O declínio de insetos silvestres tem sérias consequências para a
produção de alimentos em todo o mundo. Dois estudos publicados esta semana, um
com abrangência global e outro com análise de 120 anos de dados, mostram esta
relação e alertam para a necessidade para a manutenção e manejo da diversidade
de polinizadores para produção agrícola no longo prazo.
Um grupo de pesquisadores, incluindo três brasileiros, analisou
dados de 600 lavouras em 20 países e descobriu que, ao contrário do que se
pensava, o manejo de abelhas domésticas não é tão eficaz para a polinização das
plantas quanto a feita por insetos selvagens, como abelhas silvestres, moscas,
besouros e borboletas.
“A
eficiência da abelha doméstica depende muito de cultura para cultura, mas a
regra geral é que quanto maior for a diversidade de polinizadores, melhor será
a polinização”, disse ao iG Breno Freitas, agrônomo da
Universidade Federal do Ceará e que colaborou com o estudo analisando culturas
de acerola, urucum e algodão. “Observamos que na lavoura de acerola, a abelha
doméstica nem visita a flor. No urucum, ela não consegue tirar o fruto. Só na
do algodão é que ela apresentou eficácia”, disse.
No estudo que analisou dados dos cinco continentes, apenas em
14% das lavouras estudadas, as abelhas domésticas se mostraram eficientes,
enquanto em 86% não realizaram a polinização de modo satisfatório.
Outro estudo sobre a interação entre polinizador e planta no
estado americano do Illinois mostrou que tanto a quantidade quanto a qualidade
da polinização decaíram ao longo do tempo.
O naturalista Charles Robertson coletou e analisou dados sobre
polinização na região de Carlinville em 1890. Mais de um século depois, Laura
Burkle da Universidade do Estado de Montana, nos Estados Unidos, foi analisar o
que mudou na região. Os pesquisadores da equipe de Laura só conseguiram
encontrar metade das espécies descritas por Robertson, apenas 54 das 109.
Freitas explica que o uso de defensores agrícolas, a perda de
habitat, a monocultura e até as mudanças climáticas fazem com ocorra a redução
das espécies silvestres.Isto porque as flores da maioria das culturas precisam
receber o pólen antes de criar sementes e frutos, um processo que é reforçado
por insetos que visitam flores. Estes polinizadores, incluindo as abelhas,
moscas, besouros, borboletas vivem geralmente em habitats naturais, como as
bordas de florestas, cercas vivas ou pastagens. Como esses habitats estão se
perdendo por causa da expansão agrícola, ocorre o declínio destes
polinizadores.
“A produção de muitas frutas e grãos importantes para a nossa
dieta, como tomate, café e melancia, está limitada porque as flores não estão
sendo polinizadas adequadamente”, disse, em um comunicado, Lawrence Harder,
biólogo da Universidade de Calgary e um dos autores do estudo global sobre
polinizadores.
Reportagem de Maria Fernanda Ziegler

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