23/08/2013

Como o mundo deve responder à Síria?


Autoridades da ONU dizem que os supostos ataques com armas químicas, que a oposição síria diz terem matado centenas de pessoas perto de Damasco, são uma "grave escalada", expressão usada pelo vice-secretário-geral da ONU, Jan Eliasson, depois de relatar, em uma reunião de emergência do Conselho de Segurança, os supostos ataques de quarta-feira.
Ativistas de oposição disseram que mais de mil pessoas foram mortas depois que forças do governo lançaram foguetes com agentes químicos nos subúrbios de Damasco, na região de Ghouta, na quarta-feira.
O governo sírio negou as alegações, descrevendo-as como "ilógicas e fabricadas". O Exército sírio disse que a oposição fabricou as acusações para distrair a atenção de pesadas baixas sofridas por suas forças recentemente.
Abaixo, analistas discutem como o mundo deve responder aos últimos acontecimentos.

Alan Mendoza, fundador da Sociedade Henry Jackson

Os últimos acontecimentos apenas confirmam algo que eu acreditava há muito tempo: que nós devemos intervir contra (o presidente sírio Bashar al-Assad) nesse conflito.

Esses acontecimentos são importantes porque mostram que Assad acredita que pode agir com uma impunidade crescente e escapar literalmente de tudo, de qualquer abuso de direitos humanos, de qualquer violação da lei internacional.

E se não o impedirmos neste ponto, lamentaremos quando ele subir ao próximo patamar.
Agora, a questão é que nós não teremos cooperação internacional porque a China e a Rússia já declararam que apoiam Assad em sua luta.
Então, a ideia de que teremos uma coalizão internacional por meio da ONU para fazer isso simplesmente não vai acontecer. Contudo, é perfeitamente possível que uma "coalizão dos dispostos" se reúna e (uma solução que pode funcionar) seria armar os rebeldes, o que já está acontecendo de forma velada.
Claro, isso implica riscos em termos de quem recebe as armas. Há um grande e crescente componente islâmico entre os acampamentos rebeldes e eles não são obviamente o tipo de pessoas que queremos armar.
Então há que se escolher seus aliados cuidadosamente. Há moderados entre o Exército Livre da Síria, por exemplo, que podem ser os destinatários de armamentos fornecidos de forma legítima. A vantagem disso é fortalecer os moderados entre as fileiras rebeldes, que podem apoiar uma postura pró-ocidente em um governo pós-Assad.
A segunda maneira de intervir neste estágio, que eu penso estar se tornando cada vez mais viável considerando-se o descontentamento relacionado a armar os rebeldes, é usar ataques aéreos contra o regime. Esta é uma medida relativamente barata e, em termos de superioridade militar, nós a possuímos.
A ideia aqui é desgastar sua capacidade militar e forçá-lo a entender que a única maneira de resolver esse conflito é pela negociação, e não com a violência que temos assistido até agora.
Quanto mais isso se arrasta, mais Assad precisa encarar que a total remoção de seu governo acontecerá (ao invés de uma solução negociada). Sua janela de oportunidade está se fechando.

Lama Fakih, pesquisadora da ONG Human Rights Watch

O suposto ataque químico de ontem fornece uma das imagens mais chocantes já vistas nos dois anos de guerra civil na Síria.
Precisamos de uma ação urgente do Conselho Nacional de Segurança e de outros atores internacionais.
Primeiramente, o Conselho de Segurança deve pedir ao governo de Assad acesso imediato da equipe da ONU especializada em armas químicas, atualmente em Damasco, à área atingida, enquanto as evidências ainda podem ser coletadas.
A Comissão de Inquérito da ONU sobre direitos humanos e violação de leis humanitárias também deveria ter acesso ao local.
Ao mesmo tempo, tanto o governo quanto os rebeldes devem liberar a entrada de organizações humanitárias para prestar assistência às vítimas.
E se um dia tiver fim o ciclo de impunidade que alimenta essas mortes, o Conselho de Segurança deveria encaminhar o caso da Síria ao Tribunal Penal Internacional para punir todos os responsáveis por esses crimes de guerra.

Lord Mark Malloch Brown, ex-vice-secretário geral da ONU

Os inspetores de armas químicas da ONU estão apenas a alguns quilômetros da área afetada geograficamente, mas talvez a milhares de quilômetros em termos diplomáticos, porque o Conselho de Segurança tem que pressionar para que tenham acesso ao local.
Nenhum relatório que fabriquem com investigações sobre locais que teriam sido atacados com armas químicas anteriormente terá credibilidade se este último não for investigado.
Temos que chegar a um acordo com os russos e os chineses a partir da questão: "Vamos estabelecer os fatos. Isso foi um ataque de brutalidade extraordinária contra civis cometido pelo governo ou outras pessoas devem ser responsabilizadas?"
E avançar a partir daí.
Em relação à intervenção, podemos fazer uma analogia com a Guerra dos Bálcãs, onde por muito tempo os diplomatas resistiram a qualquer tipo de intervenção. E depois ocorreram eventos como Srebrenica e Sarajevo, que deixaram qualquer hesitação de lado e provocaram uma mudança extraordinária de rumo.

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