Exótica, fluida, boêmia, "gypset" – essas são as palavras que devem dominar o mundo da moda neste ano. O look hippie-chic dos anos 70 já está à nossa volta e roubou a cena na apresentação das coleções Primavera/Verão 2015 nos principais desfiles do mundo.
Das túnicas florais da grife Céline e calças boca-de-sino de veludo cotelê da Louis Vuitton às maxi-saias e turbantes da Saint Laurent, os anos 70 estão indubitavelmente de volta. A estilista britânica Bella Freud até batizou um novo perfume com o nome de 1970, cujos tons predominantes são o almíscar e patchuli.
O look "gypset" dos anos 70 – combinação dos termos "gypsy" ("cigano") e "jet set" (que remete à sofisticação) – é global, glamouroso, luxuoso, hedonista e extravagante. Ele evoca imagens como almofadas no chão e incenso, artistas plásticos, estrelas do rock e suas fãs.
Enquanto isso, em Londres, uma nova exposição no Museu de Moda e Têxtil celebra justamente a moda boêmia daquela década e a obra da estilista Thea Porter. Falecida em 2000, suas roupas hoje só podem ser usadas por um grupo restrito de colecionadoras – entre as mais famosas estão Julia Roberts e Kate Moss (que usou um vestido cigano de Porter em uma festa pré-nupcial).
Mas o que fez aquela década ser tão influente na moda?
Dos Beatles a Elizabeth Taylor
"No fim dos anos 60, as pessoas queriam mudança", explica Dennis Nothdruft, curador-chefe do museu londrino, à BBC Culture. "A moda se tornou mais leve, mais romântica, menos agressiva, mais fluida. O movimento absorveu influências de outras culturas, principalmente as do Oriente Médio e norte da África, e de uma certa nostalgia pelos anos 30 e pela era vitoriana. E a moda também passou a sintonizar mais o que ocorria no mundo da música".
Porter, que o curador diz ser da vanguarda daquele momento, passou a maior parte de sua infância entre Jerusalém e Damasco e foi muito influenciada pela estética do Oriente Médio. Ao se mudar para Londres para carreira como pintora, ela acabou se tornando designer de interiores e logo passou criar roupas.
Os Beatles, Jimi Hendrix e os integrantes do Pink Floyd eram frequentadores da loja que ela abriu e sempre vestiam suas criações – camisas de chiffon, casacos brocados e calças boca-de-sino de veludo.
Elizabeth Taylor era fã dos volumosos caftans desenhados por Porter. E peças como saias e vestidos de inspiração cigana logo se tornaram populares. Criados meticulosamente em chiffons finos e com tecidos tramados e bordados à mão, eram obras-primas do design.
Pouco depois, a estilista expandia os negócios para Paris e Los Angeles. Na capital do cinema, ela conquistou a clientela "hippie-rica" que vivia a onda da contracultura. Joan Collins, Barbra Streisand e Faye Dunaway compraram várias de suas peças. Streisand até encomendou uma série de looks, cada um para combinar com um ambiente de sua mansão.
"Thea Porter foi o expoente máximo do estilo boêmio dos anos 70", define Nothdruft. "Ela tinha um jeito diferente de ver a vida".
'Honesto e humano'
Mas por que o hippie-chic volta à tona justamente agora? Para o especialista britânico, trata-se do "pêndulo da moda". "Nos últimos anos fizemos uma abordagem da moda muito rígida, moderna, utilitária, com muita estamparia digital. E o look boêmio dos anos 70 é exatamente o oposto disso, representa uma maneira mais relaxada de se vestir", explica.
E será que o momento que vivemos também não permitiu essa volta? Sim, diz Nothdruft. "O estilo dos anos 70 parece mais verdadeiro, mais honesto, mais humano. Na atual era digital, as pessoas estão valorizando mais essas qualidades – e estão valorizando experiências e viagens. As grandes redes de confecções chegaram a um ponto de saturação – é por isso que o vintage está cada vez mais popular."
O início dos anos 70 foi uma época de idealismo, radicalismo, anticonsumismo, contestação social e mudanças, com ênfase no debate sobre a igualdade de raças e de gêneros. Mas o boehmenismo já estava entre nós muito antes disso: surgiu como uma filosofia que influenciou as artes no século 19, principalmente como uma rebelião não-conformista contra a ascensão da rigidez burguesa. Foi apenas no fim dos anos 60 e início dos 70 que isso se fundiu com a contracultura e com o movimento hippie.
É claro que a noção de uma moda hippie-chic é uma contradição em termos, um paradoxo tão absurdo quanto o vivido há 40 anos, segundo a escritora Laura McLaws Helms, que também atuou como curadora da exposição sobre Thea Porter e escreveu um livro sobre a estilista. "O look hippie começou como um modo de afirmação política – uma espécie de antimoda – mas logo se tornou a própria moda", argumenta.
Mesmo assim, ao que parece, os estilistas de hoje desejam se conectar ao clima autêntico e livre dos anos 70. A grife italiana Valentino convidou a veterana Celia Birtwell, um dos grandes nomes da moda daquela década, para colaborar com sua coleção pré-outono 2015.
A coleção foi composta por vestidos florais etéreos, com acabamentos em renda e enfeitados com os bordados românticos de Birtwell. Os modelos foram aplaudidíssimos, e um deles foi até usado pela poderosíssima Anna Wintour, diretora da revista Vogue.
"Quando se olha para o grande negócio que a moda virou hoje, percebemos que a década de 70 era uma época até inocente", define Birtwell, em entrevista à BBC Culture.
Junto com Ossie Clark, seu marido e parceiro de criação nos anos 70, Birtwell manteve uma das marcas mais badaladas do autêntico movimento hippie-chic, atraindo uma clientela estrelada. "Não pensávamos em dinheiro. Tínhamos mais liberdade", conclui ela.
Reportagem de Lindsay Baker
fonte:http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/02/150216_vert_cul_moda_anos70_ml#orb-banner
foto:http://modaellas.com/moda-de-los-anos-70/
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