26/07/2013

Argentina, Universidade para todos

Das 47 universidades públicas e gratuitas existentes na Argentina, nove foram criadas na última década, para melhorar a oferta de vagas em zonas populosas e economicamente débeis. Além desta expansão, surgiram estratégias de apoio aos alunos, embora a evasão ainda persista.
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Um dos resultados da política de inclusão de amplos setores sociais é que “80% dos novos estudantes são a primeira geração de universitários em sua família”, afirma o secretário de Políticas Universitárias do ministério da Educação, Martin Gill. É uma referência às novas universidades localizadas em Avallaneda, José Paz, Merlo, Moreno e Florencio Varela, alguns dos distritos mais povoados e com maior quantidade de famílias operárias e pobres, na periferia contígua a Buenos Aires.
Além destas, as outras quatro instituições fundadas nos últimos dez anos (período dos presidentes Nestor Kirchner e Cristina Fernandez) estão localizadas nas províncias do Chaco (nordeste), Rio Negro (sul), San Luís (oeste) e Terra do Fogo (extremo sul), onde ainda não havia universidade pública alguma. “A educação superior é um direito, e o Estado precisa garanti-lo”, frisa Gill.
Ele acrescenta: a política de expansão é complementada com maior oferta de bolsas de estudo. “Embora nossas universidades públicas sejam gratuitas, durante muito tempo apenas chegavam a elas os que viviam mais perto de seus campus e tinham melhores condições sócio-econômicas”. O número de bolsas de apoio financeiro que o Estado estende para a estudantes com poucos recursos financeiros aumentou de 2 mil para 47 mil, entre 2003 e 2013. Atualmente, a metade beneficia quem escolher uma das duzentas carreiras científicas ou tecnológicas, prioritárias para o programa de desenvolvimento do país.
Gill explica que as novas universidades da periferia da região metropolitana de Buenos Aires “são unidades pequenas e flexíveis”, com forte inserção territorial, mas mantêm alto nível de qualidade de ensino. Aponta como exemplos o Centro de Biotecnologia da Universidade Nacional de San Martin, “o maior da América Latina”; a carreira de Engenharia do Petróleo da novíssima Universidade Nacional Arturo Jauretch, em Florencio Varela; ou a unidade de Estudos Econômicos que surgiu na Universidade Naiconal de Moreno.
Também destaca o trabalho de pesquisa da Universidade Nacional de Quilmes, criada há mais tempo mas também incluída no plano de expensão universitária. Em conjunto com outros centros de investigação argentinos e cubanos, ela desenvolve uma vacina terapêutica contra o câncer de pulmão, que estará disponível a partir deste mês para uso em tratamentos, somando-se à radioterapia e à quimioterapia.
Gill lembra que, quando a política de abertura de novas universidades públicas foi lançada, na periferia da capital, a ideia era desconcentrar a Universidade de Buenos Aires (UBA), tradicional e gigante, fundada em 1821. Embora a UBA tenha mantido seu contingente de alunos, graças ao prestígio nacional e internacional que alcançou, nas universidades da região metropolitana inscreveram-se, este ano, 67 mil alunos. “É uma política que gera mobilidade social clara e ascendente”, ele frisa.
O ministério da Educação calcula que o número de argentinos que chegaram à universidade aumentou em 28%, nos últimos dez anos; e o índice dos que concluem seus cursos cresceu 68%. Os investimentos públicos no ensino superior saltaram de 0,5% para 1,02% do PIB, no mesmo período. Entre 2001 e 2010, a população cresceu 10%; mas o percentual dos que têm ensino superior avançou 54%.
O país, hoje com mais de 40 milhões de habitantes, destina 6,5% do PIB à Educação como um todo. O índice está próximo do brasileiro e é um dos mais altos da América Latina – com a exceção de Cuba, onde chega a 12%, segundo dados da Unesco.
O engenheiro Jorge Calzoni, reitor da Universidade Nacional de Avellaneda, relata que desde que criada a instituição, em 2009, mais de 6 mil alunos inscreveram-se. Destes, cerca de 300 são estrangeiros. A universidade oferece 25 carreiras, entre as de pré-graduação (que dura dois anos), graduação e pós-graduação. “Não nascemos para competir com as grandes universidades, mas para complementá-las”, pensa ele.
Por isso, ao invés de incluir o curso de Medicina, já oferecido em universidades próximas, propõe o de Enfermaria, por exemplo. Também tem cursos de Turismo, Engenharia Informática e Design, entre outros.
Calzoni reconhece que persistem índices importantes de evasão escolar, apesar da criação de três “seminários de ingresso”, criados “para estabelecer um patamar mínimo, que evite o fracasso no primeiro ano” [na Argentina não é preciso passar pelo vestibular, para o ingresso no ensino superior]. Os alunos contam, além disso, com duplas de tutores e professores auxiliares de apoio.
“Ainda assim 47% desistem”, admite: “do total de inscritos, a metade não se matricula no segundo semestre”. É preciso, no entanto, relativizar este dado. O reitor estima que parte são jovens que mudam de carreira ou de universidade, e em seguida recomeçam os estudos. As estatísticas da Universidade de Avellaneda revelam que 84% dos matriculados provêm de famílias onde os pais não eram universitários. Ou seja, são a primeira geração que chega ao ensino superior.
Calzoni lembra que a instituição localiza-em em área geográfica em que havia reivindicação não-atendida de cursos superiores. Isso fica claro na idade dos matriculados. No ano de abertura, a média de idade foi de 34 anos. “Eram pessoas que antes não chegavam à universidade – talvez pelo problema da distância – e agora podem fazê-lo. Esta média foi baixando, primeiro a 28 e agora a 24 anos.
Já o secretário Martín Gill destaca que a política de inclusão permite a incorporação de alunos surdos ou com outras formas de incapacidade, além de um grande quantidade de jovens procedentes de outros países da América do Sul. “Vêm da Bolívia, Colômbia, Chile, Equador, México e Peru. A Argentina tem um modelo de ensino superior único, no que diz respeito ao acesso”.
Entre os dados gerais mais relevantes está o fato de “80% da matrícula universitária dar-se em instituições públicas”, embora a oferta privada seja importante, com 49 instituições no país.

Reportagem de Marcela Valente, na Agência IPS | Tradução: Antonio Martins

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