Para Gloria la Riva (foto abaixo), que disputou campanha eleitoral de 2008, governo Obama "é tão daninho quanto o de Bush".
O rebuliço causado pelos documentos de espionagem do governo nos Estados Unidos trazidos à luz por ex-agentes de inteligência norte-americanos como Edward Snowden e Bradley Manning não terminará tão cedo. Esta é a opinião da ex-candidata à presidência dos EUA Gloria La Riva, do Partido pelo Socialismo e pela Liberação que acabou em décimo lugar na tentativa de chefa à Casa Branca, em 2008, e mantém uma postura crítica às políticas bélicas de Barack Obama e de seu antecessor, George W. Bush.
Segundo ela, muitos jovens que integraram o exército ou serviços de inteligência norte-americanos estão se dando conta da “espantosa” política de vigilância do país e estão “vendo a verdade sobre o genocídio que Washington está cometendo”. Fundadora do Comitê Nacional dos EUA pela Liberdade dos Cinco Cubanos presos em Miami em 1998, que realizavam contra-espionagem para o governo de Fidel Castro para prevenir futuros ataques terroristas na ilha.
Em entrevista concedida ao site Opera Mundi durante o 7º. Evento Continental de Solidariedade com Cuba, iniciado na última quarta (24/07) e que termina hoje em Caracas, La Riva, que também integra a organização antibelicista Answer (Act Now to Stop War and End Racism), condena a atuação de “auto-censura” da imprensa norte-americana em relação ao caso dos cubanos, Snowden e Manning e afirma que o governo de Obama é “tão daninho e assassino quanto” o de Bush.
Opera Mundi: Como ativista norte-americana, como avalia o caso Snowden?
Gloria La Riva: Vão haver mais Edward Snowdens, porque muitos jovens se uniram ou ao exército ou à inteligência norte-americana acreditando que estavam contribuindo com a democracia, com a verdade, com a liberdade. As ameaças do governo ao Snowden [ex-agente da CIA e da NSA, Agência Nacional de Segurança dos EUA] e o que faz com o Bradley Manning Manning [ex-analista de inteligência no Iraque, responsável pelo vazamento de mais de 700 mil documentos secretos, como registros da guerra do Afeganistão e Iraque e mensagens diplomáticas] são um exemplo para que outros não façam o mesmo. Porque vão acabar na prisão, com cadeia perpétua.
Agora, não só gente da inteligência, como os dois, mas soldados que não têm alta patente, que se recusaram a ir para o Iraque ou para o Afeganistão, soldados que estão formando oposição ao exército, nas guerras de ocupação. Tem gente propondo que os soldados recusem o serviço militar. Esses jovens estão vendo a verdade sobre o genocídio que Washington está cometendo, como no caso da Síria ou que cometeu contra a Líbia. Vão haver mais Edward Snowdens e mais Bradley Mannings.
Snowden foi um homem que com muito valor, valentia, decidiu romper com o governo, com a espantosa vigilância que mantém sobre cada cidadão e sobre o mundo. Mas quando ele fez isso, e expos toda a vigilância, ele disse que o que expressava poderia levá-lo à execução. E graças à solidariedade de outros amigos que estiveram em Hong Kong, foi levado à Rússia, com a ajuda informal deste país, e a oferta da América Latina, do Equador, da Venezuela e da Nicarágua. Isso é um grande apoio para as pessoas que lutam, porque mostra que há aliados, tem gente que está apoiando os norte-americanos que se levantam.
É muito, muito necessário que ele se mantenha livre porque o exemplo que querem dar é que se você faz algo para expor o crime dos EUA, a verdade, você vai morrer ou vai para a prisão. Não podemos esquecer do caso de Bradley. Na semana passado o governo anunciou que vão fazer as mais graves acusações contra ele, por apoio ao inimigo, o que pode levar este jovenzinho à pena de morte. Ele sofreu tanto, com torturas psicológicas, isolamento por anos, e no entanto, ainda se mantém forte e acredita no que fez.
OM: Como podemos definir essa política dos EUA que pede à Venezuela que extradite Snowden, mas ao mesmo tempo não extradita um terrorista como Posada Carriles?
GLR: Posada Carriles, que matou mais de 73 pessoas [no atentado contra o voo da companhia Cubana de aviação, que ia de Barbados a Cuba], porque matou também venezuelanos e fez parte da Operação Condor na América Latina, é um carrasco da CIA. Quando ele chegou aos EUA, nós começamos uma grande campanha exigindo sua extradição e para expor à população o que estava acontecendo, estivemos na frente da corte quando ele estava sendo processado.
No entanto, mesmo que toda a imprensa norte-americana exigisse sua extradição, o governo está escondendo sua presença, com a auto-censura. E [o presidente Barack] Obama é tão culpado quanto [o ex-presidente [George] Bush, pelo asilo que dão a um terrorista, isso é muito sério. E Carriles não é o único, há muitos mais jovens que ele, mataram pessoas e vivem livremente em Miami. O que ele está fazendo em todos estes anos é o que Bush fazia. Mas com uma posição mais suave para o público, mas tão daninho e assassino quanto. Obama aprovou assassinatos com drones, até contra norte-americanos.
No entanto, mesmo que toda a imprensa norte-americana exigisse sua extradição, o governo está escondendo sua presença, com a auto-censura. E [o presidente Barack] Obama é tão culpado quanto [o ex-presidente [George] Bush, pelo asilo que dão a um terrorista, isso é muito sério. E Carriles não é o único, há muitos mais jovens que ele, mataram pessoas e vivem livremente em Miami. O que ele está fazendo em todos estes anos é o que Bush fazia. Mas com uma posição mais suave para o público, mas tão daninho e assassino quanto. Obama aprovou assassinatos com drones, até contra norte-americanos.
OM: Você integra uma organização antibelicista, mas não critica que a Venezuela invista tanto em armamentos e em equipamentos para defesa. Não é contraditório?
GLR: Eu sou parte da organização Answer, que defende o atuar agora para deter a guerra e o racismo que começou depois de 11 de setembro de 2001. Cuba, Venezuela, Bolívia, Nicarágua e os demais países independentes têm que se defender. A tática favorita do imperialismo nos últimos 20 anos tem sido exigir o desarmamento para abolir as armas de destruição massiva. Como com o Iraque e olhe o que aconteceu, se desarmaram completamente para evitar as sanções que matam milhões de pessoas e depois de não ter nenhuma arma de defesa, os EUA os atacam de novo pela segunda vez e não teve nada de defesa, e foi terrível para os iraquianos.
O desarmamento que exigem da Coréia do Norte dizendo que não podem ter armas nucleares, a mentira que estão inventando contra o Irã... A Venezuela precisa de armamentos para se defender, na rua, contra os EUA e qualquer inimigo que tente apoiar Washington contra a Venezuela, como os que tentam iniciar agressões a partir da Colômbia. A Venezuela está fazendo um papel muito inteligente de advogar pela paz. Cuba também precisa de sua defesa. E os terroristas não são a maior ameaça a Cuba, os que mais ameaçam a ilha é Washington, com o bloqueio. Por isso, o que está acontecendo aqui na Venezuela, esse evento de solidariedade com os países e povos irmãos, é muito importante e conta com nosso apoio.
OM: Que atividades foram promovidas no comitê dos EUA em relação aos cubanos presos em Miami por acusação de espionagem?
GLR: Agora, em setembro e outubro, vamos fazer fóruns nas faculdades de direito e de ciência política em dez universidades, e isso é só o começo. Somos os responsáveis pelas investigações, que já levam quase cinco anos, que estão expondo o papel do governo na imprensa. O mesmo governo que condenou os cinco cubanos estava pagando dezenas de jornalistas em Miami, que cobriam o caso de maneira incrivelmente prejudicial, condenando os cinco antes e durante o julgamento. Isso tornava impossível que eles recebessem um julgamento justo em Miami. Por isso os advogados utilizaram nossa investigação para as últimas apelações, e agora estamos esperando a decisão da juíza.
Não importa a decisão, se não é a favor da liberdade deles, vamos continuar com as apelações e com esta luta popular. Hoje há muito mais norte-americanos que conhecem o caso dos cinco. Antes era quase um segredo, apesar do julgamento, quase ninguém fora de Miami conhecia o caso, nem entre os movimentos progressistas. A partir de 2004, o caso foi transmitido em todas as televisoras nacionais, com muitas entrevistas a familiares e ativistas, conseguimos coletar 50 mil dólares para colocar um anúncio no jornal The New York Times, em uma página completa, com a voz dos cinco, e o caso teve mais exposição. Mas o tratamento da imprensa é um problema, as pessoas podem escutar um dia sobre o caso, mas depois não escutam mais. Eu trabalho para um jornal diário de San Francisco como artista gráfica há mais de 32 anos, e eu conheço o chefe do jornal e lhe disse muitas vezes dos cinco cubanos, e ele me diz que não é notícia para nós. É uma auto-censura.
OM: Como você avalia a cobertura da imprensa norte-americana no caso Snowden?
GLR: Esse é um estudo interessante acerca da manipulação por parte da imprensa e do governo. Quando surgiu a informação de que a NSA, agência de segurança nacional que é maior que a CIA, estava espionando as pessoas, teve muita insatisfação por parte dos liberais, da esquerda e da direita, que questionaram por que Obama permitiu que isso acontecesse, enquanto ele tentava justificar. Mas depois que Snowden se identificou, toda a imprensa começou a atacá-lo ele virou o alvo, como a pessoa que ameaçava a segurança nacional e fazia dano à nossa política e aos soldados. Também diziam o mesmo contra Bradley Manning. Então as pessoas podem acreditar em algo em um dia, e ser manipuladas no próximo.
No entanto, tem muita gente que apoia a Snowden, que não concorda com tudo ser escutado e gravado. De fato, o NYT divulgou há umas semanas que cada correspondência do país é fotografada, e o serviço postal admitiu que cada correio enviado no país é fotografado, identificando quem escreve para quem. O jornal também revelou que há dezenas de milhares de pessoas das quais o correio abre as correspondências para lê-las. E nos Estados Unidos, se você utiliza outros dados de remetente para mandar uma correspondência, isso é considerado crime federal, com grandes sentenças. E estão adicionando mais formas de repressão para espremer a classe trabalhadora quando ela se levantar, o que um dia vai fazer. O Occupy [Wall Street], por exemplo, foi um grande momento, mas não se estendeu por mais que uns meses, foi uma porta para o futuro.
Reportagem de Luciana Taddeo
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