24/12/2013

O bom velhinho existiu mesmo


O espírito do Natal tem ao mesmo tempo uma simbologia simples e outra bastante complexa. A simples é imediata: celebração, presentes, correrias de fim de ano. Na economia, durante a festa natalina, ocorre a recuperação do fraco desempenho dos meses de agosto e setembro, mantendo a curva da geração de empregos e produção ao menos estabilizada.
“O Natal diverge de outras festas completamente. Tem um consumo maior em todas as áreas, com exceção da indústria de turismo. Essa data serve de parâmetro para o fechamento da economia”, explica o economista Felipe Alves dos Santos.
Todavia, a data é marcada por uma história menos materialista e preocupada com dividendos que remete a bondade. Ou seja, o Natal é a época da bondade – e do seu oposto, a avareza.
Ebenezer Scrooge, personagem criado pelo escritor Charles Dickens, encarnado também em O Grinch, da obra do clássico infantil Dr. Seuss, é outra figura que nos sacode devido a exatidão dos sentimentos: Scrooge odeia o Natal, é avarento e abomina a felicidade nesta época do ano. É o oposto – por exemplo – do Papai Noel.
Os dois arquétipos de Natal (bondoso e avarento) convivem juntos guiando o sentimento de quem atravessa esta época do ano.
O bondoso é que se sobressai, nos invadindo com bons sentimentos. Os festejos de Natal são o melhor exemplo do sincretismo religioso: a imagem do Papai Noel é particularmente católica. Por sua vez, a árvore  de Natal coloca em conflito católicos e protestantes.
Conforme o padre Rafael Magul, da Igreja ortodoxa São Nicolau, Papai Noel realmente existiu. Pelo menos sua inspiração. “Existiu um monge chamado São Nicolau. Daí Santa Claus, o nome do Papai Noel. Ele era semelhante ao Papai Noel, em bondade e aparência.”
O padre explica que Nicolau viajava pelo mundo, auxiliando doentes e miseráveis. Existe a lenda que dava presentes, tornando-se muito querido entre os humildes. Pesquisas recentes indicam que o religioso nasceu por volta de 280 d.C., em Patara, na atual Turquia.
Irmãs
Em uma das narrativas, ele é o protagonista de uma ação que salvou três irmãs pobres. Elas seriam vendidas como escravas pelo pai. Mas Nicolau interveio e deu um dote para que as moças pudessem se casar.
A tradição da história fez com que 6 de dezembro, data da morte de Nicolau, tornasse o dia ideal para se casar. A fama dele se manteve até o Renascimento. Chegou a ser o santo mais popular na Europa, devido sua proximidade e relatos ricos.
A Reforma Protestante, todavia, diminuiu o encanto e veneração á sua imagem. Em situação dovergente, a Holanda manteve a imagem do santo como de “bom velhinho”.
A generosidade de Nicolau vem da abastada família em que nasceu. E a recente imagem de Noel remonta ao poema de Clement Clark More (no quadro ao lado).
Poema que originou a figura clássica do Papai Noel
Véspera de Natal
(Clement Clarke Moore)
Era véspera de Natal, e nada na casa se movia,
Nenhuma criatura, nem mesmo um camundongo;
As meias com cuidado foram penduradas na lareira,
Na esperança de que Papai Noel logo chegasse;
As crianças aconchegadas, quentinhas em suas fronhas,
Enquanto rosquinhas de Natal dançavam em seus sonhos;
Mamãe com seu lenço, e eu com meu gorro,
Há pouco acomodados para uma longa soneca de inverno;
Quando no jardim começou uma barulhada,
Eu pulei da cama para ver o que estava acontecendo.
Para fora da janela como um raio eu voei,
Abri as persianas, e subi pela cortina.
A lua no colo da recem-caída neve,
Dava um lustro de meio-dia em tudo em que tocava,
Quando, para meus olhos curiosos, o que apareceu:
Um trenó miniatura, e oitos renas pequenininhas,
(parte lida pelo Adam)
Com um motorista velhinho, tão alerta e muito ágil,
E eu soube, na mesma hora, que era o Papai Noel.
Mais rápido que uma águia vinha pelo caminho,
E assobiava, e gritava, e as chamava pelo nome;
“Agora, Dasher! Agora, Dancer! Agora, Prancer e Vixen!
Venha, Comet! Venha, Cupid! Venham, Donder e Blitzen!
Por cima da sacada! Para o topo do telhado!
Agora fora, depressa! Fora todos, bem depressa!”
Como folhas revoltas antes do furacão,
Sem encontrar obstáculos, voaram para o céu,
Tão alto, acima do telhado voaram,
O trenó cheio de brinquedos, e Papai Noel nele também.
E então num piscar de olhos, ouvi no telhado
O toque-toque e o arrastar dos casquinhos.
Como um desenho em minha cabeça, assim que virei
Descendo a chaminé Papai Noel vinha resoluto
Todo vestido de peles, da cabeça até os pés,
E com a roupa toda manchada de cinzas e carvão;
Um saco de brinquedos em suas costas,
Parecia um mascate ao abrir o saco.
Seus olhos – como brilhavam! Suas alegres covinhas!
Suas bochechas como rosas, seu nariz como uma cereja!
Sua boquinha sapeca curvada para cima como num arco,
A barba em seu queixo tão branca como a neve;
O cabo do cachimbo bem preso em seus dentes,
A fumaça envolvendo sua cabeça como uma guirlanda;
Tinha um rosto redondo e uma barriga grande,
Que sacudia, quando ele sorria, como uma tigela de geleia.
Era gordinho e fofo, um perfeito elfo velhinho e alegre,
E eu ri quando o vi, sem poder evitar;
Uma piscada de olhos e um meneio de cabeça,
Na hora me fizeram entender que eu nada tinha a temer;
Não disse uma só palavra, mas voltou direto ao seu trabalho,
E recheou todas as meias; então virou no pé,
E colocando o dedo ao lado do nariz,
Acenando com a cabeça, a chaminé escalou;
Pulou em seu trenó, ao seu time assobiou,
E para longe voaram, como pétalas de dente-de-leão.
Mas ainda o ouvi exclamar, enquanto ele desaparecia:
“Feliz Natal a todos, e para todos uma boa-noite!”


Reportagem de Welliton Carlos

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