Eles aparecem em quase todas as manifestação na capital
chilena, Santiago, e jogam pedras, coquetéis molotov, e até mesmo ácido, na
polícia.
Eles grafitam as paredes da cidade e atacam
jornalistas que tentam filmar ou fotografar suas ações.
Eles são "os encapuzados", grupos de
jovens que se tornaram figuras constantes nos protestos que têm agitado a
sociedade chilena nos últimos dois anos.
Nesse período, estudantes realizaram dezenas de
protestos em todo o país. Ambientalistas, ativistas dos direitos dos
homossexuais, mineiros, e membros de comunidades indígenas do Chile também
foram às ruas para expressar suas queixas.
A grande maioria dos manifestantes se comportam
de forma pacífica, mas muitas vezes os protestos terminam em violência.
Pequenos grupos de jovens encapuzados enfrentam os policiais, que respondem com
gás lacrimogêneo, cassetetes e canhões de água.
Milhares de pessoas foram presas e centenas
foram feridas.
A mídia tende a se concentrar mais na cobertura
dos confrontos do que nas marchas pacíficas que os precedem.
Como resultado, as questões em jogo - o meio
ambiente, a igualdade de gênero, os direitos indígenas e, sobretudo, a educação
- muitas vezes são esquecidas, e o debate acaba se concentrando em táticas
policiais e a lei e ordem.
Os líderes do movimento estudantil estão bem
conscientes disso. As pesquisas de opinião mostram que, apesar de muitos
chilenos apoiarem as demandas dos manifestantes para a reforma da educação,
eles desaprovam a violência e o vandalismo que acompanham as marchas.
"O importante para nós é continuar falando
sobre a educação", diz Andres Fielbaum, presidente da união dos estudantes
da Universidade do Chile. "Temos que lembrar que as pessoas que causam a
violência são menos de 1% das pessoas que participam das marchas".
Isso é verdade, mas esse "menos de 1%"
tem um impacto desproporcional na mídia, e está manchando a reputação de todo o
movimento.
'Luta direta contra o sistema'
Quem são os encapuzados e o que eles querem?
Gabriel Salazar, um historiador de esquerda e
professor universitário que tem acompanhado os protestos dos últimos dois anos,
identifica dois subgrupos dentro de suas fileiras.
"A grande maioria são de bairros pobres de
Santiago e estão na faculdade, muitos deles em escolas técnicas", diz ele.
"Eles vêm de comunidades com uma longa
tradição de protestos, desde a época da ditadura de Pinochet. Protesto violento
é quase uma rotina para eles."
Mas Gabriel também identifica um segundo grupo,
menor, que vem de uma classe social mais alta, e recentemente se converteu a
táticas mais violentas. Ele diz que eles são anarquistas envolvidos em uma
"luta direta contra o sistema".
Bandeiras com as cores anarquistas preto e
vermelho são visíveis em muitas das marchas.
"O anarquismo tem crescido em muitas
universidades chilenas, incluindo esta", diz Alberto Mayol, sociólogo da
Universidade do Chile, se referindo à faculdade em que leciona, uma das duas
universidades mais prestigiadas do Chile.
Alberto vê uma linha de descendência direta
entre os manifestantes anti-Pinochet dos anos 1980 para os ativistas estudantis
de hoje. "O que estamos vendo agora é o fim do fim da era
pós-ditadura", diz ele.
A violência não é restrita às manifestações
estudantis. A passeata do Dia do Trabalho terminou em violentos confrontos no
centro de Santiago: 141 pessoas foram presas e 42 policiais feridos.
A polícia não é o único alvo. Bancos, farmácias
e redes de fast food têm sido atacados.
Os encapuzados também não veem com bons olhos a
mídia, considerada "burguesa".
No Dia do Trabalho, eles atacaram a van do canal
de televisão chileno Canal 13, ferindo um motorista e um cinegrafista. Durante
uma manifestação estudantil no dia 8 de maio, eles agrediram um jornalista da
CNN.
Os objetivos dessa violência são difíceis de
avaliar. Alguns parecem estar lutando pela revolução, enquanto outros parecem
estar lutando apenas por diversão.
Sociólogos dizem que muitos são jovens
revoltados marginalizados pela modelo econômico capitalista do Chile, que
trouxe prosperidade, mas deixou alguns de seus cidadãos vulneráveis aos
caprichos do mercado livre.
Repressão Legal
Então, o que pode ser feito para acabar com a
violência?
O governo diz que é necessária uma nova
legislação. Um projeto de lei foi enviado ao Parlamento para endurecer penas a
delitos de desordem pública.
Se o projeto for aprovado, qualquer um
considerado culpado de protesto violento terá sua sentença aumentada se tiver
também coberto o rosto impedindo sua identificação pela polícia.
O projeto de lei é polêmico e tem sido criticado
por grupos de defesa de direitos humanos, incluindo a Anistia Internacional.
Manifestantes pacíficos dizem que muitas vezes são obrigadas a cobrir o rosto
para se proteger do gás lacrimogêneo da polícia.
"O Estado não pode controlar o que as
pessoas vestem ou usam durante as manifestações", diz Ana Piquer,
diretora-executiva da Anistia Internacional no Chile. "Isso é liberdade de
expressão."
Os alunos acusam a polícia de usar gás
lacrimogêneo e canhões de água indiscriminadamente. Nos últimos confrontos, a
polícia disparou paintballs contra manifestantes para tentar identificá-los.
Várias pessoas foram atingidas no rosto e pelo menos um homem perdeu a visão em
um olho como resultado.
No início desse mês, um juiz acusou a polícia de
usar "métodos semelhantes aos de uma ditadura" durante os protestos -
palavras carregadas dada a história do Chile.
O político da oposição Gabriel Silber traçou um
paralelo entre as táticas empregadas pela polícia e as utilizadas durante a
ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
A cara da cidade mudou
Apesar disso, há alguns sinais de que a
cooperação entre a polícia e o movimento estudantil está melhorando.
Depois da manifestação de 8 de maio, o chefe do
governo regional de Santiago, Juan Antonio Peribonio, elogiou os esforços de
estudantes para policiar sua própria marcha.
Mas os violentos confrontos ainda assombram
muitos moradores de Santiago. A cara da cidade mudou desde 2011. Há mais
pichações e muitas ruas já não têm mais placas. Elas foram arrancadas pelos
manifestantes e atiradas contra a polícia.
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