24/06/2011

Espanha e Brasil promovem rede mundial de doação de alimentos



Espanha e Brasil se propõem generalizar um tipo de cooperação internacional para atender à crise alimentar que conseguiu reduzir significativamente o custo dessas operações e incorporar novos países como doadores de ajuda. Em 2009, através de uma conversa informal entre o ex-presidente Lula da Silva e o primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero, o Brasil solicitou à Espanha ajuda para dedicar à ajuda internacional 40 mil toneladas de alimentos, procedentes de seu bem-sucedido programa Fome Zero. O Brasil precisava de um parceiro experiente em um âmbito que até então não fazia parte de sua política externa. O resultado foi a maior operação logística já feita pela Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (Aecid). O órgão espanhol se encarregou de conseguir o transporte dessa gigantesca quantidade de arroz, milho e leite em pó para o Haiti, Cuba e Honduras, que acabavam de ser atingidos pelos furacões Ike e Gustav.
Algo aparentemente tão óbvio como levar comida de onde sobra para onde falta não é o modo habitual de operar nas crises humanitárias. Normalmente, o Programa Mundial de Alimentos (PMA) compra a comida de um intermediário internacional especializado. Nesse caso, os alimentos eram doação de um país e a logística, doação de outro. O PMA se encarrega da distribuição no país de destino. Essa nova operação foi chamada de irmanação ou triangulação. A consequência direta, segundo cálculos da Aecid, é que com o mesmo investimento se conseguiu três vezes mais impacto humanitário. A Espanha gastou 5 milhões de euros nos navios. A comida doada pelo Brasil estava avaliada em 11,32 milhões de euros.
O diretor da Aecid, Francisco Moza, afirmou na semana passada que o Brasil é um "parceiro fundamental para a cooperação espanhola" e que as operações de irmanação serão apresentadas na próxima reunião do G-20 como exemplo de cooperação. A Espanha criou um fundo específico para essas operações de 10 milhões de euros, que Moza apresentou na segunda-feira passada ao Programa Mundial de Alimentos.
Diante do G-20 será apresentado um projeto piloto para que a Espanha seja sede de um armazém mundial de alimentos para cobrir crises no oeste da África. O armazém ficaria em Las Palmas (Canárias), já que é o único porto profundo da região, explicam no Departamento de Atenção Humanitária da Aecid. Isso permite transportar em grandes navios graneleiros, o que reduz os custos. Esse depósito, que seria alimentado pelos países doadores, seria o primeiro de uma série de armazéns mundiais de excedentes alimentares doados. Essa rede de estoques evitaria um corte no abastecimento.
O programa Fome Zero do Brasil estabeleceu uma rede que permitia levar alimentos de agricultor para agricultor dentro do país. Essa ideia, transferida para o plano internacional, permite que países surpreendentes assumam o papel de doadores. O próprio Sudão, que recebe ajuda alimentar, foi doador de um excedente de quase 9 mil toneladas de sua colheita de sorgo no início deste ano. Foram distribuídas na Etiópia. No ano passado a Espanha ofereceu a logística para levar 7 mil toneladas de arroz da Tailândia para o Haiti. Desde 2009 a Espanha gastou 15 milhões de euros em operações triangulares.
O próximo projeto de irmanação começa dentro de um mês e meio na Somália, "o pior contexto humanitário do planeta", segundo o diretor do Departamento de Atenção Humanitária, Pablo Yuste. Será uma operação de quatro lados. A comida volta a ser oferecida pelo Brasil. Os EUA financiarão o transporte para a Somália e a Espanha pagará parte da operação no interior do país junto com o PMA.


Reportagem de Pablo Ximénez de Sandoval para o jornal espanhol El País
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/elpais/2011/06/22/espanha-e-brasil-promovem-rede-mundial-de-doacao-de-alimentos.jhtm
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
foto: fabianovidal.com

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