“Meu filho não é bandido. Ele tem apenas 5 anos e o Estado quer
castigá-lo como castiga o pai, que já está preso e pagando pelo que fez”. A
frase, carregada de indignação, é pronunciada com punhos cerrados sobre a mesa,
pela paulistana A., mãe de dois filhos, profissional de vendas e estudante de direito.
O marido foi preso há 3 anos e, desde então, a cada dois ou três meses, ela
leva o filho R. para ver o pai.
Todas as
vezes, na revista da entrada, ela e o filho passam pelo mesmo ritual:
“Nós
entramos em um box, eu tiro toda a roupa, tenho que agachar três vezes, abrir
minhas partes íntimas para a agente penitenciária, sentar em um banquinho
metálico detector de metais, dar uma volta com os braços para cima e às vezes
me mandam tossir, fazer força, depende de quem está revistando. Meu filho assiste
tudo. Quando preciso abrir minhas partes íntimas, peço para ele virar de
costas”, diz.
“Então
chega a vez dele. Na penitenciária onde o pai esteve antes de ser transferido,
as agentes passavam a mão por cima da roupa, mas quando T. foi transferido para
um CDP aqui da capital paulista, a revista do meu filho mudou. Da primeira vez,
a agente pediu para eu tirar toda a roupa dele. Eu achei estranho, disse que
isso nunca tinha acontecido e ela respondeu que eram normas de lá. De
luvas, ela tocou no ombro meu filho para que ele virasse, para ela ver dos dois
lados, sacudiu suas roupinhas. Na hora eu disse ‘Não toca no meu filho. Você
sabe que não pode fazer isso’. Ela ficou quieta e eu não debati, porque queria
entrar logo, meu filho estava sem ver o pai há meses. O R. não sabe que o pai
está preso, eu digo que ele trabalha lá empurrando aqueles carrinhos de comida
que ficam na porta. Quando pergunta sobre as grades e as muralhas, eu digo que
é para ninguém roubar ele de mim. Neste dia, quando ela pediu para tirar a
roupa dele, eu disse: ‘Filhão, lembra que você teve catapora? A gente precisa
tirar sua roupa para ver se você ainda tem, para não passar para o papai, tá
bom?’ Ele disse ‘Tá bom mamãe, mas eu não tenho mais catapora”.
A.
explica que ficou muito incomodada com aquilo. “O ECA [Estatuto da Criança e do
Adolescente] diz que se uma mãe fizer seu filho passar por uma situação
vexatória, de humilhação, deve pagar por isso. Mas o Estado, que criou essas
leis, pode fazer meu filho passar por humilhação? Qual o sentido disso?”
questiona. Ela conta que já quiseram até fazer seu filho passar sozinho pela
revista masculina, com apenas 4 anos de idade, o que ela negou e conseguiu
reverter. A situação ficou insustentável quando, num outro dia de visita, a
mesma agente que havia feito o menino tirar a roupa, pediu para que além de
ficar nu mais uma vez, R. levantasse os braços e desse uma volta.
“Ela fez
igualzinho a revista de adultos e aquilo acabou comigo. Na hora eu perguntei se
ela conhecia o ECA, se sabia que o que estava fazendo era crime e ela disse que
não. Eu mandei chamar o coordenador do plantão, olhei bem para eles e disse
‘quero que vocês saibam que na segunda-feira vou processar o Estado pelo que
vocês estão fazendo com o meu filho. O Estado vai prestar contas”, avisou.
Cada presídio uma sentença
A.
procurou a Defensoria Pública de São Paulo, que abriu um procedimento junto à
Corregedoria dos Presídios da Capital, pedindo que o caso fosse apurado e que o
filho não precisasse mais passar por este tipo de revista, considerada
vexatória, para ver o pai. Pediu também que fossem apuradas várias denúncias de
revistas vexatórias de crianças e adolescentes nas unidades prisionais do
Estado.
“Meu filho não é bandido. Ele tem apenas 5 anos e o Estado quer
castigá-lo como castiga o pai, que já está preso e pagando pelo que fez”. A
frase, carregada de indignação, é pronunciada com punhos cerrados sobre a mesa,
pela paulistana A., mãe de dois filhos, profissional de vendas e estudante de
direito. O marido foi preso há 3 anos e, desde então, a cada dois ou três
meses, ela leva o filho R. para ver o pai.
Todas as
vezes, na revista da entrada, ela e o filho passam pelo mesmo ritual:
“Nós
entramos em um box, eu tiro toda a roupa, tenho que agachar três vezes, abrir
minhas partes íntimas para a agente penitenciária, sentar em um banquinho
metálico detector de metais, dar uma volta com os braços para cima e às vezes
me mandam tossir, fazer força, depende de quem está revistando. Meu filho
assiste tudo. Quando preciso abrir minhas partes íntimas, peço para ele virar
de costas”, diz.
“Então
chega a vez dele. Na penitenciária onde o pai esteve antes de ser transferido,
as agentes passavam a mão por cima da roupa, mas quando T. foi transferido para
um CDP aqui da capital paulista, a revista do meu filho mudou. Da primeira vez,
a agente pediu para eu tirar toda a roupa dele. Eu achei estranho, disse que
isso nunca tinha acontecido e ela respondeu que eram normas de lá. De
luvas, ela tocou no ombro meu filho para que ele virasse, para ela ver dos dois
lados, sacudiu suas roupinhas. Na hora eu disse ‘Não toca no meu filho. Você
sabe que não pode fazer isso’. Ela ficou quieta e eu não debati, porque queria
entrar logo, meu filho estava sem ver o pai há meses. O R. não sabe que o pai está
preso, eu digo que ele trabalha lá empurrando aqueles carrinhos de comida que
ficam na porta. Quando pergunta sobre as grades e as muralhas, eu digo que é
para ninguém roubar ele de mim. Neste dia, quando ela pediu para tirar a roupa
dele, eu disse: ‘Filhão, lembra que você teve catapora? A gente precisa tirar
sua roupa para ver se você ainda tem, para não passar para o papai, tá bom?’
Ele disse ‘Tá bom mamãe, mas eu não tenho mais catapora”.
A.
explica que ficou muito incomodada com aquilo. “O ECA [Estatuto da Criança e do
Adolescente] diz que se uma mãe fizer seu filho passar por uma situação
vexatória, de humilhação, deve pagar por isso. Mas o Estado, que criou essas
leis, pode fazer meu filho passar por humilhação? Qual o sentido disso?”
questiona. Ela conta que já quiseram até fazer seu filho passar sozinho pela
revista masculina, com apenas 4 anos de idade, o que ela negou e conseguiu
reverter. A situação ficou insustentável quando, num outro dia de visita, a
mesma agente que havia feito o menino tirar a roupa, pediu para que além de
ficar nu mais uma vez, R. levantasse os braços e desse uma volta.
“Ela fez
igualzinho a revista de adultos e aquilo acabou comigo. Na hora eu perguntei se
ela conhecia o ECA, se sabia que o que estava fazendo era crime e ela disse que
não. Eu mandei chamar o coordenador do plantão, olhei bem para eles e disse
‘quero que vocês saibam que na segunda-feira vou processar o Estado pelo que
vocês estão fazendo com o meu filho. O Estado vai prestar contas”, avisou.
Cada presídio uma sentença
A.
procurou a Defensoria Pública de São Paulo, que abriu um procedimento junto à
Corregedoria dos Presídios da Capital, pedindo que o caso fosse apurado e que o
filho não precisasse mais passar por este tipo de revista, considerada
vexatória, para ver o pai. Pediu também que fossem apuradas várias denúncias de
revistas vexatórias de crianças e adolescentes nas unidades prisionais do
Estado.
Reportagem
de Andrea Dip e Fernando Gazzaneo
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada pela visita e pelo comentário!