"A
nossa companhia foi fundada no princípio que poderíamos, sim, vender prisões.
Da mesma forma como se vendem carros, imóveis ou hambúrgueres".
Simples e objetivo, um dos fundadores da CCA Corrections Corporation of
América), responsável pela privatização de dezenas de penitenciárias nos EUA,
define sua área de atuação.
Desde
a inauguração em 1983, a empresa passou a fazer parte do seleto grupo das
multibilionárias dos EUA com um "produto" no mínimo controverso:
prender pessoas. A lógica de mercado é simples: quanto mais presos os centros
penitenciários abrigam, mais verbas federais são repassadas para a CCA e outras
prisões, aumentando gradativamente os lucros. Segundo o instituto Pew
Charitable Trusts, o setor registra recordes consecutivos de lucro
no decorrer dos últimos anos e é o segundo mais rentável aos investidores do
país.
O
maior complexo penitenciário da CCA em Lumpkin, Geórgia, por exemplo, recebe
200 dólares por cada preso todos os dias, rendendo um lucro anual de 50 milhões
de dólares. Além disso, a empresa potencializa os vencimentos cobrando cinco
dólares pelo minuto das ligações telefônicas - provavelmente a taxa por minuto
mais cara do planeta. Os presos que trabalham no local - não importa quantas
horas - recebem um dólar pelo dia trabalhado.
“Prender
pessoas virou um negócio absolutamente lucrativo para iniciativa privada em
especial para os lobistas que vão até Washington para garantir que as leis e a
legislação do país funcionem para garantir que os pobres continuem sendo
enviados ao cárcere”, afirma o cientista político Chris Kirkham ao portal Huffington
Post.
Com a implantação da dinâmica de mercado às prisões, a população carcerária dos
EUA teve um crescimento de mais de 500% - valor que representa 2,2 milhões de
pessoas nas prisões norte-americanas. Os EUA, aliás, abrigam 25% da população
carcerária do mundo.
Assim como Kirkman, ativistas sociais e grupos ligados aos Direitos Humanos acusam
o governo e a iniciativa privada de promover uma “máquina”, que “gera pobres e
marginalizados” para serem enviados à prisão mais tarde. “É um sistema de
encarceramento massivo. Ou seja, você precisa promover a pobreza e não oferecer
suporte – como educação de qualidade. Então, não resta outro caminho a não ser
a criminalidade e, depois, a prisão. É um círculo que ajuda a manter as
penitenciárias privadas lucrando”, afirma o ativista norte-americano Michael
Snyder.
Os EUA gastaram cerca de 300 bilhões de dólares desde 1980 para expandir o
sistema penitenciário. A justificativa oficial de Washington para a
utilização de prisões privadas, reiterada ao longo dos anos, é que compensa
pagar uma quantia per capita às penitenciárias por preso a ter que arcar pelos
custos de manutenção das prisões.
Situação dramática para
negros
Se no contexto geral a política de encarceramento massivo já é crítica para as
camadas populares, quando observado apenas entre os negros, o cenário é ainda
mais dramático: estão presos 40% dos homens negros entre os 20 e 30 anos que
não concluíram o ensino médio. Segundo o instituto de pesquisas sociais Pew
Charitable Trusts, homens negros que não tiveram chance de concluir os estudos
têm mais chances de serem presos do que conseguirem um trabalho.
Segundo dados oficiais, cerca de metade da população carcerária dos EUA é
composta por negros. Em contrapartida, 12% da população norte-americana é
composta por afro-americanos. “A pobreza é uma armadilha para a prisão. E
quem mais sofre com isso são os negros que são estão em desvantagem na
sociedade norte-americana”, afirma o professor da sociologia de Harvard, Bruce
Western.
Reportagem
de Dodô Calixto
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