Nenhum motivo, seja de que natureza for, é suficientemente válido para desculpar a descortesia, a falta de respeito com outro ser humano e a exposição de indivíduos ao sofrimento físico, psicológico e emocional. No entanto, foi exatamente o que aconteceu a mais de 150 brasileiros, entre os quais estou incluída, em 15 de julho no aeroporto de Ezeiza em Buenos Aires, Argentina.
Com um vôo marcado para às 14h (Buenos Aires - São Paulo) pela companhia Aerolíneas Argentinas tivemos que esperar até às 23h no aeroporto para o embarque. E se chegar em São Paulo às 02h00 após mais de dez horas de espera não fosse o suficiente, ainda tivemos que esperar mais uma hora no aeroporto até a chegada do próximo vôo oriundo da Argentina para recuperar nossas bagagens que foram extraviadas no trajeto.
A questão dos problemas causados pelas cinzas dos vulcões nas aeronaves é totalmente compreensível e inclusive publiquei uma reportagem bastante esclarecedora sobre o tema neste blog. Problemas circunstanciais e imprevistos evidentemente também podem acontecer e ninguém está livre disso. Embora a impaciência de voltar para casa, o cansaço que as viagens sempre provocam, o estresse natural destas situações possam exacerbar os ânimos e nos deixar mais intolerantes, não significa que não tenhamos o bom senso de compreender e aceitar que imprevistos acontecem e que podem alterar nossas agendas.
Contudo, o que aconteceu em 15 de julho no aeroporto porteño de Ezeiza extrapolou todos os limites da compreensão e da tolerância. Enquanto alguns funcionários insistiam em dizer que o acumulo de vôos atrasados era uma situação “normal”, outros afirmavam que não tinha “piloto” nem aeronave disponível naquele momento para realizar o vôo. As desculpas evasivas e desencontradas se repetiram ao longo das mais de dez horas, chegando ao ápice com o descontrole (totalmente compreensível) de um dos passageiros que acabou sendo duramente repreendido e ameaçado pelos policiais presentes do aeroporto. Neste momento um dos convidados para o lançamento do meu livro em Buenos Aires precisou intervir para que não acontecesse algo pior. O seu delito? Lutar pelo direito de todos os passageiros que esperavam um posicionamento claro, transparente da empresa e um tratamento digno dos funcionários.
Neste momento tive que controlar minha angústia e encontrar forças para tranqüilizar (ou melhor, tentar) uma família de 11 pessoas de João Pessoa que estava esperando pelo embarque e um outro passageiro que já tinha viajado 40 horas de ônibus de Bariloche até Buenos Aires e estava a beira de um colapso nervoso.
A inexistência de um plantão jurídico no aeroporto argentino me fez lembrar o recém-acordo firmado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o Conselho Geral de Advocacia Espanhola que garante assistência jurídica a brasileiros e espanhóis nos aeroportos da Espanha e do Brasil. No Brasil, desde o ano passado, a partir de uma medida imposta pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) as companhias aéreas têm que designar representantes para atuar na conciliação de problemas com consumidores nos aeroportos: Galeão e Santos Dumont, no Rio de Janeiro, Congonhas e Guarulhos, em São Paulo, e Juscelino Kubitschek, em Brasília já contam com Juizados Especiais. Os juizados funcionam 24 horas por dia em salas cedidas pela Infraero onde atuam funcionários das Justiças estaduais.
Infelizmente em Buenos Aires, cidade que amo tanto e onde sempre fui tão bem recebida, não existe este apoio jurídico nos aeroportos e ficamos totalmente a mercê da empresa Aerolíneas Argentinas. É preciso chamar atenção que isto aconteceu em pleno mês de férias escolares e no meio de uma competição esportiva internacional que ainda está acontecendo na Argentina, a Copa América de Futebol. Ou seja, o aumento dos vôos era previsível e deveria ter sido organizado mesmo com os problemas causados pelas cinzas dos vulcões. E mais do que isso, os funcionários devem ser preparados e capacitados para enfrentar situações como esta.
Sinceramente, espero que os visitantes que o Brasil irá receber na Copa do Mundo em 2014 e nas Olimpíadas de 2016 encontrem um pessoal devidamente capacitado (não apenas os funcionários das companhias aéreas) para recebê-los, com boa vontade para resolver seus problemas, para tornar o mais agradável possível sua permanência no país e que acima de tudo, jamais os exponham a uma situação tão degradante quanto tivéssemos que suportar no aeroporto de Ezeiza.
Para isso é preciso unir forças.
E felizmente temos muitas pessoas que querem o melhor para o Brasil e desejam o mesmo para todos que visitam nosso País e já estão se mobilizando com relação aos eventos esportivos internacionais que acontecerão aqui. Como é o caso da Associação dos Advogados do Ceará que realização em agosto um evento para discutir as implicações jurídicas da Copa de 2014. Aliás, o Ceará é um estado que além de dar muitos bons exemplos que deveriam ser seguidos pelos outros estados brasileiros, é a terra de um incansável batalhador pelos Direitos Humanos, o
Cara Tânia,
ResponderExcluirLamentável a situação vexatória pela qual você e dezenas de outros passageiros deste horrendo vôo da Aerolíneas Argentinas passaram no último 15 de julho. Penso que a preocupação em acompanhar a evolução dos preparativos para a Copa de 2014 passa também pela necessidade de monitorar o fortalecimento de nossa rede viária e aeroviária a fim de evitar que mais pessoas sejam perdidas em nossas péssimas estradas ou sejam humilhadas em nossos saturados aeroportos. Atenta ao fato, nossa Coordenadoria Estadual de Direitos Humanos está irmanada com a Secretaria Especial da Copa trabalhando antecipadamente para evitar que esses e outros problemas de ordem social ocorram e venham a prejudicar o brilho do espetáculo. Deixo aqui minha solidariedade, lembrando-lhe de que se você já estava embarcada, a Aerolíneas Argentinas tem o dever de indenizar-lhe pelos constragimentos sofridos. Levarei seu comentário ao conhecimento da Associação dos Advogados do Ceará. Um abraço.