Um artigo científico publicado ontem (30/09) pela revista britânica Nature Climate Change revela que peixes oceânicos de todo o planeta ficarão menores ao longo das próximas décadas por conta do fenômeno de aquecimento global. A estimativa dos pesquisadores da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, é de que os animais perderão até o ano de 2050 de 14 a 24% do tamanho que possuem hoje.
A equipe liderada por William Cheung, professor responsável pela pesquisa, associou a elevação da temperatura média dos oceanos com o crescimento e a distribuição geográfica de mais de 600 espécies de peixes. Em entrevista ao jornal The Guardian, ele se disse “surpreso” diante de "efeitos tão fortes e generalizados”, em especial em regiões tropicais.
Segundo o cientista, essa redução do comprimento estaria relacionada basicamente a dois fatores. O primeiro é a dificuldade de crescimento que os animais enfrentam diante de águas cada vez mais quentes e, consequentemente, pobres em oxigênio. Depois, surge um dilemma geográfico: peixes de águas tropicais excessivamente aquecidas se sentem obrigados a procurar ambientes mais frios, o que reduz a atividade metabólica de seus organismos e impede um processo de crescimento saudável.
Cheung alega que os dois efeitos são similares sob a perspectiva de seus impactos. Para a realização do estudo foram empregados modelos digitalizados do fenômeno, capazes de prever as consequências desse aquecimento sobre a fisiologia, distribuição e população dos animais.
Para Callum Roberts, professor da Universidade de York, no Reino Unido, a pesquisa de Cheung possui um conjunto abrangente de dados, mas não lembra o leitor de que há outros fatores capazes de tornar esse cenário ainda mais crítico. O pesquisador menciona, por exemplo, a redução do volume de nutrientes na superfície dos oceanos a partir do fenômeno de acidificação do oceano. "Isso tornará a vida de animais com esqueleto calcário muito mais difícil. Esses pequenos animais fazem parte da base da cadeia alimentar dos peixes”, explica Roberts.
O britânico também lembra que a água fria não se mistura facilmente com a quente e que a maior parte da base alimentar dos peixes está presente em porções menos aquecidas dos oceanos. Daí surge o que ele chama de “desertos oceânicos”, areas “cada vez maiores” com pouquíssimos cardumes. Mais além, surge também a questão da pesca excessiva e desregrada. Ao comentar a pesquisa de Cheung, Roberts lembra que ao longo do século XX, peixes “viveram mais rápido e morreram mais jovens”.
Reportagem de Fillipe Mauro
foto:cantinhodalumad.blogspot.com
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