Medida causa revolta entre profissionais da área e pode fazer com que franceses precisem sair do país para se tatuar.
A partir do ano que vem, os franceses que quiserem uma tatuagem colorida terão que atravessar a fronteira do país. Cerca de 90% das tintas usadas pelos tatuadores foram proibidas por uma portaria do Ministério da Saúde da França, publicada no começo de dezembro, que entra em vigor em 1° de janeiro de 2014. A medida foi baseada no “princípio de precaução” de riscos de infecção, alergia e mesmo câncer e está causando revolta entre profissionais e amantes da tatuagem.
O documento condena 59 corantes usados em diversas tintas e reduz drasticamente as ferramentas de trabalho dos tatuadores, que ficarão limitados ao preto e a apenas um tom de verde e um de azul. “Estamos juntando forças e nos mobilizando para lutar contra esse absurdo”, disse a Opera Mundi Tin-Tin, presidente do Sindicato Nacional dos Artistas Tatuadores.
Instalado no bairro de Montmartre, em Paris, há 30 anos, Tin-Tin é o queridinho das estrelas francesas. Grandes nomes da moda como Jean-Paul Gaultier e Marc Jacobs já passaram por sua agulha. Quando Tin-Tin começou, nos anos 80, eles eram apenas 40 tatuadores profissionais em toda a França. Hoje, já somam 4.000. Um em cada dez franceses tem uma tatuagem e os desenhos coloridos são responsáveis por grande parte da demanda.
“O risco é os tatuadores entrarem na clandestinidade. Como o governo conseguiria controlar todo mundo?”, questiona Tin-Tin, prevendo um problema sanitário. Os estúdios clandestinos arriscam ter menos cuidados com a higiene e assepsia e podem utilizar tintas de pior qualidade, algumas já proibidas há muito tempo.
Outra tendência é os franceses escolherem se tatuar nos países vizinhos, onde as tintas também são controladas, mas não tão severamente. O problema é que boa parte dos estúdios franceses seriam obrigados a fechar as portas.
Em casa
William Leroy, responsável comercial, não pretende sair do país para se tatuar, mas cogita a possibilidade de levar o tatuador para trabalhar em sua própria casa. Leroy marcou sua primeira sessão para dia 19 e dezembro e a previsão seria terminar um grande desenho colorido apenas em março, mas, agora, não sabe mais como vai ser. “É muito difícil conseguir horário com bons tatuadores, o meu está marcado há tempos e agora acontece isso”, lamenta. “Talvez a gente possa começar direto pelas cores e deixar a parte preta para depois”, considera Leroy.
Em artigo publicado no jornal francês Le Nouvel Observateur, o médico dermatologista Jacques Bazex defende a interdição. “Os riscos de infecção são indiscutíveis. Existe intolerância a certas substâncias, principalmente àquelas dos pigmentos coloridos. Linfadenopatias, pseudolinfomas e quelóides já foram assinalados após tatuagens e os pseudolinfomas podem se manifestar apenas 32 anos depois”.
“Sim, há casos de alergia, mas não é por que algumas pessoas são alérgicas ao glúten que vamos fechar todas as padarias”, rebate Tin-Tin no jornal Le Monde.
O princípio de precaução nos produtos de saúde normalmente contrapõe o benefício da droga e os possíveis riscos. Como as tatuagens não trazem nenhum benefício concreto para a saúde, restaram apenas os possíveis riscos na análise.
Mas, para os entusiastas de tatuagens que se manifestam nas redes sociais, o risco vale a pena. Ou, pelo menos, defendem que deveria ser uma escolha individual. Em uma página do Facebook sobre tatuagens, um internauta se diz “pasmo diante da fúria proibicionista do atual governo, que quer proibir os cigarros eletrônicos, a prostituição e mesmo as tatuagens”, fazendo referência a outros projetos de lei da administração do presidente François Hollande. “É ridículo, infantilizante e indigno de uma sociedade liberal”, conlui. Outro usuário sentencia: “Minha tatuagem colorida vai ser feita fora da França ou fora da lei”.
Reportagem de Amanda Lourenço
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