A crise hídrica pela qual uma parte do Brasil vem passando pode ter reflexos severos na saúde da população. Crises de asma, rinite, sinusite, infecções urinárias e cálculos renais são alguns dos problemas que podem ser intensificados em períodos de pouca chuva e racionamento. A degradação do meio ambiente e a gestão da água como recurso inesgotável tiveram grande influência na crise, mas outro fator de grande importância para o quadro está relacionado com alterações climáticas. A seca severa que atinge a Região Sudeste do Brasil é considerada pelos meteorologistas um fenômeno raro e muito difícil de ser previsto.
No ano de 2013, houve uma estiagem severa em boa parte da região sudeste do país: São Paulo vem registrando a maior seca dos últimos 84 anos, com chuvas muito abaixo da média normal. Na região do sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento de boa parte de São Paulo, já sofre há três anos com escassez de chuvas no verão. A falta de água não causa apenas incômodos cotidianos: a água é fundamental para a manutenção dos sistemas de saúde. A ausência de chuvas também modifica o clima, tornando o clima mais seco e potencializando problemas de saúde.
De acordo com o pneumologista Jairo Sponholz, o principal problema relativo ao ar muito seco está justamente no fato de que essa situação acaba exigindo um trabalho muito maior das vias aéreas, principalmente do nariz. “Muita gente apresenta sangramento nasal nessas épocas, porque o fluxo de sangue acaba sendo maior para compensar a perda de umidade do ar. Quando está muito seco é natural que ocorra um acúmulo de poeira no ar. Essa situação causa crises de asma em quem tem alergia, causa também crises de rinite e sinusite. Além disso, ainda favorece a doença pulmonar obstrutiva crônica”, explica.
Outro problema apontado pelo especialista é que nessas situações, um fenômeno comum é o da inversão térmica – principalmente nos grandes centros urbanos. Esse processo acontece quando uma camada de ar quente impede o ar frio de circular, provocando uma alteração na temperatura e fazendo com que a camada de ar fria fique presa próxima à superfície. “Essa barreira de ar quente faz com que haja uma concentração muito grande de poluentes no ar. Você acaba tendo um ar muito sujo, ofertando muito mais trabalho para o nariz”, aponta.
Para quem sofre de problemas como rinite ou sinusite, a situação de tempo seco pode ser ainda mais agressiva. Para Sponholz, isso se torna ainda mais complicado quando os portadores dessas doenças não fazem o acompanhamento adequado. “Rinite, por exemplo, é uma doença crônica, você trata sempre. O problema está nos pacientes acharem que só precisam tratar quando estão em situação de sofrimento com a doença. Quando chegam as épocas de seca, as pessoas que não estão com o nariz tratado sofrem mais ainda. É fundamental também que as pessoas busquem sempre se hidratar”, indica.
Sponholz lembra também que ambientes diferentes merecem atenção especial, como é o caso de locais com ar condicionado ligado o tempo todo, como escolas e escritórios. O pneumologista explica que nesses locais a umidade é ainda menor e que as pessoas devem ficar atentas à hidratação. “É preciso prestar atenção em como se orienta professoras em creches, gestores de grandes escritórios, no sentido de que sintomas respiratórios precisam ser tratados previamente. A orientação é que quando as pessoas apresentarem aumento de tosse e expectoração já procurem orientações do seu médico, para que não desenvolvam uma crise mais severa”, explica.
Serviços básicos
Um cenário de escassez de água é absolutamente impensável para o funcionamento de serviços básicos de saúde. O diretor técnico do hospital Barra Day, Rafael Zdanowski, lembra que basicamente tudo dentro de um hospital envolve água, desde a higiene básica do paciente até a parte da lavanderia. “Não existe a menor possibilidade de um hospital funcionar sem água. Você racionar significa reduzir quantidade de cirurgias e de leitos. Isso tem um impacto muito grande não só na questão econômica do faturamento de hospitais particulares, mas na questão de saúde pública de forma mais ampla”, conta.
No Sudeste, os mananciais mais afetados pela seca são os que abastecem a região da Grande São Paulo. Para tentar garantir o abastecimento, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) tem adotado algumas medidas que deverão continuar em vigor até a recuperação dos reservatórios. Uma dessas medidas é o· uso de 182,5 bilhões de litros de água da reserva técnica das represas Jaguari/Jacareí e Atibainha, que compõem o Sistema Cantareira, desde 15 de maio. Em novembro, a Sabesp começou a utilizar a segunda cota da reserva técnica, de 105 bilhões de litros.
De acordo com a Sapesp, sempre que há interrupção de abastecimento em hospitais, escolas e creches são destinados caminhões-pipa para fazer a entrega de água nestes locais. Zdanowski aponta que em toda situação de racionamento de qualquer coisa é papel do Estado realizar um gerenciamento de crise adequado, de forma que os serviços básicos não sejam atingidos. “Serviços de saúde e de educação são talvez o que o Estado deva priorizar. Muita coisa pode ser feita antes de chegar nesse ponto, como um racionamento comercial. A última coisa que deve entrar em racionamento definitivamente são os hospitais”, aponta.
Falta de água para crianças
Para crianças, situações de seca e falta de água exigem ainda mais cuidados. Segundo o pediatra Mario Novais, que atua nos Hospitais Daniel Lipp e Barra Day, os problemas com a diminuição do acesso à água vão desde a parte da higiene até a ingestão reduzida de líquidos. “Com a economia de água, às vezes os hábitos de higiene acabam não sendo os mais adequados. O começo do verão facilita a contaminação de alimentos e, quando isso se associa aos hábitos de higiene prejudicados, temos um quadro com maior número de infecções”, explica.
Novais conta ainda que, em crises hídricas, é comum que as pessoas passem a ingerir menos água e que isso é complicado não só para crianças, como também para adultos por conta de problemas de cálculos renais. “Isso acontece com pessoas que ficam o dia todo ocupadas e bebem pouca água, ou que estão em uma dieta com quantidade muito grande de proteínas. Adolescentes, por exemplo, que tomam suplementos como o whei protein devem ingerir ainda mais água. Quando a gente tem uma restrição de alguma maneira na água, isso acaba se tornando um problema”, alerta.
Reportagem de Rafael Gonzaga
fonte:http://www.jb.com.br/ciencia-e-tecnologia/noticias/2014/11/30/crise-hidrica-pode-ter-reflexos-na-saude-e-agravar-doencas-como-asma-e-rinite/
foto:http://deolhonotempo.com.br/brasil-recusa-racionamento-de-energia-apesar-de-crise-hidrica/
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