O partido grego Aurora Dourada não limita mais sua ação política às sessões parlamentares e agora vai às ruas colocar em prática programas de “limpeza” de imigrantes ilegais e vendedores ambulantes irregulares. De acordo com uma apuração do jornal britânico The Guardian, há cada vez mais evidências de que até mesmo a polícia do país está delegando funções de fiscalização para pessoas ligadas ao grupo neonazista.
Muitas vítimas de crimes também recorrem ao Aurora Dourada em busca de “justiça” para os delitos. Um funcionário público disse ao Guardian sobre a sua surpresa ao ser encaminhado a membros do partido por agentes policiais para solucionar um incidente envolvendo sua mãe e imigrantes albanianos.
"Eles [os policiais] disseram imediatamente que se aquela era uma questão envolvendo imigrantes, então que fosse levada ao Aurora Dourada", disse o homem de 38 anos que preferiu não se identificar, temendo colocar em risco seu trabalho ou mesmo a segurança de sua família. Ele ressalta que, em Atenas, a crise financeira do país produziu um contexto de insegurança delicado e lamenta que "se a polícia ou um mecanismo oficial torna-se incapaz de prover segurança, a justiça seja obrigada a ocorrer de formas radicais".
Outros gregos que passaram por experiências silmilares disseram à reportagem que essa foi justamente a razão que lançou os ultra-direitistas para dentro do parlamento. Uma mulher comentou que foi com a promessa de eliminar o que chama de “lixo imigrante", que o Aurora Dourada se aproveitou do “sentimento de impotência” dos mais carentes. Para a entrevistada, "isso dá aos ‘mais fracos’ o sentimento de que eles irão sobreviver e de que estão seguros".
Nas últimas semanas, aumentou o número de crimes motivados por ódio racial. Imigrantes revelaram ao Guardian o temor de andar pelas ruas a noite. A maioria receia agressões de motociclistas vestidos de preto que atacaram ao longo vendedores ambulantes de origem africana e asiática nos últimos dias. No entanto, para Yiannis Lagos, um dos 18 parlamentares eleitos pelo Aurora Dourada, “muitas pessoas nas vizinhanças mais pobres nos veem como libertadores”. Ele classifica seu partido como um “movimento popular nacionalista” construído para ocupar o espaço de um estado que, a seu ver, “não faz nada”.
Integrantes do Aurora Dourada distribuem frequentemente comida e roupas para as parcelas mais necessitadas da população. O preço do gesto de caridade é a filiação ao partido. "Uma amiga minha estava sendo agredida pelo marido e, ao procurar a polícia, acabou encaminhada ao Aurora Dourada. Não passou muito tempo e, em troca, ela começou a doar roupas e alimentos para a instituição”, disse uma professora grega que também pediu o anonimato. "Minha amiga é uma liberal e certamente não é racista. Ela está enojada pelo que tem sido obrigada a fazer", acrescenta.
Ao que pesquisas de opinião indicam, a estratégia da ultra-direita parece estar funcionando. Uma pesquisa na última semana revelou que o número de indivíduos com opiniões positivas sobre o programa de governo do Aurora Dourada dobrou na comparação com o início do ano. Em maio, 12% da população aprovava o Aurora Dourada. Hoje esse número atingiu a marca dos 22%. O mesmo crescimento pode ser verificado na popularidade de Nikos Michaloliakos, o líder do partido. O número dos que aprovam sua atuação parlamentar cresceu oito pontos percentuais, mais que qualquer outra referência política do país.
Reportagem de Fillipe Mauro
foto:geografiaetal.blogspot.com
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