Nada, realmente nada, que se faz à natureza fica impune. Os seres humanos não podem se esquecer disso nunca.
A seca que atinge o norte da Europa desde o início da primavera poderá não ter nada de excepcional nas próximas décadas. Segundo os primeiros resultados do projeto Climsec, publicados na quinta-feira (30) em Toulouse (Haute-Garonne), a França enfrentará durante todo o século 21 secas cada vez mais frequentes e intensas.
No primeiro terço do século, as mudanças identificadas pelos diferentes modelos serão variáveis e pouco nítidas” quanto aos déficits de chuvas, observam os autores desses trabalhos, coordenados pela Météo-France. E isso mesmo que “a probabilidade de aparecimento de seca seja maior, independentemente da estação”.
Por volta de 2050, “a evolução do regime pluviométrico continuará pouco perceptível”, mas “o ressecamento dos solos superficiais se intensificará e fenômenos pouco comuns em termos de extensão espacial e de intensidade começarão a aparecer em toda a metrópole”.
No último quarto do século, em compensação, “déficits pluviométricos mais fortes aparecerão, principalmente no verão.” Acima de tudo, “as secas dos solos superficiais poderão se tornar extremas na maior parte do território”, e isso “praticamente sem volta à situação normal”, ou seja, aquela que prevalece sob o clima atual.
Em relação a este último, “são as regiões que têm em média os solos mais úmidos hoje, sobretudo o Noroeste e o Nordeste, que poderão ter no final do século as maiores evoluções”, explicam os autores do estudo. A magnitude dos efeitos constatados varia em função dos modelos utilizados, mas também de acordo com a quantidade de gases de efeito estufa que serão emitidos ao longo do século.
Pela primeira vez, esses trabalhos não tratam unicamente das chuvas ou da vazão dos cursos d’água. Eles permitem também analisar a evolução da umidade dos solos. Para isso, os autores construíram um índice – um simples número, positivo ou negativo – capaz de descrever essa propriedade dos solos, crucial para muitas atividades humanas, da agricultura até as obras públicas.
“No futuro”, acredita Jean-Michel Soubeyroux, da direção de climatologia da Météo-France, coordenador desse trabalho, “a evaporação dos solos poderá ser preponderante em relação aos déficits pluviométricos ou a uma baixa na vazão dos cursos d’água.”
Além disso, a umidade dos solos superficiais serve como “amortecedor” em caso de onda de calor. Solos ressecados aumentam o impacto dessas canículas. E não é tudo: quando a terra está seca demais, a falta de evaporação também pode reduzir localmente as chuvas.
Ao contrário de outros parâmetros mais simples (temperatura, pressão, chuvas), até hoje não existia um índice padronizado para descrever a umidade dos solos. Ao analisar retrospectivamente o conjunto das observações meteorológicas feitas no território metropolitano desde 1958, os pesquisadores conseguiram reconstruir sua história. É essa reconstrução que permite afirmar o caráter excepcional da seca este ano. “Agora temos uma capacidade de diagnóstico e de comparação que não tínhamos até alguns meses atrás”, observa Soubeyroux.
Já teria começado a evolução na direção de mais secas previstas para o século atual, em razão do aquecimento global? “Se olharmos a evolução das temperaturas nos cinquenta últimos anos, vemos claramente uma elevação. Mas se olharmos as chuvas, não há uma tendência clara”, responde o climatólogo. “Em compensação, se observarmos a umidade dos solos, distinguimos bem uma tendência na última metade do século, de solos mais secos. E isso na França como um todo, o que é coerente com aquilo que se espera no contexto da mudança climática”.
No entanto, diz Soubeyroux, é “complicado concluir” que essa tendência, notada desde 1958, seja realmente o início do sinal esperado, causado pelo aquecimento climático. Trabalhos recentes mostraram, por exemplo, que uma lenta oscilação natural das temperaturas do Atlântico Norte, em um período de cerca de quarenta anos, tem uma influência determinante sobre o clima europeu, mas também sobre a pluviometria na África Ocidental, por exemplo...
Assim, as grandes secas no Sahel, nos anos 1970 e 1980, foram por vezes atribuídas erroneamente ao aquecimento. Ora, desde meados dos anos 1990, a região vem recebendo mais chuvas.
Da mesma forma, as séries de dados mais longas disponíveis na França às vezes relativizam o que parece excepcional. Ao longo das últimas cinco décadas, o ano que teve o mais considerável déficit de chuvas foi 1976. O verão atual, no entanto, poderá lhe tomar esse primeiro lugar. “Mas se olharmos mais longe, até o início do século, percebemos que 1921 provavelmente foi ainda pior desse ponto de vista”, explica Soubeyroux. “Mas esses trabalhos ainda estão em andamento.”
Reportagem de Stéphane Foucart para o jornal francês Le Monde
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lemonde/2011/07/02/as-secas-serao-mais-intensas-e-mais-frequentes-na-franca.jhtm
Tradução: Lana Lim
foto:http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lemonde/2011/07/02/as-secas-serao-mais-intensas-e-mais-frequentes-na-franca.jhtm
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