06/04/2013

Comércio de rinoceronte por seu valioso chifre divide cientistas


Os cientistas discordam se é preciso legalizar ou não o comércio de chifre de rinoceronte para frear o tráfico ilegal, que está levando a espécie rumo à extinção, por conta da grande demanda na medicina chinesa.
A proteção do rinoceronte foi um dos muitos assuntos debatidos na Convenção sobre o Comércio Internacional de Flora e Fauna (CITES), em Bangcoc, cujos países-membros decidiram criar um comitê específico para examinar o impacto da caça ilegal.
Segundo os partidários da legalização, a proibição do comércio de chifre de rinoceronte, estipulada pela CITES desde 1976, contribuiu para gerar um mercado ilegal alimentado pela caça ilegal.
No ano passado, 668 rinocerontes foram mortos na África do Sul, 67% a mais que em 2011, e em 2013 parece que o número baterá recorde, dado que já passa de 128 o número de animais abatidos somente em três meses, segundo o governo sul-africano.
O preço do quilograma do chifre do rinoceronte chega, no mercado negro, a US$ 65 mil, mais do que o ouro, o diamante e a cocaína, devido à alta demanda para seu uso medicinal no Vietnã, na China e na Tailândia ou na manufatura artesanal de adagas no Iêmen.
A legalização é a única solução para cientistas como o sul-africano Duan Biggs, que publicou em 2012 um artigo defendendo sua postura na revista "Science" junto com o professor Hugh Possingham, da Universidade de Queensland, na Austrália.
"A maioria dos cientistas e gerentes conservacionistas com os quais falei na África do Sul apoiam um comércio legal com uma regulação estrita", disse à Agência Efe Biggs, que atualmente mora no Chile.
No artigo publicado na "Science", Biggs e outros colegas argumentam que a implementação de mecanismos para garantir um comércio regulado permitiria que os preços do chifre de rinoceronte caíssem e, assim, diminuísse a caça ilegal.
Ao contrário do elefante, o chifre do rinoceronte não é uma fonte de marfim, já que são formados por queratina, que é a mesma substância que há no pelo e nas unhas dos mamíferos e, portanto, volta a crescer quando é retirado.
"Os chifres dos rinocerontes crescem em média 900 gramas por ano e os riscos das técnicas para retirar esses chifres são mínimas", indicou Biggs.
Na atualidade vivem na África, principalmente na África do Sul, cerca de 20 mil rinocerontes brancos e 5 mil negros, enquanto em toda Ásia rondam os 5 mil, a maioria na Índia e no Nepal.
O cientista australiano ressaltou que, segundo sua experiência no Parque Nacional Kruger da África do Sul, os mecanismos mais sofisticados contra a caça ilegal falharam, por isso é hora de testar a legalização do comércio.
No entanto, outros especialistas, como o doutor Joseph Okori, chefe do programa de rinocerontes no fundo Mundial para a Natureza (WWF), se opõem à legalização porque consideram que aceleraria a extinção da espécie.
"Com um mercado de milhões de pessoas na China e Vietnã, não há forma de abastecer a demanda. O rinoceronte se reproduz apenas a cada três anos e demora sete para chegar à idade adulta", explicou Okori em entrevista telefônica.
"Os que apoiam a legalização se baseiam em modelos econômicos que não podem ser aplicados à conservação do rinoceronte, já que é preciso levar em conta outras considerações biológicas, o impacto ao meio ambiente, a mudança climática e a pressão humana", comentou o especialista da WWF.
Okori destacou que a única maneira de frear a caça ilegal é combater a corrupção e o envolvimento de parte do Exército de alguns países africanos no comércio ilegal e garantir que o Vietnã aplique a lei contra os grupos de traficantes.
As máfias asiáticas se aproveitam da exceção, que permite a exportação de um chifre de rinoceronte como troféu esportivo por ano por cada caçador autorizado, para fazer passar as peças cobradas por caçadores legais.
Em novembro, o tailandês Chumlong Lemtongthai foi condenado na África do Sul a 40 anos de prisão por participar do tráfico ilegal que costuma transferir a mercadoria entre África do Sul e Vietnã através da Tailândia.
Chumlong utilizava prostitutas que se passavam por caçadoras para introduzir ilegalmente os chifres no mercado asiático.
Em 2011, duas subespécies, o rinoceronte negro de África Ocidental e o rinoceronte de Java do Vietnã, foram declaradas extintas e o resto está condenada ao mesmo fim se não for freado o ritmo frenético da caça ilegal.

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