" Não há nada mais trágico neste mundo do que saber o que é certo e não fazê-lo. Que tal mudarmos o mundo começando por nós mesmos?" Martin Luther King
30/09/2015
'Lula se corrompeu e corrompe a sociedade brasileira', afirma Hélio Bicudo
O jurista e um dos pioneiros do PT (Partido dos Trabalhadores) Hélio Bicudo afirmou, em entrevista ao programa Roda Viva, exibido pela TV Cultura, de São Paulo, na última segunda-feira (28)- assista acima - , que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enriqueceu de forma ilícita usando a figura da Presidência da República.
"O Lula se corrompeu e corrompe a sociedade brasileira como ela é hoje através da sua atuação como presidente da República", declarou.
Bicudo se afastou do PT em 2005, quando explodiu o escândalo do mensalão. Recentemente, protocolou, na Câmara dos Deputados, um pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.
Questionado sobre o que mais o decepcionou em sua trajetória no PT, Bicudo foi taxativo: "O que mais me impressionou foi o enriquecimento ilícito do Lula. Ninguém fala nisso, mas eu conheci o Lula numa casa de 40 metros quadrados. Hoje, o Lula é uma das grandes fortunas do país. Ele e os seus filhos".
"Eu conheci o Lula quando ele era um postulante ao governo do Estado de São Paulo -- eu entrei como vice na chapa, nos anos 80", disse Bicudo. "Era um panorama completamente diferente do que se vê hoje no Lula quando ele fala. Ele falava para obter o poder e usar o poder em benefício próprio e dos seus, da sua família e todo mundo sabe disso."
Futuro do PT
Perguntado sobre o futuro da sigla que ajudou a fundar, Bicudo afirmou: "Acho que o PT não tem futuro. Acho que o PT, como partido, desapareceu. Tem uma pessoa, que é o Lula. O resto não é nada. Quer dizer, é o partido do 'sim, senhor'. Eu saí do PT exatamente por causa dessa questão da hegemonia das pessoas".
Para ele, o PT "contaminou as instituições do Brasil de ponta a ponta". "O processo para você constituir um juiz do supremo é um processo completamente viciado. O PT contaminou o Judiciário e o Ministério Público."
Dilma
Questionado sobre as declarações de Dilma de que as tentativas de impeachment seriam, na verdade, um golpe de Estado, Bicudo disse: "Acho que precisa dizer para a Dilma ler a Constituição, porque lá está escrito que o impeachment é um remédio constitucional. Então, não existe esse negócio de golpe. O impeachment é um processo democrático em curso".
O jurista, que também atuou no impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello em 1992, ponderou sobre as comparações entre aquela época e atualmente: "O Collor estava há pouco tempo no Executivo. A Dilma teve um mandato inteiro. Ela consolidou o prestígio do presidente da República. E o brasileiro é muito centrado no paternalismo".
"Eu acho que a saída da Dilma não vai gerar trauma algum. As pessoas vão respirar fundo, dizendo: 'Puxa, saiu", concluiu.
Bicudo já ocupou cargos de deputado federal; vice-prefeito de São Paulo, durante a gestão de Marta Suplicy (2001-2005); e presidente da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Durante a ditadura, enfrentou ameaças e pressões ao combater o Esquadrão da Morte, criado para eliminar os inimigos do regime.
fonte:http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2015/09/29/lula-se-corrompeu-e-corrompe-a-sociedade-brasileira-afirma-helio-bicudo.htm
ONU é manipulada politicamente por transnacionais, diz estudo de organização internacional
Vendem o organismo a um preço barato, enquanto benefícios para empresas podem ser comparativamente altos: elas ganham visibilidade e conseguem acesso a autoridades internacionais, diz Global Policy Forum.
A ONU (Organização das Nações Unidas) é manipulada politicamente por empresas transnacionais, algumas das quais violam abertamente direitos trabalhistas e normas ambientais que o fórum mundial defende. É o que diz o estudo da organização independente Global Policy Forum. O documento, divulgado na última semana, alerta que a ONU “está iniciando uma nova era de multilateralismo seletivo, formada por paralisações políticas intergovernamentais e uma crescente dependência de soluções empresariais para os problemas mundiais”.
O informe acrescenta que “os padrões mutáveis de financiamento da ONU e de seus fundos, programas e organismos especializados, refletem estas tendências alarmantes”. E destaca a brecha que há entre a magnitude dos problemas globais e a capacidade financeira das Nações Unidas para resolvê-los, a crescente participação dos aportes complementares e os fundos fiduciários nas finanças do fórum mundial, sua maior dependência do setor empresarial e a terceirização do financiamento e da tomada de decisões.
O estudo de 140 páginas, intitulado Apta Com Qual Objetivo? O Financiamento Privado e a Influência Corporativa nas Nações Unidas, foi publicado dias antes da Cúpula de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que ocorreu entre os dias 25 e 27 deste mês.
Quando a IPS perguntou quem tem a culpa por essa situação, Jens Martens, diretor da Global Policy Forum e coautor do estudo, respondeu que os Estados membros não entregaram fundos suficientes e confiáveis ao sistema da ONU. “Essa situação se agrava pela insistência de muitos anos dos governos ocidentais, encabeçados pelos Estados Unidos, na doutrina do crescimento zero para o orçamento ordinário da ONU”, acrescentou. O resultado é uma dependência cada vez maior do financiamento voluntário e não central, bem como de um número crescente de alianças díspares entre o setor empresarial e a ONU, ressaltou.
O Centro da ONU sobre as Corporações Transnacionais, criado em 1975 principalmente para supervisionar essas empresas, foi desmantelado em 1992. Algumas das iniciativas que obrigam as empresas a prestarem contas ao público começaram na década de 1970, incluídas as discussões sobre um Código de Conduta para as Empresas Transnacionais. Mas esta e todas as gestões posteriores nesse sentido fracassaram devido à enérgica oposição das empresas e de seus grupos de pressão.
Ao mesmo tempo, segundo o estudo, as companhias tiveram grande êxito com estratégias de relações públicas, que ajudaram a apresentá-las como boas cidadãs corporativas que buscam o diálogo com os governos, a ONU e demais grupos de interesse, e também como capazes de cumprir normas ambientais, sociais e de direitos humanos mediante iniciativas voluntárias de responsabilidade social empresarial.
Martens apontou que o secretário-geral, Ban Ki-moon, e os diretores das agências da ONU se converteram em enérgicos defensores do relacionamento com o setor empresarial. Além de considerar essas alianças como uma nova fonte de fundos, as mesmas se baseiam na crença de que as relações com poderosas corporações são essenciais para manter a relevância das Nações Unidas com relação aos desafios globais de hoje, acrescentou.
“Mas vendem a ONU a um preço barato. Enquanto os custos das empresas são muito baixos, os benefícios podem ser comparativamente altos”, ressaltou Martens. As empresas se beneficiam da imagem forte por se associar à ONU, ganhar maior visibilidade e conseguir acesso direto às autoridades internacionais, pontuou. “O que significa essa transferência de imagem para a reputação e a neutralidade da ONU? Não se corre o risco de a colaboração com empresas controversas afetar negativamente a imagem da ONU como intermediária neutra e impactar sua reputação?”, questionou.
Quando a ONU busca ajuda financeira externa, seja para suas necessidades de desenvolvimento ou para defender causas sociais, recorre invariavelmente ao setor privado atualmente, afirma uma fonte do fórum mundial. Ban pediu aos investidores privados que ajudem a ONU a arrecadar a descomunal quantia de US$ 100 bilhões por ano para lutar contra as consequências devastadoras da mudança climática.
O estudo também critica o Pacto Mundial da ONU, considerado a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, que inclui 8.371 empresas de 162 países. Este Pacto Mundial foi decisivo na abertura da ONU para o setor empresarial, de acordo com o documento. “Embora possa ter sido concebido para fazer exatamente o contrário – sensibilizar as empresas sobre o interesse público – também atua como uma plataforma e promotor dos interesses corporativos na ONU”, acrescenta o informe.
Isso é agravado pela dependência no financiamento privado e na excessiva complexidade de sua estrutura de governo, que dá pouco espaço aos Estados membros, enquanto limita a supervisão dos que fazem contribuições financeiras. “De fato, o Pacto Mundial é uma das poucas entidades da ONU que dependem predominantemente do dinheiro privado. Isto pode ter repercussões em como se interpreta e aplica seu mandato”, alerta o estudo.
O financiamento de todas as atividades do sistema da ONU chega a US$ 40 bilhões por ano, afirmou Martens. “Embora possa parecer uma soma importante, na realidade é inferior ao orçamento da cidade de Nova York, menos de um quarto do orçamento da União Europeia e apenas 2,3% do gasto militar mundial”, explicou. Segundo o ativista, “enquanto o Banco Mundial pede à comunidade internacional que passe dos bilhões para os trilhões para cumprir as necessidades de investimentos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, as Nações Unidas ainda têm de calcular em termos de milhões”.
Barbara Adams, coautora do estudo, disse que “muitos Estados membros, em particular os grandes doadores, aplicam a dupla estratégia de exigir maior coerência nas atividades de desenvolvimento da ONU, enquanto, ao mesmo tempo, aumentam o uso de fundos específicos, o que favorece a fragmentação. Essa dinâmica seletiva, junto com as restrições financeiras em curso, abriram espaço para a participação do setor empresarial”.
Impulsionada pela crença de que o relacionamento com aqueles de maior poder econômico é essencial para manter a relevância da ONU, essa prática tem consequências perniciosas para a governabilidade democrática e o apoio do público em geral, já que se alinha mais com os centros de poder e se afasta dos menos poderosos, enfatizou Adams.
Reportagem de Thalfi Deen | Nova York | IPS/Envolverde
fonte:http://operamundi.uol.com.br/conteudo/samuel/41804/onu+e+manipulada+politicamente+por+transnacionais+diz+estudo+de+organizacao+internacional.shtml
foto:http://fabianabertotti.com/conhecendo-a-onu-em-genebra/
Iêmen, uma tragédia esquecida
Sem recriminação, a coalizão liderada pela Arábia Saudita destrói o país vizinho, que “em cinco meses se parece com a Síria após cinco anos”.
Uma característica da imprensa internacional é a incapacidade de acompanhar de forma simultânea mais de uma tragédia no Oriente Médio e na África. Isso faz com que alguns dramas sejam esquecidos ou simplesmente ignorados. É o que ocorre atualmente com o Iêmen. Enquanto a comunidade internacional (ocidental) se preocupa com a crise de refugiados na Europa ou com o Estado Islâmico, a coalizão liderada pela Arábia Saudita está destruindo o Iêmen.
O Iêmen vive um duro conflito há seis meses. No fim de março, a Arábia Saudita lançou uma ofensiva contra os houthis, movimento político religioso xiita que tomou quase todo o território do país no início do ano, forçando a renúncia do presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi. Historicamente opostos à influência saudita no Iêmen e alinhados ao Irã, os houthis são encarados como uma ameaça pela monarquia saudita. Temendo a influência iraniana em suas fronteiras, a Arábia Saudita arregimentou uma aliança de dez países muçulmanos e decidiu intervir para restituir Hadi ao comando do país.
Parte importante da ofensiva é feita por meio de bombardeios. Em grande medida, os ataques aéreos têm características de crimes de guerra. ONGs internacionais relatam bombardeios contra área civis densamente populadas em Taiz, Aden e Mokha, no sul do Iêmen, mas a prática parece ser corriqueira.
Em maio, um porta-voz da coalizão afirmou que a cidade inteira de Saada, bastião houthi no norte do país, era uma alvo militar, o que viola a lei humanitária internacional, por não distinguir alvos militares de civis. Em agosto, a ONU reportou uma “severa destruição de infraestruturas civis” na cidade, incluindo mercados, bancos e escolas.
Também no norte do Iêmen, a Arábia Saudita tem utilizado bombas de fragmentação, que explodem no ar, liberando diversas "sub-bombas". Esse tipo de munição coloca os civis em risco por atingir grandes áreas e por criar campos minados com os artefatos que não explodem. O resultado da ofensiva aérea está em um relatório do Conselho de Direitos Humanos da ONU divulgado no início de setembro: entre 26 de março e 30 de junho, os bombardeios mataram ao menos 941 civis e deixaram 2.295 civis feridos.
No mesmo período, mostra o relatório, os houthis e seus aliados (militares leais ao ex-ditador do Iêmen Ali Abdullah Saleh, aliado da milícia xiita) mataram 508 civis e deixaram outros 954 feridos. Em grande medida, a letalidade se deve ao fato de os houthis frequentemente usarem foguetes, morteiros e artilharia em áreas civis populosas (o que também pode implicar em crimes de guerra), às vezes matando dezenas de pessoas simultaneamente.
Esses números da carnificina, que não incluem agosto e setembro, certamente serão ampliados. As forças locais anti-houthi também atacam áreas civis e, desde o fim do mês passado, contam com o auxílio de tropas terrestres da coalizão liderada pela Arábia Saudita – cerca de 5 mil soldados estrangeiros, sendo 4 mil dos Emirados Árabes Unidos e mil sauditas.
Atualmente, a coalizão tenta chegar à capital Sanaa por duas frentes, uma a leste e outra ao sul, e tem bombardeado áreas civis da cidade, inclusive seu centro velho, patrimônio cultural da humanidade.
Catástrofe humanitária
A intervenção estrangeira deixou o Iêmen em uma situação catastrófica. Em agosto, Peter Maurer, chefe da Cruz Vermelha Internacional, notou em entrevista para a agência Associated Press que os efeitos da guerra seriam menores em uma sociedade mais forte e com uma estrutura melhor. O Iêmen, no entanto, é o país mais pobre do Oriente Médio e, de acordo com Maurer, "em cinco meses se parece com a Síria após cinco anos".
Guardadas as proporções entre os dois países, os números indicam que a tese de Maurer está correta. Até aqui, ao menos 1,3 milhão de pessoas foram obrigadas a deixar suas casas por conta do conflito, sendo que algumas escolheram a Somália como refúgio, por considerar o país africano um lugar mais seguro que o Iêmen.
Segundo a ONU, 80% da população (cerca de 21 milhões de pessoas) precisam atualmente de ajuda humanitária para necessidades básicas e auxílio para ter acesso a água potável (cujo preço pode comprometer um terço do orçamento familiar) e a instalações sanitárias. A dificuldade de obter o mínimo de higiene tem feito doenças como a dengue e a malária se espalharem.
As crianças, que desde março morrem ou são amputadas a uma média de oito por dia, são particularmente afetadas pela guerra. Como a coalizão liderada pela Arábia Saudita impôs um bloqueio naval ao Iêmen, e como o país importa 90% do alimentos que consome, 1,8 milhão de crianças devem sofrer com desnutrição neste ano, sendo 537 mil de forma severa. Um agravante é que o embargo afeta também organizações humanitárias, que não conseguem levar para dentro do país os mantimentos e equipamentos necessários para auxiliar a população local.
O futuro é terrível
As perspectivas futuras do Iêmen são tenebrosas. Observadores da Arábia Saudita indicam que a ofensiva parece ter se tornado um projeto pessoal de Mohammed bin Salman, ministro da Defesa e segundo na linha de sucessão do rei Salman, seu pai. A vitória no Iêmen, contra uma força militar alinhada ao Irã, maior inimigo da Arábia Saudita, seria, assim, fundamental para ele se cacifar na família real como futuro rei.
Apenas a pressão externa poderia fazer o governo saudita recuar, mas essa possibilidade pode ser descartada. A gestão Barack Obama fez os Estados Unidos passarem a ser vistos com suspeitas pela monarquia saudita, por ter reduzido a firmeza da aliança entre os dois países.
A assinatura de um acordo nuclear que reconhece o Irã como potência regional foi a comprovação dos temores sauditas. A rapidez das potências europeias para retomar relações com o Irã diluiu também a capacidade de influência de França e Reino Unido sobre a Arábia Saudita.
Focados em conter a oposição saudita ao acordo nuclear, EUA e europeus têm poucas motivações para desagradar os sauditas ao exigir o fim da intervenção no Iêmen. Além disso, lucram ao vender armas e equipamentos militares aos países do Golfo Pérsico – as bombas de fragmentação usadas no norte do Iêmen, por exemplo, são de fabricação norte-americana.
Neste cenário, há pouca esperança para o Iêmen. Tudo indica que o país continuará a ser destruído e os civis vitimados enquanto a Arábia Saudita desejar, e sem qualquer recriminação internacional.
Reportagem de José Antonio Lima
fonte:http://www.cartacapital.com.br/internacional/iemen-uma-tragedia-esquecida-1242.html
foto:http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/05/combates-no-iemen-deixaram-mais-de-1200-mortos.html
O silêncio agrava o câncer de próstata
O maior estudo já realizado no mundo com homens com câncer de próstata avançado determinou um perigoso fator de piora: 47% dos afetados ignoram —nos dois sentidos, ou seja, desconhecem e não dão importância— sintomas tão importantes como a dor e o cansaço. Portanto, não os informam aos médicos e perdem um tempo precioso de tratamento. O estudo recrutou quase 900 pacientes e 360 cuidadores de 10 países (Alemanha, Reino Unido, França, Espanha, Itália, Holanda, Estados Unidos, Japão, Cingapura e Taiwan). A pesquisa foi realizada pela Coalizão Internacional para o Câncer de Próstata (IPCC, na sigla em inglês), da qual participa o Grupo Espanhol de Pacientes de Câncer (Gepac), com financiamento da Bayer, que convidou o EL PAÍS à apresentação em Viena, na última sexta-feira, no âmbito do Congresso da Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO).
Todos os anos, o câncer de próstata afeta 1,1 milhão de homens e provoca 307.000 mortes no mundo, segundo Brian Tomlinson, da ONG britânica Cancer Care. Na Espanha, a Sociedade Espanhola de Oncologia Médica informa que 27.500 casos são diagnosticados anualmente, com 5.500 mortes, sendo o tumor com maior incidência no país. É a segunda neoplasia mais frequente em homens depois da de pulmão. A fase mais perigosa da doença é quando aparecem metástases (câncer avançado), que costumam ser, majoritariamente de ossos (90% das vezes, segundo Tomlinson). Por isso, é muito importante detectar quando um tumor primário (circunscrito à próstata, que pode ser tratado com muita facilidade) começa a se expandir.
Isto ocorre em cerca de 30% dos casos, diz Joe O’Sullivan, do Centro para o Câncer da Irlanda do Norte. A esse número é preciso somar cerca de 10% dos pacientes que chegam à consulta pela primeira vez com um tumor já disseminado.
Devido à piora do prognóstico após o processo de metástase, é fundamental detectar a tempo quando aparecem os primeiros sintomas. O problema é que esses sinais são bastante inespecíficos. Ken Mastris, da organização Europa Uomo, resume-os da seguinte forma: cansaço (sofrido por 86% dos afetados), dor em áreas concretas, como as costas (82%), dor generalizada (70%), fraqueza (67%) e dificuldade de dormir (62%), além de outros problemas, como incontinência urinária. De fato, a dor “é o principal marcador biológico desse processo”, diz O’Sullivan. Não existe um marcador biológico equivalente ao da proteína PSA para detectar o tumor pela primeira vez
Os sintomas vagos e a atitude de certos homens, que consideram que devem suportá-los ou que é algo normal para sua idade ou decorrente de outras doenças que tenham, diz Mastris, fazem com que até 39% deles aguentem esses sinais sem recorrer ao médico (ou sem relatá-los) durante pelo menos sete meses. Em muitos casos, inclusive durante um ano.
O estudo concentra-se nesse aspecto do medo ou receio de informar os profissionais sobre os sintomas que são fundamentais para detectar uma mudança no estágio do tumor. Por exemplo, como explicado por Maqbul Jamil, da Bayer Healthcare, 34% dizem que "falar sobre sua dor faz com que se sintam fracos"; 38% dizem que "é difícil falar da dor na qual estão imersos"; 57% acreditam que "a dor ou o desconforto diário é algo que precisam aprender a conviver"; e 59% afirmam que "não sabem se a dor está relacionada com o câncer".
O ideal seria que esse bloqueio fosse quebrado na consulta com médicos e outros profissionais de saúde, mas isso implica uma estreita relação entre todos. "Cerca de 84% dos pacientes vão ao médico pelo menos a cada três meses, mas não dizem nada. O que há de errado para que não comuniquem seus sintomas?", afirmou o enfermeiro Lawrence Drudges-Coates, do Hospital King’s College, em Londres.
Especialistas não duvidam de que exista um claro componente cultural nessa atitude involuntária de esconder as informações. Entre as opções para superar esse bloqueio, O'Sullivan é a favor de que os pacientes sejam acompanhados por quem cuida deles na consulta. "Muitas vezes o doente diz que está bem, mas o rosto de sua esposa diz claramente que não”, diz. Outras vezes, não serve a pergunta direta —sente dor? —, mas é possível conseguir a informação por meios indiretos —continua jogando golfe, colocando a louça para lavar, andando com o cachorro? Se o paciente deixou de fazer algumas dessas coisas pode ser que tenha aparecido ou aumentado a dor ou a fadiga, e deve ser investigado se há metástase”, disse Drudges-Coates.
O psico-oncóloga Tania Escapé, que participou da apresentação do estudo, diz que essa atitude do homem de esconder ou negar a dor é comum em outros tipos de câncer, mas este estudo mediu suas consequências nos afetados pelo tumor de próstata pela primeira vez.
O trabalho não termina com a compilação de dados. Também inclui um site, Men Who Speak Up (Homens que Falam o Que Pensam), que é um guia educativo para os envolvidos. O objetivo é aproveitar o enorme progresso terapêutico no tratamento do câncer de próstata, também em fase avançada, para reduzir seu impacto.
Reportagem de Emilio de Benito
fonte:http://brasil.elpais.com/brasil/2015/09/28/ciencia/1443424220_401648.html
foto:http://www.thalitamoema.com.br/site/novembro-azul-conscientiza-homens-para-prevencao-do-cancer-de-prostata/
29/09/2015
Anote na agenda: I Seminário Internacional de Direito do Trabalho e Processual do Trabalho
A Associação Brasileira de Defesa dos Direitos Previdenciários, Acidentários e Consumidor (ABPREV) e a Comissão Internacional dos Alunos do Doutorado da Universidade de Buenos Aires (UBA) convida a todos para participarem do I Seminário Internacional de Direito do Trabalho e Processual do Trabalho: Dilemas da “Globalização”, Direitos Fundamentais, Direitos Humanos e Acesso à Justiça, que acontecerá no dia 30 de outubro de 2015. O Seminário tem como objetivo de propiciar os debates e demonstrar a relevância e atualidade do estudo sobre o Direito do Trabalho e Processo do Trabalho, que está atrelado ao Direito Previdenciário, Direito e Processo Cível, Direito Constitucional e Direitos Humanos. Os temas estão baseados na realidade social e política dos países da América Latina, alicerçada no conhecimento holístico científico e cultural para construção de um marco teórico entre os países.
Uma oportunidade ímpar para ouvir e aprender com os mais importantes juristas da área que apresentarão de forma atualizada suas teses, para iniciar um novo tempo de interpretação e compreensão do Direito do Trabalho e do Processo do Trabalho, permitindo uma visão social, jurídica e humana. Entre os palestrantes estão meus professores de Doutorado da Universidade de Buenos Aires (UBA), aos quais serei eternamente grata por terem, generosamente, compartilhado seu conhecimento e incentivarem minha busca pelo saber. Meu muito obrigada Prof. Dr. Ricardo Rabinovich-Berkman, Prof. Dr. Wilson Alves de Souza; Prof.ª Dra. Viridiana Diaz Aloy e Prof.ª Dra. Diana Cañal.
Colômbia: uma potência emergente na América Latina
Mais de meio século depois das guerrilhas começarem a assolar o país e 22 anos depois da polícia matar o narcotraficante mais famoso do mundo, Pablo Escobar, no alto de um telhado de Medellín; a imagem da Colômbia como um país levado ao colapso pela violência desapareceu vertiginosamente. O país que nasceu livre como eixo principal do projeto de Simón Bolívar de criar a Grande Colômbia, voltou a acreditar que pode ser dono de seu destino e ser tão grande como se propunha. Os colombianos já enxergam o fim do conflito interno mais longo da América Latina, um dos mais sangrentos e que mais refugiados causou.
A paz vem junto com um período de crescimento econômico que começou há mais de dez anos e que, mesmo sendo prejudicado agora pela queda dos preços das matérias primas, mostra sinais de uma força que permitirá ao país superar melhor a crise do que os outros vizinhos. Nesses últimos anos, a classe média colombiana duplicou, passando de 15% a quase 30% da população, e a taxa de pobreza foi reduzida de 50% a 35%. Isso, acompanhado de uma inflação sob controle e um clima para os negócios que o Banco Mundial coloca na 34° posição de um total de 189 países a nível mundial e em primeiro lugar a nível regional.
Apesar do acúmulo de bonança, no último ano a análise da economia colombiana se transformou em uma espécie de consultório médico. Durante meses, o debate centrou-se em descobrir se sofre a chamada “doença holandesa”, esse mal ocasionado por um crescimento inesperado das divisas, nesse caso, pelo preço do petróleo, ou se é um “resfriado holandês”, algo passageiro, de acordo com o mantra repetido pelo Governo. Catarros e gripes à parte, é certo que a economia do país sul-americano, fortalecida durante anos pelo aumento do petróleo e das matérias primas, viu como seu fulgurante crescimento foi freado. O pessimismo quase crônico que invade o país andino diariamente não é refletido, entretanto, nos números. A Colômbia não crescerá como antes; vive um momento delicado, mas o futuro próximo tem mais esperança do que dúvidas. O desafio de como enfrentará seu maior anseio, a paz, vem junto com outro tão ou mais complexo: a reorientação de sua economia.
Tudo depende em qual espelho a Colômbia irá se enxergar. Se for o próprio, não irá gostar. Em 2014 cresceu 4,6% e em 2015 a previsão é que cresça 3%, talvez 3,5%. De acordo com dados do Departamento Administrativo Nacional de Estatística (DANE), as exportações colombianas caíram 31,2% no primeiro semestre deste ano. Se a Colômbia olhar para trás ou se observar seus vizinhos, a percepção muda. A Venezuela, sem precisar ir mais longe, cairá 7%, de acordo com os prognósticos mais otimistas. A economia colombiana se mostra como uma das mais sólidas da região que, em conjunto, e segundo as previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI); crescerá 0,5%. Entre seus parceiros na Aliança do Pacífico, Chile, México e Peru, somente o último talvez cresça mais do que a Colômbia.
“Vivemos uma incerteza enorme, estamos caminhando no fio da navalha e podemos cair tanto para o lado bom como para o lado ruim”, diz Ana María Ibáñez, professora da Faculdade de Economia da Universidade dos Andes. “Tivemos dois anos de crescimento inesperado, escorado por bons preços em minérios e energia, que trouxeram um incremento de divisas, de receitas fiscais, mas não soubemos aproveitá-los, acredito que esbanjamos esses recursos, não os usamos para economizar, para melhorar a produtividade; não houve investimento em infraestrutura, em inovação e educação, pontos fundamentais”, diz a economista colombiana, que apesar de tudo não quer ser alarmista: “Esse é um país macroeconomicamente muito responsável. Não acredito que as condições da economia sejam graves”.
Retrocesso petrolífero
Desde que o preço do petróleo começou a cair, o ministro da Fazenda, Mauricio Cárdenas, não escondeu que a renda também sofreu um forte golpe. Em 2013 receberam 24 trilhões de pesos (35 bilhões de reais) de impostos e dividendos das empresas petrolíferas. Esse ano a previsão é de queda para 3,48 bilhões de dólares (13,84 bilhões de reais) e não se descarta que nos próximos anos caia até os 2,2 bilhões de dólares (8,75 bilhões de reais). Cada dólar a menos no preço do barril custa à Colômbia 200 milhões de dólares (795,46 milhões de reais) em renda ao Estado. O Governo precisa enfrentar um déficit de 10 bilhões de dólares (39,77 bilhões de reais), o que equivale a quase 4% do PIB, forçando cortes em gastos e o aumento de impostos para manter um déficit orçamentário de menos de 3% do PIB.
“O petróleo gerou um viés que foi destruindo nossa diversidade produtiva. Tinha se acentuado nossa dependência do petróleo, e se comprovou que não tínhamos um setor exportador alternativo”, ressalta José Antonio Ocampo. “Felizmente”, opina esse economista, professor da Universidade Columbia e ex-ministro da Fazenda do país andino, “a economia da Colômbia tem que se reinventar, sua força sempre foi a diversidade”. A agroindústria será um dos aspectos essenciais no desenvolvimento do país nos próximos anos. Segundo dados do Ministério da Fazenda, a agricultura cresceu 2,5% no último ano, ajudada pelo aumento do comércio de café (16,4%).
Para os analistas, estabilizar macroeconomicamente o país será um dos principais desafios no curto prazo. “Isso implica em cortes fiscais, o país precisa assumir sua realidade de sempre. Tem que fazer um ajuste fiscal, mas que não estrangule o país para não entrar em processo de recessão. Será difícil, mas totalmente viável”, opina Ana María Ibáñez, análise com a qual Ocampo concorda: “A situação fiscal não é desesperadora, a Colômbia está muito melhor que outros países que dependem do petróleo ou da mineração”. “Navegar na crise vai ser complicado. A Colômbia tem um déficit de conta corrente de cerca de 0,7% do PIB e uma desvalorização muito alta com um setor produtivo que não é dinâmico”, conclui Ibáñez.
Efeitos do conflito
Além da conjuntura atual, há um aspecto que condicionou o país e, consequentemente, a economia, durante as últimas cinco décadas. O conflito armado com grupos guerrilheiros, em especial com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que provocou mais de 220.000 mortes e mais de sete milhões de vítimas, impediu o pleno desenvolvimento do país. Há três anos o Governo do presidente Juan Manuel Santos negocia a paz com a guerrilha em Havana (Cuba). Embora o triunfalismo na América Latina seja perigoso, nesta semana foi dado um passo crucial para as negociações, depois que Santos e o líder dos guerrilheiros, Rodrigo Londoño, conhecido como Timochenko, chegaram a um acordo sobre o ponto mais controverso do processo, o da justiça.
“Se a paz for firmada, vai dar um novo fôlego ao país”, diz Ibáñez. “Muita gente argumenta que os ganhos da redução da violência já foram incorporados. Só que a violência freou o setor agropecuário em muitas regiões do país. O conflito aumentou a pobreza”.
O Governo repetiu mais de uma vez que a obtenção da paz pode aumentar em 1% o crescimento anual da economia colombiana. Um estudo do economista venezuelano Francisco Rodríguez, do Bank of America Merrill Lynch Global Research, um dos mais sérios e respeitados entre os especialistas em pós-conflito, situa esse crescimento em 0,3%. “Não creio que vá aumentar 1% porque os benefícios foram sendo dados. Mas o importante é que é um fator de confiança adicional”, afirma José Antonio Ocampo. “O Governo terá que gastar mais, tudo que for feito para a paz é pura demanda interna”, acrescenta.
O preço da paz
Em relação ao custo de um hipotético pós-conflito, Rodríguez indica que se forem somados todos os componentes do tratado de paz e deduzidos os valores já alocados nos orçamentos atuais para esses gastos (que somam por volta de 0,3% do PIB por ano) “estimamos que um plano de processo de paz conservador, que cubra desmobilização, indenizações e gastos com reforma agrária, custaria 0,8% do PIB anual durante os próximos dez anos, ao passo que um plano ambicioso poderia chegar a custar 3,5% anualmente durante o mesmo período”.
Rodríguez considera que é preciso ter prudência em relação à magnitude e ao impacto fiscal. “Segundo nossas estimativas, no momento de maior intensidade (2000-2005) o conflito tirava 0,96 ponto percentual da taxa de crescimento da Colômbia. A violência vinculada ao conflito caiu estrepitosamente na última década. De fato, estimamos que o efeito de crescimento a partir da redução da violência ligada ao conflito, que ainda não teve lugar, poder atingir 0,27% do PIB, do qual somente uma parte se converterá realmente em rendimentos sujeitos a impostos”.
É inegável que a grande aposta do Governo de Santos é conseguir a paz. Não pode ser de outra maneira num país em que a maioria de seus habitantes viveu sob o manto sangrento da guerra, embora não a tenha sofrido diretamente. Mas fazer tudo depender de uma assinatura implica em muitos riscos. A paz por si só não desenvolverá a economia. É aí que a Colômbia enfrenta outro grande desafio.
El Dorado da infraestrutura
Se existe um campo que a Colômbia quer e precisa desenvolver é o da infraestrutura. A consolidação das negociações de paz com a guerrilha das FARC colocará um ponto final em um atraso que se prolongou durante as cinco décadas de conflito armado. Em matéria de infraestrutura, pode-se dizer que a Colômbia ainda precisa construir, o quanto antes, uma grande parte do país.
As regiões mais isoladas pelo conflito são as mais prejudicadas, o que reduziu a produtividade e a competitividade. Conseguir incorporar essas regiões ao sistema produtivo do país é um dos desafios para os próximos anos. “Para isso é preciso investimento e, principalmente, segurança. Um pós-conflito irá demandar muitos recursos”, alerta Ana María Ibáñez, professora da Faculdade de Economia da Universidade dos Andes. “Além de melhorar a competitividade e a produtividade estarão sendo feitas políticas expansivas em um ponto onde a economia está se retraindo”, acrescenta.
Com uma superfície superior a um milhão de quilômetros quadrados, uma das grandes apostas do Governo colombiano para o desenvolvimento do país é a Quarta Geração de Concessões Viárias (conhecida como 4G), cuja primeira rodada de concessões já foi feita, na qual várias empresas espanholas foram beneficiadas. O plano prevê a construção de 8.000 quilômetros de rodovias com um investimento que supera os 18 bilhões de dólares (71,59 bilhões de reais). As empresas espanholas terão um papel primordial na execução dessas obras, como transpareceu de um encontro recente entre empresários e o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, em Cartagena. O mandatário enfatizou especialmente a tradição espanhola em infraestrutura. “A Espanha é um dos países do mundo que mais tem experiência em construir infraestrutura de qualidade; a presença das empresas que realizaram esse milagre na Espanha é uma garantia para nós”, afirmou Santos, que anunciou a participação da Ferrovial e da Acopasa em alguns dos projetos. Enquanto isso, a Sacyr afirmou que investirá 2 bilhões de dólares (7,95 bilhões de reais) em infraestrutura no país andino.
O Ministério da Fazenda da Colômbia estima que o efeito dos projetos 4G sobre o PIB durante sua construção será de 1,5% a partir de 2015. Além disso, calcula que as obras irão gerar entre 180.000 e 450.000 postos de trabalho. O Governo acredita que através da infraestrutura a queda da economia será revertida. Para isso, será necessária a assinatura de um contrato valiosíssimo: a paz.
Reportagem de Javier Lafuente
fonte:http://brasil.elpais.com/brasil/2015/09/25/economia/1443187822_806022.html
foto:http://www.jm-madeira.pt/artigos/cavaco-silva-na-col%C3%B4mbia-para-ajudar-empres%C3%A1rios-portugueses
Droga anticâncer à espera de verba
Os cortes orçamentários na educação agravam um problema já agudo vivido por pesquisadores brasileiros: a dificuldade de financiamento para trabalhos científicos. À frente de uma pesquisa que poderá trazer enormes avanços para o tratamento do câncer, Guilherme Santos conhece bem essa realidade. Pesquisador do Laboratório de Farmacologia Molecular da Universidade de Brasília (UNB), ele aguarda há dois anos 190.000 reais entre verbas federal (17.000) e distrital (173.000) para poder dar continuidade a seu projeto, que já foi destaque até em revistas científicas internacionais.
Com a crise, ele teme agora que a verba não chegue mais. “Esse dinheiro é muito pouco para o impacto da pesquisa que a gente está fazendo. O apoio do Governo é essencial”, lamenta.
Santos chegou à UNB em 2011 depois de uma temporada de nove anos no laboratório de biologia molecular da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, por onde já passaram 13 prêmios Nobel, incluindo seu colega de programa Venkatraman Ramakrishnan, que descobriu ao lado de outros pesquisadores como a célula fabrica proteínas. Lá, quando precisava de um reagente para sua pesquisa, por exemplo, encontrava o produto já no dia seguinte no topo de sua bancada, algo que aqui demora três meses para acontecer. "É um ambiente totalmente diferente", aponta.
A droga que sua pesquisa pretende desenvolver para comercialização no futuro pode ser capaz de atuar na dinâmica de abertura e fechamento da cromatina -uma macromolécula que fica dentro da célula e é responsável por empacotar o DNA. Com isso, seria possível inibir as células tumorais, especialmente as surgidas no cérebro e na pele. Ela também poderia atuar como um potente anti-inflamatório. Até o momento, resultados animadores foram obtidos em testes in vitro, afirma ele.
Para bancar os estudos até agora, ele teve que contar com os cerca de 60.000 reais que trouxe da pesquisa iniciada na Inglaterra, além de uma quantia similar obtida junto ao Governo federal brasileiro. Mas sem o restante da verba necessária, sua equipe está contando com a ajuda de pesquisadores de outras universidades. “Procuramos parcerias, colaborações acadêmicas, em um instituto de química aqui, um de biologia ali. Se a gente precisa fazer um procedimento e não tem o regente, por exemplo, minha aluna leva para Campinas, onde eles podem fazer”, exemplifica. “É tudo feito no jeitinho”.
Agora, ele lançou uma startup, a Nucleosantos Therapeutics, para buscar apoio privado para o estudo. "Estamos na fase inicial do projeto, quando é difícil conseguir dinheiro privado, pois se considera que o investimento é de risco. Vamos tentar para poder continuar com a pesquisa."
Reportagem de T.B
fonte:http://brasil.elpais.com/brasil/2015/09/19/politica/1442623929_326717.html
foto:http://www.univadis.com.br/medical-news/343/Nova-classe-de-drogas-altera-DNA-e-evita-evolucao-do-cancer
Usina no rio Tapajós repetirá 'caos' de Belo Monte, diz Greenpeace
Uma análise encomendada pelo Greenpeace denuncia a existência de "problemas graves" no estudo e relatório de impacto ambiental (EIA/Rima) da usina hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, em planejamento pelo governo federal no oeste do Pará.
O material, assinado por cientistas do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), Museu Paraense Emílio Goeldi e Universidade Federal de Pernambuco, conclui que o estudo falha em seu principal objetivo: prever o impacto da obra sobre uma das regiões de floresta mais preservadas do Brasil.
A Eletrobras, que coordena o grupo que bancou o estudo, informou que não iria se manifestar sobre a análise do Greenpeace por não ter tido acesso ao material.
Um dos últimos grandes rios amazônicos sem barragens, o Tapajós é a nova fronteira dos megaprojetos do governo federal de usinas na Amazônia, que incluem ao menos 40 grandes hidrelétricas (com mais de 30 MW de capacidade instalada) em construção ou planejamento na bacia.
Prioridade do Planalto, São Luiz do Tapajós é a maior dessas usinas, com 4.000 MW de potência média prevista (quase o mesmo valor da gigantesca Belo Monte). O projeto está em fase de licenciamento ambiental - a Eletrobras entregou o EIA/Rima ao Ibama (órgão ambiental federal) em agosto de 2014, em busca da primeira autorização para a obra.
Em uma primeira avaliação do EIA/Rima, o Ibama identificou "inconsistências" e pediu complementos ao trabalho.
Em tese, esse estudo deveria ser um retrato preciso da realidade ambiental da região, para prever e propor soluções contra efeitos negativos. Mas os pesquisadores que analisaram o EIA/Rima a pedido do Greenpeace concluem que faltam informações essenciais, indicam lacunas nas amostras coletadas e classificam os programas de compensação propostos como genéricos e insuficientes.
Entre supostas limitações técnicas e metodológicas, os cientistas apontam falta de amostras de campo abaixo do local da obra (região que não será alagada mas deverá sofrer com falta d'água), ausência de dados sobre espécies de ambientes ripários (margens de rios, ilhas e pedrais) e inexistência de projeção sobre o impacto conjunto das usinas previstas para outros pontos do Tapajós.
Erros do passado
A primeira grande análise do EIA/Rima de São Luiz do Tapajós vem a público dois dias depois de a presidente Dilma Rousseff ter reconhecido que houve erros em Belo Monte, a megausina em fase final de construção em outro afluente do Amazonas, o rio Xingu.
"Tem falha? Ah, não tenha dúvida que tem. Mas o fato de ter falhas não significa que a gente vá destruir esse processo. Pelo contrário, temos de reconhecê-las e melhorar", disse a presidente no domingo, em Nova York, em resposta a uma pergunta da BBC Brasil sobre denúncias de irregularidades em Belo Monte. A usina teve a licença de operação negada na semana passada pelo Ibama.
Para o Greenpeace, o encaminhamento do projeto de São Luiz segue um "roteiro atropelado" e sugere a repetição, no futuro, de consequências observadas em outras grandes usinas na Amazônia, como aumento no desmatamento, invasão de terras indígenas e decadência social.
Em Belo Monte, por exemplo, a ONG observou um cenário de "caos" e cita estudo recente do ISA (Instituto Socioambiental) que enumera compromissos descumpridos e consequências negativas da usina, como aumento de 50% na população de Altamira (PA) entre 2011 e 2014, nenhuma casa ligada ao sistema de esgoto, alta nos homicídios (79%), acidentes de trânsito (144%) e na taxa de desnutrição infantil indígena (127% entre 2010 e 2012).
"Infelizmente, desde que essas avaliações tornaram-se obrigatórias no Brasil (em 1986), os EIAs têm servido mais para legitimar projetos já definidos e menos para proteger os recursos naturais do país", afirma o Greenpeace no relatório que resume os principais pontos da análise.
A ONG cita uma frase do então ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, em entrevista à BBC Brasil em novembro passado, para ilustrar o que seria uma decisão política já tomada sobre São Luiz. "Não abriremos mão de construir Tapajós", disse Carvalho na ocasião.
Em 2012, por meio de medida provisória (contestada pela Procuradoria na Justiça), o governo reduziu cerca de 1.500 km² de sete unidades de conservação na Amazônia para possibilitar a construção de hidrelétricas. Desse total, 70% da área fica na Bacia do Tapajós - as cinco principais usinas previstas para a bacia somam 25% da expansão de geração elétrica planejada pelo Planalto até 2020.
Paraíso natural
O material do Greenpeace procura chamar a atenção para as belezas naturais do Tapajós, rio que atravessa o oeste do Pará por 800 km até o rio Amazonas, em Santarém (PA). O rio e seus afluentes formam uma região ainda pouco impactada pelo homem – são menos de um milhão de pessoas em 50 milhões de hectares (ou dois Estados de São Paulo).
A proteção mínima à região é garantida pela existência de dez unidades de conservação e 19 territórios indígenas, dos quais apenas quatro foram homologados. O local previsto para a obra fica colado em uma das maiores áreas protegidas da região, o Parque Nacional da Amazônia.
O governo e as empresas interessadas na obra prometem construí-la como se extrai petróleo em alto mar: sem acesso terrestre, transportando pessoal e funcionários por via aérea e fluvial e depois reflorestando os canteiros. É o conceito de "usina plataforma", modelo que o Greenpeace considera ser inviável em uma obra de 13 mil trabalhadores, 38 turbinas e barragem de 7 km.
A análise da ONG enumera deficiências no levantamento da fauna e flora da região. No caso dos peixes, por exemplo, o EIA/Rima identifica a espécie de curimatã mais abundante na bacia do Tapajós, que é a Prochilodus nigricans, como P. britskii. Há ainda uso de nomes diferentes para mesmas espécies, o que indicaria problemas na qualidade das informações.
Em relação aos mamíferos, o Greenpeace diz que o EIA faz um bom trabalho de identificação da biodiversidade da região, uma das mais altas da Amazônia, mas presta um desserviço ao "esconder" esses dados no Rima, que é uma síntese do EIA, feita exatamente para conhecimento da população em geral.
Populações locais
Para Philip Fearnside, do Inpa, um dos cientistas que assinam a análise divulgada pelo Greenpeace, uma das principais lacunas do EIA/Rima de São Luiz se refere aos povos da região. Ele diz que o estudo minimiza ou até nega impactos futuros da obra sobre índios e ribeirinhos - estima-se que 12 mil índios mundurucu e 2,5 mil ribeirinhos serão afetados pela usina.
"O estudo diz que a hidrelétrica não reduzirá os peixes do Tapajós, mas isso é muito duvidoso, porque houve grande impacto em outras barragens - em Tucuruí, por exemplo, a usina acabou com a pesca", diz Fearnside, que estuda há 30 anos os impactos da ação humana na Amazônia.
"Há toda uma estrutura que leva a relatórios enviesados, pagos pelos proponentes da obra e que minimizam impactos", completou o pesquisador.
Uma primeira versão do EIA/Rima chegou a ser apresentada sem dados sobre os índios da região, incluídos depois como anexo. O Ministério de Minas e Energia chegou a marcar o leilão da usina para dezembro do ano passado, mas recuou após a repercussão negativa da falta do componente indígena.
E o estudo, diz o Greenpeace, exclui os ribeirinhos do grupo de afetados ao não considerá-los "populações tradicionais".
A ONG critica ainda o fato de o processo de homologação da terra indígena Sayré Muybu, que teria 7% da área inundada pelo reservatório da usina, ter sido suspenso pelo Planalto porque poderia inviabilizar a obra, já que a Constituição proíbe a remoção definitiva de índios.
A ex-presidente da Funai Maria Augusta Assirati, que deixou o cargo em outubro de 2014, chegou a reconhecer depois que foi obrigada a "descumprir" compromisso pró-homologação com os mundurucus "em razão da prioridade que o governo deu ao empreendimento".
Todo o processo com os índios tem sido conturbado, e em 2013 o Planalto teve que acionar a Força Nacional para viabilizar a entrada, na região prevista para a obra, dos técnicos que elaboraram o EIA/Rima.
O Greenpeace conclui que o empreendimento é inviável devido a "enormes consequências para o meio ambiente e para o povo local". Defende o investimento em outras fontes de energia, como eólica e solar - diz, por exemplo, que o potencial dos ventos no Brasil equivale a 40 usinas de São Luiz.
Outro lado
Na semana passada, a BBC Brasil procurou a CNEC Worley Parsons, consultoria responsável pelo EIA/Rima, e solicitou um posicionamento sobre a análise do Greenpeace. A reportagem encaminhou por e-mail os principais pontos e críticas do relatório.
A Worley Parsons encaminhou à demanda para a Eletrobras, que coordena o grupo de empresas que financiam os estudos de viabilidade das usinas do Tapajós.
A estatal informou que não iria comentar a análise por não ter tido acesso à integra do material, mas disse que o EIA/Rima utilizou parâmetros definidos e aprovados pelo Ibama.
Afirmou ainda que vem realizando reuniões com o órgão ambiental para "aprofundar 180 itens apontados pelo Ibama" e tornar o estudo "um marco de referência na região, ainda um tanto desconhecida do ponto de vista das pesquisas científicas de fauna e flora".
A Eletrobras reiterou que, segundo a lei brasileira, cabe ao Ibama "considerar a viabilidade ambiental do empreendimento após análise criteriosa dos documentos produzidos". "A Eletrobras ficará a disposição do órgão ambiental para produzir qualquer complementação que for solicitada pelo Ibama até o fim do processo de viabilidade", informou.
O Ibama disse ter encontrado "inconsistências" no EIA/Rima, e que devolveu os estudos para "complementações requeridas". O órgão informou ainda que "até o momento não foi emitida nenhuma licença em favor do projeto".
Reportagem de Thiago Guimarães
fonte:http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/09/150928_greenpeace_tapajos_tg#orb-banner
foto:http://www.folhadoprogresso.com.br/tecnicos-avaliam-usina-no-rio-tapajos-como-inviavel/
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