17/09/2012

Estrada Brasil-Peru aumenta comércio, mas coloca em risco zonas florestais


Em janeiro de 2011, a inauguração de uma estrada que liga o noroeste do Brasil ao sul do Peru facilitou o intercâmbio comercial entre os dois países, mas também gerou inúmeros problemas na região. Com acessos permitidos a lugares até então preservados, surgiram diversas atividades extrativistas ilegais decorrentes da construção da Rodovia Interoceânica Sul, que também aumentou o tráfico de madeira e a mineração artesanal.

“Há um grau de devastação imensurável nas zonas florestais por onde essa estrada passa. A nova via possibilita o escoamento da madeira retirada clandestinamente de forma mais hábil e rápida”, explicou  o cientista social do Fórum de Defesa de Solidariedade ao Peru, Antonio Zambrano Allende.
De acordo com estudos da entidade, as perspectivas para a região nos próximos 20 anos são bastante negativas, com possibilidade de especulação imobiliária devido à compra de terras para o agronegócio.

Até mesmo as comunidades indígenas que vivem próximas ao projeto foram afetadas. “A escola está de um lado e o povoado, do outro, o que aumentou muito o número de atropelamentos em nossas comunidades”, lamentou Guiné Moura, morador da região.

Histórico
A Interoceânica Sul, que, no Brasil, passa pelo Estado do Acre, faz parte de um projeto assinado em 2000 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso com governantes de outros 11 países latino-americanos. A proposta, batizada de IIRSA (Iniciativa para a Integração da Infra-estrutura Regional Sul-Americana), foi financiada inicialmente pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), tendo como meta interligar, via construção de estradas, os principais portos existentes na América Latina.
De acordo com o projeto, que também tinha o objetivo de integrar os setores de comunicação e energia da América do Sul, o Brasil era obrigado a investir US$ 50 milhões por ano na iniciativa. Durante o governo Lula, porém, esse valor passou para US$ 990 milhões anuais, não só para a Rodovia Interoceânica Sul, mas também para a construção da Interoceânica Norte, além de outros projetos conjuntos de geração de energia.
O objetivo central da rodovia, de incrementar o comércio entre os dois países, foi atingido. Apesar de ser difícil mensurar o impacto da estrada, o intercâmbio entre os dois países passou de US$ 2,9 bilhões, em 2010, para US$ 3,6 bilhões, no ano passado, valor mais alto nas relações entre Brasil e Peru.
“A estrada beneficiou principalmente os pequenos e médios empresários. O setor de alimentos foi o mais beneficiado. As grandes companhias ainda preferem a via marítima”, lembrou o presidente da Câmara Brasil-Peru, César Augusto Maia. 




Reportagem de Márcio Zonta e Vitor Sion
foto:oaltoacre.com

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