18/08/2014

'Teremos casos importados, mas não locais', diz infectologista sobre ebola


Onze países do Oeste da África decidiram pela adoção de uma estratégia única de contenção do ebola. O vírus já matou mais de 1.000 pessoas desde o começo de 2014, sendo esse o pior surto da doença já observado na história. Na Libéria, Guiné e Serra Leoa mais de 700 pessoas já foram infectadas. A política de combate comum entre os países funcionará com a abertura de um centro sub-regional de controle na Guiné, para que seja coordenado o apoio técnico. Os países que integraram a reunião, além da Guiné, Serra Leoa e Libéria, foram Costa do Marfim, Gâmbia, Gana, Mali, Senegal, Guiné Bissau, República Democrática do Congo e Uganda.
A preocupação com a doença é muito alta: mais de 150 especialistas já foram enviados aos locais onde ocorre a epidemia, na tentativa de conter o surto. Além disso, a Organização Mundial da Saúde teriam dito que a epidemia de ebola não deverá ser controlada em breve e que o surto poderá durar ainda muitos meses. Sobre a possibilidade de a epidemia se espalhar, a OMS teria dito ser impossível haver uma resposta clara sobre isso.
Apesar de o ebola não ser transmitido por vias aéreas, uma das principais preocupações no que diz respeito à transmissão da doença está no ar. A grande movimentação de pessoas através de vôos internacionais tem gerado especulações sobre a possibilidade de a doença atravessar a África e atingir outros lugares, como países da Europa, os Estados Unidos – ou até mesmo o Brasil.
Dados da Polícia Federal sobre a entrada de estrangeiros no Brasil mostram que durante o ano de 2014, 208 imigrantes da Guiné, da Libéria e de Serra Leoa passaram pelo país – 92 da Guiné, 52 da Libéria e 64 de Serra Leoa. Se forem contabilizados também os turistas que vieram dos outros oito países do Oeste da África que participaram da reunião deliberando uma ação comum de combate ao ebola, o número de entrada de imigrantes sobe para 2.747.
O Ministério da Saúde declarou em coletiva de imprensa que, apesar da entrada de turistas vindo desses países, não há risco de transmissão desta doença no Brasil no momento. O risco de disseminação seria alto somente nos países fronteiriços e moderado no restante do continente africano. No restante do mundo, a OMS classifica o risco como baixo. No último dia 8, o Governo Federal oficializou uma doação de R$ 1 milhão à OMS, para auxiliar e reforçar ações de combate ao ebola.
De acordo com o infectologista Alberto Chebabo, presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro (SIERJ), as expectativas da comunidade médica são as de que o ebola, como epidemia, deva continuar concentrado na África. “É muito pouco provável que a epidemia ocorra em outros continentes. Mesmo na África é provável que aconteçam casos em outros países, mas sem epidemias. Existe uma expectativa de que o vírus chegue a países mais desenvolvidos, como a África do Sul, mas sem que haja uma evolução tão grave. O restante do mundo também deverá ter casos esporádicos trazidos por pessoas que vêm da África, mas vão ser contidos. Teremos casos importados, mas não locais”, acredita.
Contudo, ainda assim procedimentos foram anunciados para reforçar as ações de vigilância e monitoramento da doença no Brasil. Uma das medidas é, desde o último dia 9, a veiculação de uma mensagem sonora nos aeroportos brasileiros recomendando procurar atendimento médico os passageiros que regressarem de vôos internacionais com febre, vômito, diarreia, sangramento, manchas no corpo ou tosse, além de informarem ao profissional de saúde quais foram os países em que estiveram.
O medo de uma epidemia virar uma pandemia
Desde o início do século XX, algumas doenças assustaram a população em escala global. Casos como o surto de febre amarela na Etiópia, entre 1960 e 1962, deixaram cerca de 30 mil pessoas mortas. Outras com casos expressivos mais recentes, como as gripes aviária e suína, derivadas dos vírus H5N1 e H1N1, também deixaram as autoridades de saúde internacionais alertas pela saída do vírus dos países onde foram identificados pela primeira vez.
As mortes ocasionadas pelo ebola trazem à memória casos históricos e trágicos, como a gripe espanhola, considerada por muitos o pior caso epidêmico da história. Durante a pandemia de 1918, só no Rio de Janeiro 14.348 mortes foram registradas, além de cerca de 2 mil em São Paulo. Apesar de serem números bastante alarmantes, o infectologista Alberto Chebabo garante que comparar casos como o da gripe espanhola com a ideia de uma pandemia atual, apontariam para uma capacidade de resposta muito maior. “Temos medicações específicas contra o vírus, produção rápida e em larga escala de vacinas. Todos os avanços da medicina fazem com que você consiga controlar mais rapidamente”, afirma.
Para Chebabo, a questão da vulnerabilidade à doenças contagiosas envolvem duas questões: a facilidade de deslocamento e a entrada do homem em ambiente que anteriormente eram inóspitos. “Hoje você consegue viajar muito mais rápido e o fluxo é muito maior do que era no século passado: isso facilitaria a transmissão de vírus de um lugar para outro. O que antes era localizado, hoje é global. Além disso, a destruição de florestas, a entrada em novos habitats faz com que se tenha contato com novos vírus, e o ebola foi um deles. Isso tem acontecido cada vez com mais frequência e como as pessoas não têm imunidade a esses vírus, acabam acontecendo epidemias”, explica o infectologista.

Reportagem de Rafael Gonzaga
fonte:http://www.jb.com.br/ciencia-e-tecnologia/noticias/2014/08/16/teremos-casos-importados-mas-nao-locais-diz-infectologista-sobre-ebola/
foto:http://noticias.uol.com.br/saude/album/2014/07/16/epidemia-de-ebola-na-africa.htm

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