Antes da internet se tornar popular, denunciar um pagamento de propina
passava por instâncias como repartições públicas, longos processos jurídicos,
caros advogados e dezenas de formulários e carimbos.
Hoje, com um e-mail,
alguns cliques ou uma mensagem de texto, é possível - em poucos segundos - fazer
denúncias de todo o tipo em sites como I Paid a Bribe ("Eu paguei propina",
www.ipaidabribe.com), o brasileiro Contas Abertas (www.contasabertas.com.br) e a
plataforma que produz mapas Ushahidi (www.ushahidi.com).
"O boom da
internet foi o ponto de partida para termos acesso à informação. Deixamos para
trás aquele tempo de repartições públicas e de arquivo morto", diz à BBC Brasil
o economista Gil Castelo Branco, secretário-geral do site Contas Abertas, que
recebe e investiga suspeitas de irregularidades e denúncias de corrupção no
governo.
O economista afirma que o site analisa até oito pedidos por dia,
sendo que a grande maioria deles chega por e-mail. "Algumas pessoas criam
e-mails falsos para enviarem as denúncias, no primeiro contato, e aí temos que
ganhar a confiança delas para avançar na investigação."
Segundo Castelo
Branco, muitas das demandas vêm de acadêmicos e jornalistas, mas há uma
crescente participação por parte do cidadão comum, que cada vez mais quer
monitorar contas de sua prefeitura.
Atalho
Por trás dessas ferramentas online que servem de "atalho" para se denunciar
corrupção está uma multidão de jovens internautas.
"A juventude está
mudando as táticas do ativismo anticorrupção. Eles trazem consigo um incrível
entusiasmo por tecnologia móveis e novas mídias, como vídeos", diz Heather
Leson, uma das diretoras da Ushahidi, à BBC Brasil.
"Esses jovens
ativistas agora atuam e compartilham, ininterruptamente, em suas redes sociais.
E assim eles não precisam mais usar arquivos em PDF de 50 páginas para lutar
contra a corrupção. Estão livres disso."
Heather é uma das palestrantes
da 15ª Conferência Internacional Anticorrupção encerrada no último sábado em
Brasília. Com o tema "Combate à corrupção: ferramentas online e medidas
eficazes", o debate em que ela participou discutiu novos métodos de amplificar a
luta contra a corrupção, dando mais poder ao cidadão.
É justamente esse
fortalecimento do cidadão comum o principal trunfo da plataforma Ushahidi, em
que ela é diretora. O projeto foi criado como uma resposta ao caos que tomou
conta do Quênia após as eleições de 2008. Um mapa com os focos de violência no
país foi criado com base nas informações enviadas pela população, via telefone,
SMS ou e-mail.
O sucesso do software de código aberto (que pode ser alterado por qualquer
pessoa) fez com que ele fosse usado em seguida para as mais diversas finalidade
mundo afora. Ajudou a mapear, quase em tempo real, fraudes eleitorais e
emergências no pós-terremoto do Haiti e do Chile.
"Mas o que começamos a
ver este ano é um incrível aumento do número de mapas para identificar corrupção
em todo o mundo", afirma Heather. "Dar voz a um grupo mais amplo de cidadãos
usando ferramentas simples é algo revolucionário. A ideia é justamente criar
algo útil para pessoas que querem usar a tecnologia para promover mudanças
positivas para a sociedade."
Pelas denúncias que recebe, Castelo Branco,
do Contas Abertas, também percebe um interesse crescente do cidadão em checar as
contas de seu governo. "O Brasil ainda engatinha em termos de sites para
denunciar irregularidades em determinadas áreas, mas estamos vendo mudanças e
cada vez mais ações. A cultura de que o burocrata é o dono da informação está
caindo por terra", afirma.
"Mas essa é uma mudança na mentalidade do
cidadão brasileiro. E isso não é algo que acontece da noite para o
dia."
Uma das denúncias feitas pelo site Contas Abertas neste ano trouxe
à tona o fato de o governo não prestar contas de todas as suas representações no
exterior no Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal
(Siafi). Somente 37 das 219 representações seguiam a lei nesse sentido,
inserindo seus dados no sistema.
Para o economista, denúncias como essas
são cruciais para destrinchar os meandros do orçamento do Estado. "Porque
governo gosta de transparência é no governo dos adversários", conclui.
fonte:http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2012/11/09/ferramentas-online-criam-novo-cenario-de-combate-a-corrupcao.htm
foto:veja.abril.com.br
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