O estímulo do sistema imunológico dos doentes teimava em não ser alternativa à altura para a radioterapia e a quimioterapia. Agora, ele se impõe com os extraordinários resultados práticos de tratamento de tumores malignos.
A revista americana Science, a mais prestigiada publicação científica do mundo, surpreendeu a comunidade de pesquisadores ao dar o prêmio de Avanço do Ano à imunoterapia contra o câncer. Há mais de cinquenta anos surgiu como uma solução mágica a ideia de curar o câncer pela estimulação do sistema imunológico dos doentes. Gradativamente, porém, essa frente de luta ficou em segundo plano, por falta de resultados satisfatórios. Cada descoberta teórica, cada novo estimulante do sistema imunológico sintetizado, produzia enorme esperança, que logo era frustrada pela realidade da prática médica. Foi assim com a vacina anticâncer produzida nos anos 80, a vacina da tuberculose, adaptada por uma série de médicos para se tornar também anticâncer. A terapia é um fracasso na grande maioria dos casos. Mais tarde o mesmo padrão de euforia seguido de decepção se deu com o interferon sintético, que se mostrou capaz de melhorar a resposta imunológica dos pacientes, mas só fez o tumor regredir em poucos casos. Nunca totalmente abandonada, a imunoterapia teimava em não ser alternativa à altura para a radioterapia e a quimioterapia.
Os editores da revista justificaram a escolha da imunoterapia exatamente pelos extraordinários resultados práticos de tratamento de tumores malignos pela estimulação do sistema imunológico. “O que era apenas um conjunto de relatos esparsos foi se encorpando e tomando a forma de evidência científica”, escreveu a Science sobre a cena científica em 2013, ano em que ficou célebre o caso da americana Emily “Emma” Whitehead, que em maio comemorou doze meses de remissão de uma leucemia tratada por imunoterapia. Desde a aprovação do primeiro tratamento imunoterápico, em 1997, nada de animador acontecera. Tudo mudou com o aumento do conhecimento. Descobriu-se que certos componentes do sistema, paradoxalmente, precisam ser inibidos. É o caso da CTLA-4, substância que impede o sistema imunológico de trabalhar sempre com carga máxima. Os melhores resultados vieram de terapias em que essa substância foi inibida, permitindo assim que o corpo se mantivesse em guerra total e permanente contra os tumores. Avalia o oncologista Bernardo Garicochea, do Hospital Sírio-Libanês: “Espero que a imunoterapia ganhe mais espaço e substitua progressivamente outras formas de tratamento mais tóxicas e invasivas”.
Reportagem de Raquel Beer
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