12/03/2013

Diplomata pede fim da embriaguez durante negociações na ONU



Quando a Organização das Nações Unidas começou a reformar sua sede em Manhattan em 2009, uma das primeiras baixas das obras foi o lounge dos diplomatas cheio de histórias, onde por décadas o delicado trabalho de diplomacia era auxiliado por algumas boas doses de bebidas.
A perda do bar provocou protestos dos diplomatas e seus assessores, e um local temporário logo foi estabelecido.
Esse bar agora também se foi, mas a sede por bebidas alcoólicas na ONU aparentemente continua forte.
Nesta semana, um diplomata americano ofereceu o que chamou de "proposta modesta", que ele espera que ajude a acelerar as negociações orçamentárias atrasadas da ONU. Ele pediu aos diplomatas que parem de beber.
"As salas de negociação deveriam ser no futuro uma zona livre de embriaguez", disse o diplomata, Joseph M. Torsella.
Até o momento, parece que as chances são pequenas de que a sugestão leve a uma mudança de comportamento.
"Isso mais ou menos equivale a quando você é adolescente, e seus pais o embaraçam porque você ficou bêbado na noite anterior", disse Richard Gowan, um especialista em ONU do Centro para Cooperação Internacional da Universidade de Nova York. "Eu acho que há muitas risadinhas."
Enquanto o prefeito de Nova York, Michael R. Bloomberg, adota medidas para coibir os apetites não saudáveis dos moradores de Nova York –independente de gostarem ou não– a ONU permanece um mundo à parte. A sede não está sujeita às leis da cidade, e por anos após o fumo ter sido proibido por toda a volta da ONU –primeiro nos escritórios da cidade, depois nos bares e restaurantes– os diplomatas continuavam fumando nos corredores e salas de reunião do prédio da Assembleia Geral. Fumar só foi proibido na ONU em 2008.
Apesar de partes do prédio estarem sendo quebradas enquanto ele é reformado, caminhar por seu interior ainda parece como voltar no tempo. O otimismo e esperança que ele simbolizava ao nascer em meio aos escombros da Segunda Guerra Mundial ainda são evidentes, assim como um certo senso de que os costumes daquela era ainda se aplicam quando se trata de beber.
"A ONU está limpando a si mesma fisicamente, mas ainda há um ar residual dos anos 50, anos 60, em sua cultura", disse Gowan, cujo pai foi diplomata. "Você meio que sente como se estivesse preso no passado."
Ela continua sendo um dos poucos lugares onde beber ao estilo de um personagem da série "Mad Men" não é apenas aceito, mas esperado.

Laços antigos

"Como espécie, os diplomatas bebem muito", disse Gowan, acrescentando que apesar de seu pai beber moderadamente, ele conhecia outros diplomatas que não.
Pamela Vandyke-Price, escrevendo na revista "Diplomat", disse que álcool e diplomacia estão ligados há séculos.
"Após a Revolução Gloriosa de 1688, whigs (liberais) e tories (conservadores) se distinguiam por suas bebidas", ela disse. "O clarete, sendo um vinho francês, era associado à causa dos tories", ela disse. Os whigs transformaram o beber de um vinho de Portugal misturado com conhaque –o porto– em um sinal de fidelidade.
O apelo dos Estados Unidos por sobriedade foi noticiado no site da revista "Foreign Policy". O artigo citou diplomatas anônimos que diziam que as mais recentes negociações orçamentárias, que foram concluídas em dezembro, contaram com pelo menos um diplomata que adoeceu por excesso de álcool.
Parte do problema pode ter sido o fato de as negociações terem sido marcadas para pouco antes do Natal.
"De qualquer forma, é um processo absolutamente horrível negociar na ONU", disse Gowan. E com os diplomatas correndo para concluir tudo antes das Festas, as coisas ficaram ainda piores.
Mas a batalha em torno do álcool também destaca a animosidade entre os países membros menores e os países maiores, mais poderosos.
Estados Unidos, Japão e os países da Europa Ocidental fornecem grande parte do orçamento da ONU. E muitos dos países que compõem o comitê orçamentário têm poucos recursos financeiros em jogo nas negociações, de modo que a ingestão de álcool pode parecer uma boa forma de suportar as longas sessões que podem entrar madrugada adentro. Outra rodada de negociações do orçamento será realizada neste mês.
Em entrevistas na última quinta-feira, diplomatas de vários países se recusaram a comentar publicamente. Mas de modo privado, muitos tinham sugestões sobre quais países eram os piores infratores.
Alguns disseram que eram os canadenses e seu uísque. Outros disseram que eram os russos e sua vodca. Ou, talvez, os franceses e seu vinho?
Torsella não respondeu ao pedido de entrevista, de modo que não se sabe se algum episódio específico, alimentado pelo álcool, o levou a se manifestar.
O embaixador russo na ONU, Vitaly I. Churkin, brincou ao ser perguntado sobre a noção de proibir a ingestão de bebidas alcoólicas.
"Minha resposta nacional é que não se deve beber durante sessões de negócios", ele disse. "O 'after hours' é um assunto pessoal. Nós todos temos nossas vidas privadas, não temos?"


Reportagem de Marc Santora
Tradutor: George El Khouri Andolfato

fonte:http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2013/03/09/diplomata-pede-fim-da-embriaguez-durante-negociacoes-na-onu.htm
foto:http://vivapernambuco.com.br/site/index.php/artigos/1438-voluntariado-pelo-desenvolvimento-e-pela-paz

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