Crianças de cinco e seis
anos que habitam países de renda média ou baixa, como o Brasil, são
influenciadas pelas propagandas de cigarro. Assim, correm um risco maior de se
tornarem fumantes. Apenas no Brasil, 59% das crianças nessa faixa etária
conhecem alguma marca de cigarro. Essa foi a conclusão de um estudo realizado
pela Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, e publicado na última
segunda-feira no periódico Pediatrics.
A pesquisa foi realizada nos
seis países com o maior número de adultos fumantes do globo, segundo dados de
2011 da Organização Mundial da Saúde: Brasil, China, Índia, Nigéria, Paquistão
e Rússia. Os pesquisadores mediram o nível de influência das propagandas de
cigarro nas crianças analisando se elas eram capazes de reconhecer logotipos de
diversas marcas de cigarros. Os resultados foram considerados alarmantes: das
2.243 crianças que participaram do estudo, 68% reconheceram ao menos uma marca
do produto.
O menor percentual foi
encontrado na Rússia, onde 50% dos meninos e meninas identificaram pelo menos
um logotipo. A maior porcentagem do estudo foi apresentada pela China, onde 86%
das crianças que participaram do estudo mostraram-se familiarizadas com as
marcas de cigarro.
Apesar das restrições
relacionadas à propaganda de cigarros no Brasil, das 398 crianças que
participaram do estudo, 236 (59%) afirmaram reconhecer alguma das marcas
presentes no teste. “Isso mostra que a indústria de cigarros consegue driblar a
proibição de comerciais e continua fazendo com que seus produtos sejam
conhecidos pela população”, afirma Jaqueline Issa, cardiologista e coordenadora
do Programa de Tratamento do Tabagismo do Incor.
Segundo a cardiologista, a
principal forma de driblar as restrições é a elaboração de embalagens com cores
e logotipos marcantes, que acabam sendo facilmente associados ao produto. “Por
isso, em países como a Austrália as embalagens de cigarros são neutras, sem
cores nem logotipos. Esse tipo de iniciativa, porém, ainda não existe no
Brasil”, conta.
De acordo com os pesquisadores,
a conclusão do trabalho sugere a necessidade de medidas mais eficazes para
limitar o impacto da publicidade dos fabricantes de cigarro nas crianças. Isso
porque a exposição às campanhas pode estar associada a um aumento da
probabilidade de começar a fumar.
Outro
estudo — No
artigo, os pesquisadores fazem menção a um estudo realizado há 22 anos nos
Estados Unidos, que revelou que crianças de seis anos eram igualmente capazes
de reconhecer na televisão o logotipo da Disney e o dos cigarros ‘Old Joe
Camel’. À época, o estudo levou à regulação das propagandas de cigarro no país,
com o objetivo de proteger os mais jovens.
Os responsáveis pela nova pesquisa
destacam que diante dessas rígidas regulações da publicidade de cigarros e das
campanhas antitabaco nos países industrializados, as empresas do ramo têm
concentrado seus esforços promocionais nos países de baixa e média renda.
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