11/05/2012

Na França, a longa espera dos estrangeiros em busca de renovação de vistos


A imensa esplanada da prefeitura de Bobigny (Seine-Saint-Denis) está deserta. Pouco a pouco, à medida que vamos nos aproximando do prédio, conseguimos perceber as silhuetas. Uma fila de espera interminável, que lembra as lojas da ex-URSS, vai se formando. Essa cena não tem nada de excepcional aqui. Todos os dias, estrangeiros que vêm renovar seus documentos passam por isso. Para terem certeza de que serão recebidos pela administração, há aqueles que chegam durante a madrugada. Diante da entrada 23, pisca o aviso: “O departamento de estrangeiros tem o prazer de recebê-los”. Doce ironia, diante da fila compacta que se estende indefinidamente.
São 5h. Um adolescente passa como um fantasma, afastado da multidão, em seu training grande demais. Walid, 19, com o queixo marcado por um cavanhaque desalinhado, faz uma revista militar, à espreita de novos rostos.
Ele é cambista de senhas. Junto com uma dezena de amigos, ele chega na véspera, às 17h. Eles se revezam para retirar as primeiras senhas, assim que os guichês abrem, às 8h30; as senhas serão revendidas por entre 20 e 50 euros, dependendo da negociação.
Walid, imigrante ilegal, não precisa de nenhuma senha. Ele saiu de Djerba em março e fugiu da Tunísia com a onda de migrantes clandestinos vinda após a “revolução de jasmim”. Não foram razões políticas que o levaram a imigrar, mas “problemas de família”, ele explica modestamente. Seus olhos vermelhos de cansaço destoam de seu sorriso. Walid não se queixa. Ele chega a achar honrosa sua atividade: “Venho todos os dias, exceto no sábado. É melhor que roubar ou vender drogas. Pelo menos consigo comer.” Nessa Torre de Babel, ele está em casa. Ele cumprimenta um “cliente” já conhecido, um velho africano com um fez na cabeça: “Tudo bem, Hadj?” “Agora falo quatro línguas”, ele se diverte. “Até chinês”.
Foram seus amigos, que ele conheceu nas praças parisienses, pontos de encontro de migrantes tunisianos, que o introduziram nesse negócio das senhas. A atividade antes era monopolizada por indianos, agrupados um pouco adiante. A convivência funciona bem, segundo Walid. Seu amigo Zouhir confirma. Dividindo um cigarro, eles contam o choque que sentiram ao não encontrarem na França a mesma hospitalidade da Tunísia, onde “se você encontra alguém na rua, te convidam para comer”. Obrigados a realizarem esse tráfico para sobreviver, eles se mantêm discretos. “Enquanto não há confusão, a polícia não intervém”, eles explicam. Eis por que, aos primeiros gritos, os jovens acalmam os ânimos irritados pela espera.
Esse serviço extraoficial começa pela manhã. Os amigos de Walid, cerca de 15 naquele dia, ficam parados diante da porta de vidro da prefeitura. De tempos em tempos, um deles sai da fila para esticar as pernas, fumar um cigarro, e logo volta para seu trabalho. Esse vaivém às vezes provoca a irritação daqueles que estão esperando há horas. A voz estridente de uma mulher africana grita “fora!”, o slogan da “revolução de jasmim”. Outra, envolta em um longo xale laranja sobre os ombros, começa: “Estamos fartos da máfia das senhas!”
Às 6h, a estação de metrô mais próxima despeja aqueles que não puderam vir mais cedo. Eles correm para ocupar um ou dois lugares. Um envelope azul, verde ou vermelho carrega suas esperanças de poder entrar na colmeia de vidro. Um cheiro de urina toma conta, mas a alguns metros de lá, há um banheiro público à disposição.
Rachid, 27, originário de Oujda, no Marrocos, cumpre seu dever. Desta vez, não foi por si que ele veio de Aubervilliers. Com sua companheira Najia, ele caminha até o metrô. Detentores de vistos de residentes, eles são especialistas em renovação de documentos. Mas, desta vez, eles chegaram às 22h para ajudar uma amiga grávida. O casal admira os cambistas de senhas: “Eles trabalham para ganhar o próprio dinheiro. Não tem nada a ver com os bandidos daqui que vendem drogas”. Com a cabeça, eles apontam para os prédios vizinhos, o conjunto habitacional Pablo Picasso.
O amigo dedicado critica os absurdos do sistema: “Se nosso visto expira no dia 28 do mês e nos apresentamos no dia 27 para retirar um formulário, os agentes mandam voltar no dia 28”. Na Espanha, tratam os imigrantes de um jeito diferente, garante Rachid: “Podemos preencher os formulários na internet e imprimir um parecer favorável. Você vai à prefeitura somente para deixar as impressões digitais”. No interior é parecido: “Eu vivia em Auxerre com meu irmão. Um dia, quando eu estava totalmente sozinho na prefeitura, cheguei a me perguntar se não era feriado”.
Uma senhora de véu usando várias malhas sobrepostas se aproxima lentamente. Ela carrega duas sacolas, contendo duas térmicas vermelhas. Ela parece murmurar encantamentos. Na verdade, está vendendo café, a 50 centavos o copo. A vendedora ambulante se recusa a dar seu nome. “Ganho 10 ou 15 euros em um dia bom”, ela explica. Algumas pessoas compram um café e se sentam na cadeira de plástico que trouxeram. Nesse acampamento improvisado, um homem se cobre com um cobertor improvisado de lã branca e marrom. Um outro estende um saco de dormir e se deita no chão mesmo.
Amanhece. A noite de trabalho dos cambistas chegou ao fim. Um clandestino tunisiano fala sobre sua decepção: “A França está na miséria, afundando.” Ele ilustra sua frase com um gesto, imitando com a mão um avião caindo. Sua imagem idealizada do país foi para o espaço. Mas em sua cidade, no sul da Tunísia, na fronteira com a Líbia, a situação é pior. “Não tem nada, é uma merda, por Alá...”, ele suspira. Ele treme dentro de sua jaqueta de couro. Em sua cidade, as temperaturas chegam perto dos 40 graus.
Um choque térmico acompanhado de um choque cultural. Desiludido, ele se pergunta por que se arriscou tanto para imigrar. “Chegamos aqui, guardamos lugar e descolamos 10 ou 20 euros, no máximo...” O jovem imigrante de 28 anos gostaria de se casar com uma francesa. Para esquecer esse “sofrimento” que ele preferia nunca ter passado.

Reportagem de Faiza Zerouala
foto:imigrantesbrasil.com
Tradutor: Lana Lim

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