31/08/2013

Pobreza pode diminuir inteligência em até 13 pontos, dizem cientistas

Pessoas de baixo poder aquisitivo podem ter mais problemas do que apenas terem pouco dinheiro. Um novo estudo sugere que a pobreza pode diminuir o poder do cérebro.

Uma equipe internacional de pesquisadores descobriram que a pobreza e as preocupações relacionadas a ela consomem muita energia mental, o que leva essas pessoas a terem menos habilidades para tomar decisões, deixando-as mais propensas a cometer erros que podem ser o gatilho para perpetuar os problemas financeiros.
Os cientistas disseram que isso afeta cerca de 100 milhões de americanos que enfrentam problemas financeiros.
“O sistema cognitivo é limitado. Quando você não tem recursos suficientes – dinheiro, tempo e outras formas de lidar com problemas – acontece uma queda de raciocínio”, disse Jiaying Zhao, coautor do estudo e professor de psicologia na Universidade de British Columbia, em Vancouver, Canadá. “O que nós estamos dizendo é que as preocupações relacionadas com a pobreza consome recursos mentais e afeta a habilidade de solucionar problemas. E, como resultado, os pobres têm menos recursos mentais para outros problemas”.
O estudo foi publicado na última quinta-feira (29), no periódico Science.
Cerca de 20% da população mundial sofre com pobreza e cerca de 15% dos americanos se enquadraram nessa classificação em 2010, de acordo com o Centro Nacional da Pobreza na Universidade de Michigan. Pesquisas anteriores já ligaram a pobreza ao comportamento contraprodutivo, tal como dificuldades de gerenciar o próprio dinheiro. O novo estudo, porém, é o primeiro a sugerir que a pobreza chega a efetivamente diminuir a função mental.
Zhao e seus colegas lideraram uma série de experimentos em dois continentes, descobrindo que pessoas preocupadas com problemas financeiros demonstraram uma queda de função mental equivalente a 13 pontos no QI.
A primeira leva de experimentos envolveu cerca de 400 pessoas em um shopping center no estado de Nova Jersey, comparando pessoas de salário anual de 70 mil dólares com aqueles que ganhavam uma média de 20 mil dólares. Os participantes eram solicitados a ponderar como é que eles resolveriam problemas financeiros como um conserto repentino do carro, em que o custo giraria entre algo baixo (150 dólares) até um alto (1.500 dólares).
Separando os grupos de “pobres” e “ricos”, o estudo indicou que ambos tiveram sucesso nos testes cognitivos quando a situação era “fácil”, como um conserto de carro que custaria 150 dólares. Mas quando eles consideraram a situação “difícil”, quando o conserto custaria 1.500 dólares, aqueles que ganhavam menos tiveram uma performance significativamente pior em testes cognitivos e de inteligência fluida, enquanto os “ricos” conseguiram lidar bem com a decisão difícil.
A segunda leva de experimentos envolveu cerca de 500 trabalhadores braçais em canaviais na Índia, cuja renda flutua radicalmente antes e depois da colheita, já que dependem de 60% do lucro dela para sobreviverem. Os pesquisadores aplicaram o teste no período anterior à colheita e imediatamente depois, e os trabalhadores tiveram um resultado melhor depois da colheita do que quando estavam em uma situação ainda mais difícil.
Os autores do estudo excluíram que o estresse seria a causa da baixa capacidade cognitiva dos participantes, porque ele frequentemente desencadeia uma performance mental mais apurada. Porém, a diminuição da capacidade cerebral – que é reversível – acontece por que as preocupações financeiras simplesmente usam muito das habilidades mentais e deixam pouca capacidade para as outras tarefas.


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