18/08/2012

Número de presos espanhóis no estrangeiro aumenta 30% em quatro anos por causa da crise


"Estefanía Gutiérrez, telefone!", grita alguém do outro lado da linha. Escutam-se crianças brincando, muito movimento, ninguém diria que está ouvindo o som da vida dentro de uma cadeia. A prisão de Palmasola, na cidade amazônica de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, é uma das mais conflituosas da América Latina. Estefanía Gutiérrez, uma jovem de Valladolid, é uma dos 2.443 espanhóis que estão presos atualmente em cárceres fora da Espanha. Destes, 83% por crimes relacionados com o tráfico de drogas.
Nos últimos quatro anos, o número de detidos em outros países aumentou 33% - 637 pessoas. São muitos os que tentam solucionar seus problemas econômicos de forma ilícita no estrangeiro, e quase todos através da mesma via, o consumo ou tráfico de drogas.
Estefanía Gutiérrez tem 23 anos, mas já sabe o que é jogar a vida fora de seu país. Enquanto trabalhava como garçonete, conheceu alguns mafiosos que lhe ofereceram 8 mil euros para levar do país andino à Espanha 6 quilos de cocaína em uma mala. Mas não foi tão fácil como lhe fizeram acreditar, e ela permanece lá desde dezembro de 2011.
"Disseram-me que seria muito simples, que eles cuidavam de comprar um policial no aeroporto e que eu não teria problemas. Era muito dinheiro e muito fácil", é a história clássica, a mesma que levou 2.009 espanhóis às prisões de todo o mundo.
Dos quase 1.300 presos espanhóis que há na América Latina, 1.196 (95%) estão na prisão por crimes ligados às drogas, a constante dos espanhóis que cumprem pena em prisões de todo o mundo. Os outros crimes mais comuns são roubos (3,4%), homicídios e assassinatos (2,3%) e estelionato (1,1%).
O Ministério das Relações Exteriores, junto com a ONG Movimento pela Paz, há 12 anos lança campanhas de conscientização, já que os crimes cometidos fora da Espanha são julgados pela legislação do país onde foram praticados. "As pessoas costumam não saber disso, mas em alguns países o consumo de droga é motivo de pena de morte", explica um porta-voz do ministério, Jesús Díaz. No caso da Bolívia, onde há 80 presos espanhóis, a legislação é muito severa com esse tipo de crime. Contempla penas de dez a 20 anos por tráfico e de oito a 12 por porte.
Passaram oito meses desde que a jovem foi detida, e nem ela nem sua família sabem quando se realizará o julgamento. "Disseram-me que poderia pegar oito anos", comenta, resignada. "Agora sei que 8 mil euros é muito pouco dinheiro para a situação em que estou", acrescenta.
Essa jovem teve de viver tudo isso praticamente sozinha. "Antes vinha um conhecido me visitar, mas faz bastante tempo que não sei nada dele." Membros do consulado espanhol na Bolívia também se aproximaram algumas vezes para vê-la. "Na primeira vez me deixaram um pouco de dinheiro, porque aqui tudo funciona pagando. Depois não mais, dizem que por causa da crise." O consulado deve avisar a família dos detidos sempre que o solicitem expressamente. Ela desconhecia essa possibilidade e até há pouco tempo ninguém na Espanha sabia que estava presa do outro lado do Atlântico.
O Movimento pela Paz tenta completar a assistência consular aos presos. "Eles têm necessidade de contato com o exterior, nós lhes enviamos material impresso, tentamos facilitar sua comunicação com suas famílias", explica María José Moreno, membro da organização. Além disso, preocupam-se com as necessidades de cada preso, como tratamento médico ou cuidados jurídicos. "Quando precisam de remédios, tentamos enviá-los e pedimos que os consulados os atendam", acrescenta.
Gutiérrez ainda não tem uma sentença definida, por isso não pode solicitar sua transferência para a Espanha. Ela sabe disso e aceita. Mas abriga esperanças. A Bolívia é um dos 31 países que têm convênios nesse sentido.

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Reportagem de Isabel Alonso Matías
Foto:us.fotolia.com

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