Como acontece quase todos os anos, hoje o Dia de Finados amanheceu sem sol, o cinza predomina no céu e a chuva deve cair a qualquer momento. Quando comecei a ter idade para compreender o significado desta data associava a melancolia deste clima a tristeza pela saudade de todos que partiram. Hoje, passado muitos anos e depois de tantas perdas que fui obrigada a aceitar, após dizer tanto adeus tenho outra percepção do Dia de Finados, assim como da partida das pessoas que me fizeram ser o que sou. Os sentimentos e os laços que nos unem aos outros não dependem da presença física, nossas histórias estão entrelaçadas e assim ficarão para sempre e será transmitidas aos que irão nos suceder, alimentando assim o ciclo da vida. Vivemos eternamente por meio de nossos gestos, sons e emoções, uns nos outros. Carregamos uma parte do outro dentro de nós e nos tornamos um só. A partida é apenas física, dentro de nós a Vida não tem fim.
O que não impede que saudade permaneça e continue presente até que minha passagem por aqui se complete.
Encerro este pensamento falando sobre viver e reproduzindo uma resposta que a poetisa Cora Coralina deu sobre o que viver bem:
"Eu não tenho medo dos anos e não penso em velhice. E digo pra você, não pense.
Nunca diga estou envelhecendo, estou ficando velha. Eu não digo. Eu não digo estou velha, e não digo que estou ouvindo pouco.
É claro que quando preciso de ajuda, eu digo que preciso.
Procuro sempre ler e estar atualizada com os fatos e isso me ajuda a vencer
as dificuldades da vida. O melhor roteiro é ler e praticar o que lê. O bom é produzir sempre e não dormir de dia.
Também não diga pra você que está ficando esquecida, porque assim você fica mais.
Nunca digo que estou doente, digo sempre: estou ótima. Eu não digo nunca que estou cansada.
Nada de palavra negativa. Quanto mais você diz estar ficando cansada e esquecida, mais esquecida fica.
Você vai se convencendo daquilo e convence os outros. Então silêncio!
Sei que tenho muitos anos. Sei que venho do século passado, e que trago comigo todas as idades,
mas não sei se sou velha não. Você acha que eu sou?
Posso dizer que eu sou a terra e nada mais quero ser. Filha dessa abençoada terra de Goiás.
Convoco os velhos como eu, ou mais velhos que eu, para exercerem seus direitos.
Sei que alguém vai ter que me enterrar, mas eu não vou fazer isso comigo.
Tenho consciência de ser autêntica e procuro superar todos os dias minha própria personalidade, despedaçando dentro de mim tudo que é velho e morto, pois lutar é a palavra vibrante que levanta os fracos e determina os fortes.
O importante é semear, produzir milhões de sorrisos de solidariedade e amizade.
Procuro semear otimismo e plantar sementes de paz e justiça. Digo o que penso, com esperança.
Penso no que faço, com fé. Faço o que devo fazer, com amor. Eu me esforço para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende.
Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir."f
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