Você provavelmente já ouviu falar no Grande Depósito de Lixo do Pacífico – milhões de pedaços de plástico e outros detritos rodopiando entre o Havaí e a Califórnia. A única coisa mais revoltante do que um redemoinho enorme de lixo marinho é saber que existem, na verdade, cinco redemoinhos enormes de lixo marinho. No sul do oceano Pacífico, no oceano Índico e no norte e no sul do oceano Atlântico há também concentrações extraordinárias de plástico.
Você pode imaginar esses depósitos como ilhas flutuantes de lixo, mas eles estão mais para uma sopa de plástico com pedaços de sacos de supermercado rasgados, garrafas de água decompostas, e microesferas de polietileno utilizadas em alguns produtos esfoliantes para a pele. O mar, ao que parece, é a última parada no fluxo coletivo de resíduos da humanidade.
A culpa disso tudo é de todos nós, mas, em um nível específico, não temos ideia de onde vem todo esse material. Todos os países usam plástico em excesso, e boa parte dele acaba indo parar em rios e oceanos. É incrivelmente difícil rastrear o plástico transportado pelas correntes oceânicas. Mas é preciso refazer sua trajetória se quisermos descobrir como controlar esse fluxo de lixo. Sem saber a origem, é muito fácil para os países individualmente tentarem empurrar a regulação do lixo marinho para os outros.
O escritor e jornalista norte-americano Donovan Hohn dramatizou a interligação dos oceanos no livro “Moby Duck”, lançado nos Estados Unidos em 2011 e que narra a trajetória de cerca de 28 mil patinhos de borracha que caíram no mar em 1992, quando fortes ondas sacudiram um navio chinês de carga que ia para a cidade norte-americana de Seattle. Hohn seguiu a trilha da borracha ao redor do mundo em uma busca épica para rastrear os patinhos amarelos, o que atraiu o interesse de cientistas que estudam as correntes oceânicas.
A empreitada parece romântica, mas agora há uma maneira mais fácil de fazer isso. Matemáticos da Universidade de New South Wales, da Austrália, descreveram em um artigo publicado recentemente como construíram modelos de fluxo que mostram para onde vai o lixo lançado ao mar. Por exemplo, pedaços de lixo lançados na costa de Moçambique provavelmente acabarão na mancha de detritos do Atlântico Sul – e não na mancha do Oceano Índico, que está bem mais perto do país. O modelo também vai ajudar os pesquisadores a determinar como as manchas de lixo "compartilham" os detritos entre si. É isso mesmo: as manchas são tão grandes e as correntes oceânicas tão complicadas que o lixo pode mudar seu caminho ao redor do mundo, passando de uma mancha de lixo para outra.
Teoricamente é possível construir uma simulação que poderia rastrear cada partícula nas águas dos oceanos e o número quase infinito de caminhos que elas poderiam seguir. Mas isso iria sobrecarregar até mesmo o mais poderoso supercomputador. Em vez disso, os pesquisadores, no modelo simplificado, dividiram os oceanos em sete regiões. As águas dessas regiões se misturam apenas minimamente, o que significa que o computador pode ver o sistema como alguns pedaços discretos de água ao invés de partículas incontáveis.
Um dos resultados desse modelo é que ele mostra que os mapas atuais são uma estimativa ruim de como a água realmente se move no oceano. Trechos tanto do Oceano Pacífico como do Índico deveriam, na realidade, ser consideradas parte do Atlântico Sul. Outra porção do Oceano Índico seria mais naturalmente parte do Pacífico Sul.
Este estudo pode fazer mais do que ajudar-nos a descobrir onde soltar uma garrafa com uma mensagem dentro. Compreender a dinâmica das grandes manchas de lixo nos oceanos poderia ajudar a direcionar os esforços de limpeza, responsabilizar os maiores poluidores, e conter o fluxo de nossas próprias contribuições para a sujeira.
Reportagem de Brian Palmer | OnEarth Magazine
Tradução: Maria Teresa de Souza
fonte:http://operamundi.uol.com.br/conteudo/samuel/38277/novo+modelo+matematico+criado+nos+eua+permite+rastrear+lixo+oceanico.shtml
foto:http://comunidademib.blogspot.com.br/2014/02/a-ilha-de-lixo-do-pacifico.html
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