Indicado ontem como o próximo secretário-geral das Nações Unidas, o português António Guterres (foto acima), 67 anos, tornou-se conhecido nos altos círculos diplomáticos quando lidava com o tema dos refugiados, um dos mais urgentes na agenda global hoje. A votação formal ocorreu no Conselho de Segurança da ONU.
Os 15 integrantes do Conselho escolheram Guterres por aclamação para o cargo de secretário-geral. A decisão ainda precisa ser referendada em votação pelos 193 Estados-membros na Assembleia Geral da ONU.
"Foi uma escolha magnífica", disse o atual secretário-geral Ban Ki Moonembaixador da Rússia na ONU, Vitaly Churkin nesta quinta-feira. De acordo com as Nações Unidas, "esta foi a primeira vez que o processo de escolha do secretário-geral foi totalmente aberto, com a realização de debates públicos e diálogos com a Assembleia Geral".
"Como o nono homem a servir como secretário-geral, Guterres terá a responsabilidade de incluir, apoiar e empoderar as meninas e mulheres do mundo. Há muito trabalho pela frente e me empenharei até o último dia do meu mandato trabalhando por elas", afirmou Ban.
Entre 2005 e 2015, o português dirigiu o Acnur, agência da ONU responsável pelo assunto. Nesse período, promoveu uma série de reformas que aprimoraram a atuação da agência, segundo diplomatas.
Hoje o Acnur é considerado um dos órgãos mais funcionais e bem sucedidos da ONU, organização frequentemente criticada pelo excesso de burocracia e pouco impacto na vida das pessoas.
Uma de suas principais ações à frente da Acnur foi ampliar o número de funcionários nas áreas com mais refugiados para melhorar o atendimento in loco.
Nascido em Lisboa e formado em física e engenharia elétrica, Gutérres foi primeiro-ministro de Portugal entre 1995 e 2002 pelo Partido Socialista, o que não impediu que partidos portugueses conservadores apoiassem sua candidatura à secretaria-geral da ONU (muitos trataram o pleito como uma questão nacional, acima de questões partidárias).
Enquanto ocupava o cargo, chefiou por um curto período o Conselho Europeu, órgão que reúne os chefes de Estado e governo da União Europeia. Fluente em inglês, francês e espanhol, sempre transitou bem entre os colegas do continente.
Ele começou sua carreira em meio à Revolução dos Cravos, movimento que pôs fim o Estado Novo português (1932-1974), e foi um dos principais líderes do nascente Partido Socialista.
Em 1992, foi nomeado vice-presidente da Internacional Socialista, associação formada por vários partidos socialistas, trabalhistas e social-democratas.
Diplomatas dizem que, ao contrário do atual secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, Guterres é carismático e tem força política.
"É alguém ouvido e respeitado, com capacidade de resistir às decisões das grandes potências", diz à BBC Brasil um diplomata brasileiro nos EUA.
Segundo o diplomata, Guterres se aproxima mais do perfil de Kofi Annan, ganês que chefiou a ONU entre 1997 e 2006 e enfrentou a maior potência global, os Estados Unidos, ao se opor à Guerra no Iraque.
O Brasil não endossou oficialmente a candidatura de Guterres para não melindrar a Argentina, que concorria ao posto com sua chanceler, Susana Malcorra.
Diplomatas que acompanharam a seleção de Guterres dizem que, diferentemente de pleitos anteriores, desta vez a cotação de um nome se deu a partir de um consenso "de baixo para cima".
O Conselho de Segurança da ONU, órgão composto por cinco membros permanentes e dez rotativos (o Brasil hoje está sem assento no órgão), realizou várias sabatinas com os postulantes ao cargo.
O desempenho de Guterres nesses encontros foi consolidando seu favoritismo, e ele passou a contar com o apoio de países africanos e asiáticos, além da França. O Reino Unido, que inicialmente resistia à candidatura, acabou por aceitá-la para não ficar isolado.
Um diplomata brasileiro diz que, além da experiência de Guterres com refugiados e de suas qualidades pessoais, também pesou em sua escolha o desejo do presidente Barack Obama de que a ONU tivesse um secretário-geral forte.
O favoritismo de Guterres, por outro lado, frustrou a expectativa de muitos de que a ONU tivesse sua primeira secretária-geral mulher. Campanhas foram organizadas em apoio às várias mulheres concorriam ao cargo, entre as quais a argentina Susana Malcorra, a búlgara Irina Bokova e a neo-zeolandesa Helen Clark.
Reportagem de João Fellet
fonte:http://www.bbc.com/portuguese/internacional-37567938#orb-banner
foto:https://escrevergay.com/tag/antonio-guterres/
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