Pesquisas de opinião feitas após as manifestações que
aconteceram no país em junho mostram que entre os três poderes, a população
confia mais no Poder Judiciário. De acordo com pesquisa feita em julho, a
confiança no Judiciário era de 50%, enquanto no Legislativo é de 25%.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo,
o sociólogo Aldo Fornazieri, diretor da Escola de Sociologia e Política de São
Paulo, alerta, porém, que a situação é meramente circunstancial. "O
Judiciário é tão corrupto e ineficiente quanto o Legislativo e o
Executivo", diz ele.
Para Fornazieri, um dos principais motivos para esta imagem
positiva momentânea é o julgamento do mensalão. Outro fato considerado por
Fornazieri é o destaque da mídia. Para ele, os escândalos do Judiciário não
recebem tanto destaque quanto os dos outros poderes.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
A que atribui a ausência de ataques ao Judiciário nas
manifestações de junho?
No momento dos protestos, o Judiciário, especialmente o Supremo
Tribunal Federal, estava com um superávit de imagem positiva. Ainda havia um
recall positivo em torno do julgamento do mensalão, o que tornava esse poder,
naquele momento, a instituição de maior credibilidade.
Por que frisou 'naquele momento'?
Porque o Judiciário é tão corrupto quanto os outros dois
poderes, o Legislativo e o Executivo. Recorrentemente surgem denúncias e
escândalos nesta área. Envolvem muitas vezes a compra e a venda de sentenças.
Se pegar o caso específico do Tribunal de Justiça de São Paulo verá que está
envolvido com denúncias fortes, divulgadas na semana passada, sobre o pagamento
de benesses indevidas, com o desvio de milhões de reais. Por outro lado, as
tentativas de fiscalização do Conselho Nacional de Justiça enfrentaram forte
resistência em São Paulo. Não há, portanto, a menor dúvida de que o Judiciário
se equipara aos demais poderes em termos de corrupção.
Existiria algum outro motivo, além do mensalão, para o
Judiciário ter sido poupado nos protestos?
Eu citaria mais duas razões. A primeira é que os escândalos do
Judiciário não têm tanto destaque na mídia quanto os do Legislativo e do
Executivo. Eles aparecem menos. A segunda é que o cidadão, de maneira geral,
tem uma relação mais direta com o Legislativo e o Executivo — até porque é ele,
cidadão, quem elege os representantes nesses poderes. No Judiciário, com
exceção dos ministros do Supremo, as figuras são menos conhecidas. Se você
citar os nomes dos juízes do Tribunal de Justiça de São Paulo, pouquíssimas
pessoas vão identificá-los. A relação entre o Judiciário e os cidadãos,
portanto, é mais difusa, o que atenua a fiscalização sobre esse poder.
Há menos percepção na sociedade sobre as falhas do Judiciário?
Sim. Além de tão corrupto quanto os outros poderes, o Judiciário
é extremamente deficiente. Quanto demora o julgamento de um caso na Justiça?
Pode demorar décadas. Já foram feitas tentativas, nos últimos quinze anos, de
reforma dessa estrutura, mas os problemas continuam. O déficit de eficiência
permanece.
O senhor inclui o Supremo nessa análise sobre deficiências?
Como já disse, o Supremo atravessou os protestos com a imagem
razoavelmente boa, em função do mensalão. Logo em seguida, porém, começaram a
surgir denúncias sobre uso indevido de equipamentos públicos por parte do
próprio Joaquim Barbosa e de outros ministros. Nesse caso também a mídia não deu
muita ênfase.
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