13/02/2011

A responsabilidade é de todos

O dia amanheceu nublado, mas o sol já começou sua luta contra as nuvens cinzas que tentam impor sua presença. Porém é em vão. Ainda estamos no verão e o sol vence esta disputa em poucas horas. Enquanto o regente do signo de Leão trava sua batalha pela soberania, observo flores delicadas que mesmo sofrendo com as altas temperaturas desta estação parecem resistir, pois mantêm a esperança na vinda do outono que está se aproximando e promete temperaturas mais amenas, aumentando a expectativa de permanecerem vivas.
Olhar as flores me leva a divagar sobre alguns dos principais fatos que ocorreram no Brasil e no mundo no primeiro mês de janeiro. No Brasil, a posse da primeira presidente mulher foi ofuscada pela tragédia na região serrana do Rio de Janeiro, com mais de 900 mortes e milhares de vítimas. Vítimas estas que levarão para sempre cicatrizes que não irão desaparecer com a construção de moradias populares ou com as doações que até hoje não param de chegar de todo o País. Doações, aliás, que embora muito bem-vindas não são suficientes nem substituem um olhar, um gesto de afeto, uma conversa e outras ações que visam a recuperação da dignidade destes seres humanos, destroçados em todos os sentidos.
Estive neste local da maior tragédia ambiental ocorrida no Brasil em várias ocasiões em janeiro e confesso que voltei muito amargurada de lá. Não apenas pelo cenário encontrado (o que já seria um motivo suficiente), mas pela ausência de uma verdadeira compaixão em várias situações que prefiro não citar para não causar constrangimento naqueles que entendiam que o conforto principal vinha no zelo, no aconchego, nos minutos de conversa necessários para as vítimas conseguirem colocar para fora seus dilemas e assim aliviar a alma e o coração.
Pensei também, enquanto observava a supremacia do sol e a resistência das flores, nas revoltas ocorridas em janeiro (e que se prolongam em fevereiro), em alguns países árabes, no imutável e constante tratamento desumano que recebem os imigrantes dos países pobres, das matanças em nomes de ideologias e que não passam de desculpas para a manutenção do poder, das catástrofes naturais, das guerras.....Ano novo e notícias velhas que se repetem em um eterno ciclo de destruição e recomeço.
Penso que ao contrário do que muitos afirmam de forma convicta, não é o momento de agirmos como as nuvens cinzas que se abatem e se afastam diante da pressão do astro rei. O momento é de unir forças, reunir conhecimentos e lutar por um objetivo comum.  Hoje meu chamado é especial para o segmento da construção civil, incluindo aí os fabricantes de telha, cimento, aço....os engenheiros, arquitetos, projetistas....as universidades que formam estes profissionais, o setor público, privado e a sociedade civil de uma forma geral. Um chamado para o Brasil e o mundo.
Meu chamado envolve duas frentes de batalha: a primeira delas, o envolvimento urgente e responsável para buscas de soluções habitacionais que busquem alternativas em longo prazo e não apenas para oferecer respostas pontuais para dilemas momentâneos, mas que visem uma mudança profunda na relação ser humano e meio ambiente. A segunda delas objetivando a reintegração dos presos na sociedade por meio da reinserção no mercado de trabalho neste setor.
Não existem outras opções para quem, como eu, percebe o mundo e as pessoas por meio de uma visão holística, que busca compreender o indivíduo na sua integralidade e não segmentado como querem muitos. O meio ambiente chegou ao seu  limite de sofrer arbitrariedades do ser humano e não responder. O ser humano chegou ao seu limite de sofrer arbitrariedades de outros seres humanos e calar-se. As respostas (gostemos ou não, estejamos preparados ou não) já começaram a chegar e se não agirmos, não será mais possível descansarmos em berços esplêndidos em nossos travesseiros de penas de ganso impunemente. E vamos merecer isso.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela visita e pelo comentário!