Peru, Colômbia, Argentina, Equador, Bolívia, El Salvador e Honduras também possuem minas plantadas no território.
O Estado chileno fracassou em cumprir a meta de retirar minas explosivas até 2012, estabelecida pelo Tratado de Ottawa, e pediu prazo de mais oito anos para limpar 183 campos minados no extremo norte, extremo sul e na região central do país. O esforço para extrair quase 200 mil destas munições letais, que espreitam silenciosamente por novas vítimas, terá de esperar até 2020. E o trabalho não será marcado pela cooperação com antigos rivais, como o Peru, cujo pedido de ajuda feito para limpar uma área de fronteira, onde as minas se moveram com as chuvas, foi negado pelo chanceler chileno, Alfredo Moreno.
"O que tínhamos de fazer já foi feito", disse Moreno em resposta ao questionamento feito pelo governo peruano sobre aproximadamente 150 minas colocadas na fronteira entre os dois países durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). É comum que tremores de terra, enxurradas e enchentes movam minas explosivas e munições não detonadas de um lugar para o outro, como na fronteira entre Chile e Peru.
Exemplo disso é o Laos, país mais minado do mundo, onde o Tufão Ketsana moveu, em outubro de 2009, 78 milhões de submunições do tipo cluster, lançadas pelos Estados Unidos sobre o país do sudeste asiático há mais de 50 anos, bagunçando todo o mapeamento de risco que existia até então.
Na América Latina, além do Chile e do Peru, também Colômbia, Argentina, Equador, Bolívia, El Salvador e Honduras possuem minas plantadas em maior ou menor quantidade e penam para livrar seus territórios de uma munição cujo custo de extração é alto e sua permanência, quase eterna. A Nicarágua, por exemplo, terminou oficialmente o trabalho de desminagem de todo seu território, mas um acidente registrado no ano passado mostrou o quanto o processo tem resultados incertos.
O governo do Chile se esforça para dar ares de empenho às operações de desminagem, apesar do atraso. Recentemente, o Ministério da Defesa lançou um hotsite sobre o tema e uniu personalidades e políticos para posar numa foto de gosto duvidoso, onde os retratados arregaçam a bainha das calças e mostram a perna, em alusão às vítimas que pisam em minas terrestres.
Parte do atraso chileno é justificado pela localização dos campos minados – normalmente locais de difícil acesso. Eles estão ou no deserto mais seco do mundo, há mais de quatro mil metros de altura, onde o calor e a incidência do sol tornam as operações quase impossíveis, ou em territórios isolados e gélidos, castigados por tempestades, fortes ventos e baixíssimas temperaturas, onde o trabalho só pode ser feito durante curtos períodos do ano.
Além de arriscado, o trabalho de desminagem é caro. "Trata-se de um dos trabalhos mais perigosos do mundo", disse o ministro da Defesa do Chile, Andrés Allamand. "Apesar das adversidades, estamos mantendo o avanço, em comparação com outros países da região."
Minas explosivas artesanais podem ser construídas com menos de um dólar. Elas são fáceis de se instalar e oferecem a vantagem militar de impedir o movimento de inimigos por uma grande extensão de terra. Apesar disso, são consideradas por Forças Armadas profissionais um artifício rudimentar e impreciso.
Frequentemente, campos minados impedem manobras das próprias forças que as instalaram, dependendo da própria dinâmica do conflito. Além disso, mesmo em caso de "vitória" militar, o país infestado terá de conviver com terrenos tomados por explosivos, que inviabilizam a exploração agrícola e comercial, além de encarecer os deslocamentos, obrigando a construção de rotas alternativas.
Mas as minas são proibidas antes de tudo porque são consideradas incapazes de distinguir seus alvos. Ou seja, provocam danos tanto a uma criança quanto a um combatente inimigo, indistintamente, sem fazer mira. Além disso, continuam matando civis mesmo muitos anos depois de terminado o conflito.
A ONG Landmine Action estima que a cada dia 40 pessoas são feridas ou morrem por minas antipessoal ou resíduos explosivos de guerra no mundo.
Motivos para demora
O geógrafo chileno Elir Rojas Calderón - um dos maiores especialistas em minas e resíduos explosivos de guerra, convidado frequentemente para debater o assunto no Senado, na Presidência chilena - diz que as limitações climáticas impostas ao trabalho de desminagem no Chile justificam a demora e a perda do prazo inicial, como determinava o Tratado de Ottawa.
Ele aponta, entretanto, outros problemas complexos, como o fato de as operações de desminagem serem 100% conduzidas pelos militares. "Aqui, não se incluíram ações civis e humanitárias, como a educação sobre o risco que as minas representam e a assistência integral às vítimas", disse Calderón, de Santiago do Chile, ao Opera Mundi.
"O Exército recebe cinco milhões de dólares para as operações de desminagem. Mas isso deve mudar. A desminagem pode ser feita por empresas e por ONGs. Venho dizendo isso há vários anos."
Outra fonte chilena, próxima aos militares, foi ainda mais incisiva, depois de pedir anonimato: "Recebendo tanto dinheiro para fazer uma operação como essa, quem vai querer ser rápido? Para os militares, esse assunto está longe de ser uma prioridade. Tudo tem sido feito com uma lentidão absoluta".
Além do dinheiro, as forças chilenas receberam recentemente o reforço de uma lista de equipamentos com tecnologia de ponta para usar na desminagem. A operação, de cunho absolutamente humanitário, também ajuda a limpar a imagem das Forças Armadas do Chile, evidentemente envolvidas nas operações de plantar minas pelo próprio território, seja durante a ditadura militar, liderada pelo general Augusto Pinochet (1973-1990), como forma de combater movimentos armados internos, seja durante as tensões no Canal de Beagle, na zona austral, que quase desembocou num conflito armado internacional com a Argentina, em 1978.
Reportagem de João Paulo Charleaux
foto:papodehomem.com.br
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