13/02/2013

Com 90 jornalistas e 48 internautas assassinados, 2012 foi o ano mais negativo para a imprensa, diz organização


Foi o ano mais negativo de toda a história para a liberdade de imprensa. Desde 1995, quando começou o registro, não haviam surgido números tão demolidores como em 2012: 90 jornalistas e 48 internautas assassinados, quase 300 profissionais presos e uma massa de repórteres exilados, ameaçados ou censurados. A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) pintou um panorama sombrio da situação da imprensa no mundo, atribuído em parte à guerra que abala a Síria, ao caos que reina na Somália e à violência dos Taleban no Paquistão.
Mas também no Brasil e no México há grandes buracos pelos quais escapa o direito à informação, como salientou a jornalista Pepa Bueno durante a apresentação do relatório que esmiúça a liberdade de imprensa nos países dos cinco continentes e constata que, longe de melhorar, a situação no mundo piorou.
"Foi um ano funesto", afirmou na quinta-feira a presidente da seção espanhola da RSF, Malén Aznárez, que condenou os ataques mortais aos comunicadores, toda vez que "deixaram de ser vítimas ocasionais para ser alvo deliberado de guerrilhas, grupos radicais, narcotraficantes ou latifundiários". Depois das esperanças despertadas durante a Primavera Árabe, a organização não-governamental percebe que os meios de comunicação não viram surgir leis em favor da pluralidade. Em Omã, por exemplo, há blogueiros processados por crimes de lesa-majestade, e na Líbia floresceram os panfletos. Mas o verdadeiro "buraco negro" africano é a Somália, com 18 jornalistas mortos a tiros ou decapitados pela guerrilha islâmica ou os clãs locais.
A situação na Turquia é especialmente preocupante: o regime tenta implementar um sistema de liberdade de imprensa (uma das exigências para a entrada na UE), no entanto tem 75 jornalistas presos (um deles foi condenado à prisão perpétua por pertencer ao partido comunista) e 125 estão submetidos a diferentes processos judiciais.
Nedim Sener, jornalista investigativo do jornal "Milliyet", de Istambul, afirmou na quinta-feira que a Turquia "é a maior prisão do mundo" para os jornalistas. Ele sabe disso pessoalmente. Sener passou um ano preso, sob a acusação de ser membro de uma organização terrorista.
Conhecido repórter investigativo e açoite da corrupção financeira, na quinta-feira ele contou que seu país é o "campeão mundial" em privação de liberdade. "Há detenções maciças. Até 200 jornalistas entraram na prisão em algum momento de sua vida e 37 foram relacionados com o movimento curdo pró-independência." Sener considera que o governo tem de separar "com linhas muito grandes" as atividades dos jornalistas e dos terroristas. Como exemplo do surrealismo instalado no país, disse que os juízes aplicaram as leis antiterroristas a um cartaz que defendia a liberdade de imprensa.

A viúva do jornalista ruandense Jean-Léonard Rugambage, assassinado em 2010, vive exilada na Espanha. Epiphanie Ndekerumkobwa ofereceu na quinta-feira um depoimento estarrecedor sobre a perseguição que sofreu durante anos. "Até que alguém lhe disparou três tiros na porta de nossa casa e fugiu em um carro da segurança do presidente."
A RSF também expressou sua preocupação pela censura na rede mundial e pelas pressões dos governos para que grandes máquinas de busca, como Google, sirvam de filtro. Aznárez afirmou que um em cada quatro usuários não tem acesso a uma Internet livre, e William Echikson, diretor do Google, lembrou que em 40 países se exerce a censura e as informações são cifradas ou bloqueadas. Contou que a Google tem problemas em cerca de 30 países, e no Brasil o responsável pela empresa está nos tribunais acusado de "ir contra a democracia", segundo Echikson.
Espanha, um país sem perguntas
O costume cada vez mais difundido entre os políticos de não admitir perguntas nas entrevistas coletivas é um ponto escuro no estado da profissão jornalística na Espanha. "É algo inaceitável; uma indecência", declarou na quinta-feira Malén Aznárez. E mais ainda quando esses mesmos políticos "se cercam de uma cenografia de informadores para que pareçam entrevistas coletivas".
O relatório da RSF critica a Espanha (que subiu três escalões na classificação mundial de liberdade de imprensa, passando do 39º para o 36º lugar) pela reforma promovida pelo Partido Popular para que a eleição do presidente da Rádio Televisão Espanhola não exigisse uma maioria qualificada no Parlamento.
Aznárez lembrou que essa mudança legislativa propiciou a nomeação à frente dos telejornais da televisão pública de "uma pessoa mais ligada ao partido no poder". Pepa Bueno, que até o ano passado fazia parte do plantel da TVE, afirmou que essa modificação é "uma regressão democrática", toda vez que as maiorias reforçadas são uma garantia de independência porque exigem o consenso entre as principais forças políticas.
A ONG também lamenta que a Espanha seja o único país da UE com mais de um milhão de habitantes que não tem uma lei de acesso à informação. Aznárez lembrou que o texto que atualmente tramita no Parlamento está aquém dos padrões internacionais e pediu que os partidos políticos e a coroa não sejam excluídos da norma, mas que também sejam obrigados a prestar contas aos cidadãos. "Mais que uma lei de transparência, parece de opacidade", disse.

Reportagem de Rosario G. Gómez
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

fonte:http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/elpais/2013/02/12/com-90-jornalistas-e-48-internautas-assassinados-2012-foi-o-ano-mais-negativo-para-a-imprensa-diz-organizacao.htm
foto:http://www.wscom.com.br/noticia/brasil/MP+RIGOR+EM+CRIME+CONTRA+JORNALISTAS-128490

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