12/12/2014

Ativistas negras defendem abolicionismo penal

Negras, analfabetas e jovens. Quadro feminino do sistema prisional do Brasil chama a atenção para o debate do atual modelo das prisões brasileiras.


A maioria das mulheres presas no Bra­sil tem características em comum. Além de serem negras (61%), elas têm entre 18 e 30 anos. De acordo com o Conselho Na­cional de Justiça (CNJ), 65% ou são anal­fabetas ou não possuem o ensino funda­mental completo. A situação permanece inalterada mesmo depois do ingresso no sistema penitenciário, contrariando o ar­tigo 18 da Lei de Execução Penal (LEP), que torna obrigatório esse nível de esco­laridade às pessoas detidas.
De acordo com o Departamento Peni­tenciário Nacional (Depen), nos últimos 12 anos a população carcerária feminina aumentou 256%. Em comparação, o au­mento do número de homens presos foi de 130%, quase a metade no mesmo pe­ríodo. Atualmente, as mulheres repre­sentam cerca de 7% da população carce­rária brasileira, o que corresponde apro­ximadamente 36 mil presas.
Diante desses números, a advogada, pesquisadora e militante da UNEafro Brasil, Enedina do Amparo Alves, não tem dúvidas de que o encarceramento também é uma forma de genocídio. Se­gundo ela, a própria privação da liber­dade, a questão das torturas e o número de mulheres negras que estão presas evi­denciam esse problema.
“Temos que começar a pautar essa questão do encarceramento como geno­cídio e também a questão do abolicio­nismo penal, porque o encarceramento não é para combater a criminalidade”, ressalta.
A mesma opinião é compartilhada por Katiara Alves de Oliveira, integran­te do Kilombagem. Ela afirma que a pri­vação de liberdade é também uma for­ma de matar. “Primeiro porque o Brasil tem um encarceramento massivo. E se nós somos a maior população negra fo­ra da África, isso significa que, desde a abolição, a forma de lidar com o negro sempre foi exterminando ou prenden­do”, explica.
Última da fila depois de ninguém
Um problema que retrata a desigualda­de social e de gênero, e que também des­mistifica a chamada “democracia racial”. Porém, ainda é um assunto pouco deba­tido, por conta do machismo, como ex­plica Katiara.
“Se ser homem preso ou ex-presidiário vai ser uma discriminação que ele vai le­var para o resto da vida, a mulher é vio­lentada psicologicamente no sentido de ter um abandono da família e dos ami­gos. Porque nas filas das penitenciárias masculinas estão cheias de mulheres. Agora, nas femininas, não tem apoio de ninguém da família, porque é uma ver­gonha pelo ideal de ser mulher, um ide­al longe de ter uma vida ligada ao crime, porque é uma coisa repudiada.”
Enedina vai na mesma linha de pensa­mento e ainda acrescenta que as mulhe­res negras são oprimidas pelos próprios homens negros.
“No caso das mulheres, isso é muito mais forte porque a gente já está numa camada de opressão maior, não descon­siderando a opressão que os homens ne­gros sofrem, mas nós mulheres negras somos inclusive oprimidas pelos homens negros. Então a gente é a última da fi­la depois de ninguém, como disse Sueli Carneiro”, conclui.

Reportagem de José Francisco Neto
fonte:http://www.brasildefato.com.br/node/30776
foto:http://conversadefeira.blogspot.com.br/2012/07/mulheres-presas-por-furto-de-bagatela.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela visita e pelo comentário!