a URSS, mas não a partir de uma posição de luta e para debilitar o lado oposto, mas por considerações gerais de segurança”, afirma.
“Com a chegada de Trump ao poder, o esquema volta a funcionar de forma muito precisa. Trump não tem qualquer interesse no desarmamento nuclear, não tem intenção de propor nada. Obama sempre propunha coisas, novos tratados de armas táticas, de armas estratégicas ofensivas, mas Trump não, e agora, dentro do modelo clássico dos republicanos diante da URSS, foi colocado em andamento um ambicioso plano de renovação de armas nucleares estratégicas e táticas e defesa antimísseis. Aqui, os nossos (Rússia) não compreenderam. Acreditam que a arma nuclear é o principal elemento de prestígio, um símbolo de status da Rússia no mundo”.
A Rússia já está engajada em uma corrida armamentista contra os Estados Unidos, que pode ser “mais difícil, cara e perigosa do que a corrida armamentista da Guerra Fria”. Na realidade trata-se de vários processos, tais como uma corrida pela renovação das forças estratégicas no marco do novo tratado de forças estratégicas ofensivas, assinado em 2010; outra corrida entre as forças nucleares ofensivas russas e o sistema de defesa antimísseis norte-americano; e outra competição mais pelos sistemas de mísseis de precisão de longo alcance com cargas convencionais, inclusive as que no futuro superarão a velocidade do som. Existe ainda uma corrida entre a defesa aérea cósmica russa e os meios norte-americanos de ataque aéreo cósmico. Esta competição múltipla, de “canais de armas ofensivas e defensivas, nucleares e não nucleares”, não existia nos anos da Guerra Fria, segundo Arbatov. “Putin pensava que Trump, que criticava Obama, logo o visitaria em Moscou, reconheceria que os Estados Unidos se enganaram, que se abraçariam, ficariam amigos e acabariam com as sanções. É preciso conhecer o sistema político norte-americano para saber que isso não é possível”, afirma. “O presidente Putin quer conter a escalada da Guerra Fria, mas sem fazer nenhuma concessão séria, porque o que ele mais teme é parecer fraco e assim não há resultado”, diz Arbatov.
Contemplada a partir do Kremlin, o Governo de Obama está carregado de “ilusões e decepções”, afirma Arbatov, para quem “Obama era o melhor presidente para as relações russo-americanas desde a época de Franklin Roosevelt (1933-1945)”. No processo de confrontação houve um parênteses, quando Dmitri Medvedev era presidente da Rússia (2008-2012) e começou a colaborar muito bem com Obama.
“Mas logo depois Putin voltou e tudo se paralisou, e Obama se tornou o pior presidente (para a Rússia), porque Putin não quis normalizar as relações com os Estados Unidos, mas sim se vingar dos norte-americanos por todas as humilhações e queixas que a Rússia sofreu nos anos noventa e, sobretudo, em seus dois primeiros mandatos (2000-2008), quando a Rússia queria normalizar as relações e Bush abraçava Putin e apertava sua mão, mas logo fazia o que tinha vontade, até que Putin se cansou”. Esse cansaço amadureceu durante um tempo, explodiu na conferência de segurança de Munique em fevereiro de 2007, e se manifestou “quando Putin voltou à política de confronto nas relações com os Estados Unidos”, destaca.
Renovação
O governo norte-americano elaborou um programa de renovação de todo tipo de armas nucleares, estratégicas e operativo-táticas, porque os sistemas em uso agora, que foram instalados nos anos oitenta e até nos anos setenta, envelheceram, e perfilou um programa para 25-30 anos aproximadamente, que talvez seja acelerado, em 15 ou 20 anos, se houver dinheiro. “Atualmente já estão sendo desenvolvidas novas armas, mas a localização real começará em meados da próxima década. Inicialmente, serão construídos novos bombardeiros pesados com mísseis de cruzeiro, no lugar dos que há hoje. Depois, mísseis terrestres, submarinos com mísseis e novos armamentos táticos. A nova administração não quer prolongar o acordo de redução de armas ofensivas estratégicas nem mesmo até 2026”. “No fim de seu mandato, Obama propôs (à Rússia) a prorrogação daquele tratado, mas os russos não queriam entrar em um acordo sobre armas nucleares, muito menos com Obama. Consideravam que as armas nucleares são nosso principal atributo, o símbolo de nosso status”, diz Arbatov.
Ao expirar o tratado de redução de armas ofensivas estratégicas, as limitações para as partes desaparecerão “e cada um fará o que quiser e não terá uma ideia exata das forças e planos do outro, o que aumentará a tensão e o perigo”, diz o especialista. Nessas condições, é muito possível que a corrida armamentista se intensifique. “Será um período pior que a Guerra Fria, porque competirão não só por armas ofensivas nucleares, mas também em armas defensivas e em armas de precisão”.
Em algumas áreas, são os norte-americanos que iniciou a nova corrida armamentista; em outros, a Rússia. Se nos referirmos a armas de precisão com carga não nuclear, a Rússia desenvolveu o Kaliber, um míssil de cruzeiro de longo alcance com base aérea e marítima, que foi utilizado na Síria. “Antes não tínhamos mísseis de cruzeiro com ogivas convencionais, não tínhamos uma exatidão suficiente. Eles só existiam com ogivas nucleares nos aviões e nos submarinos. Os norte-americanos têm esses mísseis com ogivas nucleares convencionais há mais de 30 anos, os chamados Tomahawk, nos submarinos e nos navios”.
Reportagem de Pilar Bonet
fonte:http://brasil.elpais.com/brasil/2017/05/29/internacional/1496043818_536255.html
foto:http://tecnologia.culturamix.com/noticias/o-que-sao-armas-nucleares
30/05/2017
Instagram é considerada a pior rede social para saúde mental dos jovens, segundo pesquisa
O Instagram foi considerada a pior rede social no que concerne seu impacto sobre a saúde mental dos jovens, segundo uma pesquisa do Reino Unido.
Na enquete, 1.479 pessoas com idades entre 14 e 24 anos avaliaram aplicativos populares em quesitos como ansiedade, depressão, solidão, bullying e imagem corporal.
Organizações de saúde mental pediram às empresas que mantém os aplicativos a aumentar a segurança dos usuários.
Em resposta, o Instagram disse que uma de suas maiores prioridades é manter a plataforma como um lugar "seguro e solidário" para os jovens.
O estudo, da Sociedade Real para Saúde Pública (RSPH, na sigla em inglês) na Grã-Bretanha, sugere que as plataformas avisem, através de um pop-up, toda vez que houver uso excessivamente intenso das redes sociais, e que identifiquem usuários com problemas de saúde mental.
O Instagram diz que oferece ferramentas e informações sobre como lidar com bullying e avisa os usuários sobre conteúdos específicos de algumas páginas.
A pesquisa afirmou que "as redes sociais podem estar alimentando uma crise de saúde mental" entre jovens.
No entanto, ela também pode ser usada para o bem, segundo o estudo. O Instagram, por exemplo, teve um efeito positivo em termos de autoexpressão e autoidentidade, segundo a pesquisa.
Cerca de 90% dos jovens usam redes sociais - mais do que qualquer outra faixa etária -, o que os torna especialmente vulneráveis a seus efeitos, apesar de não estar exatamente claro quais seriam estes no momento.
'Depressão profunda'
Isla é uma jovem de 20 e poucos anos. Ela ficou "viciada" em redes sociais durante a adolescência quando estava passando por um momento difícil de sua vida.
"As comunidades online me fizeram sentir incluída, como se a minha existência valesse a pena", diz. "Mas eu comecei a negligenciar minhas amizades na 'vida real' e passava todo o meu tempo online conversando com meus amigos lá".
"Eu passei por uma depressão profunda quando tinha 16 anos, ela durou meses e foi terrível. Durante esse período, as redes sociais me fizeram sentir pior, eu constantemente me comparava com outras pessoas e isso fazia eu me sentir mal", conta a jovem.
"Quando eu tinha 19 anos, tive outro episódio de depressão profunda. Eu entrava nas redes sociais, via meus amigos fazendo várias coisas e me odiava por não conseguir fazê-las ou me sentia mal por não ser uma pessoa tão boa quanto eles".
As redes sociais também tiveram um efeito positivo na vida de Isla. "Eu bloguei muito sobre saúde mental, sou bem aberta em relação a isso e tive boas conversas com as pessoas sobre o assunto."
"Eu acho que me dá uma plataforma pra falar sobre isso. Conversar com as pessoas é algo imperativo para a minha saúde. Eu ainda sou amiga de pessoas que conheci na internet há cinco, seis anos e até encontrei algumas delas pessoalmente", diz.
A pesquisa online fez uma série de perguntas sobre o impacto das redes YouTube, Instagram, Snapchat, Facebook e Twitter em termos de saúde e bem-estar. Os participantes da pesquisa deveriam avaliar cada plataforma em 14 tópicos relacionados aos temas.
Com base nessas avaliações, o YouTube foi a rede com o impacto mais positivo em termos de saúde mental, seguido por Twitter e Facebook. Snapchat e Instagram tiveram as piores pontuações.
'Faroeste'
"É interessante ver Instagram e Snapchat nas piores posições para saúde mental e bem-estar - ambas as plataformas são bastante focadas em imagem e parecem causar sentimentos de inadequação e ansiedade nos jovens", diz Shirley Cramer, executiva-chefe da RSPH.
Com base nessas descobertas, especialistas em saúde pública estão pedindo para que as plataformas de redes sociais introduzam uma série de checagens e medidas para melhorar a saúde mental, incluindo:
- Avisos de que as pessoas estão fazendo uso excessivo das redes sociais (apoiada por 70% dos jovens que participaram da pesquisa);
- A identificação, por parte das plataformas, de usuários com problemas de saúde mental (pelo conteúdo de postagens) seguida de "indicações discretas sobre como eles podem conseguir apoio";
- Sinalização de quando as fotos foram digitalmente manipuladas - por exemplo, marcas de roupa, celebridades e outras organizações publicitárias poderiam utilizar um pequeno ícone nas fotos alteradas digitalmente.
Tom Madders, da organização de saúde mental YoungMinds, disse que as recomendações podem ajudar muitos jovens. "Aumentar a segurança nas redes sociais é um passo importante que pedimos para Instagram e outras redes tomarem", disse.
"Mas também é importante reconhecer que simplesmente 'proteger' jovens de alguns conteúdos jamais será a solução total".
Ele disse que os jovens precisam entender os riscos de como eles se comportam na internet e devem aprender como reagir a "conteúdos nocivos que escapam dos filtros".
Michelle Napchan, chefe das políticas do Instagram, disse que "manter a solidariedade e segurança do Instagram como um local onde as pessoas se sintam à vontade para se expressar é a nossa maior prioridade - especialmente em relação aos jovens".
"Todos os dias, pessoas em todas as partes do mundo usam o Instagram para compartilhar sua própria jornada de saúde mental e conseguir apoio no Instagram quando e onde eles precisarem".
"É por isso que trabalhamos em parceria com especialistas para dar às pessoas as informações e ferramentas que elas precisam para usar o aplicativo, inclusive sobre como denunciar conteúdo, conseguir apoio para um amigo que lhes preocupa ou contatar diretamente um especialista para pedir conselhos sobre como lidar com um problema".
fonte:http://www.bbc.com/portuguese/geral-40092022#orb-banner
foto:https://www.tecmundo.com.br/instagram
Nomeação de Torquato na Justiça acende alerta na PF e no Ministério Público
Torquato Jardim |
Indicado, mas ainda não empossado no Ministério da Justiça, o advogado e ex-ministro da Transparência, Torquato Jardim, já deu os primeiros sinais de como atuará em defesa do Governo Michel Temer (PMDB). Em entrevistas, afirmou que não sabe se manterá a atual diretoria-geral da Polícia Federal, defendeu que o nome do novo procurador-geral da República não precisa, necessariamente, ser um dos indicados pela lista tríplice apresentada pelos procuradores federais e que o Tribunal Superior Eleitoral não julgará a atual crise política, mas uma ação que questiona irregularidades da campanha de 2014.
Suas declarações acenderam um sinal de alerta em categorias que podem ser direta ou indiretamente atingidas pela atuação do chefe de uma das pastas mais poderosas do Governo e que tem o sexto maior orçamento federal, com 13,3 bilhões de reais ao ano. Entre os possíveis afetados está a Polícia Federal, órgão subordinado ao Ministério da Justiça. “Num contexto em que, há duas semanas, diálogos foram interceptados entre expoentes da política nacional falando sobre a troca do ministro da Justiça para enfraquecer a Lava Jato, é no mínimo preocupante ver essa substituição agora”, afirmou o presidente da Associação dos Delegados da PF, Carlos Eduardo Sobral.
Ao jornal Folha de S. Paulo, Jardim disse que avalia a possibilidade de trocar o comando da PF. O atual diretor-geral, Leandro Daiello Coimbra, está na função desde 2011, ainda no Governo Dilma Rousseff (PT). Quando Temer assumiu a presidência, após o impeachment da petista, ele cogitou a possibilidade de trocar Daiello, mas, como a operação Lava Jato estava em um estágio avançado, recuou para passar a imagem de que não queria interferir nas apurações. Agora, quando, pela primeira vez a investigação atinge diretamente o presidente – responde a um inquérito no qual é suspeito de corrupção passiva e obstrução de Justiça –, a possibilidade de substituição volta a ganhar força.
O presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Luís Antônio Boudens, minimiza a importância da troca na direção-geral da PF. “Nenhum ministro arriscaria paralisar a Lava Jato. O risco para a operação seria tirar todas as condições de investigadores de Curitiba ou de outras regiões onde há apurações ligadas a ela, como Rio, Minas e Brasília”, ponderou.
Entre policiais federais ao menos seis nomes já começam a circular, todos de delegados de carreira da PF. Três deles compuseram a lista tríplice elaborada pela ADPF: Érika Marena, Rodrigo Teixeira e Marcelo Freitas. Os outros três são de policiais que, em algum momento, já foram cotados para o cargo: Sandro Avelar, Reinaldo César e Ricardo Saad.
Para a associação de delegados, a única maneira de não passar a imagem de interferência na Lava Jato seria se o novo indicado fosse um dos representantes de sua lista tríplice. Enquanto que os representantes da Fenapef dizem que o ideal é colocar algum profissional que demonstre seriedade e lute pela autonomia da polícia. “A única qualidade do Daiello foi a de manter várias operações em andamento ao mesmo tempo. Essa é a característica dele que pode ajudar o Brasil neste momento. Se um eventual novo nome vier com essas características também, acho que supre bem”, afirmou Boudens.
Escolha do novo Janot
Quando foi escolhido para a pasta da Justiça por Temer, Jardim carregou consigo uma bagagem de quatro décadas de atuação nas mais diversas cortes brasileiras, além de um trânsito fácil no Supremo Tribunal Federal e no Tribunal Superior Eleitoral. Foi esse currículo que pesou na hora de ser apontado como novo ministro. Tendo passado oito anos como ministro do TSE, ele já avaliou que a ação que pede a cassação da chapa Dilma-Temer só levará em conta os dados técnicos, não a crise política atual. A fala serve como uma maneira de pressionar os magistrados.
Antes de ser parte do Governo, contudo, era um crítico ao PMDB de Temer. Agora, afirma que será leal ao presidente, que seguirá todos as suas ordens e sinaliza que ele não precisará substituir o atual procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por um dos representantes eleitos na lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR). Desde 2003, o presidente costuma escolher o procurador mais votado para o cargo. Mas não há nenhuma lei que o obrigue a seguir esse trâmite.
Se Temer ainda estiver no Governo até setembro, quando vence o mandato de Janot, e seguir o que sugere Jardim, ele poderá mudar esse costume de 14 anos. O ministro sugere que outras associações do Ministério Público, como a dos procuradores da Justiça Militar e do Trabalho, também apresentem seus nomes para a disputa. “Quanto mais pessoas interessadas em participar, melhor”, disse ao jornal Folha de S. Paulo. "Não considero adequado que os outros âmbitos do MP apresentem listas", rebateu Nicolao Dino Neto, subprocurador-geral da República e candidato à sucessão de Janot ao EL PAÍS. Para Dino, a escolha via lista tríplice "é algo que vem ao encontro não apenas do que está na Constituição, mas também tem absoluta relação de coerência com as atribuições que se apresentam ao procurador-geral em um cenário em que cada vez mais se requer a legitimação institucional".
Reportagem de Afonso Benites e Felipe Betim
fonte:http://brasil.elpais.com/brasil/2017/05/30/politica/1496098750_218080.html
foto:http://www.notibras.com/site/torquato-defende-a-regulamentacao-do-lobby/torquato-jardim-evaristo-sa-afp/
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