A proposta do vice-primeiro-ministro britânico Nick Clegg de criar um imposto emergencial sobre grandes fortunas não demorou nem um dia para ser refutada pelo alto escalão do governo britânico. Ontem (29/08), durante uma visita à Suíça, o ministro das Finanças, George Osborne, descartou essa possibilidade.
“Não tenho dúvidas de que os ricos devem pagar mais. É por isso que, no último orçamento, eu aumentei as taxas para as transações envolvendo propriedades muito caras. Mas devemos ser cuidadosos para que, como país, não incentivemos a saída de criadores de riquezas e homens de negócios que irão nos liderar em direção à recuperação econômica”, afirmou, ao ser perguntado sobre a proposta de Clegg, feita à revelia do governo.
Osborne foi apoiado pelo presidente da Câmara do Comuns (equivalente à Câmara dos Deputados brasileira), Bernard Jenkin. “Sei que essa não é uma visão muito popular, mas se continuarmos a aumentar os impostos para os mais ricos, vamos afastar a riqueza do país (...) Vimos muitos fundos de investimentos deixando o país por causa do sistema tributário desse país. Temos de ser muito cuidadosos para não estrangular a galinha que bota os ovos de ouro”.
A discordância marca mais um capítulo na turbulenta relação entre os partidos Conservador (do premiê David Cameron e de Osborne) e Liberal-Democratas (de Clegg), que compõem a coalizão do governo.
A proposta de Clegg também foi criticada pela oposição trabalhista. O deputado Chrs Leslie, que ocupa o cargo simbólico de ministro das Finanças da oposição (uma tradição britânica), disse que “mais uma vez Clegg está querendo fazer os britânicos de bobos. Ele fala de uma taxa para as fortunas, mas votou pelo corte de impostos aos milionários na proposta de orçamento de Osborne”, afirmou.
Os próprios membros dos Lib-Dems (Liberal-Democratas) foram pegos de surpresa pela proposta de Clegg, anunciada na última terça (28) durante entrevista exclusiva ao jornal The Guardian. Para a deputada Baronesa Kramer, porta-voz do partido para assuntos econômicos, esse tipo de demanda é defendido por algum tempo pela legenda, mas admite que não foi inteiramente informada sobre o tema. “Estou curiosa para conhecer os detalhes”, afirmou.
No entanto, ela discordou da tese dos conservadores de que elas afugentam os mais ricos do país. “Você deve fazer parte da sociedade em que você vive”.
A proposta
Segundo Clegg, o objetivo de sua proposta é arrecadar mais para minimizar os efeitos do período de austeridade. “Se vamos pedir às pessoas mais sacrifícios por um período maior de tempo, por um período maior de aperto como país, então precisamos ter a certeza de que as pessoas entendam que isso está sendo feito da maneira mais justa e progressiva possível”, disse.
Para isso, afirmou o vice, é preciso que “pessoas com uma fortuna pessoal bastante considerável façam uma contribuição extra”. “A iniciativa é fazer com que grandes fortunas tenham reflexo no sistema fiscal de um modo que não vemos hoje”, explicou.
Coalizão combalida
O Partido Liberal Democrata, liderado por Nick Clegg, governa o Reino Unido em coalizão com o Partido Conservador do primeiro-ministro David Cameron, que em março deste ano apresentou um pacote fiscal que cortou impostos sobre grandes rendimentos. Por isso, as declarações de Clegg prometem mais uma onda de atritos entre os dois partidos, colocando novamente em risco a coalizão que sustenta o governo.
À revelia dos conservadores, o vice defende uma “contribuição por tempo limitado” dos britânicos mais ricos. “Enquanto me orgulho de algumas das coisas que fizemos com o governo, eu acredito que precisamos implementar a equidade no que fizermos nas próximas fases de aperto fiscal. Se não o fizermos, não acho que o processo será aceitável ou sustentável política e economicamente”, sublinhou.
Na mesma entrevista, Clegg chegou a defender Osborne, braço direito de Cameron e responsável por cortar o imposto para os mais ricos e impor uma forte política de austeridade. Osborne é o principal alvo dos ataques da oposição Trabalhista, que o classifica como um “posh boy”, ou “garoto rico” no poder.
“A caricatura da política fiscal de George Osborne é absurda. Se você ler alguns comentários, particularmente da esquerda, você acharia que ele está voltando o relógio para a década de 1930”, afirmou o vice, um ex-jornalista premiado do Financial Times.
Déficit e offshores
O Reino Unido está em recessão há três quadrimestres e deve fechar 2012 com PIB próximo a zero, segundo dados do Tesouro britânico. Os números foram considerados abaixo do esperado por especialistas e o governo tem se mostrado disposto a reforçar a fiscalização sobre o pagamento de impostos para melhorar a arrecadação.
Ao lançar o pacote fiscal, em março, o Ministro das Finanças, George Osborne, afirmou que driblar o Fisco é “moralmente repugnante”. Investigações do programa Panorama, da rede estatal BBC, conduzidas logo em seguida ao anúncio de Osborne, mostraram que muitas empresas britânicas desafiam o Tesouro ao buscar paraísos fiscais para conduzir seus negócios, como Luxemburgo e Ilhas Jersey.
fonte:http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/24013/conservadores+britanicos+rejeitam+proposta+sobre+impostos+para+grandes+fortunas.shtml
foto:nformacaocontabil.blogspot.com
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