De acordo com relatório das Nações Unidas, uma pessoa se torna refugiada a cada quatro segundos no mundo.
O número de refugiados e deslocados no mundo bate recorde em quase vinte anos e alcança uma cifra de 45,2 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas, que alerta para a crise na Síria como um dos principais fatores de deslocamento global.
Segundo o Relatório Tendências Globais 2012, divulgado ontem, (19/06), de 2011 para 2012, 2,6 milhões de novos refugiados e deslocados se somaram aos já existentes 42,5 milhões (2011). Dos quais, 28,8 milhões de pessoas foram forçadas a fugir dentro das fronteiras de seus próprios países e 15,4 milhões obtiveram o status de refugiado em outros países.
O Afeganistão lidera o país como o principal de origem de refugiados – posição que ocupa há mais de três décadas – tendo registrado, em 2012, 2,5 milhões de refugiados. Um em cada quatro refugiados no mundo é afegão e a sua grande maioria reside em países como Paquistão e Irã.
A Somália aparece em segundo lugar no ranking de países emissores com 1,1 milhão de refugiados e o Iraque segue na terceira posição, com 746 mil. Os sírios somam 471 mil refugiados e são a quarta nacionalidade que mais contabiliza o número de refugiados.
Segundo a ONU, existem no mundo quase um milhão de pessoas deslocadas que esperam na fila para obter asilo em outros países.
Guerras e conflitos armados
As guerras e conflitos armados continuam sendo a principal causa de deslocamento forçado. De acordo com o ACNUR, mais da metade dos refugiados são oriundos de cinco países: além do Afeganistão, Síria e Iraque, a Somália e o Sudão também integram a lista.
“Existem, em média, 3 mil refugiados por dia, uma pessoa se torna refugiada a cada quatro segundos. Este é o maior número em 18 anos, que foi o período da guerra da Bósnia ou de Ruanda”, analisa o representante do ACNUR no Brasil, Andrés Ramirez.
Para ele, o incremento de pessoas afetadas evidencia que “não se tem tido vontade política” a nível mundial para prevenir os conflitos. “O tema dos refugiados é um drama, uma grande tragédia humana de grandes dimensões. É um número gigantesco que mostra que os principais deslocamentos forçados no mundo hoje são devidos a guerras, conflitos e violações generalizadas aos direitos humanos. São vítimas de grandes desastres políticos e sociais”, salientou Ramirez durante o lançamento do relatório global.
A população sob o mandato do ACNUR tem crescido ano após ano. Em 2012, a agência das Nações Unidas registrou 35,8 milhões de pessoas sob os seus cuidados, a maior cifra desde 1993. Deste montante, 10,5 milhões são de refugiados.
O relatório da ONU aponta ainda que mais de 80% dos refugiados vivem em países em desenvolvimento, como Paquistão – que acolhe 1,638 milhão de refugiados afegãos e ainda registra deslocados internos por conflitos dentro do próprio país.
A Alemanha e o único país desenvolvido que figura na lista das dez nações que mais acolhem refugiados no mundo. No ranking de acolhedores estão países como Irã, Quênia, Síria, Etiópia, Chade, Jordânia, China e Turquia.
Refugiados no Brasil
O Brasil contabiliza 4.715 refugiados, dos quais 2.012 são assistidos pelo ACNUR. Ainda existem 1.441 pessoas na fila de espera para receber o status de refugiado. No entanto, para Ramirez, este número é “ínfimo” se comparado a outros países acolhedores como o Paquistão.
Segundo o Comitê Nacional para Refugiados (CONARE) do Ministério da Justiça, existem 76 nacionalidades de refugiados no Brasil. “São pessoas pertencentes a grupos étnicos e que fogem por motivos de pensamento e conflito. Situações que se dão em nosso continente quanto em outros. Temos o desafio de oferecer melhores condições de adaptação para integração do refugiado”, comentou João Guilherme Granja, representante do CONARE.
O desafio, neste momento, admite, é acelerar o processo de concessão de refúgio do governo brasileiro. “Diminuir os prazos e avaliar os gargalos, algumas regiões do país são mais demandadas”, afirmou Granja.
Em outubro de 2012, o governo brasileiro emitiu um decreto para conceder a residência permanente para quase 2.000 ex-refugiados angolanos y liberianos. Esta medida foi adotada pelas autoridades brasileiras de imigração após uma recomendação do ACNUR para que os Estados aplicassem “cláusulas de cessação” a estas duas situações de refugiados. Esta decisão afetou 40% da população de refugiados no país, 1.681 angolanos e 271 liberianos.
O Brasil é o primeiro país da América Latina e fora da África que adotou as recomendações do ACNUR. Segundo disse à imprensa Ramirez, enquanto este número de refugiados irá diminuir no país, os pedidos de refúgio têm aumentado. Em 2012, foram mais de 1.200 solicitações e, este ano, será ainda maior, admitiu o representante do ACNUR, ao defender que o Brasil tem condições de receber um contingente ainda maior.
“Teremos mais solicitações por causa das crises que estão acontecendo no mundo. O Brasil é um país continental e poderia receber mais refugiados. Mas a questão se deveria receber mais refugiados é um tema moral, o Brasil tem uma boa lei, uma boa política e está de portas abertas. Recebem menos (refugiados) porque o país está muito afastado das crises humanitárias”, comentou Ramirez.
Reportagem de Fabíola Ortiz
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