27/05/2012

China tem feira de noivas e curso para arrumar marido rico


“Foto, foto”, é o alarme emitido pelos visitantes da “feira de solteiros” no parque Zhong Shan, em Pequim, ao perceber a presença de uma câmera - querendo evitar a exposição de detalhes familiares privados.


Munidos de cartazes em que ofertam suas filhas e filhos solteiros, dezenas de pais e mães reúnem-se a cada domingo à tarde no parque à procura de um bom candidato para integrar a família.
Escrito à mão nos cartazes, estão requerimentos como altura mínima de 1,80 m para rapazes, salário acima de 4.000 yuans (cerca de R$ 1 mil), apartamento e emprego sólido.
As discussões são levadas pelos progenitores e, no caso de um interesse mútuo, eles procedem para o arranjo de um encontro entre os filhos.
Muitos dos cartazes trazem ainda uma foto do candidato ao casamento. “Eu coloco a foto da minha filha porque ela não tem um trabalho muito bom e não somos de Pequim”, diz a mãe da jovem Wang, uma comerciante de 26 anos e 1,65m de altura.
Wang vive na capital chinesa há três anos. Sua mãe veio da província de Haarbin para ajudá-la a procurar um namorado. “Minha filha é muito ocupada com o trabalho e não tem tempo de conhecer rapazes”.
Um endereço na capital chinesa está entre os atributos mais valorizados na feira, ao lado de status social e estabilidade financeira.
O hukou (registro de residência que garante benefícios sociais aos moradores locais) de Pequim é quase uma unanimidade no parque Zhong Shan. “Você não é de Pequim? Pode seguir adiante”, informa a mãe de uma jovem solteira ao pai de um candidato, vindo da província de Heilongjiang.
'Educação nobre'
A feira no parque Zhong Shan não é o único caminho seguido pelos jovens chineses a procura de casamento.
Em Pequim, foi aberto em 2010 o Centro de Educação Moral para dar mulheres "educação nobre". A escola abriga mais de duas mil alunas, que pagam 20 mil yuans (R$ 5 mil) para se tornar mulheres "de classe" e melhorarem suas chances de conseguir um marido rico.
As aulas incluem desde conselhos sobre maquiagem até sobre como identificar quando um homem está mentindo. O instituto ainda dá aulas de conduta à mesa e em situações sociais, para que as jovens saibam como interagir nos mais diversos ambientes.
Desde a abertura, o Centro mantém ainda uma lista de homens solteiros em seu banco de dados, visando a aproximação de suas alunas ao final do curso. Para figurar na lista de pretendentes, os homens precisam desembolsar 30 mil yuans (R$ 7,5 mil).
Neste primeiro ano em funcionamento, a escola diz ter ajudado a casar pelo menos trinta alunas.
Mulheres 
Mas muitas jovens buscam se libertar da visão tradicional chinesa da mulher atada às obrigações familiares e à geração de filhos.
A abertura econômica da China criou um mercado de trabalho mais receptivo para as mulheres, apesar de as chinesas ainda permanecem, na maior parte dos casos, em posições mais baixas ou que são culturalmente vistas como um “trabalho feminino”.
Em 2009, apenas 67% das mulheres chinesas estavam formalmente empregadas, enquanto que entre os homens essa proporção era de 80%, conforme a Organização das Nações Unidas (ONU) do país.
“A norma social chinesa de 'mulheres que casam com os homens', em vez de 'o casal que se casa' implica que as mulheres ainda sejam vulneráveis em função de seus recursos limitados, o que influencia diretamente a situação das mulheres, crianças e pessoas mais velhas”, explica Julie Broussard, gerente do programa para a China da ONU Mulher (UN Women).
'Preguiçoso'
Na feira de Zhong Shan, mesmo jovens que conseguiram se impor no mercado de trabalho, buscam parceiros em boas condições financeiras.
Liu Xinxin, doutoranda da Universidade de Comunicação da China e dona de dois apartamentos (comprados por ela mesma), está procurando um potencial noivo com a ajuda dos pais. “Se eles não acham que o rapaz é ideal para mim, eles colocam uma pressão para que eu termine o namoro”, relata.
Para ela, o ideal é encontrar alguém que seja capaz de cuidar de seus familiares e que tenha respeito pelo seu estilo de vida independente.
“Hoje, depois de trabalhar duro por quatro anos desde que terminei a universidade, penso que se o rapaz não conquistou pelo menos o que conquistei, é porque ele é preguiçoso”, diz.


Reportagem de Fernanda Morena
foto:brics-ped.com.br

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