Estudo feito em camundongos provou, pela primeira vez, que experiências pessoais podem esculpir o cérebro e o comportamento mesmo de indivíduos geneticamente iguais.
A diferença de personalidade entre gêmeos univitelinos tem relação direta com a formação de novos neurônios no cérebro. É o que afirmam pesquisadores alemães que, pela primeira vez, conseguiram mostrar em camundongos que experiências pessoais podem “esculpir” o cérebro. Os pesquisadores acreditam que diferentes vivências modelam a formação destes novos neurônios ligados à memória e também o cérebro, levando desta forma à criação da personalidade e à individualização.
Novos neurônios são gerados em algumas regiões do cérebro após o nascimento tanto em humanos quanto em roedores. Uma delas é o hipocampo, que está ligado à função da memória. Pesquisadores acreditam que os novos neurônios ajudam a armazenar de forma separada a percepção de eventos parecidos em memórias distintas. O estudo mostrou que esta capacidade de flexibilidade do cérebro e diferença na forma de armazenar a memória nestes novos neurônios pode estar ligada ao comportamento de cada indivíduo e à formação da personalidade.
No experimento, dois animais geneticamente idênticos (ou seja, gêmeos) ficaram em uma mesma grande gaiola repleta de brinquedos e outros camundongos por três meses. Os camundongos gêmeos foram monitorados neste período por 40 chips implantados no cérebro de cada um. Com isto, os cientistas rastrearam a formação de novos neurônios na estrutura cerebral enquanto os movimentos dos animais eram observados.
Os pesquisadores perceberam que havia uma ligação diretamente proporcional entre o comportamento exploratório dos roedores e o surgimento de novos neurônios no hipocampo. Foi observado que o tamanho da área que cada animal regularmente explorava tinha forte influência na quantidade de novos neurônios formados. “Os dois animais estavam no mesmo ambiente. No entanto, este ambiente era tão rico que cada camundongo reuniu as suas próprias experiências individuais e isto fez com que, com o tempo, eles fossem mais diferentes entre si no que se refere ao comportamento”, disse.
A descoberta feita pelos pesquisadores alemães explica, principalmente, o motivo de haver diferenças comportamentais entre gêmeos idênticos. Desde muito pequenos, os pais podem, por exemplo, notar pela característica do choro qual dos filhos está em apuros. “O cérebro é moldado de várias formas e nós sabemos ainda muito pouco sobre isto. Porém descobrimos que diferenças individuais formadas pela experiência vivida explicam em parte a variação da formação de novos neurônios no hipocampo. Há um tipo particular de plasticidade no cérebro”, disse ao iG Gerd Kempermann, professor de Genômica e Regeneração do Centro de Terapias Regenerativas de Dresden, na Alemanha.
Os cientistas ainda não sabem, no entanto, como o processo de formação de novos neurônios no hipocampo modela a personalidade do indivíduo. Os próximos passos do estudo são exatamente entender este mecanismo. “Nosso estudo mostrou que o desenvolvimento contribui para a diferenciação do comportamento adulto. Isto é o que muitos já acreditavam, mas agora conseguimos mostrar que existe uma prova direta neurobiológica que sustenta esta ideia. A experiência influencia a mente humana”, disse em comunicado Ulman Lindenberger, diretor do Centro de Psicologia do Instituto Max Planck, que também participou do estudo publicado nesta semana no periódico científico Science .
Reportagem de Maria Fernanda Ziegler
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