Polarizado, país elegeu economia como protagonista de sua corrida presidencial.
Nem mesmo a supertempestade Sandy foi capaz de arrancar a política econômica democrata do posto de grande protagonista da corrida presidencial norte-americana. Nesta terça-feira (06/11), a ainda maior economia do planeta elegerá, além de seu dirigente, o projeto que julga mais eficiente para a resolução de mais de quatro anos de instabilidade financeira.
O real impacto eleitoral das mais recentes estatísticas macroeconômicas é objeto de profundas divergências entre analistas. A notícia de que o PIB (produto interno bruto) anualizado do último trimestre cresceu 2% (alguns poucos décimos de ponto percentual acima do especulado por Wall Street) não é vista como suficiente para preservar Obama de um “voto punitivo” favorável à candidatura do ex-governador de Massachusetts Mitt Romney.
Raciocínio semelhante aplica-se ao recuo dos índices nacionais de desemprego. Embora a discreta recuperação de postos de trabalho seja celebrada por democratas como uma das grandes vitórias dos quatro anos de governo Obama, ainda há quem julgue os números como insuficientes para a reversão da conjuntura de desaceleração da atividade industrial inaugurada em 2008.
Entre cientistas políticos norte-americanos, a expressão em voga é “polarização partidária”, termo técnico que denomina o distanciamento de republicanos e democratas do centro político-ideológico. No eixo em que se distribuem liberais e conservadores, nunca os dois partidos institucionalmente representativos do país se posicionaram de forma tão extremada (Ver, acima, gráfico "112º Congresso"). Levantamento do Vote View, site que reúne cientistas políticos para quantificar o grau de polarização partidária dos EUA, revela que a última vez que o país assistiu a tamanha divisão política foi no contexto dos atentados de 11 de setembro de 2001 (ver, abaixo, gráfico "Polarização partidária nos Estados Unidos").
É com base nesse tipo de constatação que Fábio Kanckuk, professor macroeconomia da FEA (Faculdade de Economia e Administração da USP) recusa a hipótese de que republicanos e democratas nunca se assemelharam tanto em suas propostas de governo. Para ele, analistas erram ao destacar em excesso fatores como simpatia e se esquecem que o grande embate ocorre entre dois modelos econômicos distintos. Segundo ele, “todos sabem que a economia norte-americana não vai bem e que a grande discussão é se a culpa por isso é de Obama ou de Bush. Isso pesa muito mais que outros fatores como, por exemplo, a afinidade dos candidatos com o eleitor”.
Rubens Barbosa, embaixador do Brasil nos EUA de 1999 a 2004, concorda que a mudança de rumos da economia norte-americana será grande dependendo de qual dos dois candidatos for eleito. Entre vários fatores, ele reitera que “Romney quer reduzir a carga tributária dos mais ricos e pretende cortar uma série de programas e benefícios sociais concedidos à população durante o governo Obama”.
Após os últimos dois debates entre os presidenciáveis, tornou-se praticamente consensual no noticiário internacional que Obama e Romney compartilhavam dos mesmos posicionamentos em termos de política externa. No entanto, Barbosa minimiza esse discurso e alega que o que realmente ocorreu foi um deslocamento dos republicanos para o centro em questões do gênero. “Romney aproximou suas propostas de política externa das de Obama. Tanto que, se sair vencedor, vai ser surpreendido por uma pressão da direita”, argumenta.
Sandy
A maior e mais intensa tempestade já registrada nos EUA desde 2005 (ano em que os Estados do sul foram arrasados pelo furacão Katrina) obrigou que os dois candidatos interrompessem suas campanhas, mas permitiu que Obama ganhasse os noticiários como o líder que conduzia o país em meio ao desastre. Especulou-se que isso impulsionaria a campanha democrata, fazendo com que a recondução de Obama à Casa Branca fosse facilitada.
Barbosa discorda dessa hipótese: “Os resultados não vão depender apenas dos efeitos do furacão. Sandy foi inesperado, mas há uma série de fatores envolvido. Tudo vai depender do comportamento dos eleitores que votaram antes da tempestade e de como irão às urnas em estados como Flórida, Iowa, Wisconsin, Pensilvânia e Ohio”.
Do ponto de vista econômico, Kanckuk esclarece que Sandy não foi grave e que seus efeitos quase não serão notados nas estatísticas. Contudo, ele acredita que o furacão será sim um componente relevante dos resultados da eleição. “Não haverá efeitos do Sandy no PIB, por exemplo. A importância da tempestade foi a de reforçar Obama como líder da nação e não como candidato”, disse.
Economia fraca
Democratas comemoraram os últimos dois dados macroeconômicos relevantes revelados antes da eleição. No final de outubro, o PIB anualizado (produto interno bruto do trimestre estimado para o ano) apresentou crescimento de 2% e superou as expectativas das principais entidades financeiras de Wall Street. Também, na última sexta-feira (02/11), o Departamento do Trabalho revelou que o país gerou mais de 170 mil novos empregos, o que pode ser interpretado como um sinal de aquecimento econômico.
Kanckuk não vê tantos motivos para a alegria democrata. “Não concordo que haja resultados positivos na economia norte-americana. A economia anda devagar e o desemprego é tão alto que Obama pode perder a eleição. Daí o porquê de muitos analistas terem medo de arriscar na sua reeleição”.
Ele ressalta que, entre os eleitores que mais valorizam questões ligadas à economia (isto é, cidadãos brancos e do sexo masculino), Obama é massacrado por Romney. A seu ver, “os que ainda mantêm Obama empatado com Romney são aqueles menos desesperados com a conjuntura econômica.
Por sua vez, Barbosa diverge, e alega que são justamente essas últimas duas estatísticas econômicas que, “não apenas favorecem Obama, como definirão a eleição”. Kanckuk defende que “a culpa pelos números ruins da economia não são de Obama” e que “é natural que o país demore para se recuperar”. “O problema é que as pessoas não estão animadas com isso e Romney acaba se beneficiando de sua imagem de businessman”, concluiu.
Reportagem de Fillipe Mauro
foto:g1.globo.com
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