Universitários ligados ao Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade de Brasília (UnB) cansaram de esperar da reitoria da instituição e do poder público explicações e medidas para combater a violência no câmpus. Indignados – e com medo – eles decidiram criar uma ferramenta que pudesse dar aos estudantes da UnB uma noção exata de quais são os crimes mais comuns nas dependências da universidade e onde eles mais acontecem.
“Não podemos esperar atitudes do poder público. Por isso, queremos dar aos alunos informações para que eles tomem medidas proativas, para se prevenirem da violência”, pondera Nicolas Powidayko, de 20 anos. Estudante do 6º semestre do curso de Economia, ele conta que, “por enquanto, teve a sorte” de nunca ter sido furtado ou assaltado no câmpus. No DCE, todos também se mantêm longe das estatísticas. Mas a preocupação é grande.
Nicolas ressalta que a segurança nos estacionamentos e trajetos que levam grande parte dos universitários às paradas de ônibus era uma das maiores preocupações da chapa eleita para o DCE este ano. Com o mandato prestes a terminar, eles não conseguiram colocar mais policiais no câmpus – tema bastante polêmico – como defendiam durante a campanha, mas esperam deixar a ferramenta como um “legado” aos próximos representantes estudantis.
A ferramenta é bastante simples e está disponível no site do DCE . Em um mapa, as ocorrências relatadas pelos estudantes no próprio site ficam marcadas, no local exato onde aconteceram. A ideia é que quem visite a página tenha uma noção geográfica do perigo. “A gente tem divulgado nas redes sociais e nos grupos dos Centros Acadêmicos a função do aplicativo. Esperamos contribuições dos estudantes”, conta Nicolas.
Não é preciso se identificar para registrar o crime. A pessoa interessada em colaborar apenas marca a ocorrência dentro da lista disponível (como assalto à mão armada, furto de veículo, lesão corporal e estupro), informa quando o problema aconteceu e onde. Quem quiser ainda pode anexar fotos (de um carro sem rodas ou arrombado, por exemplo) e escrever comentários sobre o ocorrido. Todos os depoimentos são anônimos.
Números crescentes
Apesar do pouco tempo de vida, o site já recebeu mais de 50 relatos. A cada dia, o número muda, segundo os próprios integrantes do DCE. O campeão de ocorrências é o furto de parte ou no interior de veículos, com 36 relatos. Já há um relato de estupro registrado, cinco assaltos e cinco furtos de veículos. O caminho entre a UnB e a L2 Norte, uma das principais avenidas próximas à instituição (onde passa grande parte dos ônibus), é dos campões de criminalidade.
Alguns depoimentos são antigos. Há um registro de 2009 e outros de 2010. Mas a maioria é bem recente. “A atual reitoria não se importou em cuidar disso, faz de conta que não acontece. Já pedimos ajuda para divulgar nossa proposta, só a decana de Assuntos Comunitários, Carolina Santos, tem nos ouvido, mas ela não consegue fazer muito sozinha”, diz Nicolas.
Os jovens ainda não definiram como repassarão os dados aos gestores da UnB e aos policiais da cidade. Pretendem entregar um relatório inicial ao próximo reitor – que deve ser Ivan Camargo, cujo nome foi o preferido pela comunidade acadêmica e aguarda aval da Presidência da República – do que houver registrado até a posse. “A verdade é que algo precisa ser feito. Não podemos deixar como está”, desabafa.
Reportagem de Priscilla Borges
foto:ultimosegundo.ig.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada pela visita e pelo comentário!