No Uruguai, há um assunto em voga que intriga os estudiosos e preocupa as autoridades. Por que, em um país de relativa prosperidade, existem mais casos de suicídio do que em outras nações da América Latina?
A questão ganhou força depois que o governo uruguaio divulgou, recentemente, dados que mostram que o país tem uma taxa de 16,6 suicídios por 100 mil habitantes. "Esse número coloca o Uruguai em primeiro lugar na taxa de suicídios, ao lado de Cuba, entre os países latino-americanos", explicou Hebert Tenenbaum, psicólogo e diretor do programa de saúde mental do Ministério de Saúde Pública do Uruguai.
"Trata-se de um problema muito grave", afirmou.
Tenenbaum disse que as autoridades estão tentando resolver o problema de diversas formas. No entanto, as motivações ainda são desconhecidas.
Grupos de risco
O assunto é uma questão dolorosa para o país de apenas 3,3 milhões de habitantes que geralmente figura no topo dos índices de desenvolvimento humano da América Latina, compilados pelas Nações Unidas. Segundo um ranking divulgado neste ano pelo Legatum Institute, uma organização independente com sede em Londres, o país foi classificado como o mais próspero da região,.
Apesar disso e do boom econômico vivido nos últimos anos – com altas taxas de crescimento e baixo desemprego -, foram registrados 537 suicídios apenas em 2011, uma amostra de o que fenômeno permanece entranhado na sociedade uruguaia.
De acordo com dados oficiais, pessoas acima de 65 anos e adolescentes são o principal grupo de risco. O número de homens que cometem suicídio é maior do que o de mulheres. A maior incidência também ocorre em cidades do interior do país.
O relatório revela ainda que o enforcamento é o método mais usado. Tenenbaum explica que os suicídios acontecem com mais frequência em regiões rurais e menos urbanizadas.
Explicações
De acordo com o especialista, a ideia de depressão, isolamento e solidão está totalmente ligada às razões para o suicídio.
"Certamente há uma ligação entre a depressão não tratada e o suicídio", disse o psicólogo.
Apesar de a população acima de 65 anos ter crescido 14%, de acordo com o último censo uruguaio, não há apoio familiar e social para estas pessoas. Segundo especialistas, esse seria um dos motivos que explicariam por que os idosos pertenceriam ao grupo de risco.
Em 1990, o psiquiatra Federico Dajas diagnosticou o problema no país e passou a estudá-lo ostensivamente.
"Cientificamente, nunca conseguimos chegar a uma explicação concreta para este fenômeno", disse o médico.
Os estudos incluíram aspectos epidemiológicos, sociais, bioquímicos e psicológicos. Foi criada, inclusive, uma unidade de internação para o suicida em potencial, para que o assunto pudesse ser analisado in loco.
"Eu gostaria de ter encontrado uma resposta", disse Dajas, pesquisador-chefe do Instituto de Pesquisas Biológicas Clemente Estable.
De acordo com Dajas, a taxa de suicídios no Uruguai era estável durante o século 20, mas sempre foi maior do que em outros países da América Latina.
Para os especialistas, existem fatores específicos que podem agravar o problema em determinado momento. Durante a crise econômica de 2002, o número de casos aumentou para 20 suicídios por 100 mil habitantes.
Dajas especula que a situação esteja ligada ao fato de o Uruguai ser um "país transplantado", com uma grande parcela da população sendo descendente de imigrantes europeus. Segundo ele, isso poderia trazer "influências genéticas".
De acordo com o Eurostat, a taxa de suicídios no Uruguai é menor do que em países como a Finlândia e Eslovênia, mas maior do que Espanha e Itália, nações que contribuíram com a imigração para o Uruguai.
"Perfil suicida"
"Concluímos que é uma delicada e complexa soma de fatores sociais, familiares e pessoais", explicou Dajas.
O psiquiatra destacou a importância da criação de políticas abrangentes de prevenção, como o trabalho de colaboração com grupos de risco – jovens e idosos.
Para o psicólogo Claudio Danza, o suicídio entre jovens pode estar ligado à falta de perspectivas, de ideais e de projetos. Suicídios são a segunda causa de morte entre os jovens, ficando atrás de acidentes de trânsito. No entanto, para estudiosos no assunto, as duas causas têm pontos em comum.
"Se um jovem dirige um carro potente a 160km/h, em uma avenida ou estrada, ele tem um comportamento suicida. São perfis muito semelhantes", afirmou Danza.
Reportagem de Gerardo Lissardy
foto:turismonouruguai.com.br
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