Tiago Galvão (foto acima) e Renato Domingues concluíram com chave de ouro
o curso de Ciência da Computação da Universidade de Brasília. Como trabalho
final, idealizaram, projetaram e executaram um software livre voltado à educação
de adultos com deficiência intelectual, com o objetivo de melhor integrar esses
cidadãos à sociedade. Não é à toa que o programa foi batizado de Participar.
Galvão e Domingues contaram com orientação de Wilson Henrique Veneziano,
professor de Ciência da Computação da UnB que se transformou no coordenador do
projeto. Tiveram também auxílio de Maraísa Helena Pereira, pedagoga da
Coordenadoria de Educação Inclusiva da Secretaria de Educação do Distrito
Federal. Ela os ajudou a afinar o potencial pedagógico do software.
O Participar é multimídia e gratuito. Funciona como apoio à alfabetização e
comunicação de jovens e adultos com deficiência intelectual. Em testes desde
2011, foi lançado oficialmente em julho deste ano pela UnB. A própria equipe de
desenvolvimento financiou a criação do programa. “A equipe trabalha com muito
respeito à causa das pessoas com deficiência, inclusive arcando com os custos”,
diz o coordenador.
Durante a fase de testes, o Participar teve como parceiros a Associação de
Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) do Distrito Federal e a Secretaria de
Estado de Educação do Governo do Distrito Federal (GDF). O programa traz cerca
de 600 vídeos, todos produzidos pela equipe da UnB TV. Foram gravados com dois
adultos com síndrome de Down. Como uma das propostas é preparar alunos para o
uso de redes sociais, esses vídeos simulam conversas pela internet. “Todos foram
validados em casos reais de uso”, reforça o Veneziano.
O Participar foi concebido com base em requisitos educacionais do
público-alvo, não em adaptações feitas a partir de produtos para outros tipos de
educandos. Por isso, os recursos multimídia abordam detalhes da rotina e traz
personagens com síndrome de Down, sem infantilização. O software tem ferramentas
motivacionais e de interatividade entre o professor e o educando. Também contém
orientações ao professor. E, importante, pode ser utilizado em computadores
modestos, existentes nas Apaes e escolas públicas, operem em plataformas
proprietárias ou em Linux.
Os testes e validações foram feitos em casos reais, por professores
especializados em alfabetização de adultos com deficiência intelectual e por
alunos com deficiência. Atualmente, é utilizado na Apae-DF e em escolas do DF. A
meta final do Participar é que, após o processo de alfabetização dirigido, o
educando seja capaz de se comunicar por meio de computadores, em especial via
redes sociais (comunicação alternativa). Outro objetivo é possibilitar que o
educando, após avaliação por equipe multidisciplinar, possa frequentar cursos de
preparação para o mercado de trabalho.
O desenvolvimento não acabou com seu lançamento. Continua a avançar, e por
isso a equipe busca apoio financeiro. Os desenvolvedores estão em contato com
órgãos governamentais financiadores de pesquisa científica e inovação
tecnológica. Caso obtenham verba, pretendem produzir outros módulos e introduzir
mais funcionalidades ao software, tais como ensino de letras cursivas e
matemática social, que é a “matemática do dia a dia, necessária para fazer
compras, calcular troco, tomar ônibus e metrô, controlar horários de medicação”,
explica Veneziano. Se o dinheiro saísse hoje, os novos módulos ficariam prontos
no final de 2013.
A versão atual do Participar não depende de conexão à internet. Mas está em
preparação uma nova versão para tablet e para uso online. O grupo também prepara
um curso de capacitação de professores para alfabetizar adultos com deficiência
intelectual. “Uma área altamente carente de profissionais especializados no
Brasil”, argumenta o professor. O curso será aplicado por meio de métodos de
Educação a Distancia (EAD), para cobrir todo o país. “Mostrará aos professores
como desenvolver práticas pedagógicas com o uso de materiais tradicionais
associados ao software Participar”, detalha Veneziano. Ele acrescenta que,
apesar de não ser o foco do projeto, o programa pode ser usado em trabalhos de
estímulo mental e reforço a idosos com demência e perda cognitiva.
Para disseminar o uso do Participar, estão sendo firmados acordos com escolas
públicas de outros estados, por meio das secretarias estaduais de educação, que
replicariam e distribuiriam os CD-ROMs. De seu lado, a rede Apae providencia
mecanismos próprios para distribuir o software nas unidades de todo o Brasil.
Também está em negociação a possibilidade de levar o Participar a escolas
públicas de países africanos de língua portuguesa.
Reportagem de Anamarcia Vainsencher
fonte:http://arede.inf.br/edicao-n-86-novembro-2012/5090-desenvolvimento-tecnologico-vai-uma-ajuda-dos-universitarios
foto:movimentodown.org.br
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