01/11/2012

Alunos de Ciência da Computação da UnB criam software para alfabetizar quem tem deficiência intelectual


Tiago Galvão (foto acima) e Renato Domingues concluíram com chave de ouro o curso de Ciência da Computação da Universidade de Brasília. Como trabalho final, idealizaram, projetaram e executaram um software livre voltado à educação de adultos com deficiência intelectual, com o objetivo de melhor integrar esses cidadãos à sociedade. Não é à toa que o programa foi batizado de Participar.
Galvão e Domingues contaram com orientação de Wilson Henrique Veneziano, professor de Ciência da Computação da UnB que se transformou no coordenador do projeto. Tiveram também auxílio de Maraísa Helena Pereira, pedagoga da Coordenadoria de Educação Inclusiva da Secretaria de Educação do Distrito Federal. Ela os ajudou a afinar o potencial pedagógico do software.

O Participar é multimídia e gratuito. Funciona como apoio à alfabetização e comunicação de jovens e adultos com deficiência intelectual. Em testes desde 2011, foi lançado oficialmente em julho deste ano pela UnB. A própria equipe de desenvolvimento financiou a criação do programa. “A equipe trabalha com muito respeito à causa das pessoas com deficiência, inclusive arcando com os custos”, diz o coordenador.
Durante a fase de testes, o Participar teve como parceiros a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) do Distrito Federal e a Secretaria de Estado de Educação do Governo do Distrito Federal (GDF). O programa traz cerca de 600 vídeos, todos produzidos pela equipe da UnB TV. Foram gravados com dois adultos com síndrome de Down. Como uma das propostas é preparar alunos para o uso de redes sociais, esses vídeos simulam conversas pela internet. “Todos foram validados em casos reais de uso”, reforça o Veneziano.
O Participar foi concebido com base em requisitos educacionais do público-alvo, não em adaptações feitas a partir de produtos para outros tipos de educandos. Por isso, os recursos multimídia abordam detalhes da rotina e traz personagens com síndrome de Down, sem infantilização. O software tem ferramentas motivacionais e de interatividade entre o professor e o educando. Também contém orientações ao professor. E, importante, pode ser utilizado em computadores modestos, existentes nas Apaes e escolas públicas, operem em plataformas proprietárias ou em Linux.
Os testes e validações foram feitos em casos reais, por professores especializados em alfabetização de adultos com deficiência intelectual e por alunos com deficiência. Atualmente, é utilizado na Apae-DF e em escolas do DF. A meta final do Participar é que, após o processo de alfabetização dirigido, o educando seja capaz de se comunicar por meio de computadores, em especial via redes sociais (comunicação alternativa). Outro objetivo é possibilitar que o educando, após avaliação por equipe multidisciplinar, possa frequentar cursos de preparação para o mercado de trabalho.
O desenvolvimento não acabou com seu lançamento. Continua a avançar, e por isso a equipe busca apoio financeiro. Os desenvolvedores estão em contato com órgãos governamentais financiadores de pesquisa científica e inovação tecnológica. Caso obtenham verba, pretendem produzir outros módulos e introduzir mais funcionalidades ao software, tais como ensino de letras cursivas e matemática social, que é a “matemática do dia a dia, necessária para fazer compras, calcular troco, tomar ônibus e metrô, controlar horários de medicação”, explica Veneziano. Se o dinheiro saísse hoje, os novos módulos ficariam prontos no final de 2013.
A versão atual do Participar não depende de conexão à internet. Mas está em preparação uma nova versão para tablet e para uso online. O grupo também prepara um curso de capacitação de professores para alfabetizar adultos com deficiência intelectual. “Uma área altamente carente de profissionais especializados no Brasil”, argumenta o professor. O curso será aplicado por meio de métodos de Educação a Distancia (EAD), para cobrir todo o país. “Mostrará aos professores como desenvolver práticas pedagógicas com o uso de materiais tradicionais associados ao software Participar”, detalha Veneziano. Ele acrescenta que, apesar de não ser o foco do projeto, o programa pode ser usado em trabalhos de estímulo mental e reforço a idosos com demência e perda cognitiva.  
Para disseminar o uso do Participar, estão sendo firmados acordos com escolas públicas de outros estados, por meio das secretarias estaduais de educação, que replicariam e distribuiriam os CD-ROMs. De seu lado, a rede Apae providencia mecanismos próprios para distribuir o software nas unidades de todo o Brasil. Também está em negociação a possibilidade de levar o Participar a escolas públicas de países africanos de língua portuguesa. 


Reportagem de Anamarcia Vainsencher
fonte:http://arede.inf.br/edicao-n-86-novembro-2012/5090-desenvolvimento-tecnologico-vai-uma-ajuda-dos-universitarios
foto:movimentodown.org.br

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