O número de mortes por doenças cardíacas diminuiu nos últimos anos na capital paulista, mas entre os moradores das comunidades pobres essa redução foi menor, mostrou levantamento feito pelo Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP). O estudo analisou 197,8 mil atestados de óbito, registrados entre 1996 e 2010, que indicaram morte por doença coronariana e insuficiência cardíaca.
Com base nos dados do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os pesquisadores dividiram a cidade por nível de renda. Entre os homens, a taxa de mortalidade dos moradores de áreas mais abonadas da cidade, em 1996, era 510 mortes para cada 100 mil habitantes. A taxa para a população de baixa renda registrava 562 mortes.
Em 2010, o número de mortes entre a população masculina de alta renda caiu de 510 para 287. Já os homens de baixa renda tiveram redução inferior, de 562 para 408 mortes para cada 100 mil habitantes.
Entre as mulheres de alta renda, a taxa de mortalidade caiu de 342 mortes por 100 mil habitantes,1996, para 185 mortes, em 2010. Já entre as mulheres de baixa renda foram registradas 364 mortes, em 1996, ante 264 para cada 100 mil habitantes, em 2010.
Para o médico que participou do estudo, Paulo Lotufo, coordenador da Divisão de Clínica Médica do Hospital Universitário da USP, alguns fatores justificam esse declínio menor entre a população pobre. “O que explica isso são várias coisas, como fatores de risco, o acesso aos serviços de emergência, a qualidade do atendimento. Não vai existir apenas um fator”, disse.
Pessoas de classes econômicas desfavorecidas que sofrem infarto em regiões distantes da periferia paulistana podem encontrar obstáculos para a chegada até o hospital, que ficam, em sua maioria na região central. “A pessoa com dor que procura o hospital, era para ter o acesso rápido, porque a doença cardíaca mata rapidamente”, declarou Lotufo. De acordo com o médico, o ideal é que o tempo entre o início da dor no peito e o atendimento não exceda meia hora.
O cardiologista Carlos Costa Magalhães, presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), destacou também as diferenças na qualidade do socorro. “O atendimento médico das classes favorecidas tem os hospitais mais adequados”, disse.
Outro fator apontado pelo cardiologista foi a mudança dos padrões alimentares das pessoas de classes econômicas inferiores. Antes, essa população sofria com a desnutrição, mas com o acesso a melhores condições salariais, foram acometidos por sobrepeso e obesidade. “Houve uma nutrição não adequada, que foi acompanhada de um ganho de peso. Isso ocasiona diabetes, pressão alta, que são fatores de risco que levam à incidência de doenças cardiovasculares”, explicou.
Reportagem de Fernanda Cruz
foto:ruadireita.com
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